Só entende quem namora

Acho sempre instigante quando um filme divide a crítica. Normalmente há nele algo de relevante. É o que acontece com Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen. O crítico Pedro Butcher, da Folha, detonou a estréia do filme em Cannes. Oportunismo e conveniência foram palavras citadas para definir a escolha de Barcelona, depois do aporte de um bom patrocínio da prefeitura da cidade catalã. A mesma crítica é repetida por Arthur Dapieve na última sexta, no Globo, que afirma ser um mero filme de encomenda. E mais falam para sustentar a tese sobre um trabalho preguiçoso, vazio, apenas marcado por aparências e clichês,

Bobagens. Vi o filme antes de ler as críticas e o achei um dos trabalhos mais maduros de Allen. Divertido e ao mesmo tempo incômodo. Impossível vê-lo sem haver um dedo de identidade com algum momento dos personagens. Ali estão nossas dúvidas, procuras, obsessões, mesmo em um universo tão pequeno. E Barcelona não é apenas um merchandise de cidade, algo comum hoje nessa indústria. Há muito sentido para tal no roteiro. Todos os personagens de alguma maneira estão envolvidos em dar expressão criativa para suas questões. Vicky (Rebecca Hall) estuda a cultura catalã, Cristina (Scarlett Johansson) fotografa. São envolvidas em trama amorosa com Juan Antonio (Javier Bardem), pintor que aparentemente roubou o estilo de sua grande amada também pintora, Maria Elena (Penélope Cruz). Nada distante da vivência de lugar onde um arquiteto fez uma das obras mais inusitadas do planeta, muito além de paredes e tetos, um dos mais autênticos berros pela expressão.

É típica comédia de costumes, com encontros e desencontros, ótimos diálogos. Questionamentos sobre o desejo pelo outro. A tentação. A resignação. Os mais fortes sentimentos em um turismo acidental. Todos vivem intensas emoções, e terminam como começaram. Não há respostas fáceis. Difícil um crítico ser preciso sem ter vivido escolhas pela vivência de uma paixão arrebatadora, ou reconfortante amor previsível, com conseqüentes culpas, ou pela neurose do amor mal ou bem vivido, e perdido. É o que fica da dificuldade de nossos ingênuos críticos. Não é possível entender sem vivenciar as enormes dificuldades de realizar o desejo, algo muito além das fantasias.

Daí gostei mais da crítica despretensiosa de Cotardo Calligaris, na Folha, com sua manha psicanalítica:

“O amor e a paixão não nos fazem necessariamente felizes, mas são uma festa e uma alegria porque deles podemos esperar ao menos isto: que eles nos tornem um pouco outros, que eles nos mudem. Agora, nem sempre funciona...”
Clique para ver...

Museu de Grandes Novidades

Há dias que eu estou para postar a respeito de algumas maravilhas da informática, tão extraordinárias quanto efêmeras. Lembrei de alguns aparelhos e periféricos que eu vi apenas uma ou duas vezes. Eram maravilhosos! Prodígios da tecnologia que me deixaram com aquela sensação que teve o gaúcho da piada, que, ao ver a Ponte do Guaíba erguendo-se, exclamou:

- O que é a natureza!

Hoje, aqueles objetos que me maravilharam por alguns instantes são peças de museu. São coisas que mal foram lançadas e já se tornaram obsoletas, superadas por outras tecnologias mais atraentes, antes mesmo que pudessem ter se popularizado. E eu lembrei apenas de tecnologias recentes, com as quais tive contato. Nada como um cartão de papel melhor de ser perfurado ou coisas jurássicas do tipo. São todas tecnologias da era PC, Pentium, Windows... Mesmo porque, até 1995, minha experiência com computadores era limitada e pouco gratificante, como pode ser constatada pelo cartum abaixo. O desenho original era de 1994, foi selecionado no Salão de Piracicaba daquele ano e retratava um contato que eu tive com um XT. A versão abaixo, retocada em um computador amestrado, é de 1999.
Vamos então ao pequeno acervo do Museu de Grandes Novidades da minha memória sobre informática:

Data Show: Pelo menos foi o nome com o qual me apresentaram o aparelho, no início do meu doutorado em Ciência do Solo, lá por 1997 ou 1998. Era algo misterioso. Para ser usado, era preciso reservar na secretaria da faculdade com grande antecedência. Os colegas de curso nunca tinham usado, não sabiam como era. Um dia, tive que apresentar um seminário na cadeira de Manejo do Solo e reservei o aparelho. Uma geringonça de vidro (cristal liquido, na verdade), que era colocada sobre o retroprojetor. Uma espécie de transparência eletrônica, que logo em seguida foi superada pelo projetor multimídia. Quanto à apresentação, deu tudo certo com o “Data Show” ou “painel de projeção”. O problema foi o disquete, que deu crepe e teve que ser consertado com um scan disk instantes antes da apresentação...



Zip Drive: os disquetes eram umas tranqueiras! Além de darem problema toda hora, tinham muito pouco espaço. Arquivos maiores do que 1,44 MB tinham que ser gravados em mais de um disquete, com o auxílio de compactadores de arquivos como o ARJ. A solução revolucionária? Um disquetão, que custava muito caro e que tinha que ter um drive específico para ele, o Zip Drive. Felizmente, logo em seguida surgiram os gravadores de CDs, com maior capacidade e muito mais baratos que os discos Zip, e nos livraram desta tralha!

Trackball: é um mouse de cabeça pra baixo. Coisa bizarra! O trackball também era usado nos laptops mais antigos. E, pasmem, ainda é vendido. Tem gosto pra tudo...

Scanner de mão: uma porcaria! Tinha que passar o scanner sobre a figura em uma velocidade constante, senão a imagem era capturada de forma distorcida. Mas eu lembro uma vez, lá por 1994 ou 1995, em que fui com o Moa a uma agência de publicidade ou coisa que o valha. Tinha um cara escaneando o rótulo de uma lata de cerveja com um scanner de mão. O que é a natureza!, pensei eu...

Clique para ver...

PHA, Dirceu e uma séria acusação

Um comentário do Conversa Afiada me deixou aborrecido. Vamos a ele:

Tais Morais: Zé Dirceu era agente duplo?

27/novembro/2008 19:29

Diário de um ex-agente sustenta que Dirceu teria delatado companheiros de luta armada

José Dirceu, o poderoso ex-ministro da Casa Civil de Lula, teria sido um agente duplo durante a ditadura militar? A questão acaba de ser colocada em pauta pelo livro “Sem vestígios: revelações de um agente secreto da ditadura militar”, da jornalista Tais Morais, publicado pela Geração Editorial. A autora já havia publicado, pela mesma editora, em 2005, “Operação Araguaia”, em co-autoria com o também jornalista Eumano Silva.

Em reportagem publicada hoje no Valor Econômico, Maria Inês Nassif revela detalhes sobre a origem da obra recém-lançada, produzida a partir do diário de um ex-agente do Centro de Informações do Exército, identificado como “Carioca”. Os originais do diário foram entregues à autora do livro após a morte do ex-agente, conforme instruções deixadas por ele próprio.

“Sem vestígios..” narra execuções bárbaras, como a de David Capistrano da Costa, dirigente do Partido Comunista Brasileiro, em um aparelho da repressão em Petrópolis (RJ). Expõe a afirmação de que Dirceu teria sido um agente duplo, responsável pelo desmantelamento do Molipo - Movimento de Libertação Popular (afirma também que dos 28 integrantes desse grupo, que fizeram curso de guerrilha em Cuba, apenas Dirceu e Ana Corbisier sobreviveram).

Diz o livro: “Segundo as notas de Carioca, depoimentos de alguns militares e as memórias do coronel Lício [Augusto Maciel] – naqueles idos, major – Daniel [codinome de José Dirceu] teria sido o agente duplo e, antes de morrer, Jeová [de Assis Gomes, militante do grupo armado] informara esse nome como o de quem havia traído o Molipo”. Ouvido pelo Valor, Dirceu diz que a afirmação contra ele é uma “infâmia” do coronel Lício, que teria “se especializado em difamar tanto a memória dos mortos como os que sobreviveram”. Veja a íntegra da reportagem, se você for assinante do Valor.


Fiz lá o meu comentário, em 28/11/2008, às 1:44:

Impossível dar crédito ao diário de um ex-torturador e narrado por uma autora que teve seu outro livro, sobre a Guerrilha do Araguaia, sofrido críticas por quem lá esteve. Luzia Reis Ribeiro foi guerrilheira no Araguaia e contesta o que os autores do livro Operação Araguaia, Eumano Silva e Tais Moraes, contam. Segundo ela, o livro se baseia fundamentalmente na versão oficial dos militares, em depoimentos arrancados sob tortura. Diz inclusive sobre a parcialidade do livro:

“Na verdade, cheguei à conclusão que os autores mostraram uma versão unilateral. A versão de um grupo de militares que querem apresentar à opinião pública, o PCdoB como o fracassado, o grande vilão da história. Querem também, inacreditavelmente, através dos “depoimentos em cartório”, manipulados pelos militares, responsabilizar os sobreviventes, como delatores, sob a desculpa de serem ideologicamente fracos.”

Portanto, usar um mero depoimento de militar ligado a tortura como evidência de “traição” parece apenas um jogo de cena para continuar a demonização de José Dirceu.

Sugiro a leitura do depoimento de Luzia em:


http://www.diariosdaditadura.com.br/tcc_mat_ver.asp?cod_col=81

Comentário adicional:

Ainda não vi resposta de Dirceu a mais nova acusação, mas achei interessante a quantidade de comentários de leitores do Conversa Afiada que protestaram contra esta aleivosia . Ainda me recuso a colocar Paulo Henrique Amorim do outro lado, mas está na hora de ampliarmos a discussão política para sairmos desse jogo que só benefecia os reacionários.
Clique para ver...

Impressionante

Clique para ver...

Cala a boca, FHC!

Aplaudo e assino embaixo do comentário do Prof. Emir Sader postado no site da Agência Carta Maior - www.cartamaior.com.br -, em 23/11/2008. É de espantar a cara-de-pau do "falecido" Fernando Henrique Cardoso quando insiste em abrir a boca para criticar o atual governo ou para tentar lhe dar lições de como se deve governar o país.

Cala a boca, FHC!

Quem disse: “ A globalização é o novo Renascimento da humanidade.”
Quem disse: “Quem acabou com a inflação, vai acabar com o desemprego.”
Quem disse: “Esqueçam o que eu escrevi.”
Quem disse: “Vou virar a página do getulismo.”
Quem disse, no último comício de Alckmin, no segundo turno, com a camisa fora da calça, desesperado: “Lula, você acabou, você morreu.”
Quem disse: “O Estado brasileiro gasta muito e gasta mal” e entregou o Estado com a dívida pública 11 vezes maior.
Quem disse: “Eu tenho um pé na cozinha” e depois de terminado o mandato, cinicamente acrescentou: “na cozinha francesa”.
Quem quebrou a economia brasileira três vezes e na última, em 1999, subiu a taxa de juros para 49%?
Quem reprimiu e tentou criminalizar os movimentos sociais?
Quem fez a Petrobras mudar de nome para Petrobrax, para tentar privatizá-la.Quem vendeu 1/3 das ações da Petrobras nas bolsas de valores de Nova York e de São Paulo? Quem quebrou o monopólio estatal do petróleo no Brasil?
Quem comprou votos de parlamentares para mudar a Constituição e conseguir um segundo mandato?
Quem aumentou como nunca o trabalho precário no Brasil?
Quem entregou o patrimônio público a preço de banana aos grandes capitais privados nacionais e internacionais, depois de sanear empresas públicas com dinheiro do BNDES e financiar essa transferência com juros subsidiados, no maior caso de corrupção da história brasileira.
Quem disse que os trabalhadores brasileiros são preguiçosos?
Quem disse que o Brasil tem vários milhões de pessoas “inimpregáveis”?
Quem sumiu o Brasil na longa recessão a partir de 1999, que só foi superada no governo Lula?
Quem quase liquidou o Mercosul com suas idéias de livre comércio e de prioridade de comércio com os países do norte?
Quem promoveu a mais ampla privatização da educação no Brasil?
Quem fracassou e teve seu governo largamente rejeitado quando seu candidato foi derrotado em 2002?
Quem não conseguiu nem que o candidato do seu partido defendesse seu governo nas eleições de 2006?
Quem é o político atualmente mais rejeitado pelo povo brasileiro, como tendo sido o presidente dos ricos?
Quem tinha o apoio de 18% dos brasileiros a esta altura do mandato, quando Lula tem 80% de apoio e 8% de rejeição.
Quem disse e fez tudo isso, FHC, deve calar a boca para sempre. O povo o rejeitou, o Brasil o rejeitou, democraticamente.

CALA A BOCA, FHC!
Clique para ver...

Os temores da Folha

Pobres leitores da Folha de S.Paulo. Ao lerem no jornal de hoje a reportagem de Eduardo Scolese e Simone Iglesias irão entender que um enorme grupo de representantes de movimentos sociais lotou o salão do Palácio do Planalto para lançar Dilma Rousseff a presidência. É apenas o que dizem, reproduzindo dois discursos. Em nenhum momento os leitores foram informados do motivo que levou àquela reunião. Seus leitores foram privados de saber que o movimento social compareceu a Brasília para falar sobre a crise. Há uma diferença muito grande para a mesma reportagem feita pelo Vermelho. O que teme a Folha para omitir tantas informações?

O discurso da presidente da UNE, Lucia Stumpf, que pediu o afastamento de Henrique Meirelles do Banco Central? Disse ela: “Nós precisamos mais de que nunca alterar a política macroeconômica ainda vigente no nosso país de juros altos, superávit primário e controle do fluxo de capitais. Eu diria que é necessário alterarmos a política implantada pelo Banco Central. Isso só será possível com a imediata demissão do presidente do BC, Henrique Meirelles”. E ainda mais: “Essa é a manifestação daqueles que vão pressionar pela transformação, porque nós afirmamos aqui nesse encontro que o povo não vai pagar o preço da crise. É preciso investir no futuro do Brasil. É preciso investir na sociedade”.

Ou o jornal estaria preocupado com o teor da carta assinada por 58 entidades e que foi lida por Marina dos Santos, representante do MST, que diz: “Queremos aproveitar essa oportunidade para manifestar nossas propostas concretas que o governo federal deve tomar para preservar, sobretudo, os interesses do povo, e não apenas das empresas e do lucro”. Seria este o ponto das preocupações da Folha, interesses de empresas e o lucro são sagrados, nem pensar em divulgar tamanha subversão?

Talvez o jornal tenha achado muita pretensão da senzala fazer análise econômica e pedir mudanças. Quanta ousadia da plebe! Nas 15 questões fundamentais do documento, sendo a principal o controle e a redução imediata das taxas de juros, defende que o governo utilize as riquezas oriundas da exploração dos recursos naturais para investimento em emprego, educação, terra e moradia. Imaginem quanto desperdício de recursos deixar de especular com o dinheiro para esbanjar com o gentio.

Discorrem nesta ambição: “O governo federal deve revisar a política de manutenção do superávit primário, que é uma velha desgastada orientação do FMI, um dos responsáveis pela crise econômica internacional. E devemos usar os recursos do superávit primário para fazer volumosos investimentos governamentais na construção de transporte público e de moradias populares para a baixa renda”, dizem. E ainda dão pitacos em questões internacionais, pedem a retirada de forças estrangeiras do Haiti e a criação de um fundo internacional para a reconstrução daquele país.

Mas quem sabe o incômodo maior do vetusto diário foi o pedido de ação pela democratização dos meios de comunicação? Algo que não pode ser publicado de jeito algum. Imaginam que aí seria o fim. A informação correria solta, sem controle, onde reportagens seriam contestadas, mostrando o outro lado. Total barbárie. Onde esta sociedade iria parar?
Clique para ver...

Nossa imprensa apoiaria um Mubarak na Venezuela?


A mídia brasileira mais uma vez esteve em campanha contra Hugo Chávez. Antes das eleições já vendiam a opinião de que o processo seria viciado e que o governo “ditatorial” usaria de truculência contra a oposição, pondo dúvidas sobre o futuro resultado. As eleições aconteceram, não houve protestos sobre a sua legitimidade e a mesma mídia passou a comemorar o resultado como prova do fim da revolução bolivariana.

Não foi bem assim, basta um olhar desapaixonado pelos números. Mas gostaria de lançar algumas perguntas para entendermos esta fixação que a imprensa tem com Chávez, que motiva o farto espaço dedicado a ele, sempre para desqualificá-lo.

Quanto espaço vem sendo dado em nossa mídia ao governo de Hosni Mubarak no Egito, que já dura 27 anos?

Quantos editoriais foram escritos para condenar as últimas eleições plebiscitárias, em 2007, quando menos de 5% dos egípcios referendaram as reformas constitucionais?

Quantas palavras os colunistas amestrados usaram para condenar a ditadura sanguinária do Egito, que se vale de eleições fraudulentas para legislar com leis emergenciais que permitem acabar violentamente com greves e divergências políticas, calar a imprensa, prender pessoas rotineiramente sem julgamento e torturar prisioneiros?

Quantos posts os nossos blogueiros de direita usaram para condenar a prisão de Abdel Kareem Nabil, estudante da Universidade Al-Azhar, que foi sentenciado por ter feito críticas em seu blog a Mubarak e aos muçulmanos conservadores?


Nada. Mubarak fica do outro lado do leque ideológico. Chegam até a analisar o Egito como força de equilíbrio no Oriente Médio. Isto porque dividiu o mundo árabe, fazendo a política dos EUA na região, apoiando a guerra contra o Iraque, as provocações ao Irã, ajudando Israel contra os palestinos.

Nossa mídia nem personalidade tem na cobertura de assuntos internacionais. É apenas uma caricatura tosca da CNN ao repetir o chororô pelo petróleo que não é mais patrimônio americano. Que homem mau é o Chávez, né?

Ps: querem entender mais sobre os crimes de Mubarak? Sugiro consultar o verbete sobre o Egito da Anistia Internacional. Ele é farto e está baseado em vários relatórios de seus representantes, que inclusive entrevistaram vítimas daquela ditadura e seus familiares.
Clique para ver...

Crise? Toma que o filho é teu!

Já está em curso a tentativa das classes dominantes de repartir o resultado da falência do projeto neoliberal com toda a população. A receita é simples: arrocho salarial, nova reforma da previdência, penalizando aposentadorias e pensões, redução de investimentos nos programas sociais e demissão de trabalhadores, principalmente no serviço público. É roteiro conhecido. Quando as coisas vão bem, privatizam os lucros. Quando vão mal, socializam os prejuízos. Assim mais uma vez será feito se os trabalhadores aceitarem pagar as dívidas que não fizeram. Mas já há sintomas de reação. No próximo dia 3 de dezembro, espera-se que mais de 15 mil trabalhadores de todo o país marchem na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para exigir que “os ricos paguem a crise do capitalismo”. É assim como convocam as principais centrais sindicais brasileiras (CTB, CUT, FS, NCST, UGT e CGTB), com o apoio de diversos movimentos sociais.

Não podemos cair no caô que a mídia tenta impor, com seus amestrados colunistas. A crise é de quem especula com o capital, que não produz, não investe. É modelo que apenas favorece o grande cassino mundial. O santo mercado, amplamente defendido pelos abonados especuladores, foi a pique. Não conheço proleta que tenha se locupletado com a especulação. Não faz o menor sentido que venham agora pedir ajuda. Sugiro a leitura de quatro posts do Blog do Miro. Altamiro Borges recupera textos já publicados, com fartas referências, para explicar o mecanismo do atual capitalismo. Leiam o Post 1, o Post 2, o Post 3 e o Post 4. E entendam o fundamental da economia, onde a Miriam Leitão não tem como explicar.

E para ajudar na agitação e propaganda, segue minha colaboração para as faixas. Tenho já muitas contas para pagar, essa tô fora!

Clique para ver...

A Crise da Extrema Esquerda

Os resultados das eleições municipais vieram corroborar o que o cenário político nacional já permitia ver: o esgotamento do impulso da extrema esquerda, que tinha sido relançada no começo do governo Lula. A votação em torno de 1% de dois dos seus três parlamentares, candidatos a prefeito em São Paulo e no Rio de Janeiro, com votações significativamente menores do que as que tiveram como candidatos a deputados, sem falar na diferença colossal em relação à candidata à presidência, apenas dois anos antes – são a expressão eleitoral, quantitativa, que se estendeu por praticamente todo o país, do esgotamento prematuro de um projeto que se iniciou com uma lógica clara, mas esbarrou cedo em limitações que o levam a um beco difícil, se não houver mudança de rota.

A Carta aos Brasileiros, anunciando que o novo governo não iria romper nenhum compromisso – nesse caso, com o capital financeiro, para bloquear o ataque especulativo, medido pelo "risco Lula" -, a nomeação de Meirelles para o Banco Central e a reforma da previdência como primeira do governo – desenharam o quadro de decepção com o governo Lula, que levaria à saída do PT de setores de esquerda. A orientação assumida pelo governo inicialmente, em que a presença hegemônica de Palocci fazia primar os elementos de continuidade com o governo FHC sobre os de mudança – estes recluídos basicamente na política externa diferenciada e em setores localizados – e a reiteração de um governo estritamente neoliberal davam uma imagem de um governo que era considerado pelos que abandonavam o PT, como irreversivelmente perdido para a esquerda.
O dilema para a esquerda era seguir a luta por um governo anti-neoliberal dentro do PT e do governo ou sair para reagrupar forças e projetar a formação de uma nova agrupação. Naquele momento se cogitou a constituição de um núcleo socialista, dos que permaneciam e dos que saíam do PT, para discutir amplamente os rumos a tomar. Não apenas cabia uma força à esquerda do PT, como se poderia prever que ela seria engrossada por setores amplos, caso a orientação inicial do governo se mantivesse.

Dois fatores vieram a alterar esse quadro. O primeiro, a precipitação na fundação de um novo partido – o Psol -, com o primeiro grupo que saiu do PT – em particular a tendência morenista – passando a controlar as estruturas da nova agremiação. Isto não apenas estreitou organizativamente o novo partido, como o levou a posições de ultra-esquerda, responsáveis pelo seu isolamento e sectarização. A candidatura presidencial nas eleições de 2006 agregou um outro elemento ao sectarismo, que já levaria a uma posição de eqüidistância em relação ao governo Lula. O raciocínio predominante foi o de que o governo era o melhor administrador do neoliberalismo, porque além de mantê-lo e consolidá-lo, o fazia dividindo e confundindo a esquerda, neutralizando a amplos setores do movimento de massas. Portanto deveria ser derrotado e destruído, para que uma verdadeira esquerda pudesse surgir. O governo Lula e o PT passaram a ser os inimigos fundamentais da nova agrupação.

Esse elemento favoreceu a aliança – já desenhada no Parlamento, mas consolidada na campanha eleitoral – com a direita – tanto com o bloco tucano-pefelista, como com a mídia oligárquica -, na oposição ao governo e à reeleição de Lula. A projeção midiática benevolente da imagem da candidata do Psol lhe permitia ter mais votos do que os do seu partido, mas comprometia a imagem do partido com uma campanha despolitizada e oportunista, em que a caracterização do governo Lula não se diferenciava daquela feita na campanha do "mensalão". Como se poderia esperar, apesar de algumas resistências, a posição no segundo turno foi a do voto nulo, isto é, daria igual para o novo partido a vitória do neoliberal duro e puro Alckmin ou de Lula. (Se tornava linha nacional oficial o que já se havia dado nas primeiras eleições em que o Psol participou, as municipais, em que, por exemplo, em Porto Alegre, diante de Raul Pont e Fogaça, no segundo turno, se afirmou que se tratava da nova direita contra a velha direita e se decidiu pelo voto nulo.)

Uma combinação entre sectarismo e oportunismo foi responsável pelo comprometimento da orientação política do novo partido, que o levou a perder a possibilidade de formação de um partido à esquerda do PT, que se aliasse a este nos pontos comuns e lutasse contra nos temas de divergência. O sectarismo levou a que sindicatos saíssem da CUT, sem conseguir se agrupar com outros, enfraquecendo a esquerda da CUT e se dispersando no isolamento. Levou a que os parlamentares do Psol votassem contra o governo em tudo – até mesmo na CPMF – e não apoiassem as políticas corretas do governo – como a política internacional, entre outras. Esta se dá porque o governo brasileiro tem estreita política de alianças com as principais lideranças de esquerda no continente – como as de Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia -, que apóiam o governo Lula, o que desloca completamente posições de ultra-esquerda – que se reproduzem de forma similar a dessa corrente no Brasil nesses países -, deixando de atuar numa dimensão fundamental para a esquerda – a integração continental.

Por outro, o governo Lula passou a outra etapa, com a saída de vários de seus ministros, principalmente Palocci, conseguindo retomar um ciclo expansivo da economia e desenvolvendo efetivas políticas de distribuição de renda, ao mesmo tempo que recolocava o tema do desenvolvimento como central – deslocando o da estabilidade, central para o governo FHC -, avançando na recomposição do aparelho do Estado, melhorando substancialmente o nível do emprego formal, diminuindo o desemprego, entre outros aspetos. A caracterização do governo Lula como expressão consolidada do neoliberalismo, um governo cada vez mais afundado no neoliberalismo – reedição de FHC, de Menem, de Carlos Andrés Perez, de Fujimori, de Sanchez de Losada – se chocava com a realidade.

Economistas da extrema esquerda continuaram brigando com a realidade, anunciando catástrofes iminentes, capitulações de toda ordem, tentando resgatar sua equivocada previsão sobre os destinos irreversíveis do governo, tentando reduzir o governo Lula a uma simples continuação do governo FHC, reduzindo as políticas sociais a "assistencialismo", mas foram sistematicamente desmentidos pela realidade, que levou ao isolamento total dos que pregam essas posições desencontradas com a realidade.

O isolamento dessas posições se refletiu no resultado eleitoral, em que todas as correntes de ultra-esquerda ficaram relegadas à intranscendência política, revelando como estão afastadas da realidade, do sentimento geral do povo, dos problemas que enfrenta o Brasil e a América Latina. As políticas sociais respondem em grande parte pelos 80% de apoio do governo,rejeitado por apenas 8%. Para a direita basta a afirmação do "asisistencialismo" do governo e da desqualificação do povo, que se deixaria corromper por "alguns centavos", mas a esquerda não pode comprá-la, por reacionária e discriminatória contra os pobres.

Confirmação desse isolamento e de perda de sensibilidade e contato com a realidade é que não se vê nenhum tipo de balanço autocrítico, sequer constatação de derrota da parte da extrema esquerda. Se afirma que se fizeram boas campanhas, não importando os resultados, como se se tratassem de pastores religiosos que pregam no deserto, com a consciência de que representam uma palavra divina, que ainda não foi compreendida pelo povo. (Marx dizia que a pequena burguesia sofre derrotas acachapantes, mas não se autocrítica, não coloca em questão sua orientação, acredita apenas que o povo ainda não está maduro para sua posições, definidas essencialmente como corretas, porque corresponderiam a textos sagrados da teoria.)

Não fazer um balanço das derrotas, não se dar conta do isolamento em que se encontram, da aliança tácita com a direita e das transformações do governo Lula – junto com as da própria realidade econômica e social do país –, da constatação do caráter contraditório do governo Lula, que não deveria ser se inimigo fundamental revelariam a perda de sensibilidade política, o que poderia significar um caminho sem volta para a extrema esquerda. Seria uma pena, porque a esquerda brasileira precisa de uma força mais radical, que se alie ao PT nas coincidências e lute nas divergências, compondo um quadro mais amplo e representativo, combinando aliança a autonomia, que faria bem à esquerda e ao Brasil.

Emir Sader é sociólogo e professor.

Publicado originalmente no Blog do Emir

Clique para ver...

O moderno José Serra


Como o governador José Serra é um homem à frente de seu tempo. Descobriu que o grande negócio do momento é a indústria automobilística. Imagina que ela está bombando em todo o planeta. E há muito espaço nas ruas para mais carros. Basta circular pela capital de seu estado para constatar.

Depois de ajudar a indústria automobilística paulista com crédito, fez acordo para a construção de mais uma indústria, em Piracicaba, da coreana Hyundai. Para quem não lembra, é a dona da Ásia Motors, empresa que assinou acordo com o governo FHC para a construção de uma fábrica em Camaçari, na Bahia. Fernando Henrique e Antônio Carlos Magalhães estiveram presentes na solenidade de lançamento da pedra fundamental. Nada foi construído e durante um bom tempo a Ásia Motors se valeu do acordo para a isenção de 50% na importação de veículos. Mais de 70 mil Topics e outros modelos encheram nossas ruas, gerando uma dívida hoje de mais de um bilhão em impostos não recolhidos e uma enorme batalha judicial, que envolve a empresa coreana e seus sócios brasileiros.

Serra pouco liga para os fatos. Imagina mais empregos, impostos, se dessa vez os coreanos cumprirem o acordo. E tome mais carros, mesmo que eles não possam circular nas inchadas cidades. É a visão tucana de planejamento. E o metrô de São Paulo? Necessidade de proletas. Que esperem o momento para comprar seus carrinhos.
Clique para ver...

A mídia do povo

Recebo um simpático comentário do John Cutrim e percebo uma grande injustiça do nosso blog ao esquecer de linkar o Jornal Pequeno, bravo representante da imprensa alternativa no Maranhão, com bela história que começa em 1951. Agora, nas manhas da web, dando espaço para vários blogueiros atuantes. Estamos corrigindo a injustiça e atentos para divulgar o jornal.

Fico impressionado com a abundância de blogs políticos gaúchos. São muitos, atuantes, e fazem um bonito contraponto às pretensões do cartel da RBS. Mais um blog aparece com verve das boas, o Cloaca News, com propósitos claros de desmascarar a máfia midiática. Vale a pena acompanhar.

Outro jovem blog de política que começa com gás é o Brasil Mobilizado. Mais um bom canal para desmistificar a corrompida mídia brasileira.

Longa vida para todos.

Atualizando: Outro que injustamente faltava em nossa lista é o Blog de um sem-mídia, do Carlos Augusto Dória. Comentarista compulsivo em jornais e blogs, leitor voraz, reúne uma ótima seleção de posts em seu blog. É leitura obrigatória.
Clique para ver...

Realeza


Clique para ver...

O efeito Obama





A eleição de Barack Obama para a Presidência dos Estados Unidos já foi submetida a todo tipo de avaliação. Porém, como todo fato histórico, continua a desafiar os analistas.

Foi sem dúvida o principal acontecimento de um ano sacudido mais pela crise financeira internacional do que por fatos políticos particularmente expressivos. Terá força para repor a política no centro da vida e das atenções, ao menos nos Estados Unidos? Muito se falou da dimensão simbólica da vitória de Obama. Um negro, que veio de baixo, um político formado por Harvard, estranho às aristocracias políticas norte-americanas, não poderia mesmo deixar de produzir impacto, despertar emoções, dar esperança a milhões de pessoas que se sentem derrotadas e humilhadas, que ainda se lembram do apartheid racial que devassou a convivência e a dignidade humana dentro e fora da nação tida como “pátria da Liberdade”. Mas Obama também incendiou os jovens e conseguiu assimilar o eleitorado feminino que torcia por Hillary Clinton. Estabeleceu empatia com todos os setores da sociedade americana. Foi emocionante ver as multidões que o saudaram em Chicago e comemoraram sua vitória em várias partes do mundo. Num momento de refluxo no envolvimento com a política, a centelha de mobilização que acompanhou Obama merece no mínimo um acompanhamento cuidadoso.

Dado o peso dos Estados Unidos, tudo o que ali acontece pode repercutir no modo como se vive no mundo. Mas não em termos imediatamente econômicos, pois parece difícil que se consiga, pelo efeito mágico de um gesto, estancar de imediato a crise financeira, modificar a predisposição consumista das massas e arrefecer o afã desenvolvimentista que grassa forte neste início de século. Consumismo desenfreado e crescimento econômico a qualquer preço são duas das principais pragas da modernidade, e a elas devemos imputar boa parte das mazelas com que convivemos. Trocar consumo e desenvolvimento por investimentos sociais, por democracia, igualdade, respeito ao meio ambiente e desaquecimento, não é seguramente operação simples. Requererá décadas de empenho político, criatividade e reeducação.

Obama não tem como nos fornecer isso, mas pode agir como catalisador. Pode, por exemplo, repor na cena política uma agenda progressista, voltada mais para a população do que para a economia, ainda que sem abandonar a convicção de que é preciso ajudar os mercados a sair da lambança em que se meteram. Voltar-se para a população significa fazer o governo funcionar para promover as pessoas, provê-las de serviços e suportes que as façam crescer e viver com dignidade. Obama pode ajudar a que se passe a ver o bom governo como aquele que colabora para que se tenha boa vida, não tanto boa economia. Pode ser uma diferença sutil, mas não deixa de ser decisiva. Dar-se-ia o mesmo na frente administrativa. Uma guinada progressista de Obama jogaria por terra o palavrório insosso do “choque de gestão” e do Estado mínimo.

Muitos manifestaram preocupação com o protecionismo do Partido Democrata e do próprio Obama, que desde a campanha sempre se manifestou favorável aos interesses de seu país. Os que não gostaram disso pareciam querer que o novo presidente governasse para o mundo e para os países mais pobres. O protecionismo democrata é tradicional. Sempre existiu e sempre existirá, especialmente em momentos de crise aguda, como o atual.

Uma eventual agenda progressista de Obama não abandonará o protecionismo, e não fará isso por vários motivos. Mas poderá contribuir para que se criem novos canais de negociação, novos relacionamentos comerciais e novas modalidades de cooperação e ajuda internacional. Se for assim, será um passo de gigante.

Não houve quem não lembrasse que uma coisa é o discurso de campanha, outra coisa é a prática efetiva do governo. Trata-se de uma lembrança oportuna, ainda que óbvia e elementar. Todo governante eleito vive tal situação, mesmo aqueles que prometem pouco e se apresentam como técnicos ou “gerenciais”. Campanha e governo implicam lógicas distintas, condutas e discursos específicos. O importante é compreender como o candidato se prolonga no governante. Política e governo são sempre um ator e certas circunstâncias. Faz-se o que se pode, não o que se deseja fazer. Mas sempre dá para ligar o desejável e o possível, graduá-los e equilibrá-los, de modo a que a prática dura e fria do governo contenha uma dose de fantasia e facilite às pessoas a continuidade de uma esperança. Obama enfrentará dificuldades enormes para transformar em fatos muitos de seus compromissos de campanha. Mas poderá fazer com que seus recuos e fracassos se convertam em fatores de mobilização para novas tentativas futuras.

Obama tem tais condições porque representa um sopro de renovação e vem embalado pelo entusiasmo das multidões. Sua legitimidade mistura respeito racional-legal e adesão ao carisma do líder. Representa o negro pobre e o branco liberal, o branco atingido pela crise e o negro progressista, a classe média que se empobreceu e as elites democráticas, os jovens, os mais velhos e as mulheres de todas as etnias.

Torcer por seu sucesso, e admitir que ele possa acontecer, não autoriza ninguém a se pôr diante dele com a ingênua expectativa de que tudo agora será diferente. Obama não trará o céu à terra até mesmo porque não se comprometeu com isso. Não é anticapitalista nem reformista convicto, menos ainda um socialista moderado. É somente um político jovem, talentoso, pragmático e determinado, em cujas veias parece correr o sangue secular do que há de melhor na sociedade americana. Mais que um sonho, ele expressa o fim de um pesadelo, a era Bush. Pode não ser suficiente, mas é sem dúvida muita coisa. [Publicado em O Estado de S. Paulo, 22 de novembro de 2008, p. A2]



Clique para ver...

O riso é livro

Para quem não conferiu ao vivo na Feira do Livro, aí vai o projeto e a versão final, pintada em placa de MDF, do cartum sobre livros, parte do evento O Riso é Livro, genial invenção do Fraga. O Peter Pan ficou de fora da versão final por falta de espaço...


Clique para ver...

Drops Pós-Eleitorais - Parte II: Más Companhias.

Gabeira e seu candidato a vice-prefeito, Luís Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), que foi vice-governador do estado do Rio de Janeiro, na “inesquecível” gestão de Marcello Alencar.

A edição de "O Globo" do último sábado, dia 15/11, trouxe uma notícia muito reveladora para aqueles que acreditaram - apesar de todas as evidências em contrário - que a candidatura de Fernando Gabeira à prefeitura do Rio de Janeiro representava uma alternativa à "política tradicional", que ele era, efetivamente, um candidato "independente" e "fora das estruturas partidárias convencionais" e que estava disposto a fazer um governo - caso fosse eleito - com uma "equipe de técnicos competentes e sem vínculo partidário". Na coluna "Panorama Político" foi noticiado que José Serra - o mesmo que conseguiu que o PSDB investisse R$ 1 milhão na campanha à prefeitura do candidato do PV - estava convencendo Gabeira a se candidatar ao governo do Rio de Janeiro, em 2010, pois precisa de um palanque forte no estado. Imediatamente, lembrei-me da quadrinha popular que foi cantada em várias capitais do Brasil, quando - através do grande "acordão das elites" que foi o "Golpe da Maioridade" - Pedro II pôde assumir o trono brasileiro com apenas 15 anos:

Por subir Pedrinho ao trono
Não fique o povo contente
Não pode ser boa coisa
Servindo com a mesma gente.
Clique para ver...

Caricaturas de Liberati


Nietzsche e Brecht

Clique para ver...

Pílulas de quarta-feira


Bravo juiz De Sanctis! E que agenda cheia esta semana para o caso Daniel Dantas. TRF, STJ, com várias derrotas para o banqueiro. Um interessante estudo é acompanhar a quantidade de notícias publicadas ao longo das últimas duas semanas para demonizar o juiz e o delegado. Que fato novo havia? Nada. Apenas a agenda da defesa de Dantas que pautou a mídia. O tom da continuidade da campanha já foi dado pela Folha Online com o título:“Juiz desiste da promoção para continuar no caso Daniel Dantas”. Interpretam seus reais objetivos, logo falarão de obsessão, podem apostar. E que história é essa de gravação de reunião de delegados que vai parar na imprensa para ela insinuar que houve de fato uma irregular gravação no STF? Quem gravou? Quem distribuiu? Com que propósito? Já está virando comédia.

Acreditem, li a coluna de Clovis Rossi nesta terça-feira e quase não me irritei. Na verdade outro sentimento foi mais forte. Percebi claramente como os jornais ficaram velhos e que muito em breve estarão mortos. Qual a importância de comprar um amontoado de papel para ler uma opinião de direita se há várias de graça na internet? Colunas e artigos morreram no papel. Que há de diferente em seu texto? Fazer uma mera provocação a Lula, Cristina Kirchner e Hu Jintao por terem assinado um documento do G20 que defende a economia de mercado? Deveriam ter cruzado os braços e decretado a revolução socialista mundial ali? A única relevância na leitura estava no final do texto, no PS com pedido de desculpas pela coluna de domingo, onde disse que Vladimir Herzog era terrorista. Ficou ainda mais claro o “já era”. Onde eu poderia de pronto postar um comentário para dizer que terroristas foram os que o assassinaram, depois de bárbara tortura? E ainda tiveram o atrevimento de inventar um suicídio. E lembraria também que a empresa que paga ao colunista foi cúmplice desses torturadores naquela época. Clovis Rossi, nunca mais!

Para avisar que volta a pauta do STF a decisão sobre a Lei de Imprensa, Cláudio Lembo lembra de John Milton, poeta inglês renascentista, que em 1644 publica Areopagítica, um manifesto de influência liberal na defesa da liberdade de expressão, contra decisões do parlamento que censurou um de seus livros. Interessante, copiei e em breve vou colar em algum lugar do blog a frase de Milton: “Dai-me liberdade para saber, para falar e para discutir livremente, de acordo com a consciência, acima de todas as liberdades”. Pessimista que sou, será uma forma de já preparar campanha para quando a justiça garantir ao cartel midiático toda a liberdade para fazer golpismo, enquanto a internet, da senzala, terá a severa vigilância de nossos juízes.

O blogueiro viaja nesta quarta e só volta no domingo. Estará sem internet, celular, GPS... Será orientado apenas pelas estrelas, se não chover.
Clique para ver...

Entendendo Mendes

Quando Gilmar Mendes tomou posse da presidência do STF, em 23 de abril último, estranhei o tamanho da festa na Corte. Toda a república estava presente. Vários ex-presidentes, empresários, donos da mídia, até o Pelé compareceu. Foram cerca de 4.800 convidados, servidos das melhores bebidas, salgados, canapés e boa música, a cargo de orquestra da Universidade de Brasília. Tamanha demonstração de importância, que segundo O Globo custou R$ 76 mil, aguçou minha curiosidade sobre este homem que disse na posse que para aperfeiçoar o judiciário era necessária a “diminuição dos custos e a maximização dos recursos”. Como é tema recorrente em seus discursos, — segundo a mesma reportagem, Mendes, em sua posse no CNJ criticou os gastos excessivos do judiciário e defendeu uma melhor gestão de recursos — entendi que o STF fazia ali uma maximização. O dinheiro investido teria retorno garantido. E o fato me fez perguntar a amigo jornalista, experiente profissional, quem era afinal o tal Gilmar Mendes, que até então pouco havia me dado conta da existência. A resposta precisa é impublicável, mas em uma versão livre foi dito que era alguém que tinha muitos negócios na República, com muita troca de interesses com os que ali estavam em sua festa.

Entendi um pouco melhor da explicação do amigo quando a reportagem de capa da Carta Capital, de 6 de outubro, mostrou o empresário Gilmar Mendes e seus negócios no Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), com contratos conseguidos pela boa influência política, até mesmo para a compra de um terreno para sua sede, adquirido por 20% de seu real valor.

Agora, na última edição da mesma revista, entendo o que faltava. Gilmar Mendes é autêntico representante de nosso passado colonial, atuando como coronel na política da cidade de sua oligarca família, Diamantino (MT), de forma muito distinta da de um guardião do estado de direito. Há fatos muito graves apurados pela reportagem. E demonstram que os valores republicanos do ministro não valem muito em sua terra. Entre tantos casos narrados, fiquei consternado com o acorrido em 14 de setembro de 2000, quando a estudante Andréa Paula Pedroso Wonsoski registrou um boletim de ocorrência em delegacia da cidade contra o irmão de Mendes, candidato a prefeito pelo PPS. Diz o BO que a jovem afirmou ter sido repreendida pelo candidato um dia antes e ameaçada por seus cabos eleitorais, irados por denúncia feita em rádio de troca de cestas básicas por votos. 32 dias depois, após participar de um protesto estudantil contra o abuso do poder econômico nas eleições municipais, Andréa desapareceu. Seu corpo só foi encontrado em 2003 e apenas em 2005, depois da insistência de sua mãe em apurar o caso, o exame da ossada descobriu que foi morta com um tiro na nuca. O caso está arquivado na Vara Especial Criminal de Diamantino e a polícia nunca conseguiu esclarecer o crime. A justiça ali nunca foi feita. Lá a legislação parece que é outra.
Clique para ver...

Lisboa, 13 de dezembro de 1968: do outro lado do Atlântico, os versos de "Pátria Minha" expressaram toda dor de um país.

Vinicius de Moraes foi uma figura ímpar na cultura brasileira. Diplomata de carreira e poeta consagrado, jamais abriu mão da vida boêmia, da paixão pelas mulheres e da carreira como compositor/músico de MPB, para desagrado de um bom número de colegas seus da ala mais conservadora do Itamaraty. No livro que escreveu sobre ele (Vinicius de Moraes: O Poeta da Paixão, Cia. das Letras, 1994), José Castello conta que, em dezembro de 1968, Vinicius estava em Portugal para uma série de shows, quando, no dia 13, começaram a chegar do Brasil notícias truncadas e desencontradas sobre a decretação do Ato Institucional n° 5. Preocupado com o destino de vários amigos seus, tentou contatar, sem sucesso, alguns deles como Rubem Braga, no Rio de Janeiro, e Otto Lara Resende, que era adido cultural em Lisboa. À noite, mesmo abalado e preocupado com os acontecimentos do outro lado do Atlântico, Vinicius dirigiu-se ao teatro para o show que faria com o violonista Baden-Powell e com a cantora Márcia. Naqueles dias, Portugal vivia o efêmero período da chamada “Primavera Marcellista” em que a ascensão de Marcello Caetano ao poder, no lugar do velho ditador António de Oliveira Salazar, havia acendido as esperanças de que poderia ocorrer uma liberalização do regime. No entanto, tais esperanças demonstraram-se se infundadas e Portugal só se livraria daquela ditadura que durava quase meio século, em abril de 1974, com a Revolução dos Cravos. Naquele 13 de dezembro, já que o Brasil era o tema recorrente nos noticiários portugueses, a TV estatal portuguesa – a RTP – envia uma equipe para fazer um tape do show. Sem temer a presença da mídia portuguesa e, provavelmente, de agentes da temida polícia política salazarista, a PIDE, Vinicius interrompe o show, antes de começar a interpretar o “Canto de Ossanha”, e diz "Eu hoje gostaria de dizer a vocês umas palavras de muita tristeza. No meu país foi instaurado, hoje, o Ato Institucional n° 5. Pessoas estão sendo perseguidas, assassinadas, torturadas. Por isso, quero ler um poema". A seguir, abriu um exemplar de sua "Antologia Poética" e - enquanto Baden Powell dedilhava o no violão o Hino Nacional brasileiro - leu os versos de “Pátria Minha" (publicados originalmente em 1949), para êxtase da platéia:

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria (...)


Como ressalta José Castello, a leitura desse poema ficou tão marcada na memória dos portugueses como “uma das mais bem-acabadas expressões que puderam conhecer do amor à liberdade”, que na noite seguinte à Revolução dos Cravos (1974) que derrubou a famigerada ditadura salazarista-marcellista, a RTP retirou o tape do show de Vinicius de seus arquivos e o reprisou. Os ventos da liberdade que, naquele instante, sopravam em Portugal demorariam ainda alguns anos antes de atravessarem o Atlântico e chegarem ao Brasil.
Clique para ver...

Fusão com o PSDB é saída para evitar a extinção eleitoral do PPS

O PSDB pode dar mais um passo para a direita do espectro político. O PPS estuda uma fusão com o PSDB para evitar o seu desaparecimento. Na verdade, trata-se de anexação do PPS ao PSDB. Como o antigo partidão está à direita do PSDB, a fusão é mais uma guinada à direita do tucanato. Tudo negociado entre o líder do partido na Câmara, o presidente do PSDB e o governador José Serra. E com as bênçãos de Roberto Freire.
A cada eleição, o PPS fica mais nanico. O risco é que o partido acabe em extinção. Suas lideranças gostam de atribuir ao assédio governista sua fraqueza eleitoral, mas a explicação é bastante simplória. O buraco é mais fundo. O presidente do PPS, Roberto Freire, é um frustrado. Um político sem votos que comanda o partido como se fosse sua propriedade. Lembra muito Brizola no comando do PDT. Mas Brizola tinha história, uma liderança carismática, seguidores e uma grande base social. Nesse sentido, Freire nem nos sonhos mais longínquos chega perto de Brizola ou de qualquer outro grande político nacional. Aliás, Roberto Freire é um político menor. Só ele pensa que tem relevância política.
O problema dos frustrados é quererem fazer da política uma arena para desafogar suas frustrações. O caminho de Roberto Freire e de seu partido acabou sendo a radicalização política em direção à direita do espectro político. Acontece que esse espaço já foi ocupado pelo DEM, outro partido que ultimamente não tem muito a comemorar em termos eleitorais. Além disso, o PPS tornou-se uma sub-legenda ou partido de aluguel para servir aos interesses do DEM e do PSDB. O resultado é o contínuo fracasso eleitoral. Nas últimas eleições municipais, o PPS foi o partido que mais reduziu de tamanho, perdendo praticamente 60% das prefeituras conquistadas em 2004. Nessa situação, é natural que os parlamentares do partido fiquem preocupados com sua reeleição em 2010. Uma saída óbvia é ser anexado ao PSDB, pelo menos assim deixa de ser sub-legenda daquele partido.
A anexação do PPS fortalece a batalha de Serra contra seu rival no partido Aécio Neves. A proximidade de José Serra com lideranças do PSDB é notória. Se for confirmada a fusão entre os dois partidos (ou melhor, adesão do PPS ao PSDB), Aécio Neves tem mais um revés na sua pretensão de ser candidato do partido em 2010. De fato, não está mesmo fácil para Aecinho obter a indicação. Enquanto Serra fortalece seus vínculos com o DEM e o PPS e cria canais dentro do PMDB (Orestes Quércia em São Paulo), Aécio flerta com partidos do arco governista. Resumindo, Serra tem controle sobre seu futuro político, pois tem base no partido e naqueles que estão em oposição ao governo. Já Aécio não comanda seu futuro, pois Lula ainda é comandante maior dos partidos que estão na sua base.

É claro que o cenário eleitoral pode alterar bastante, mas a margem de manobra do presidente é infinitamente maior que do governador mineiro. Um sinal de desespero de Aécio Neves é o recente ataque histérico (e fortuito) ao governo Lula. Ao contrário de Serra, que busca apropriar da agenda governista, Aécio radicou o discurso e adotou a agenda derrotada em 2006 – privatização, redução dos gastos sociais, arrocho salarial do funcionalismo público, etc. É o famoso choque de gestão tucano. De fato, é uma estratégia de alto risco, que tem tudo para não prosperar.

Clique para ver...

Prorrogação

Clique para ver...

Pílulas de um pouco do que abunda


Já afirmei aqui e repito que para este escrevinhador que vos fala o blog é mero canal para o desabafo de suas preocupações existenciais. Uma solução catártica para com as muitas raivas do dia-a-dia, normalmente vinculadas à canalhice abundante. Não tenho nada para vender ou promover. Nenhum projeto para compartilhar. E da minha vida pessoal nada há de relevante que mereça atenção. Apenas desejo me livrar dessa sensação de ser o único a se sentir sacaneado. E tem sido ótimo. O resultado em comentários e na leitura é melhor do que podia imaginar, purgando as dores ao descobrir alguns iguais nas mesmas aflições. Daí estranhei minha própria reação ao julgamento do habeas corpus de Daniel Dantas na quinta retrasada. Desenhei uma fotopotoca com a canalha do STF e calei. A vontade era a de esmurrar. Sair berrando pelas ruas, imaginando encontrar algum parceiro igualmente insano. Nenhuma palavra, nenhum desenho teria efeito. Manifestou-se em meus pensamentos um total pessimismo para com a importância da comunicação e com minha limitada capacidade de participação na república. Mas passou, passou... Continuo achando a democracia mauricinha uma enorme farsa, mas agora ao menos consigo voltar a desafogar esta amargura.

Ao longo dos últimos dias a mídia maurícia seguiu um roteirinho básico de desqualificação do delegado Protógenes e do juiz De Sanctis. O primeiro é criticado pela “edição” do texto do inquérito da operação Satiagraha, por ter vazado informações e ter chamado a Abin para participar. Do segundo, ainda não entendi a bronca. Gilmar Mendes e Cezar Peluso tentaram explicar. Do último, entendi que foi um desrespeito à suprema corte ao ter insistido em prisão quando havia decisão anterior. Ainda aguardo melhor entender, mas infelizmente não será pela mídia. Imagino a dificuldade de reproduzir ao longo de muitos dias o mesmo reduzido enredo. Tarefa complicada para o proletariado da imprensa. O resultado deveria ser estudado pelos nossos acadêmicos ou futuros historiadores deste imbróglio. Na última quarta a Folha demonstrou esta complicação técnica com a falta de assunto ao dar destaque para a “suspeita” escolha da suíte 555 do Hotel São Paulo Inn. Reportagem de Ana Flor descreve onde ficava tal local, quem freqüentava, quem era o arquiteto do hotel e para ilustrar uma foto do filme “O iluminado”. Para o jornal, a semelhança de 666 e 555 faz uma tese do interesse dos seus leitores. Coitados.

Surpreendentemente, só hoje li algo de novo na mídia que vale a pena sobre o assunto Satiagraha. No Valor, reportagem de Caio Junqueira esboça os desafios para o Juiz Fausto De Sanctis nesta próxima semana, quando haverá o julgamento no TRF do pedido de suspeição feito pela defesa de Daniel Dantas. O tribunal encontra-se em processo eleitoral, sendo disputado por dois grupos, onde o juiz mantém independência. Segundo o texto, há inúmeras nuances políticas onde De Sanctis enfrenta dificuldades, lembrando o caso da juíza Márcia Cunha, aqui já comentado, que foi afastada por ter dado decisão contrária ao grupo Opportunity quando em sua disputa pelo controle da Brasil Telecom. O texto lembra que nesta semana a sentença por corrupção contra Daniel Dantas, Hugo Chicaroni e Humberto Braz deve ser proferida, o que explica as críticas recentes contra De Sanctis.

De fato, a Kelly tem razão. O Valor Econômico passou a ser o jornal onde é possível existir alguma informação sem a panfletagem escancarada, da mais obtusa apuração dos fatos, nos comentários mais óbvios. O artigo do professor Wanderley Guilherme dos Santos sobre as expectativas de Obama é um primor de fina ironia. Crítica ferina, técnica, a um leque amplo que vai da direita a esquerda. Algo a ser lido e estudado.

E falando de democracia, o Mox faz um preciso, minimalista e provocador comentário sobre frase onde digo que a candidata Cynthia McKinney tem em Cuba um exemplo de democracia. Ela o disse em discurso ao defender o fim do embargo à ilha, justificando que os EUA têm o que aprender com os cubanos. A palavra democracia foi minha, talvez tenha incorrido em erro de algum manual de bom jornalismo. Como não o sou, não tenha o propósito de ser e menos ainda de ver tal prática sendo usada em nossa mídia, apenas justifico que fui passional em concluir com meus pensamentos. Acho que a democracia de lá dá banho na tão decantada do norte. Os motivos são muitos e rendem uma boa polêmica, infelizmente relegada ao plano dos anátemas usuais. Mas achei divertido ser observado por alguém que respeito, que pertence a uma geração bem mais nova que a minha, que está em polêmica acirrada sobre os caminhos do pós-modernismo.
Clique para ver...

Jornais

Eu lia jornais. Adolescente, lia o JB diariamente e ansiava pelo caderno Idéias. Li até quando o jornal se tornou um reprodutor de releases picaretas e o Veríssimo parar de escrever em suas páginas. Assinei a Folha por anos, e honestamente, nada me parece mais adequado para definir aquilo que colunas e ruínas. Ganhei todos os brindes toscos e um dia, cansada com aquela papelada embololada, cancelei a assinatura. O Globo foi cancelado esta semana porque, honestamente, tudo tem limite. O Valor freqüentou minha casa por motivos profissionais, e apesar do alto preço do jornal, me apeguei, especialmente às edições de sexta feira. Passei um tempo esquecida disso, até reler o Wanderley Guilherme há semanas sobre a não política do Gabeira.
Hoje lendo o que ele escreveu sobre o Obama e a ingênua esperança de tantos, ô, me lembrei de quando eu gostava de ler jornais.
Clique para ver...

Nova postagem, finalmente

Como meus milhares de fiéis leitores já devem ter percebido, o blog está sofrendo de um déficit estrutural de postagens. Na última semana, tive que viajar a trabalho. Depois disso, outros compromissos e a preguiça me impediram de postar algo novo. E, como meus milhares de fiéis leitores também já devem ter percebido, a nova postagem é uma empulha. Ao invés de uma charge nova ou um texto analisando a atual conjuntura, temos uma enrolação, como outras que já tivemos neste blog. A diferença, como vocês perceberão a seguir, é que esta será uma enrolação bem ilustrada, com ares de notícia e divulgação cultural.

No domingo, dia 9 de novembro, eu estive na feira do livro pintando uma ilustração de humor, em painel de 1,30 x 1,00 m, com o tema “livro”. O painel, ao final da tarde, foi colocado em um “livro” gigante, onde se encontravam as pinturas do Hals, Rodrigo Rosa, Edgar Vasques, Moa, Rafael Sica, Bier, Lancast e Eugênio Neves, artistas que me antecederam. A estas alturas, também já se encontram no livrão o desenho do Santiago e o do Uberti . O do Rafael está sendo pintado hoje (12/11) à tarde.


A pintura ao vivo dos painéis e o livrão fazem parte do evento O Riso é Livro, patrocinado pela Caixa Econômica Federal. Os visitantes da Feira do Livro poderão folhar o livrão, receber cartões postais com cartuns e interagir com o artista que estiver pintando no dia. E o felizardo artista poderá tomar alguns capuccinos, chás gelados, receber a visita dos amigos (como eu recebi do Guga e da Têmis, do Bier, do Uberti, do Pedro Alice, do Moa e do Zé Antônio) e dos curiosos visitantes da Feira. Eu aproveitei o copo do primeiro de vários capuccinos que tomei para fazer um desenho de aquecimento. Um menino que se interessou pela pintura, o Arthur, acabou ficando com o souvenir.


Mas não foi apenas o Arthur e outros visitantes que ganharam alguns mimos. Eu ganhei a camiseta do evento, alguns conjuntos de cartões postais e dois belíssimos livros patrocinados pela Caixa, Memória Viva de Porto Alegre, em parceria com o Museu Hipólito José da Costa, e Corpo e Alma, de Orlando Brito.


A última grande notícia do dia me foi dada pelo Moa, via celular: Palmeiras 0 x 1 Grêmio. Dá-lhe Tricolor!


E depois, ainda participei de um coquetel que contava com a presença do mestre Ziraldo. Durante o coquetel, combinou-se um encontro no tradicional Tutti Giorni, nos altos do Viaduto da Borges, onde eu e o Hals pudemos dar uma de papagaios-de-pirata ao lado do grande Zira, com o multimídia Cláudio Levitan ao fundo, enquanto degustávamos uma Mãe Joana dunkel. O que é a Mãe Joana? Bem, quando o blog estiver parado novamente, eu escrevo uma postagem-enrolação sobre ela...

Clique para ver...

"O que muda na mudança" ou o que Tancredi Falconeri acharia da eleição de Barack Obama.

O que muda na mudança,
se tudo em volta é uma dança
no trajeto da esperança,
junto ao que nunca se alcança?

(Carlos Drummond de Andrade)

Uma das frases mais famosas da literatura mundial encontra-se em “O Leopardo”, obra-prima de Tomasi di Lampedusa (que, por sinal, originou um belo filme de Luchino Visconti, com Burt Lancaster e Alain Delon nos papéis principais): é aquela dita pelo personagem Tancredi Falconeri ao seu tio, o Príncipe Fabrizio Salina: “Se nós não estivermos lá, eles fazem uma república. Se queremos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude”. Tancredi, jovem impetuoso, havia se incorporado aos exércitos que lutavam pela unificação da Itália, enquanto seu velho tio mantinha-se fiel à dinastia Bourbon do Reino das Duas Sicílias. Apesar disto, Salina percebe e se orgulha da perspicácia de seu sobrinho: os tempos haviam mudado e a decadente aristocracia (“Nós”), se quisesse sobreviver, precisava se adaptar a eles, integrando-se com a ascendente burguesia (“Eles”). Ele mesmo não se vê com estrutura para participar desta integração, mas entende que o sobrinho seria a ponte entre os velhos e os novos tempos, garantindo a preservação dos interesses de sua classe.
O livro de Lampedusa me veio à lembrança em meio à euforia mundial pela vitória de Barack Obama (Sim, Obama é pop!! Até os porteiros de prédio e os garis brasileiros comemoraram sua eleição. Sem contar, a grande festa popular que tomou conta de várias cidades africanas) e, ao longo da última semana, o diálogo entre Tancredi e Salina ficou martelando em minha cabeça devido às incontáveis vezes que me perguntaram: o que o mundo pode esperar do governo Obama? Sem sombra de dúvidas, esta eleição tem um peso simbólico muito grande, principalmente quando se leva em conta a história de segregação racial que os Estados Unidos possuem. No entanto, se saímos do campo do simbólico e entramos no da Realpolitik, as coisas se tornam um pouco mais complicadas.
Tradicionalmente, os Democratas têm uma visão mais cosmopolita da política internacional e dão uma ênfase maior ao multilateralismo. Porém, não podemos esquecer que os governos existem para defender os interesses de seus Estados e que os interesses de uma potência imperial como os Estados Unidos estão em toda a parte e envolvem o mundo inteiro. Desta forma, convém lembrar que foi no governo do democrata John Kennedy que ocorreu a invasão da Baía dos Porcos, em Cuba; que foi no governo de Lyndon Johnson – o mesmo que assinou a Lei dos Direitos Civis dos negros norte-americanos, em 1964 – que os EUA se afundaram de vez no atoleiro do Vietnã e que o outro lado do Soft Power da era Clinton traduziu-se em intervenções militares na Somália e no Sudão. Assim, será que as expectativas geradas pela eleição de Obama em lugares como o continente africano, por exemplo, se traduzirão em resultados concretos?
Já foi dito inúmeras vezes – inclusive pelos representantes do governo brasileiro em diversos fóruns internacionais – que uma efetiva liberalização do comércio mundial, com a conseqüente extinção dos subsídios agrícolas nos países centrais, faria mais pelos países pobres do que qualquer pacote de ajuda humanitária. É notório que os EUA são um dos Estados com mais barreiras comerciais – tarifárias e não tarifárias – no mundo. Um governo do Partido Democrata, tradicionalmente protecionista, estaria disposto a eliminar progressivamente tais barreiras em nome do bem-estar do mundo como um todo? O novo presidente assumirá o governo dos EUA em meio a uma enorme crise internacional e a história nos mostra que, em momentos como este, há uma tendência a um maior fechamento das economias nacionais. Pensando em questões que interessam a vários dentre os países chamados “emergentes”, em especial ao Brasil, num momento em que o desemprego atinge níveis preocupantes nos EUA, estaria Obama disposto a enfrentar os sindicatos de trabalhadores – tradicional base social de apoio do Partido Democrata – do decadente setor siderúrgico norte-americano e retirar as barreiras protecionistas contra o aço importado? Ou enfrentar os produtores agrícolas do “Corn Belt” e retirar os subsídios ao etanol de milho, abrindo espaço para o nosso etanol de cana? Sinceramente, parece-me muito difícil que isto ocorra. Assim, não creio que venhamos a ter mudanças muito significativas na política externa norte-americana no próximo governo, com exceção de algumas questões pontuais como a diminuição das tropas no Afeganistão e no Iraque e a busca de uma saída honrosa para os EUA nesses conflitos, mas nada que altere de forma mais contundente a maneira como se dá a inserção norte-americana no mundo.
No âmbito da política doméstica, creio ser um equívoco – ou, no mínimo, excesso de otimismo - acreditar que a eleição de Barack Obama vira a página dos conflitos raciais nos EUA e anuncia uma nova era “pós-racial”, leitura esta que tem sido feita por boa parte da mídia, inclusive a brasileira. Uma análise mais acurada do mapa eleitoral dos EUA nos mostra algumas questões que devem ser objetos de reflexões mais profundas: 1- Um dos fatores que contribuíram para a vitória de Obama foi a mudança do perfil demográfico do país, com o aumento considerável do número de negros e de hispânicos. A candidatura de um negro à presidência e o trabalho de milhares de voluntários convencendo esses setores a se alistarem para votar e a saírem de casa no dia das eleições para fazê-lo estimularam a participação eleitoral desses segmentos, em que a abstenção é tradicionalmente grande (o número de hispânicos que foram às urnas aumentou 25% em relação a 2004 e o de negros 14%); 2- Entre o eleitorado branco, Obama obteve 43% dos votos, com este índice aumentando para 54% entre os mais jovens. Assim, apesar da vitória obtida por Obama em alguns distritos eleitorais majoritariamente brancos, a tal da “América profunda” – a base social por excelência dos Republicanos -, branca, anglo-saxônica e conservadora continua a ter um peso bastante grande na política norte-americana e estes setores não deixaram e não vão deixar de lado a clivagem racial; 3- O conservadorismo de boa parte da sociedade norte-americana se fez sentir em alguns dos plebiscitos estaduais que ocorreram paralelamente às eleições presidenciais: na Califórnia, na Flórida (estados onde Obama venceu) e no Arizona, os eleitores optaram pela proibição da união civil dos homossexuais. Logo, parece que os “ventos da mudança” não se refletiram no posicionamento em relação à questões morais.
Por fim, é importante lembrar que Obama é o legítimo representante daquela classe média negra que se formou e se fortaleceu nos últimos anos, devido a algumas décadas de políticas de ação afirmativa. Os filhos e netos da geração que lutou pelos direitos civis na década de 1960 tiveram a oportunidade de estudar nas melhores universidades norte-americanas (Obama é de Harvard) e formaram uma espécie de elite negra que, hoje, reivindica a construção de uma “sociedade pós-racial”, em que os méritos individuais sejam levados em consideração ao invés da cor da pele. A vitória de Obama é a vitória destes setores. Mas será que é a vitória dos milhões de negros pobres dos EUA para quem a questão racial é uma barreira a mais, que se soma às barreiras de classe?
De fato, a imagem que os norte-americanos têm de si mesmos e a imagem que o mundo tem dos EUA mudou com a eleição de Obama. Mas será que a sociedade norte-americana realmente mudou? Obama é a nova versão do sonho americano. O sonho de que qualquer criança nascida naquele país pode ser o que quiser, inclusive presidente dos EUA. Mas será que este sonho pode, de fato, ser sonhado por todos? Ou a eleição de Obama é o equivalente político do mito liberal do self-made man, a exceção que legitima a regra? Não tem jeito: aquele diabinho que fica soprando coisas em meus ouvidos vem me dizendo nos últimos dias: “lembre de Tancredi, lembre de Tancredi!”. E eu penso em Tancredi e também nos versos de Drummond...
Clique para ver...
 
Copyright (c) 2013 Blogger templates by Bloggermint
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...