Mostrando postagens com marcador ditadura. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ditadura. Mostrar todas as postagens

Esqueletos

Clique para ver...

Governo da Espanha homenageia membros da Igreja Católica - parceira de Franco - e esquece 1500 vítimas do ditador


Monumento aos 1500 mortos pelo franquismo em León, Espanha
foto: Olga Rodriguez


Assim começa artigo da jornalista Olga Rodriguez no jornal espanhol El Diario:

Santos ya tiene un lugar al que podemos llevarle flores.

Permítanme que comparta con ustedes algo personal. Ocurrió el pasado sábado, 12 de octubre, Día de las Fuerzas Armadas. Mientras el presidente del Gobierno y los príncipes de Asturias asistían al desfile del ejército, mientras se realizaban los preparativos para beatificar a 500 curas ‘mártires’ de la persecución religiosa en la Guerra Civil, un grupo de personas nos reunimos en el cementerio de León para celebrar la inauguración de un monumento a más de 1.500 víctimas del franquismo. Entre ellas, mi bisabuelo, “el abuelo Santos”.
No artigo, chamado A História não oficial, a jornalista faz uma comparação entre dois eventos que se deram no mesmo dia, e mostra o comportamento do governo espanhol, que apoiou e se fez presente na homenagem aos sacedotes, mas não mandou sequer representante na inauguração do monumento às 1500 vítimas do franquismo.

Mais uma vez, como em outra postagem aqui do blog (Ao escrever sobre herança maldita do franquismo na Espanha, jornalista parece falar da ditadura brasileira) em que comento outro artigo de Olga Rodriguez, fica clara a semelhança entre os processos vividos pela Espanha e pelo Brasil, em relação às ditaduras de lá e daqui.

Quando sabemos que a Igreja Católica praticamente dividiu a cadeira do governo da Espanha com o ditador facínora Francisco Franco, e ainda assim o governo atual homenageia sacerdotes e se esquece das vítimas civis, assassinadas e desaparecidas, ficam evidentes as semelhanças com o Brasil, onde diversas avenidas, praças e monumentos homenageiam ditadores e torturadores, enquanto várias famílias ainda não sabem nem dos corpos de seus mortos...

En un acto claramente político, la Iglesia beatificó a más de 500 religiosos caídos en la Guerra Civil, ignorando a las víctimas republicanas y a los curas represaliados por el fascismo. Al acto, celebrado en Tarragona, acudieron los ministros de Justicia e Interior, el presidente de la Generalitat, el presidente del Congreso, más de 80 alcaldes, 104 obispos, más de 1.300 sacerdotes. El propio Papa intervino con un mensaje en la ceremonia, que fue retransmitida en directo por La 2.  

(...) Horas antes de la ceremonia de beatificación varios centenares de personas asistíamos en León a esa inauguración del monumento en memoria de más de 1.500 fusilados del franquismo. Setenta y siete años después del asesinato y desaparición de mi bisabuelo, por fin un acto público iba a honrar su memoria, en alto, sin miedo, sin susurros. Decenas de mujeres y hombres, ya ancianos, presenciaron de este modo el primer homenaje a sus seres queridos asesinados o desaparecidos. Hubo emoción y dignidad. Sin embargo, ninguna autoridad se dignó a asistir a este acto, a pesar de tratarse de uno de los mayores monumentos a las víctimas del franquismo.

A Lei da Anistia tem que cair, na Espanha e no Brasil. Para que se faça justiça, para que a história não passe em branco e a impunidade acabe servindo de incentivo a futuros golpistas e eles venham praticar horrores semelhantes.

Leia o artigo de Olga Rodriguez na íntegra, clicando aqui.



Madame Flaubert, de Antonio Mello

Clique para ver...

Torturador da ditadura era segurança do bicheiro que comprou cobertura de Roberto Marinho. Ih, vão se desculpar de novo?



Já publiquei aqui que o triplex da Avenida Atlântica (a rua da praia de Copacabana - para os que não conhecem o Rio), onde Roberto Marinho comemorava seus réveillons, foi vendido para o banqueiro de bicho Aniz Abraão David (na imagem acima, ironizado pelo Jornal Extra, das Organizações Globo, em outra matéria), o poderoso chefão da Escola de Samba Beija Flor.

Por si só, essa venda demonstra a hipocrisia das Organizações Globo, que faz pose de defensora da moral e dos bons costumes por um lado, enquanto sonega imposto e negocia com bicheiro por outro.

Mas, hoje, o jornal das Organizações denuncia que um torturador da famosa Casa da Morte da ditadura (e eles eram escolhidos a dedo) era segurança de Anísio (como o bicheiro é conhecido) e sua família.

Pois o bicheiro e o torturador frequentavam a alta sociedade do Rio, como informa a reportagem:

O círculo de amizades, que envolvia autoridades militares e pessoas da alta sociedade, aliado às vitórias no carnaval, deu à Anísio uma visibilidade que ajudou a blindar seus negócios na contravenção.

Faltou dizer que esse "círculo de amizades" inclui a família Marinho.

Fica a questão: Como separar o dinheiro sujo de sangue dos homicídios (também denunciados num antigo editorial do Globo) do usado para comprar o triplex do fundador da Rede Globo?


Madame Flaubert, de Antonio Mello

Clique para ver...

Coronel Brilhante Ustra pode ser o primeiro militar a ir para a cadeia por crime de sequestro na época da ditadura




É um fato histórico: pela primeira vez um militar de alta patente da ditadura, já reconhecido como torturador em ação cível, pode ser condenado numa ação criminal, que pode mandá-lo à prisão pelo sequestro e desaparecimento do militante Edgar de Aquino Duarte.

O nome desse militar, talvez o primeiro de uma fila de condenações, é Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel reformado do Exército, de codinome Doutor Tibiriçá, que chefiou o DOI-CODI de 1970 a 1974.

A Justiça Federal em São Paulo negou o pedido de extinção do processo e de absolvição sumária do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, acusado pelo sequestro qualificado de Edgar de Aquino Duarte, militante político que desapareceu na época da ditadura militar. Além de ter afastado as alegações da defesa, o juiz Hélio Egydio de Matos Nogueira, titular da 9ª Vara Federal Criminal de São Paulo, determinou o prosseguimento da ação penal, marcando audiência para ouvir as oito testemunhas de acusação. Também serão julgados no caso os delegados de polícia Carlos Alberto Augusto e Alcides Singilo.

“Será a primeira audiência em que realmente serão ouvidas as testemunhas desses fatos perante a Justiça brasileira”, disse o procurador da República Andrey Borges de Mendonça, integrante do grupo de Trabalho Justiça de Transição do Ministério Público Federal e um dos autores da denúncia. O grupo foi criado com o objetivo de promover a investigação e persecução penal das violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura militar.

O procurador ressaltou, em entrevista na tarde de hoje (3) à Agência Brasil, que as audiências no caso de Duarte “são um marco” para o país. “Esta é a primeira vez que haverá audiência em ações criminais relacionadas ao Ustra. Ele já foi condenado em âmbito cível, mas, em âmbito penal, será a primeira audiência em que vítimas e testemunhas vão tratar da prática desse crime perante a Justiça e vão narrar esses fatos no âmbito criminal”, explicou.

“Não estamos pedimos uma indenização por danos morais ou valores financeiros a serem pagos para a família [como ocorreu em outros processos julgados em âmbito cível sobre o próprio Ustra], mas uma punição pela prática de um crime que, neste caso, é o sequestro qualificado. Nosso pedido é para que eles [réus] sejam punidos pela prática de um crime, diferente daqueles [processos] em que se pede uma indenização. Aqui não, aqui se pede uma sanção penal”, disse o procurador. [Fonte: Agência Brasil, onde você pode ler a reportagem completa]


Madame Flaubert, de Antonio Mello

Clique para ver...

Ao escrever sobre herança maldita do franquismo na Espanha, jornalista parece falar da ditadura brasileira


Grito de guerra dos fascistas chefiados por Franco.


Olga Rodríguez é uma jornalista especializada em informação internacional. Depois de cobrir as revoluções árabes em 2011, acaba de publicar o livro "Yo muero hoy", Las revueltas en el mundo árabe" (Debate).

Em sua coluna no espanhol El Diario do dia 24 último, Rodríguez escreveu sobre os problemas que ainda hoje atormentam a vida espanhola, herança do franquismo.

Vou selecionar alguns trechos (com alguns comentários meus entre chaves e destaques em negrito) para mostrar que em grande parte esses problemas vividos na Espanha são iguaizinhos aos nossos com nossa herança maldita da ditadura.

Cuando, al hablar de los crímenes del franquismo [da ditadura brasileira - BdoM], se dice que aquello fue una guerra -”y en una guerra ya se sabe...”-, se está contando tan solo una pequeña parte de la historia más reciente de nuestro país. Cuando se recurre a la equidistancia con el argumento de que “en ambos bandos se cometieron atrocidades” se oculta que la guerra civil tuvo un claro responsable que dio un golpe de Estado contra un gobierno democrático y que impulsó un plan sistemático destinado a acabar con un grupo ideológico o político. 
 


 (...) Luego vino la Transición, construida sobre el olvido de nuestros desaparecidos, de los muertos, de los represaliados, de los encarcelados, de los torturados. Un pueblo que da la espalda a su historia es un pueblo indefenso. “Una sociedad sin memoria no puede crear un civismo sano”, ha dicho en alguna ocasión el poeta Juan Gelman, que sufrió durante la dictadura argentina el desgarro que provoca el fascismo.



La impunidad del franquismo ha continuado hasta nuestros días y sobre ella se ha construido esta maltrecha democracia, que sigue excluyendo de los libros de texto de escuelas, institutos y universidades buena parte de los crímenes de la dictadura. Solo quienes eligen dentro de la carrera de Historia la especialización en esa época abordan el estudio de lo ocurrido. Todo un símbolo.



No hay en el empeño por rescatar la memoria ningún deseo de revancha, sino una reivindicación de justicia y una defensa de los derechos humanos, imprescindible para evitar que la historia se repita. Esa es una de las finalidades de la justicia: tener carácter ejemplarizante.



Mientras los crímenes franquistas [da ditadura brasileira - BdoM] continúen impunes se estará transmitiendo un mensaje enormemente peligroso y dañino para todos: que los regímenes totalitarios pueden campar a sus anchas, matar, cometer genocidios o crímenes de lesa humanidad e irse de rositas. Una premisa tan sumamente grave es capaz de extenderse por todos los recovecos de una sociedad, como un virus invasivo. Y de hecho este país se caracteriza por una cultura de la impunidad que facilita la corrupción, el enchufismo, la injusticia. 



Existen los mecanismos legales necesarios para abordar los crímenes del franquismo. Lo que falta es voluntad. Como me decía recientemente Carlos Slepoy, uno de los abogados impulsores de la querella argentina, “un juez español que se atreviera podría establecer que la Ley de Amnistía de 1977 es inaplicable según el derecho internacional. No hay obstáculo judicial. El obstáculo es absolutamente político.” Además, estamos hablando de crímenes que nunca prescriben, por mucho que la Fiscalía española haya dicho lo contrario.[Fonte, onde se encontra a íntegra do artigo, que recomendo]
Brasil e Espanha devem seguir o caminho da Argentina, que passa ainda hoje sua história a limpo, levando aos tribunais assassinos e torturadores, para que ela nunca mais se repita. Que eles recebam um julgamento justo, com amplo direito a defesa, o que nunca permitiram enquanto estiveram no poder.


Madame Flaubert, de Antonio Mello

Clique para ver...

Mea culpa

Clique para ver...

Infeliz Aniversário


Clique para ver...

Malditas minorias!


Clique para ver...

Paladinos da liberdade


Clique para ver...

Falta avisar


Clique para ver...

Cidadão Boilesen

Clique para ver...

Cada macaco no seu galho

Dizer quais os vetos e quando o Congresso Nacional deve votar é claramente uma afronta a Constituição Federal. O Ministro Luiz Fux viola a Constituição e fere de morte a Democracia

Amauri Teixeira - Brasil 247


"Xô xuá", diria o sambista baiano Riachão contra a invasão do Supremo Tribunal Federal (STF) no caso dos vetos da presidente Dilma Rousseff ao projeto que muda a distribuição dos royalties do petróleo no país. A liminar do ministro Luiz Fux - que suspende a votação no Congresso Nacional - é irresponsável. Ela põe em risco as bases das instituições republicanas do país. E pior. Pode desencadear um arriscado clima dantesco, ao bloquear as atividades do legislativo a partir de uma decisão monocrática.

Um dos princípios democráticos de direito é o da separação de poderes e em função desse princípio um poder não interfere nos assuntos internos dos outros poderes. E dizer quais os vetos e quando o Congresso Nacional deve votar é claramente uma afronta a Constituição Federal. O Ministro Luiz Fux viola a Constituição e fere de morte a Democracia.

O supremo insinua a incompetência de um poder e procura engessar juridicamente o papel do legislativo, dando vazão a uma queda de braço sem precedentes para a imatura democracia brasileira. A insegurança jurídica provocada justamente pela Corte responsável pela estabilidade dos poderes dar a entender nas entrelinhas que o episódio não é um mero mal-entendido entre o Congresso e o STF.

As sucessivas incursões dos ministros junto aos veículos de comunicação, a dispensa de formalidades no tratamento de assuntos de interesse nacional, como a cassação de mandatos legislativos, acrescentando-se o ambiente inquisitório e popularesco que contorna atualmente o cenário das sessões do STF, são constatações que destoam de maneira temerária com a imagem moderada e imparcial que todos esperam desta Corte.

A tentativa de pôr um poder de joelhos diante de outro não corrobora com a manutenção das instituições republicanas. Supor – inclusive – que o Congresso Nacional é "terra sem lei", como induziu o ministro Marco Aurélio só incita ainda mais o clima de disputa entre o Congresso e a Corte, assim como, a leitura equivocada de que o caráter supremo do tribunal lhe cacifa com poderes e atributos superiores ao do Congresso Nacional. Não, não é assim que a republica funciona. Cada poder, cada instituição existe para garantir a manutenção da soberania da democracia sobre todas as coisas, inclusive, a constituição.
Clique para ver...

A ditadura de cara nova

Clique para ver...

Antes que seja tarde

Hora de agir
Crônicas do Motta

As últimas manchetes do Estadão são mais que suficientes para esclarecer qualquer dúvida que ainda houvesse sobre o papel da imprensa na história contemporânea do Brasil.

O antigo jornal da família Mesquita foi um dos principais incentivadores do golpe militar de 64. Antes, já havia defendido com unhas e dentes e oligarquia paulista. Hoje, continua na linha de frente montada pela oligarquia, acompanhado pelas Organizações Globo, Folha e Veja - entre os mais destacados -, para resistir ao estabelecimento de uma verdadeira democracia no país.

Não foi nenhum representante do PT ou da esquerda ou da base governista que afirmou, numa ocasião solene, que à imprensa brasileira cabia o papel de oposição ao governo, já que os partidos políticos se encontravam extremamente  debilitados. Quem disse isso foi a própria presidente da associação empresarial dos jornais - e, como se vê, os feitos recentes dos associados dão inteira razão à sua afirmação.

A imprensa brasileira, tecnicamente muito pobre, não tem feito outra coisa nos últimos anos a não ser produzir, ininterruptamente, "escândalos" com o objetivo de enlamear o governo trabalhista.

O trabalho ficou mais fácil depois que a Justiça jogou no lixo a Lei de Imprensa, que dava alguma proteção aos pobres coitados que eram atirados nessa imensa máquina de moer reputações que se transformaram os meios de comunicação do país.

É tudo muito simples e sem riscos. Basta esperar que algum inimigo de alguma autoridade vaze um documento, ou dê alguma declaração, qualquer bobagem, que no dia seguinte ela estará lá no alto da primeira página.

Isso é jornalismo?

Claro que não, embora essa prática odiosa tenha seus defensores, muitos dos quais "jornalistas" que, por interesses pessoais óbvios, classificam o produto dessas aberrações como exemplo de uma estranha "imprensa independente".

Aos partidos governistas, se eles tiverem algum interesse em continuar a desenvolver o projeto de transformação do Brasil num país moderno, resta apenas uma alternativa: enfrentar com todas as armas que tiverem à sua disposição esse oligopólio.

A presidenta Dilma, o ex-presidente Lula, todos os atingidos por essa trama sórdida, se quiserem sobreviver a ela, não podem mais, nem por um segundo, continuar inertes aos constantes ataques que têm sofrido.

É preciso reagir, antes que seja tarde.

Clique para ver...

Um tribunal de exceção só podia resultar em crise institucional

Blog da Cidadania

Deve inquietar a cada cidadão que esteja se produzindo no Brasil uma crise institucional envolvendo os Poderes Legislativo e Judiciário. Enquanto este texto se escreve, o Plenário do Supremo Tribunal Federal ainda não concluiu deliberação sobre perda de mandatos eletivos por réus do julgamento da Ação Penal 470, vulgo julgamento do mensalão.Todavia, o resultado, seja qual for, não irá alterar uma situação que amargura o país.

A divergência entre os ministros do Supremo no que diz respeito àquela Corte entrar ou não em choque com a Câmara dos Deputados ao eventualmente usurpar desta o direito de cassar – ou não – os mandatos dos condenados naquela Ação Penal é uma divergência que só existe porque está em curso no Brasil um julgamento de exceção, do que é prova o fato de que os juízes que o conduzem não se entendem sobre como aplicar penas ou sequer se têm a prerrogativa de determinar a interrupção imediata de um mandato legislativo.

É vergonhoso que após 500 anos de história este país tenha experiência zero em punir políticos acusados de corrupção, pois tal ignorância faz lembrar como o Poder Judiciário brasileiro sempre foi omisso em sua missão constitucional. Mas não é só. Ao vermos como o Judiciário nem sabe como é condenar membros do legislativo até o fim – com cassação, prisão e tudo mais – porque nunca condenou nenhum, somos forçados a refletir sobre por que aquela Corte só começou a condenar agora.

Até hoje, os defensores do tipo de julgamento que se está fazendo no Supremo Tribunal Federal não deram uma só explicação para o ineditismo das decisões que ali estão sendo tomadas. Assim, seja qual for a decisão, será uma má decisão.

O Código Penal entrega ao Judiciário a decisão sobre cassação de mandatos legislativos e a Constituição entrega ao Legislativo. Como o primeiro texto legal só pode existir no âmbito do segundo, se a decisão do STF for desfavorável ao que a Presidência da Câmara dos Deputados advoga para si, será uma decisão inconstitucional.

Todavia, o Judiciário não tem como obrigar a Câmara a cassar ninguém, assim como esta não tem como obrigar aquele a não cassar. Mas como a cassação de um mandato legislativo precisa ser oficializada pela Casa Legislativa, ela pode não cumprir a decisão judicial, o que desembocaria, em tese, na situação de um membro efetivo do Legislativo cumprir pena de privação de liberdade.

Ter o detentor de um mandato legislativo atrás das grades, acima de tudo mandaria ao mundo um recado muito claro, de que um dos Poderes da República, o Poder Legislativo, vê defeitos insanáveis na decisão do Poder Judiciário que condenou aqueles parlamentares.

O julgamento do mensalão, pois, a despeito da decisão do STF sobre competência para cassar mandatos legislativos, ficará tisnado pelas demonstrações de inexperiência de seus condutores em tomar decisões que deveriam ser elementares numa democracia, pois ninguém irá acreditar em que jamais um parlamentar brasileiro acusado de crime foi merecedor de uma sentença de prisão e de perda do mandato, o que torna claro o caráter de exceção desse julgamento vergonhoso.

E para que não digam que não falei de flores, se considero inaceitável que um condenado pela Justiça mantenha mandato popular de qualquer espécie, tampouco é aceitável que um dos poderes da República se oponha a uma determinação de outro e essa discordância fique por isso mesmo, pois, assim, teríamos que considerar que um Poder se sobrepõe ao outro, o que seria a própria negação do conceito de democracia e República.

Clique para ver...

Comissão da Verdade

Clique para ver...

Criminosos de pijama

Clique para ver...

Arquivos

Clique para ver...

Infeliz Aniversário

Clique para ver...

A pobreza da ditadura

Dani Rodrik, publicado no Valor Econômico (10/02/2011)

O dado mais notável na recém-lançada edição de 20º aniversário do Relatório de Desenvolvimento Humano, da Organização das Nações Unidas (ONU), talvez seja o desempenho surpreendente dos países muçulmanos do Oriente Médio e Norte da África. Em termos de avanço no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nos últimos 40 anos, a Tunísia ficou na sexta colocação entre 135 países, à frente da Malásia, Hong Kong, México e Índia. 

Não muito atrás estava o Egito, em 14º lugar.O IDH é um indicador de desenvolvimento que reflete avanços em saúde e educação, juntamente com o crescimento econômico. O Egito e (especialmente) a Tunísia foram bastante bem no front do crescimento, mas brilharam mais em indicadores mais abrangentes. A expectativa de vida na Tunísia, de 74 anos, supera a da Hungria e Estônia, com mais que o dobro de sua riqueza. No Egito, 69% das crianças estão na escola, índice similar ao da Malásia, muito mais rica. Claramente, esses países não deixaram de fornecer serviços sociais ou de distribuir os benefícios do crescimento econômico. 

Ainda assim, no fim das contas, isso não importou. As populações egípcia e tunisiana estavam, parafraseando Howard Beale, "mad as hell" (totalmente enfurecidas) com seus governos e "não iriam mais tolerar aquilo". Se Zine El Abidine Ben Ali, da Tunísia, ou Hosni Mubarak, do Egito, esperavam popularidade política como recompensa pelos ganhos econômicos, devem ter ficado terrivelmente desapontados. 

Uma lição do "annus mirabilis" árabe é que uma economia boa nem sempre significa uma política boa; a duas podem pegar caminhos separados durante muito tempo. É verdade que os países mais ricos do mundo são quase todos democracias. Mas a política democrática não é condição necessária nem suficiente para o desenvolvimento econômico ao longo de várias décadas. 

Apesar dos avanços econômicos registrados, Tunísia, Egito e muitos outros países do Oriente Médio continuaram países autoritários, governados por pequenos grupos, com corrupção, clientelismo e nepotismo por todos os lados. A classificação desses países em termos de corrupção e liberdade política é de contraste gritante com a de seus indicadores de desenvolvimento. 

Crescimento econômico elevado não compra estabilidade política por si só, a não ser que as instituições políticas possam desenvolver-se e amadurecer com a mesma velocidade. O próprio crescimento econômico gera mobilização, fonte de instabilidade política. 

Na Tunísia, a Freedom House relatou, antes da Revolução de Jasmim, que "as autoridades continuavam assediando, prendendo e detendo jornalistas e blogueiros, ativistas dos direitos humanos e opositores políticos do governo". O governo egípcio estava em 111º lugar entre 180 países na pesquisa de corrupção de 2009 da Transparência Internacional. 

E, é claro, o contrário, também é verdadeiro: a Índia é uma democracia desde a independência em 1947 e, ainda assim, o país só começou a escapar de sua baixa "taxa de crescimento hindu" no início dos anos 80. 

Uma segunda lição é que crescimento econômico elevado não compra estabilidade política por si só, a não ser que as instituições políticas possam desenvolver-se e amadurecer com a mesma velocidade. Na verdade, o próprio crescimento econômico gera mobilização social e econômica, uma fonte fundamental de instabilidade política. 

Como disse há mais de 40 anos o falecido cientista político Samuel Huntington, "a mudança social e econômica - urbanização, aumento na alfabetização e educação, industrialização expansão dos meios de comunicação de massa - aumenta a consciência política, multiplica as demandas políticas, amplia a participação política". Some-se a isso, agora, as redes de relacionamento social como Twitter e Facebook e as forças de desestabilização que as rápidas mudanças econômicas colocam em movimento podem tornar-se devastadoras. 

Essas forças ficam mais potentes quando aumenta a diferença entre a mobilização social e a qualidade das instituições políticas. Quando as instituições políticas de um país são maduras, respondem às exigências de baixo, por meio da combinação de acomodação, reação e representação. Quando não são desenvolvidas o suficiente, se fecham a essas mudanças, na esperanças de que vão embora - ou sejam "compradas" por melhorias econômicas. 

Os eventos no Oriente Médio demonstram de forma ampla a fragilidade do segundo modelo. Os manifestantes em Túnis e Cairo não protestam pela falta de oportunidades políticas ou por serviços sociais deficientes. Reclamavam contra um regime político que consideravam isolado, arbitrário e corrupto, que não lhes dava voz suficiente. 

Para conseguir lidar com essas pressões, um regime político não precisa ser democrático no sentido ocidental do termo. É possível imaginar sistemas políticos ágeis em suas respostas, mas sem eleições livres e concorrência entre partidos políticos. Alguns apontariam para Omã ou Cingapura como exemplos de regimes autoritários que conseguem manter-se por muito tempo, mesmo diante de rápidas mudanças econômicas. Talvez. Mas o único tipo de sistema político que comprovou sua validade no longo prazo é o associado às democracias ocidentais. 

O que nos leva à China. No auge dos protestos egípcios, os internautas chineses que buscavam as palavras "Egito" ou "Cairo" recebiam mensagens dizendo que não podiam ser encontrados resultados. Evidentemente, o governo chinês não queria ver seus cidadãos lendo sobre os protestos no Egito e começando a ter ideias erradas. Com a lembrança do movimento da Praça da Paz Celestial, em 1989, sempre presente na memória, os líderes chineses mostram-se decididos a impedir sua repetição. 

A China não é a Tunísia ou o Egito, é claro. O governo chinês fez experiências de democracias locais e tentou combater a corrupção com determinação. Ainda assim, houve uma disseminação de protestos nos últimos dez anos. Houve 87 mil casos do que o governo chama de "incidentes de massa repentinos" em 2005, último ano em que o governo divulgou essas estatísticas, sugerindo que o número deve ter aumentado desde então. Os dissidentes desafiam a supremacia do Partido Comunista por conta e risco próprio. 

A aposta da liderança chinesa é que o elevado aumento nos padrões de vida e de oportunidades de emprego manterá as efervescentes tensões políticas e sociais sob controle. É por isso que se preocupa tanto em atingir crescimento econômico anual superior a 8% - o número mágico que o governo considera suficiente para conter conflitos sociais. 

O Egito e Tunísia, contudo, acabam de enviar uma mensagem de sobriedade à China e outros regimes autoritários pelo mundo: não contem com o progresso econômico para se manter no poder para sempre. 

Dani Rodrik é professor de Economia Política da Escola de Governo John F. Kennedy da Harvard University e autor de "One Economics, Many Recipes: Globalization, Institutions, and Economic Growth" (Uma ciência econômica, muitas receitas: globalização, instituições e crescimento econômico, em inglês).
Clique para ver...
 
Copyright (c) 2013 Blogger templates by Bloggermint
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...