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Papo entre amigos
Conversando com FHC
Marcos Coimbra
Correio Braziliense
É enternecedor o carinho de nossa grande imprensa com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Sempre que o entrevistam, é uma conversa amena. Percebe-se a alegria dos jornalistas em estar na sua presença.
O tom é cordial, as perguntas são tranquilas. Tudo flui na camaradaria.
O que não chega a ser surpreendente. FHC é um boa prosa, que sabe agradar os interlocutores. Além de ser uma pessoa respeitável, seja pela trajetória de vida, seja por sua maturidade.
Natural que o tratem com consideração.
Estranho é constatar que a amabilidade com que é recebido não se estende a seu sucessor. A mesma imprensa que o compreende tão bem costuma ser intransigente com Lula. Para não dizer francamente hostil e deselegante.
Quem lê o que ela tem falado a respeito do petista nos últimos dias e o compara ao tratamento que recebe Fernando Henrique deve achar que um deixou a Presidência escorraçado e o outro sob aplauso. Que a população odeia Lula e adora o tucano.
Esta semana, tivemos mais um desses bate-papos. Saiu na Folha de S.Paulo.
FHC discorreu sobre o Brasil e o mundo. Falou do PSDB, de Aécio e Serra. Meditou sobre o julgamento do mensalão com a sabedoria de quem o vê a prudente distância. Opinou sobre Dilma e Lula. Contou de sua vida particular, a família e os amores.
Foi uma longa conversa, sóbria e comedida — embora com toques de emoção.
Mas foi frustrante. Acabou sendo mais uma oportunidade perdida para ouvir FHC sobre algumas questões que permanecem sem resposta a respeito de seu governo.
É pena. Não está na moda "passar o Brasil a limpo"? "Mudar o Brasil?" "Sermos firmes e intransigentes com a verdade?"
Ninguém deseja que Fernando Henrique seja destratado, hostilizado com perguntas aborrecidas e impertinentes ou que o agridam.
Um dia, no entanto, bem que alguém poderia pedir, com toda educação, que falasse.
Que descrevesse o projeto do PSDB permanecer no poder por 20 anos e como seria posto em prática, quais as alianças e como seria azeitado (sem esquecer a distribuição, sem licitação, de quase 400 concessões de TVs educativas a políticos da base).
Que relembrasse os entendimentos de seu operador com o baixo clero da Câmara para aprovar a emenda da reeleição. Quanto usou de argumentos. E o que teve que fazer para que nenhuma CPI sobre o assunto fosse instalada.
Que apontasse os critérios que adotou para indicar integrantes dos tribunais superiores e nomear o procurador-geral da República. Que explicasse como atravessou oito anos de relações com o Judiciário em céu de brigadeiro.
Que refletisse sobre o significado de seus principais assessores econômicos tornarem-se milionários imediatamente após sairem do governo — coisa que, se acontecesse com um petista, seria razão para um terremoto.
Enfim, FHC poderia em muito ajudar os amigos. Esses que fingem ter nascido ontem e se dizem empenhados em "limpar" a política.
Bastaria que resolvesse falar com clareza.
No mínimo, diminuiria a taxa de hipocrisia no debate atual e reduziria o papo furado. O que é sempre bom.
Para que? Pra nada!
"Gaúcho", de Ascenso Ferreira:
Riscando os cavalos!
Tinindo as esporas!
Través das cochilhas!
Saí de meus pagos em louca arrancada!
— Para que?
— Pra nada!
Sobre Fux, Dirceu e o STF
A louca cavalgada do juiz Luiz Fux por uma vaga no sonhado Supremo Tribunal Federal
Paulo Nogueira
Ia usar a palavra perplexidade para descrever o sentimento que toma conta do leitor ao ver, na Folha de hoje, a entrevista que o juiz do STF Luiz Fux concedeu à jornalista Mônica Bergamo.
Mas recuei ao me lembrar de que grandes filósofos como Sêneca e Montaigne defenderam a tese de que a perplexidade é atributo dos tolos, tanto os coisas de repetem ao longo dos tempos.
Então ficamos assim: é uma entrevista altamente reveladora sobre o próprio Fux, o STF e as ligações imorais entre a justiça e a política no Brasil.
No último ano do governo Lula, Fux, em busca da nomeação para o STF, correu sofregamente atrás do apoio de quem ele achava que podia ajudá-lo.
Está no texto de Bergamo: “Fux “grudou” em Delfim Netto. Pediu carta de apoio a João Pedro Stedile, do MST. Contou com a ajuda de Antônio Palocci. Pediu uma força ao governador do Rio, Sergio Cabral. Buscou empresários. E se reuniu com José Dirceu, o mais célebre réu do mensalão. “Eu fui a várias pessoas de SP, à Fiesp. Numa dessas idas, alguém me levou ao Zé Dirceu porque ele era influente no governo Lula.”
Paulo Maluf, réu em três processos no STF, também intercedeu por Fux, segundo o deputado petista Cândido Vacarezza, ouvido na reportagem de Mônica. Vacarezza era líder do governo Lula.
Palavras de Vacarezza, na Folha: “Quem primeiro me procurou foi o deputado Paulo Maluf. Eu era líder do governo Lula. O Maluf estava defendendo a indicação e me chamou no gabinete dele para apresentar o Luiz Fux. Tivemos uma conversa bastante positiva. Eu tinha inclinação por outro candidato [ao STF]. Mas eu ouvi com atenção e achei as teses dele interessantes.”
Fux afirmou ao jornal que jamais viu Maluf.
O contato mais explosivo, naturalmente, foi o com Dirceu. Na época, as acusações contra Dirceu já eram de conhecimento amplo, geral e irrestrito. E Dirceu seria julgado, não muito depois, pelo STF para o qual Lux tentava desesperadamente ser admitido.
Tudo bem? Pode? É assim mesmo que funcionam as coisas?
Fux afirma que quando procurou Dirceu não se lembrou de que ele era réu do Mensalão. Mesmo com o beneficio da dúvida, é uma daquelas situações em que se aplica a grande frase de Wellington; “Quem acredita nisso acredita em tudo”.
A entrevista mostra um Fux sem o menor sentido de equilíbrio pessoal, dono de uma mente frágil e turbulenta. Considere a narração dele próprio do encontro que teve com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no qual acabaria recebendo a notícia de que atingira o objetivo: estava no STF.
“Aí eu passei meia hora rezando tudo o que eu sei de reza possível e imaginável. Quando ele [Cardozo] abriu a porta, falou: “Você não vai me dar um abraço? Você é o próximo ministro do Supremo Tribunal Federal”. Foi aí que eu chorei. Extravasei.”
Fux, no julgamento, chancelou basicamente tudo que Joaquim Barbosa defendeu, para frustração e raiva das pessoas que ele procurara para conseguir a nomeação, a começar por Dirceu.
Se foi justo ou injusto, é uma questão complexa e que desperta mais paixão que luz. Talvez a posteridade encontre uma resposta mais objetiva.
O certo é que Fux é, em si, uma prova torrencial de quanto o STF está longe de ser o reduto de Catões que muitos brasileiros, ingenuamente, pensam ser.
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Riscando os cavalos!
Tinindo as esporas!
Través das cochilhas!
Saí de meus pagos em louca arrancada!
— Para que?
— Pra nada!
Sobre Fux, Dirceu e o STF
A louca cavalgada do juiz Luiz Fux por uma vaga no sonhado Supremo Tribunal Federal
Paulo Nogueira
Ia usar a palavra perplexidade para descrever o sentimento que toma conta do leitor ao ver, na Folha de hoje, a entrevista que o juiz do STF Luiz Fux concedeu à jornalista Mônica Bergamo.
Mas recuei ao me lembrar de que grandes filósofos como Sêneca e Montaigne defenderam a tese de que a perplexidade é atributo dos tolos, tanto os coisas de repetem ao longo dos tempos.
Então ficamos assim: é uma entrevista altamente reveladora sobre o próprio Fux, o STF e as ligações imorais entre a justiça e a política no Brasil.
No último ano do governo Lula, Fux, em busca da nomeação para o STF, correu sofregamente atrás do apoio de quem ele achava que podia ajudá-lo.
Está no texto de Bergamo: “Fux “grudou” em Delfim Netto. Pediu carta de apoio a João Pedro Stedile, do MST. Contou com a ajuda de Antônio Palocci. Pediu uma força ao governador do Rio, Sergio Cabral. Buscou empresários. E se reuniu com José Dirceu, o mais célebre réu do mensalão. “Eu fui a várias pessoas de SP, à Fiesp. Numa dessas idas, alguém me levou ao Zé Dirceu porque ele era influente no governo Lula.”
Paulo Maluf, réu em três processos no STF, também intercedeu por Fux, segundo o deputado petista Cândido Vacarezza, ouvido na reportagem de Mônica. Vacarezza era líder do governo Lula.
Palavras de Vacarezza, na Folha: “Quem primeiro me procurou foi o deputado Paulo Maluf. Eu era líder do governo Lula. O Maluf estava defendendo a indicação e me chamou no gabinete dele para apresentar o Luiz Fux. Tivemos uma conversa bastante positiva. Eu tinha inclinação por outro candidato [ao STF]. Mas eu ouvi com atenção e achei as teses dele interessantes.”
Fux afirmou ao jornal que jamais viu Maluf.
O contato mais explosivo, naturalmente, foi o com Dirceu. Na época, as acusações contra Dirceu já eram de conhecimento amplo, geral e irrestrito. E Dirceu seria julgado, não muito depois, pelo STF para o qual Lux tentava desesperadamente ser admitido.
Tudo bem? Pode? É assim mesmo que funcionam as coisas?
Fux afirma que quando procurou Dirceu não se lembrou de que ele era réu do Mensalão. Mesmo com o beneficio da dúvida, é uma daquelas situações em que se aplica a grande frase de Wellington; “Quem acredita nisso acredita em tudo”.
A entrevista mostra um Fux sem o menor sentido de equilíbrio pessoal, dono de uma mente frágil e turbulenta. Considere a narração dele próprio do encontro que teve com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no qual acabaria recebendo a notícia de que atingira o objetivo: estava no STF.
“Aí eu passei meia hora rezando tudo o que eu sei de reza possível e imaginável. Quando ele [Cardozo] abriu a porta, falou: “Você não vai me dar um abraço? Você é o próximo ministro do Supremo Tribunal Federal”. Foi aí que eu chorei. Extravasei.”
Fux, no julgamento, chancelou basicamente tudo que Joaquim Barbosa defendeu, para frustração e raiva das pessoas que ele procurara para conseguir a nomeação, a começar por Dirceu.
Se foi justo ou injusto, é uma questão complexa e que desperta mais paixão que luz. Talvez a posteridade encontre uma resposta mais objetiva.
O certo é que Fux é, em si, uma prova torrencial de quanto o STF está longe de ser o reduto de Catões que muitos brasileiros, ingenuamente, pensam ser.
José Genoino concede entrevista à TVT e fala que vai provar inocência
Confira trecho da entrevista exclusiva que o ex-presidente do PT, José Genoino deu ao "Seu Jornal", em parceria com a "Rede Brasil Atual". A entrevista completa pode ser vista no "Seu Jornal" desta terça-feira.
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Entrevista de José Genoino a Terra Magazine
Terra Magazine: Durante o julgamento do Mensalão, o senhor foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção ativa e, nesta semana, a Corte definirá se o senhor será condenado por formação de quadrilha. Esperava esse veredito?
José Genoino: Não sou corrupto e entendo que foi uma condenação sem provas, baseada na tirania da hipótese pré-estabelecida, com base em um raciocínio do domínio do fato, da falta de provas, contrariando a presunção da inocência. Tudo isso contraria, a meu ver, uma visão democrática do Código Penal. Não pratiquei corrupção, o que eu fiz foram reuniões para defender o governo Lula. Como presidente do PT, cuidava das alianças políticas, da unidade da bancada do partido, da relação com os movimentos sociais e ocupava todo o meu tempo com a atividade política, legítima, democrática e transparente.
Não houve compra de votos nem compra de deputados. As votações principais do governo Lula foram decididas sempre com muita luta. Recebi a notícia da condenação com a indignação do inocente. Apresentei as provas e vou deixar tudo muito claro: os empréstimos que assinei são atos jurídicos perfeitos. Assinei os empréstimos encaminhados pela secretaria de finanças do PT, registrei no Tribunal Superior Eleitoral, e os empréstimos foram renovados porque o PT estava em uma situação muito difícil. Quando deixei a presidência do PT, o juiz de Minas Gerais cobrou judicialmente, inclusive, com o bloqueio da minha conta, que só foi desbloqueada porque era conta salário e, a partir de 2007, em uma negociação dirigida pelo então presidente Ricardo Berzoini, os empréstimos foram negociados por quatro anos e pagos, tanto o empréstimo do Banco Rural, como o do BMG. Sou um inocente.
O que o senhor pensou – ou fez – quando saiu sua primeira condenação, dia 9 de outubro?
Estava acompanhando a sessão do STF na minha casa, pela TV, com minha mulher e meus filhos Ronan e Miruna. Veio à minha cabeça a mesma sensação de quando eu estava na auditoria militar da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, sendo condenado a cinco anos de prisão, na década de 1970. É uma sensação de… eu uso uma expressão que gosto muito, deste livro, Memórias de um Revolucionário: "As noites cegas são poderosas, terríveis, mas nós somos a sua paciência". Eu me senti assim, indignado. Fiz uma carta aberta ao país, retirando-me do governo como inocente.
A partir daquele dia, tomei uma decisão. Durante sete anos, eu falei nos autos, não dei entrevista… aliás, a única que dei foi para Terra Magazine, em 2006. Falei só nos autos, acreditando que ia ser um julgamento técnico, com base só em provas. Naquele dia, percebi que se tratava de uma condenação sem provas e resolvi fazer a crítica política.
E com a sua família? Como foi a reação de sua mulher e seus filhos após a condenação?
Estavam todos aqui. No dia seguinte, fizemos uma conversa. Minha filha Mariana, que mora em Brasília, veio para São Paulo. Miruna fez a carta dela e eu não li antes da divulgação. Nessa reunião, eu disse que iria lutar de todas as formas para defender minha honra e minha dignidade. Falei que não iria me curvar. Não tenho riquezas nem patrimônio, mas vou para o risco do combate, dentro dos princípios democráticos. A democracia que está aí não é produto de uma sentença. Aliás, ela foi regada com muita guerra, luta, sangue, mortes, greves e barricadas. Não é produto de sentença e dei minha contribuição para a conquista dessa democracia. Disse à minha família que agora eu estaria em uma posição de militante livre e combatente e eles aprovaram.
A condenação abalou o senhor? Abalou a sua família?
Não. Minha mulher e meus filhos ficaram indignados, assim como eu. Naquela noite, escrevi a carta aberta, que li no dia seguinte durante a reunião do Diretório Nacional do PT. Mas não estava abalado. Minha vida só tem sentido quando eu a coloco a serviço de causas. E hoje eu tenho uma causa: defender minha inocência custe o que custar. Estou revigorado, vivendo um momento parecido com o meu entusiasmo de 1968, da Guerrilha do Araguaia, quando eu estava preso por cinco anos, quando eu disputava convenções do PT, quando eu fazia campanhas vitoriosas e derrotadas aqui em São Paulo… Estou com essa energia. Meu foco é resistir e lutar com todos os meios democráticos.
E qual é o primeiro passo dessa luta?
A primeira coisa que tenho que fazer é apresentar todos os documentos que estou preparando com o meu advogado, Luiz Fernando Pacheco. São memoriais que vão discutir a parte final do julgamento e serão apresentados como provas da minha inocência. Quem tinha que apresentar provas de minha culpa seria a acusação. Vou falar politicamente. Estou de cabeça erguida, com a consciência de um inocente e vou usar de todas as formas jurídicas e politicas para provar minha inocência. Eu quero provas.
Sua defesa foi baseada no fato de que o senhor foi acusado por aquilo que era, ou seja, presidente do PT, e não por aquilo que fez. Essa foi a melhor linha a ser seguida?
Sim. E continuo nessa linha, porque eu não pratiquei crime, não pratiquei ilícito. Eu era presidente do PT e fui condenado pelo fato de ser presidente do PT. Isso é o que se chama, no direito penal, responsabilidade objetiva, que é um conceito conservador, arcaico, que, felizmente, a humanidade superou, mas que agora tem uma nova versão, o domínio do fato. Assim, pode-se condenar sem provas concretas. O que fiz como presidente do PT foi legal, legítimo e necessário. Não se pode criminalizar a política, criminalizar os acordos e as alianças e é isso que se está fazendo. Quando se criminaliza a política, abre-se a porta para o autoritarismo, enfraquecendo o poder que emana do povo. Cumprirei as decisões impostas, mas minha consciência irá bradar todos os dias contra isso.
Acredita que o julgamento do Mensalão é um marco no Judiciário brasileiro?
Acho que temos que fazer um grande debate sobre esse julgamento, primeiro porque ele está se baseando em teses que precisam ser profundamente discutidas, como a do domínio do fato, que negam provas, a presunção da inocência, a condenação com base em indícios… Isso tem que ser profundamente discutido, porque pode representar um risco para um Judiciário democrático, abrindo graves precedentes.
Sua tese de defesa argumenta que existiu um esquema de caixa dois na campanha do PT e não a compra de votos de parlamentares. A ministra Cármen Lúcia reagiu dizendo que "caixa dois é crime" e que a confissão dessa prática com naturalidade na Corte era algo "inédito" na carreira dela. Essa é sua versão dos fatos?
Em primeiro lugar, meu advogado não falou em caixa dois. Ele afirmou, claramente, que minha função como presidente do PT era exclusivamente política. Eu não cuidava nem tinha responsabilidade quanto à administração do PT e quanto às finanças do partido. Não foi o meu, mas outros advogados disseram que quando se trata de crime eleitoral (caixa dois), tem que se julgar como crime eleitoral. Minha responsabilidade era política. Entendo que essa injustiça não é só contra mim e que isso enfraquece a Justiça no Brasil. Não podemos fazer de julgamentos um espetáculo midiático. Não podemos aceitar essa espetacularização.
Um dia após sua condenação, quando leu a nota durante reunião do Diretório Nacional do PT, o senhor se encontrou com o ex-ministro José Dirceu. Como foi esse encontro?
Fui recebido de pé por todo o Diretório Nacional do PT naquele dia. Todas as tendências gritavam meu nome. À tarde, quando entrou o companheiro Zé Dirceu, aconteceu a mesma coisa com ele e nós demos um forte abraço um no outro. E eu falei a ele a seguinte frase: "Zé Dirceu, no dia 12 de outubro de 1968, quando nós fomos presos no Congresso de Ibiúna, nós gritamos: 'A UNE somos nós'. Pois bem, o PT somos nós. Somos companheiros de luta e nossa geração aprendeu que podemos ser encurralados, mas não aceitamos nos curvar".
E o que José Dirceu respondeu?
Ele olhou bem pra mim e disse: "É o nosso destino. Nosso destino é lutar".
E com o ex-presidente Lula? Como é sua relação desde 2005?
O Lula, pra mim, é uma pessoa excepcional do ponto de vista humano e político e eu aprendi a ter muita confiança na capacidade política dele. E Lula costumava dizer, nos piores momentos do seu governo: “Não vou deixar o país quebrar no meu colo”. Minha relação com Lula é de muito respeito e confiança. Não fiz nada de errado, portanto, o compromisso que tive com o Lula de presidir o PT foi correto e eu repetiria, mesmo passando por tudo o que passei.
O ex-presidente Lula ligou para o senhor após sua condenação?
Várias vezes. Sempre uma ligação afetiva e muito forte, mas me reservo o direito de não dizer o que ele fala comigo.
O senhor resolveu deixar seu cargo no governo, de assessor especial do Ministério da Defesa. A presidente Dilma Rousseff foi relutante à entrega do seu cargo?
Ela me ouviu e falou coisas bonitas, mas não serei porta-voz dela.
Mas ela foi relutante?
Ela disse pra mim: "Como é que eu assino a sua demissão, Genoino? Como?". E respondi: "Retiro-me do governo com a consciência dos inocentes e vou ler uma carta no Diretório Nacional do PT". Tenho uma relação de respeito e confio muito na coragem e capacidade da companheira Dilma.
José Dirceu disse a amigos que se sente aliviado com o fato de o PT ter sido o partido mais votado no primeiro turno das eleições deste ano. Segundo ele, é como se o povo tivesse absolvido o partido. O senhor também avalia dessa maneira o desempenho do partido nas urnas?
O governo do PT foi julgado em 2006, quando o povo reelegeu o Lula, e em 2010, quando elegeu a Dilma presidente. As vitórias do PT mostram que o povo é mais inteligente do que certos setores pensam. O povo nos conhece, sabe onde a gente mora, o que a gente faz, o que a gente fez.
Em 2010 o senhor não foi eleito deputado federal. O povo não o absolveu?
Não foi isso. Em 2010, eu perdi por mil votos. O erro foi o tipo de campanha que nós fizemos. A campanha estava difícil porque fui muito criticado por setores da mídia… Tive apoio em muitas cidades, o PT me apoiou muito, mas isso faz parte. Na democracia, a gente perde e ganha e precisamos ficar felizes com isso.
Na década de 1970, o senhor foi preso por cinco anos e torturado durante a Guerrilha do Araguaia. O senhor consegue traçar algum paralelo daquele momento em relação a esse que está vivendo hoje?
O primeiro paralelo, lamentavelmente, e eu nunca falei isso para ninguém, são os pesadelos. Eu tenho pesadelos. As cicatrizes existem. Acredito no perdão, mas não no esquecimento, e é isso que aparece nos meus pesadelos. Misturo cenas daquele período, quando eu era interrogado, em 1972, com cenas do processo da Ação Penal 470. Há um mês, tive um pesadelo grande, gritei pra caramba, minha mulher ficou preocupada, porque eu fiquei em pé, estrebuchei na cama… As cicatrizes da vida deixam a gente mais preparado para as pancadas e estou com mais cicatrizes agora, elas não somem da cabeça nem do corpo. Mas não tenho ódio, ressentimento ou espírito de vingança. Eu tenho confiança no ser humano.
O senhor tem medo de ser preso?
Penso da seguinte maneira: a palavra medo não existe como impedimento para a minha luta. Entre a servidão e a humilhação, eu prefiro o risco do combate.
Se o senhor pudesse fazer de novo, corrigindo, alguma coisa na sua vida, o que seria?
Tudo o que fiz na minha vida foi com paixão e consciência. Sempre com dedicação e por causas e, portanto, minha trajetória me orgulha. Um dos objetivos da minha luta é defender minha história, porque é ela que me dignifica.
Então o senhor não corrigiria nada?
Minha trajetória me orgulha e tenho recebido muita solidariedade, tanto do PT, como de pessoas da oposição, de militares que trabalharam comigo no Ministério da Defesa, mas não vou citar nomes. É claro que a vida vai te ensinando, você não pode ser dono da verdade, você tem que estar aberto para mudar o mundo. O desafio é mudar o mundo mudado e quem quer mudar o mundo tem que aceitar ser mudado. O PT me mudou e eu mudei o PT.
O senhor considera que o PT errou?
O PT é vitorioso porque o objetivo de um partido é conquistar o poder e realizar seu programa e isso o PT fez. Agora, é claro que o PT tem que fazer uma avaliação de toda sua trajetória, olhando para o futuro. Não podemos ter medo do debate. O PT precisa aceitar a crítica e discutir as escolhas de maneira franca e aberta. O PT aprendeu uma lição: dividido, perde; e sem aliança, não ganha. Minha geração aprendeu no coletivo: ou ganham todos juntos ou se ferram todos juntos. Essa foi a lição que eu aprendi.
José de Abreu solta o verbo
'O PSDB está acabando, o DEM acabou', diz ator José de Abreu
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José de Abreu, 66, acompanha com a mesma intensidade o desfecho de "Avenida Brasil" e a conclusão do julgamento do mensalão no STF.
No caso do folhetim da Globo, que termina na sexta-feira, a morte de seu personagem, Nilo, que começaria a ser exibida no capítulo de terça (16), não o elimina da lista de suspeitos do assassinato de Max (Marcello Novaes), seu próprio filho.
Em conversa com a Folha, o ator fala da novela e de política. Confira parte da entrevista abaixo:
O MENSALÃO E O PT
"Eu nunca conversei com o Zé a respeito das denúncias. Acho que o PT fez o que sempre se fez. É errado? Sim! Mas fez o que sempre se fez".
"Por que o PPS apoia o Serra em São Paulo e o Paes/Lula/Dilma no Rio? Qual o sentido disso? Roberto Freire passa 24 horas por dia no Twitter metendo o pau no Lula, chamando de ladrão e de corrupto, e fecha com o Paes aqui, com um vice-candidato a prefeito do PT? É venda de espaço, venda de horário, venda da sigla. Vou ser processado. Já estou sendo processado pelo Gilmar Mendes [ministro do STF, por chamá-lo de corrupto no Twitter]. Agora, talvez seja processado pelo Freire."
"O Supremo quer mudar a maneira de fazer política no Brasil. Ótimo, maravilha! Óbvio que tinha que começar com o PT. Então, agora para ser condenado no Brasil basta ser preto, puta, pobre e petista."
"O grande organizador da base foi o Zé Dirceu. Eu não tenho informação de cocheira para falar. Lendo a imprensa, deu para notar o seguinte. Antes do Lula ser eleito, houve uma reunião dele com o Zé Dirceu dizendo que ele não queria mais concorrer, né? E o Zé o convenceu com a ideia do José de Alencar ser vice, de abrir um pouco mais o PT, de fazer coligação etc. Isso tudo foi o Dirceu quem fez não o Lula. Mas se for a história do domínio do fato, tem que prender o Fernando Henrique por comprar a eleição dele, porque tem provas. Agora se fala, eu sei que houve, mas não sei quem fez. O deputado Ronnie Von Santiago [que era do PFL-AC] falou eu ganhou R$ 200 mil para votar a favor da reeleição do Fernando Henrique. Ah, o FHC não sabia? Mas pelo domínio do fato, não saber é como saber. Então se pode enquadrar qualquer um, até o Lula, que sem dúvida nenhuma é o grande objetivo..."
"O PT está virando o Brasil de cabeça para baixo, está colocando uma mulher na presidência, um negro na presidência do STF, tirando 40 milhões da pobreza, fazendo um cara que sai do Bolsa Família, do ProUni, fazer mestrado em Harvard, ter os primeiros lugares do Enem."
"Como é que um operário sem dedo, semianalfabeto faz isso que nunca fizeram? O nosso querido Fernando Henrique Cardoso, que era a minha literatura de axila na faculdade, que era meu ídolo. Não o Lula. O Lula era da minha geração, o FHC de uma anterior. Fernando Henrique, Florestan Fernandes eram os caras que queria mudar o Brasil. Aí o Fernando Henrique tem a oportunidade e não faz? Vai para a direita? É uma coisa louca. O que aconteceu? O PT e o PSDB nasceram da mesma vértebra. Era para ser um partido só. O que acontece é que chegam ao poder e vendem a alma ao diabo. Fica igual ao que foi feito nos 500 anos. O PT teve o peito de tentar romper, rompeu e está pagando por isso."
Tem Notícias entrevista Pedro Bigardi
Vídeo AQUI
Bigardi foi o mais votado no primeiro turno, com 101.528 votos.
Esta semana, o Tem Notícias entrevista os dois candidatos a prefeito de Jundiaí (SP) que passaram para o segundo turno. O convidado desta terça-feira (16) é Pedro Bigardi (PC do B), de 52 anos. Ele é engenheiro e ocupa o cargo de deputado estadual desde o ano passado.
Cada candidato tem oito minutos cronometrados para responder aos questionamentos. O critério de escolha da ordem de entrevistas é o resultado oficial das eleições do dia 7 de outubro. Bigardi foi o mais votado, com 101.528 votos.
Daniel: Boa tarde.
Bigardi: Boa tarde, boa tarde a todos que estão assistindo em casa.
Daniel: E nós começamos falando justamente sobre o resultado do primeiro turno em Jundiaí. Pela primeira vez na história a cidade vai decidir quem vai administrar a cidade no segundo turno. Como o senhor avalia isso?
Bigardi: É importante para Jundiaí ter um aprofundamento das proposta nesse debate do segundo turno. Eu particularmente estou muito feliz. A maior votação da história de Jundiaí para um candidato à Prefeitura. Quase 101 mil votos. Portanto, muito agradecido pelo carinho e pela confiança da população.
Daniel: E como ficou sua campanha para esse segundo turno? Mudou?
Bigardi: A gente mantém a mesma linha, no debate de propostas e de ideias para a cidade, percorrendo os bairros, conversando com a comunidade. A gente quer fazer uma campanha muito próxima da população, e apresentando propostas reais, concretas, que podem ser implantadas a partir do ano que vem.
Daniel: O senhor disse que quer fazer uma revisão no plano diretor da cidade para controlar a expansão de Jundiaí. Como o senhor fará isso se eleito?
Bigardi: Olha, é uma área que eu tenho trabalhado há muitos anos, há mais de 30 anos no planejamento de cidades. Jundiaí precisa de uma reformulação em seu plano diretor, porque cresce de forma desordenada. Alguns bairros têm muitos prédios, uma densidade muito alta. Precisamos rever esse sistema de crescimento da cidade através de um novo plano diretor. Além disso precisamos fazer as obras para responder esse crescimento. Obras viárias, investimentos no transporte coletivo, isso precisa de mais investimentos, mais obras na cidade. Obras que possam ser concluídas rapidamente. O que a gente tem hoje são obras que demoram demais para serem feitas. Então vamos fazer o investimento para acompanhar o ritmo de crescimento da cidade, e fazer um planejamento, um zoneamento novo para que a cidade possa crescer de forma equilibrada.
Daniel: Que tipo de investimento, por exemplo, no transporte coletivo, candidato? O que o senhor mudaria e que ajudaria a melhorar o que tem hoje?
Bigardi: Olha, primeiro fazer as linhas inter bairros. Jundiaí antigamente tinha as linhas de ligação de um bairro a outro, e hoje as pessoas ficam perdendo muito tempo de um terminal a outro. Há um tempo de transbordo muito alto. As pessoas demoram quase uma hora de um bairro para o outro. Então fazer esse sistema direto de um bairro a outro.
Daniel: Isso resolveria?
Bigardi: Resolve, isso melhora o sistema. Além disso o bilhete único também, para que as pessoas possam pagar uma única passagem, e principalmente colocar mais ônibus a serviço da comunidade. Ônibus nos bairros, ônibus que possam ligar um ponto da cidade ao outro, para poder trabalhar, estudar. Então falta investimento no transporte coletivo. A tarifa é muito alta, a gente precisa progredir na questão da tarifa, tentando diminuir com o tempo a questão da tarifa na cidade de Jundiaí. Portanto fazer uma melhoria no sistema de transporte coletivo para que as pessoas possam circular melhor na cidade. E nos finais de semana a gente ter a tarifa social, para que as pessoas possam ir até os parques, circular na cidade, com uma tarifa menor. Isso nós também vamos fazer no nosso governo.
Daniel: E como você pretende lidar, candidato, com a expansão imobiliária e com a especulação no entorno da Serra do Japi.
Bigardi: Essa é uma preocupação muito grande. Eu sou professor de planejamento ambiental, tenho debatido isso na cidade. A Serra do Japi precisa ser preservada. É um patrimônio da humanidade, dá um equilíbrio ambiental para toda a região, o clima, na questão ambiental propriamente dita. Então nós temos que controlar esse assédio que nós temos em relação a Serra do Japi, com relação ao mercado imobiliário. Jundiaí pode crescer de forma ordenada mas sem atingir a Serra do Japi. Precisamos preservar a serra, ampliar a reserva biológica, a terra alta da serra do japi, para que seja de fato preservada, um estudo que já existe na cidade, a ampliação da reserva biológica, e fazer uma revisão da legislação do entorno da serra. Para que a gente possa ter uma ocupação, uma preservação desse patrimônio ambiental, e a cidade não cresça de forma desordenada, e o mercado imobiliário possa crescer nas áreas onde é possível crescer.
Daniel: E os produtores rurais? Falando da falta de incentivos. O que eles podem esperar se o senhor for eleito?
Bigardi: Olha, a valorização da nossa produção agrícola. Até porque a questão da zona rural também é uma questão ambiental. Nós temos um corredor verde que nos protege na cidade, além da Serra do Japi, na zona rural, a zona de produção agrícola que é uma região também de manancial, a região do Jundiaí-mirim, do Capivari, então preservar essa região é essencial ara nós. E aí temos que ter uma política de subsídios, buscar recursos no Governo Federal, do Governo Estadual, para produção agrícola, condições de trabalho, máquinas, equipamentos, valorização da agricultura. E também nosso circuito das frutas, intensificar a atuação do poder público junto ao circuito das frutas, criar na cidade uma coisa importante, o circuito gastronômico na região do Caxambú, uma região importante, o vinho artesanal, nós temos que fazer uma valorização do vinho artesanal, que também é uma questão histórica na cidade, portanto valorizar nossa produção agrícola, preservar e impedir inclusive na questão da produção agrícola que é a especulação imobiliária, também aconteça naquela direção. É isso que nós vamos fazer dentro do plano diretor, e na valorização do nosso produtor.
Daniel: Mas que ações seriam essas para valorizar, por exemplo, a região do campo?
Bigardi: Olha, existem recursos, existem subsídios, existem recursos do Governo Federal, programas do Governo Federal para valorização da agricultura, de valorização do produtor agrícola, através de cooperativas. É mais do que necessário nós criarmos cooperativas de produtores rurais, buscar esses recursos, tanto no Governo Federal como no Governo Estadual.
Daniel: Falando agora de segurança, o senhor disse em sua campanha eleitoral bastante que Jundiaí é uma cidade insegura. Mas isso é competência do Governo do Estado. O que o senhor pretende fazer para dar suporte à segurança pública?
Bigardi: Sabemos que é uma competência do governo do estado, mas o município também tem que assumir essa responsabilidade. Tenho dito que eu como prefeito vou assumir responsabilidades com a questão da segurança pública. Ampliando o efetivo da guarda, nós contrataremos mais 200 guardas municipais para a Guarda Municipal, vamos descentralizar a sua atuação, levando a Guarda Municipal para os bairros da cidade, através das bases descentralizadas de segurança pública da guarda. Vamos criar um sistema de comunicação rápida entre todos os agentes da polícia, guarda, Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros. Isso é imprescindível no combate à violência, criminalidade na cidade que tem aumentado, aumentado demais, portanto vamos fazer uma reformulação na questão da segurança. E vamos criar a secretaria da segurança pública para Jundiaí que possa fazer a articulação de todas as ações na segurança pública da cidade. Isso é imprescindível. Nós vamos assumir a nossa responsabilidade em relação à segurança pública.
Daniel: Candidato, no seu plano de governo o senhor diz que quer criar um programa que chama Jundiaí Conectado, que levará internet banda larga a todos os bairros, a todas as casas. A prefeitura vai custear todo esse investimento?
Bigardi: É, isso é um projeto que nós vamos fazer no tempo, é um projeto importante para levar a comunicação a todos os bairros da cidade. Existem áreas hoje que não são atendidas, portanto é um projeto a ser implantado ao longo de todo o governo. Nós vamos perseguir isso com muito cuidado para poder atender toda a comunidade.
Daniel: Certo, candidato. Agora nós temos os últimos instantes da nossa entrevista dedicados às suas considerações finais.
Bigardi: Bom, eu queria novamente agradecer a toda a população o carinho, a confiança que me deram nesse primeiro turno, nós tivemos mais de 101 mil votos, e eu quero dizer, reiterar aqui que eu me sinto com muita experiência ao longo de toda a minha vida, e preparação, com muita maturidade para poder governar Jundiaí. Eu quero governar minha cidade, cidade que eu nasci, vivi aqui a minha vida toda. Podemos criar aqui um governo com gente muito boa da própria cidade, portanto estamos preparados para governar Jundiaí, resolver esses problemas que estão atrapalhando a vida da população. Trânsito, transporte, segurança, saúde, portanto estamos preparados para governar Jundiaí. E é isso que nós vamos fazer. Governar com a participação da população, com diálogo com a comunidade. E nós estamos, pode ter certeza, preparados, com maturidade para governar nossa cidade de Jundiaí.
Daniel: Muito obrigada pela sua participação aqui no Tem Notícias.
Três horas de muita conversa!
O pessoal do Brasil Autogestionário, do Somos Andando e do RSurgente escreverá bem melhor do que nós, que pouco atualizamos o Dialógico, sobre a entrevista com o Olívio Dutra na noite desta segunda-feira, no Bar Odeon.
O dom de narrar os fatos, com detalhes impressionantes, provavelmente, herdou da mãe, uma senhora que só aprendeu a ler, quando os filhos se tornaram adultos. A Hstória das Reduções Jesuíticas, a saída de Bossoroca para São Luiz Gonzaga, a sua infância, seus pais, os avós, os estudos, as leituras, as tertúlias da juventude, o trabalho, o início da vida sindical, casamento, filhos, a amizade com o Lula, a Constituinte, fizeram com que 3 horas de conversa passassem desapercebidas por ouvintes encantados com esta figura política riograndense, cuja importância política para o Estado do RS ainda está para ser contada! Existe uma dívida cultural, não apenas política, a ser cobrada, porque as novas gerações precisam saber o que foi a revolução política, econômica e cultural que Olívio Dutra empreendeu, quando foi prefeito de Porto Alegre e Governador do RS.
Abaixo, algumas fotos:
Entrevista da Maria Conceição Tavares para a UFMG
Do site da UFMG, terça-feira, 24 de agosto de 2010, às 7h30
Clique para ver...
“É hora de romper com a maldição furtadiana”
Uma análise sobre a forma como o Brasil lidou com a crise internacional será feita nesta terça-feira, dia 24, pela economista Maria da Conceição Tavares à UFMG, durante a primeira conferência do projeto Sentimentos do Mundo em 2010. Portuguesa naturalizada brasileira, Conceição Tavares formou-se em matemática ainda em terras lusitanas, mas acabou se transformando numa das mais importantes expoentes do pensamento econômico brasileiro. Influenciada por Celso Furtado, Caio Prado Jr. e Ignácio Rangel, Conceição foi aluna de Octávio Gouvêa de Bulhões e Roberto Campos, professora da candidata à presidência Dilma Rousseff e parceira acadêmica do também presidenciável José Serra.
Aos 80 anos, completados em abril passado, a economista revela, nesta entrevista ao Boletim UFMG, que está “mais mansa” – ela que sempre teve fama de brigona. Mas não perdeu a verve. Critica a suposta preferência de José Serra por uma política internacional ancorada no eixo Norte-Sul, diverte-se com a radicalização de Plínio de Arruda Sampaio (candidato à presidência pelo PSOL) – democrata-cristão que virou socialista – e elogia as políticas sociais em vigor, que ajudaram a elevar o padrão de vida de 30 milhões de brasileiros. “Temos agora que nos preocupar com a educação, com a universalização dos direitos sociais, com a segurança”, defende.
A senhora tem fama de brava, polêmica, sempre muito enfática na defesa de suas ideias. Ao completar 80 anos, esse traço de sua personalidade manteve-se ou arrefeceu?
(Risos) Estou mais mansa com a idade. A gente vai ficando mais velha e percebe que é preciso ter paciência, que as coisas nem sempre avançam como você quer. Tanto que no meu aniversário eu convidei a Dilma {Dilma Rousseff, candidata a presidente pelo PT} e o Zé {José Serra, candidato pelo PSDB}, que era meu amigo de infância – da infância dele, claro, não da minha que sou mais velha (risos).
A senhora foi professora dele?
Não. Fui professora da Dilma. Do Serra eu fui colega. Escrevemos, inclusive, um artigo a quatro mãos.
De brava e polêmica, a senhora então está se transformando em uma conciliadora?
Exatamente (risos). Apesar da Dilma ser minha candidata, evito falar mal do José Serra.
O tema de sua conferência na UFMG é o Brasil e a crise internacional.A senhora acredita que o Brasil soube enfrentar melhor a turbulência de 2009?
Sim. E saímos muito rapidamente dela. Este ano, vamos crescer 7%. Só China e Índia vão crescer tanto.
O governo teve papel importante nesse processo ou a superação foi resultado da força natural da economia brasileira?
Eles {o governo} não ficaram esperando, pois tiraram os impostos sobre o consumo. É a primeira vez que assistimos a uma crise sem ficar de cócoras. Antes, os Estados Unidos davam um espirro e a gente pegava uma pneumonia. Agora eles pegam uma pneumonia dupla e a gente se recupera rapidamente. A coisa se inverteu. Em plena crise, o Brasil conseguiu empregar um milhão de pessoas com carteira assinada. Só isso mostra que reagimos muito bem.
A senhora qualificou as crises econômicas recentes como bolhas que se sucedem. Tem mais alguma se aproximando?
Não posso garantir se há uma bolha se aproximando. O que posso dizer é que o sistema bancário dos países desenvolvidos está totalmente bichado. Há um desequilíbrio fiscal gigantesco nos Estados Unidos e na Europa. No cenário internacional, essa crise tende a ser prolongada, com períodos de maior turbulência nos Estados Unidos, Europa e Japão, que não estão bem das pernas. O fato é que há uma mudança na divisão internacional do trabalho, e o eixo Ásia-América do Sul tem futuro. Tenho esperança de que partiremos para o multilateralismo, no qual países como China, Índia, Brasil, África do Sul, Rússia e Argentina exercerão papel importante. Agora, os Estados Unidos preocupam, pois são o centro do sistema, e não têm mais a capacidade de antes para regulá-lo. Quem vai regular o sistema internacional? Eles não querem nem regular o deles. Já as propostas do G-20 {grupo formado pelas 19 maiores economias, mais a União Europeia} são muito fracas ou não há consenso entre eles.
O que falta ao Brasil para mudar de patamar?
Temos agora que nos preocupar com a educação, com a universalização dos direitos sociais, com a segurança. Precisamos eliminar esses problemas, e todos os candidatos, em seus programas, defendem avanços sociais. Há acordo sobre isso. Onde não há acordo é na política externa, principalmente no caso do Serra, que é mais tradicional. Ele pode desmobilizar o Itamaraty e não é a favor do eixo Sul-Sul. Prefere apostar no desenvolvimento Norte-Sul, tem mais esperança nos Estados Unidos, o que é um equívoco. É um vício que ele herdou do Fernando Henrique. No que diz respeito à infraestrutura, educação e segurança, há consenso entre todos os candidatos. Menos o Plínio {Plínio de Arruda Sampaio, candidato pelo PSOL}, que é socialista. Ele, ao contrário de mim, foi se radicalizando. Começou como democrata--cristão, foi para o PT e acabou no PSOL. Eu fui ficando mais moderada. Você vê que a idade atinge as pessoas de modo diferente (risos). Nos anos 60, o Plínio era a favor de uma reforma agrária moderada e agora quer uma mudança radical.
Mas, voltando ao consenso entre os candidatos sobre a questão social, percebo que chegou a hora de extinguir a pobreza, romper com a “maldição furtadiana”. Que maldição é essa?
O Furtado {o economista Celso Furtado} achava que a gente ia crescer, mas não ia se desenvolver. Mas agora acredito que estamos no caminho do desenvolvimento. Todas as questões estão postas na agenda, e há consciência delas. No caso da pobreza, todos querem eliminá-la. Mas vai ser difícil corrigir a questão metropolitana, o tráfico de drogas, promover uma educação de qualidade. Talvez em 20 anos a gente consiga resolver essas questões. Não conseguimos nos industralizar em 20 anos? Embora industrializar seja mais fácil do que corrigir desigualdades sociais.
A senhora é uma expoente do pensamento econômico brasileiro. Mas, nos últimos anos, percebe-se que anda um pouco afastada da mídia e do debate público. Você acha que velhice não pesa?
Aos 80 anos, completados em abril passado, a economista revela, nesta entrevista ao Boletim UFMG, que está “mais mansa” – ela que sempre teve fama de brigona. Mas não perdeu a verve. Critica a suposta preferência de José Serra por uma política internacional ancorada no eixo Norte-Sul, diverte-se com a radicalização de Plínio de Arruda Sampaio (candidato à presidência pelo PSOL) – democrata-cristão que virou socialista – e elogia as políticas sociais em vigor, que ajudaram a elevar o padrão de vida de 30 milhões de brasileiros. “Temos agora que nos preocupar com a educação, com a universalização dos direitos sociais, com a segurança”, defende.
A senhora tem fama de brava, polêmica, sempre muito enfática na defesa de suas ideias. Ao completar 80 anos, esse traço de sua personalidade manteve-se ou arrefeceu?
(Risos) Estou mais mansa com a idade. A gente vai ficando mais velha e percebe que é preciso ter paciência, que as coisas nem sempre avançam como você quer. Tanto que no meu aniversário eu convidei a Dilma {Dilma Rousseff, candidata a presidente pelo PT} e o Zé {José Serra, candidato pelo PSDB}, que era meu amigo de infância – da infância dele, claro, não da minha que sou mais velha (risos).
A senhora foi professora dele?
Não. Fui professora da Dilma. Do Serra eu fui colega. Escrevemos, inclusive, um artigo a quatro mãos.
De brava e polêmica, a senhora então está se transformando em uma conciliadora?
Exatamente (risos). Apesar da Dilma ser minha candidata, evito falar mal do José Serra.
O tema de sua conferência na UFMG é o Brasil e a crise internacional.A senhora acredita que o Brasil soube enfrentar melhor a turbulência de 2009?
Sim. E saímos muito rapidamente dela. Este ano, vamos crescer 7%. Só China e Índia vão crescer tanto.
O governo teve papel importante nesse processo ou a superação foi resultado da força natural da economia brasileira?
Eles {o governo} não ficaram esperando, pois tiraram os impostos sobre o consumo. É a primeira vez que assistimos a uma crise sem ficar de cócoras. Antes, os Estados Unidos davam um espirro e a gente pegava uma pneumonia. Agora eles pegam uma pneumonia dupla e a gente se recupera rapidamente. A coisa se inverteu. Em plena crise, o Brasil conseguiu empregar um milhão de pessoas com carteira assinada. Só isso mostra que reagimos muito bem.
A senhora qualificou as crises econômicas recentes como bolhas que se sucedem. Tem mais alguma se aproximando?
Não posso garantir se há uma bolha se aproximando. O que posso dizer é que o sistema bancário dos países desenvolvidos está totalmente bichado. Há um desequilíbrio fiscal gigantesco nos Estados Unidos e na Europa. No cenário internacional, essa crise tende a ser prolongada, com períodos de maior turbulência nos Estados Unidos, Europa e Japão, que não estão bem das pernas. O fato é que há uma mudança na divisão internacional do trabalho, e o eixo Ásia-América do Sul tem futuro. Tenho esperança de que partiremos para o multilateralismo, no qual países como China, Índia, Brasil, África do Sul, Rússia e Argentina exercerão papel importante. Agora, os Estados Unidos preocupam, pois são o centro do sistema, e não têm mais a capacidade de antes para regulá-lo. Quem vai regular o sistema internacional? Eles não querem nem regular o deles. Já as propostas do G-20 {grupo formado pelas 19 maiores economias, mais a União Europeia} são muito fracas ou não há consenso entre eles.
O que falta ao Brasil para mudar de patamar?
Temos agora que nos preocupar com a educação, com a universalização dos direitos sociais, com a segurança. Precisamos eliminar esses problemas, e todos os candidatos, em seus programas, defendem avanços sociais. Há acordo sobre isso. Onde não há acordo é na política externa, principalmente no caso do Serra, que é mais tradicional. Ele pode desmobilizar o Itamaraty e não é a favor do eixo Sul-Sul. Prefere apostar no desenvolvimento Norte-Sul, tem mais esperança nos Estados Unidos, o que é um equívoco. É um vício que ele herdou do Fernando Henrique. No que diz respeito à infraestrutura, educação e segurança, há consenso entre todos os candidatos. Menos o Plínio {Plínio de Arruda Sampaio, candidato pelo PSOL}, que é socialista. Ele, ao contrário de mim, foi se radicalizando. Começou como democrata--cristão, foi para o PT e acabou no PSOL. Eu fui ficando mais moderada. Você vê que a idade atinge as pessoas de modo diferente (risos). Nos anos 60, o Plínio era a favor de uma reforma agrária moderada e agora quer uma mudança radical.
Mas, voltando ao consenso entre os candidatos sobre a questão social, percebo que chegou a hora de extinguir a pobreza, romper com a “maldição furtadiana”. Que maldição é essa?
O Furtado {o economista Celso Furtado} achava que a gente ia crescer, mas não ia se desenvolver. Mas agora acredito que estamos no caminho do desenvolvimento. Todas as questões estão postas na agenda, e há consciência delas. No caso da pobreza, todos querem eliminá-la. Mas vai ser difícil corrigir a questão metropolitana, o tráfico de drogas, promover uma educação de qualidade. Talvez em 20 anos a gente consiga resolver essas questões. Não conseguimos nos industralizar em 20 anos? Embora industrializar seja mais fácil do que corrigir desigualdades sociais.
A senhora é uma expoente do pensamento econômico brasileiro. Mas, nos últimos anos, percebe-se que anda um pouco afastada da mídia e do debate público. Você acha que velhice não pesa?
Pesa, sim, rapaz. Hoje, eu dou aulas de relações internacionais. E estou com vontade de voltar as atenções para a América Latina, para realizar um estudo comparado Brasil-América Latina. Sou a favor da integração e, como a maioria é contra, tendo a seguir no sentido oposto. A América Latina não é um bloco unitário. É preciso estudar as diferenças que existem entre os países. Continuo acompanhando a conjuntura do Brasil, mas não vejo grandes discrepâncias em sua política econômica. A não ser o Banco Central, que também já melhorou. Tanto que bati pesado quando percebi que o Banco Central estava disparatando no primeiro governo Lula. Fui a Brasília, conversei com o presidente, com o ministro da Fazenda.
Mas e os juros?
Não adianta dizer que temos as maiores taxas de juros do mundo. Eles são assim há mais de 50 anos. E agora estão abaixo da média histórica das últimas duas, três décadas.
Alguns intelectuais se decepcionaram com o governo Lula e do PT, entre os quais Francisco de Oliveira. Não foi o caso da senhora...
O Chico de Oliveira já tinha rompido com o PT logo no início do governo. No primeiro ano, o Lula pegou uma bomba pela cara, uma crise cambial, inflação subindo. Inventaram o “efeito Lula” e ele teve que se comprometer, na Carta aos Brasileiros, com um programa mais continuísta. Sempre achei chata essa política econômica, porque eu queria que o país crescesse mais. Mas hoje sou obrigada a reconhecer que o resultado foi satisfatório. Com a crise mundial, se tivéssemos ficado no oba-oba, aproveitando aquele momento de excessiva liquidez dos Estados Unidos, teríamos entrado pelo cano. Os espanhóis, portugueses, gregos e os próprios ingleses levaram uma porrada cavalar. E outra coisa que o Lula nunca deixou de fazer foi atacar a pobreza. Ele começou cedo e acelerou no segundo mandato. Pobre não tinha crédito neste país. Ele convertou 30 milhões de pessoas em classe média.
O que ainda a preocupa?
O câmbio. Com exceção da China, todos os demais países estão valorizando sua moeda em relação ao dólar. O problema é que o dólar ainda é a referência no comércio exterior. Os chineses exportam em dólar e nós levamos uma surra deles. O que me preocupa são as importações. Ou você controla o câmbio ou controla disfarçadamente as importações. Não podemos, sistematicamente, importar mais do que exportar. Ou montamos uma barreira para os capitais especulativos, uma espécie de quarentena semelhante à feita pelo Chile, ou estabelecemos um controle disfarçado de importações não essenciais. Estamos importando carros de luxo – e não precisamos deles, pois temos uma indústria automobilística muito forte – e equipamentos eletrônicos, exatamente os itens que provocam déficit na balança comercial.
A senhora está mais otimista?
Com o Brasil, sim. Não temos um Collor, nem um Jânio. Os candidatos são melhores. O povo assume que é cidadão, não para de votar, o emprego melhorou, o salário-mínimo também, e a renda se desconcentrou. Mas em relação ao mundo, não. O neoliberalismo acabou como ideologia explícita, mas não como prática. O mundo está muito conservador. A direita americana não deixa o Obama fazer nada.
Mas e os juros?
Não adianta dizer que temos as maiores taxas de juros do mundo. Eles são assim há mais de 50 anos. E agora estão abaixo da média histórica das últimas duas, três décadas.
Alguns intelectuais se decepcionaram com o governo Lula e do PT, entre os quais Francisco de Oliveira. Não foi o caso da senhora...
O Chico de Oliveira já tinha rompido com o PT logo no início do governo. No primeiro ano, o Lula pegou uma bomba pela cara, uma crise cambial, inflação subindo. Inventaram o “efeito Lula” e ele teve que se comprometer, na Carta aos Brasileiros, com um programa mais continuísta. Sempre achei chata essa política econômica, porque eu queria que o país crescesse mais. Mas hoje sou obrigada a reconhecer que o resultado foi satisfatório. Com a crise mundial, se tivéssemos ficado no oba-oba, aproveitando aquele momento de excessiva liquidez dos Estados Unidos, teríamos entrado pelo cano. Os espanhóis, portugueses, gregos e os próprios ingleses levaram uma porrada cavalar. E outra coisa que o Lula nunca deixou de fazer foi atacar a pobreza. Ele começou cedo e acelerou no segundo mandato. Pobre não tinha crédito neste país. Ele convertou 30 milhões de pessoas em classe média.
O que ainda a preocupa?
O câmbio. Com exceção da China, todos os demais países estão valorizando sua moeda em relação ao dólar. O problema é que o dólar ainda é a referência no comércio exterior. Os chineses exportam em dólar e nós levamos uma surra deles. O que me preocupa são as importações. Ou você controla o câmbio ou controla disfarçadamente as importações. Não podemos, sistematicamente, importar mais do que exportar. Ou montamos uma barreira para os capitais especulativos, uma espécie de quarentena semelhante à feita pelo Chile, ou estabelecemos um controle disfarçado de importações não essenciais. Estamos importando carros de luxo – e não precisamos deles, pois temos uma indústria automobilística muito forte – e equipamentos eletrônicos, exatamente os itens que provocam déficit na balança comercial.
A senhora está mais otimista?
Com o Brasil, sim. Não temos um Collor, nem um Jânio. Os candidatos são melhores. O povo assume que é cidadão, não para de votar, o emprego melhorou, o salário-mínimo também, e a renda se desconcentrou. Mas em relação ao mundo, não. O neoliberalismo acabou como ideologia explícita, mas não como prática. O mundo está muito conservador. A direita americana não deixa o Obama fazer nada.
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