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Principais adversários do PT estão fora dos partidos políticos, diz Rui Falcão


Presidente do PT diz que oposição à legenda está instalada em setores do empresariado e no Judiciário brasileiro 

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, verbalizou hoje uma tese que vem se difundindo no partido desde a condenação pelo Supremo Tribunal Federal de líderes históricos petistas no julgamento do mensalão: a principal oposição ao PT hoje não está nos partidos políticos mas em setores do empresariado refratários ideologicamente aos governo petistas.

Segundo Falcão, além dessa oposição extrapartidária existe preocupação quanto à atuação do Judiciário que, conforme ele, tenta se sobrepor à soberania popular.

O presidente do PT anunciou que o partido fará em 2013 uma reformulação programática à luz dos 10 anos no governo federal. O foro será o 5º Congresso Nacional do PT, ainda sem data definida, onde também será feito um balanço dos erros e acertos do partido.

De acordo com Falcão, um dos principais erros do PT foi não ter identificado de pronto a oposição extrapartidária.

“Um dos erros talvez foi não localizar imediatamente quem são nossos principais adversários”, disse ele. “Há uma oposição extrapartidária localizada em grandes grupos econômicos que não se conformaram até hoje com as transformações que o país vem sofrendo e não querem abdicar de seus privilégios. Não quero nominar os grupos mas eles são fortes, muito fortes, estão presentes na nossa sociedade diariamente, fazem opinião”, completou o dirigente petista.

Questionado se entre estes grupos estão as grandes empresas de mídia, Rui desconversou. “Para a imprensa o que nós queremos é mais liberdade de expressão”.

Falcão não elencou setores do Judiciário entre os adversários do PT mas disse enxergar um perigo na forma como os magistrados tem interferido em assuntos políticos. “Há um perigo muito grande de o Judiciário procurar assumir funções que não lhe competem e inclusive tentar se sobrepor à soberania que é do povo e não de algum dos três poderes”, disse ele.

O presidente do PT também fez um mea culpa em relação às práticas que levaram o partido a se tornar o centro do escândalo do mensalão.

“Eventualmente temos enveredado por práticas que são correntes em outros partidos mas que o PT não deveria ter enveredado”, afirmou.

Para evitar novos escândalos vinculados ao caixa dois eleitoral, Falcão disse que o PT fará em 2013 uma grande campanha pela reforma política, com a possibilidade de coletar assinaturas para um projeto de iniciativa popular, cujo foco será o financiamento público de campanhas.

(Ricardo Galhardo - Portal IG)
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Um rola-bosta no Supremo

Os autoritários de hoje
Marcos Coimbra

O pensamento autoritário já viveu dias melhores no Brasil. Sua credibilidade já foi maior, e -suas ideias, mais consistentes. Seus -formuladores, mais respeitados e maior sua influência na vida nacional.

Se compararmos Oliveira Vianna, Azevedo Amaral, Alberto Torres e Francisco Campos, seus principais expoentes na República Velha e durante o Estado Novo, aos autoritários de hoje, a distância é abissal.

Seus sucessores contemporâneos são de dar pena. Salvo as exceções de praxe, faltam-lhes educação e estilo. Substituíram a disposição para o debate pela ofensa e a repetição de lugares-comuns. São ignorantes. O que os une aos antigos são as convicções que compartilham. A começar pelo que mais distingue o autoritarismo ideológico: a certeza de que a democracia pode ser boa no plano ideal, mas é irrealizável na prática. No mundo real, o povo seria incapaz de se governar e precisaria das elites para orientá-lo. Sem sua proteção paternal, se perderia.

Diferentemente do passado, muitos dos autoritários da atualidade se abrigam na mídia conservadora. Sem a proteção que recebem de seus veículos para falar alto e se exibir como valentes, não existiriam.

Mas há autoritários hoje no mesmo lugar em que, no passado, militaram vários: no Judiciário e cargos afins. Alberto Torres foi ministro do Supremo Tribunal Federal, Oliveira Vianna, do Tribunal de Contas da União, e Francisco Campos foi consultor-geral da República.

O julgamento do “mensalão” tem sido um momento privilegiado para conhecer o pensamento autoritário atual em maior detalhe. Seus representantes na mídia estão esfuziantes. O andamento do processo no Supremo Tribunal Federal foi melhor que a encomenda. No fundo, todos sabiam quão frágil era a denúncia montada pela Procuradoria-Geral da República.

A alegria de ver expoentes do “lulopetismo” condenados os enche de entusiasmo. Querem revidar em compensação a tudo que os entristeceu nos últimos anos. Quantas vezes foram forçados a se desdizer? Quantas projeções furadas fizeram? Quantos amigos na oposição tiveram de consolar?

Não tínhamos tido, até recentemente, a oportunidade de ver, com clareza, o autoritarismo existente no STF. Era um tribunal predominantemente discreto, que trabalhava longe dos holofotes. Vez por outra aparecia, mas para se pronunciar a respeito de questões específicas, ainda que nem sempre de maneira apropriada.

Agora, não. Fez parte do pacto da mídia conservadora com a Corte a mudança radical desse padrão. As luzes foram acesas, os microfones ligados e os repórteres postos a serviço. Tudo o que os ministros dissessem seria ouvido, registrado e divulgado, com pompa e fanfarras.

E eles se puseram a falar.

Ao longo do julgamento, à medida que liam seus votos, vimos quão parecidas são as ideias de quase todos com aquelas dos autoritários de cem anos atrás.

No mês passado, Luiz Fux aproveitou a visibilidade de orador na posse de Joaquim Barbosa na presidência do tribunal para apresentar algumas das suas. Tomemo-las como ilustração do que pensam por lá.

O discurso de Fux foi extraordinário. Até no que revelou da cumplicidade que se estabeleceu entre a mídia e o tribunal. É pouco provável que fosse tão assumidamente autoritário se não se sentisse amparado pelos correligionários na mídia.

Ficou famosa sua tortuosa formulação de que seria natural que o Judiciário se tornasse mais ativo, para intervir na “solução de questões socialmente controversas, como reflexo de uma nova configuração da democracia, que já não se baseia apenas no primado da maioria e do jogo político desenfreado”.

Parece que Fux imagina ter feito uma descoberta. Que haveria uma “nova configuração da democracia”, sabe-se lá o que isso seja, que exigiria deixar de lado o “primado da maioria” e o tal “jogo político desenfreado”.

Nada há, entretanto, de original no diagnóstico e no receituário. Antes dele, outros autoritários haviam chegado ao mesmo lugar. Todos, de antes ou recentes, têm a mesma aversão à vontade das maiorias. No fundo, acreditam que o povo não está “preparado para a democracia”. Que exige “homens de bem” para guiá-lo, livrando-o dos “demagogos”.

Todo autoritário é antidemocrático, quer frear o “jogo desenfreado”. E se imagina ungido da missão de fazê-lo, pela sua autoatribuída superioridade em relação ao cidadão comum.

Talvez por desconhecer de onde vêm as ideias que professa, Fux – e os que se parecem com ele – acredita estar sendo “novo”.

É tão velho quanto a Sé de Braga.
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STF: um sultão num país de eunucos?

Saul Leblon

A Suprema Corte, como o próprio nome indica, existe para ser a instância máxima a dirimir as pendências constitucionais de uma Nação.

Sobretudo, foi concebida para erguer linhas de passagem que superem interpretações divergentes em torno da Carta Magna, evitando-se crises institucionais, antecipando-se a elas, ademais de calafetar hiatos decorrentes de elisões constituintes.

Assim entendido, o Supremo é a extensão permanente do poder constituinte que o originou.

Mas não acima de qualquer circunstância.

Sobretudo, não como um usurpador do equilíbrio de poderes no qual se assenta a estabilidade da democracia.

Esse, infelizmente, foi e tem sido o conceito autoritário e oportunista de suprema instância evocado pela coalizão conservadora que capturou o STF. Serve-se dele abertamente para impor uma revanche à esquerda que a derrotou sucessivamente nas urnas presidenciais desde 2002.

Como lembrou recentemente o professor Alfredo Bosi, a prerrogativa da instância suprema pressupõe a plena autonomia em relação ao dinheiro, à burocracia viciosa e à endogamia dos favores espúrios.

O monopólio da última palavra cobra das togas a necessária temperança nas decisões que revalidem esse apanágio.

O papel de reserva constitucional da sociedade --que não pode ser mobilizada a todo instante para escrutinar suas pendências; mas deveria sê-lo com maior frequência-- está indissociavelmente atrelado à validação dessa equidistância acomodatícia que se renova a cada sentença.

Não se trata de uma terceirização absoluta da soberania popular.

A esta sim, cabe entre outras prerrogativas aquela suprema de se refundar enquanto sujeito histórico. E convocar uma nova assembleia constituinte, capaz de redordenar o pacto social, cuja istitucionalidade caberá a uma suprema instância preservar e aperfeiçoar.

O mandato das togas reafirma-se nesse exercício do discernimento histórico e jurídico, chamado a recosturar permanentemente a argamassa que ordena as fricções institucionais inerentes aos interesses conflitantes da sociedade.

Nada mais distante disso do que a soberba egocêntrica e o autoritarismo arestoso que marcariam os quatro meses e meio de julgamento da Ação Penal 470, concluído a caráter nesta 2ª feira.

Ilustrativo da escalada tangida a holofotes, o voto do ministro Celso de Mello não poupou a própria biografia jurídica na sofreguidão de atender ao script condenatório prevalecente.

A decisão de afrontar o poder Legislativo impondo-lhe uma genuflexão humilhante diante de cassações de mandatos soberanos, nivelou a Suprema Corte à exacerbação midiática que logrou fazer da Ação 470 o cavalo de Tróia da campanha eleitoral conservadora de 2014.

Perde toda a Nação quando uma Corte Suprema deixa de ser referência para ser referido.

Ao tomar partido, o STF tornou-se um foco irradiador de impasses; uma usina de sobressaltos constitucionais.

Trocou a equidistância das togas pelo turbante de um sultão e pretende fazer do país uma democracia de eunucos.

Ressente-se a sociedade brasileira, perigosamente, de uma Corte Suprema que ao contrário de conflagrar a democracia a pacifique, ao contrário de despretigia-la a engrandeça, ao contrário de tumultua-la a estabilize.

Cabe a quem de direito ocupar o vácuo com uma liderança de serenidade e desassombro, capaz de reconduzir a democracia e o desenvolvimento brasileiro aos trilhos pactuados nas urnas nos últimos 10 anos. Não se trata de um fecho exclamativo, mas de uma agenda de providências e de coragem a ser acionada. E logo.

Postado por Saul Leblon
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Gorilas de toga rasgam a Constituição; cadeia neles!

De farda ou de toga, golpista é golpista. Lugar de quem rasga a Constituição é na cadeia. Cabe ao Senado destituí-los e prendê-los por conspirar e agir contra a Ordem Constitucional.


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O Clima Político Está Ruim e Pode Piorar


Marcos Coimbra

O ano termina e o clima político anda ruim. Piorou nos últimos meses e nada indica que vá melhorar nos próximos.

O que provoca esse anuviamento não são as tensões naturais que existem entre oposição e governo. Nada há de extraordinário nelas. Estranho seria se vivessem de acordo.

Está em curso um duplo processo de desmoralização. O primeiro foi concebido para atingir o PT e sua principal liderança, o ex-presidente Lula. O segundo decorre do anterior e afeta o sistema político como um todo.

Alguns diriam que esse é que é grave. Que a campanha anti-PT é circunscrita e tem impacto limitado. Que seria, portanto, menos preocupante.

Pensar assim é, no entanto, um equívoco, pois um leva ao outro.

Em democracias imaturas como a brasileira, todo o sistema partidário sofre quando uma parte é atacada. Mais ainda, se for expressiva.

O PT não é apenas um partido grande. É, de longe, o maior. Sozinho, tem quase o dobro de simpatizantes que todos os demais somados.

Só um ingênuo imaginaria possível um ataque tão bem calibrado que nem um respingo atingisse os vizinhos. Na guerra moderna, talvez existam mísseis de precisão cirúrgica, capazes de liquidar um único individuo. Na política, porém, isso é fantasia.

A oposição institucional o reconhece e não foi ela a começar a demonização do PT. Até enxergou no processo uma oportunidade para ganhar alguma coisa. Mas suas lideranças mais equilibradas sempre perceberam os riscos implícitos.  

Como vemos nas pesquisas, a população desconfia dos políticos de todos os partidos. Acha que, na política, não existem santos e todos são pecadores. Quando os avalia, não contrapõe “mocinhos” e “bandidos”.

Com seus telhados de vidro e conscientes de que processos desse tipo podem se tornar perigosos, os partidos de oposição nunca se entusiasmaram com a estratégia.    

Foi a oposição extra-partidária quem pisou e continua a pisar no acelerador, supondo  que é seu dever fazer aquilo de que se abstiveram os partidos.

Pôs sua parafernália em campo - jornais, redes de televisão, revistas e portais de internet - para fragilizar a imagem do PT. A escandalização do julgamento do mensalão foi o caminho.

Como argumento para esconder a parcialidade, fingem dar importância à ética que sistematicamente ignoraram e que, por conveniência, sacam da algibeira quando entendem ser útil. Quem duvidar, que pesquise de que lado tradicionalmente estiveram as corporações da indústria de mídia ao longo de nossa história.

Os resultados da eleição municipal deste ano e os prognósticos para a sucessão presidencial em 2014 mostram que a escalada contra o PT não foi, até agora, eficaz.

Sempre existiu um sentimento anti-democrático no pensamento conservador brasileiro. Desde a República Velha, uma parte da elite se pergunta se nosso povo está “preparado para a democracia”. E responde que não.

Que ele precisa de tutores, “pessoas de bem” que o protejam dos “demagogos”. É uma cantilena que já dura mais de cem anos, mas que até hoje possui defensores.

A frustração da oposição, especialmente de seus segmentos mais reacionários, a aproxima cada vez mais da aversão à democracia. Só não vê quem não quer como estão se disseminando os argumentos autoritários.

Embora acuados, cabe aos políticos reagir. É a ideia de representação e o conjunto do sistema partidário que estão sendo alvejados e não somente o PT.

Para concluir com uma nota de otimismo: são positivos alguns sinais que vieram do Congresso esta semana. Embora mantenham, para consumo externo, um discurso cautelosamente radical, as principais lideranças do governo e da oposição trabalham para evitar confrontações desnecessárias.

Forma-se uma vasta maioria no Parlamento em defesa do Poder Legislativo, ameaçado de perder prerrogativas essenciais à democracia. Quem decide a respeito dos representantes do povo são os representantes do povo, como está na Constituição.
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Jovens refundam a ARENA

Laertevisão

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Que horas são? É tarde, é tarde...


Saul Leblon

Dilma e Lula tem juntos 45% das intenções espontâneas de voto para 2014. 

O conservadorismo personificado em Serra e Aécio, e a alternativa verde estampada em Marina Silva, adicionam ao balaio oposto 9% de menções.

A maiúscula atrofia do campo conservador explode na pesquisa do Ibope divulgada neste domingo. Não por acaso apresentada sob a pátina de uma irrelevante ultrapassagem de quem deixou o governo há dois anos por quem ainda o exerce.

O fato esférico é que a 24 meses das urnas presidenciais, 55% dos eleitores tem um nome de preferência estabelecido. Em 2010, oito meses antes do pleito, 52% dos eleitores não tinham candidatos (23% mencionavam Lula, inelegível). 

Hoje, quatro em cada cinco referendam o bloco de forças progressistas que comanda a sociedade e o desenvolvimento do país desde 2003. 

Um discernimento tão antecipado não significa voto líquido. Mas a musculatura de largada ilumina uma desvantagem que explica, e explicará cada vez mais, os métodos da tentativa conservadora de voltar ao poder.

Anote-se que o saldo favorável de Lula e Dilma supera inclusive os decibéis midiáticos que há quatro meses martelam hits da Ação Penal 470. Alguém poderá entender, como parece ter entendido pelos movimentos recentes, que não foi suficiente.

O que está em jogo, portanto, não é uma gincana de simpatias. 
A resiliência eleitoral de Lula e Dilma apoia-se em pilares objetivos. A implosão da ordem neoliberal avança no seu 5º ano sem que os adoradores de mercado tenham sequer aprumado a capacidade de fazer autocrítica. 

A exemplo das políticas que levaram ao desastre, o ajuste que praticam combate o fogo da depressão com o lança-chamas da austeridade.

A Europa já flambada mergulha no seu segundo round recessivo. O Japão aderna. Os EUA atolam no desemprego. Merkel augura: são necessários mais alguns anos de cozimento bem ajustado. 

A Espanha completa um ano no caldeirão de Rajoy, do PP, que comunga as mesmas receitas reafirmadas cronicamente pelo aparato conservador brasileiro. 

O que elas conseguiram no caso espanhol? O déficit público cresceu (por conta do PIB e arrecadação minguantes); a insolvência financeira empurra a 4ª economia europeia para um resgate ainda mais doloroso; 25% da força de trabalho está na rua --mais 800 mil demitidos irão se juntar a ela este ano.

O contraponto do cenário brasileiro explica o silencio conservador na disputa econômica.

A taxa de desemprego em setembro foi a menor para o mês dos últimos dez anos: 5,4%, segundo o IBGE. 

A massa salarial (novas vagas + aumento real de poder de compra) cresceu quase 5% acima da inflação nas regiões metropolitanas, entre julho e outubro.

Apesar da frágil capacidade de indução estatal e da inexistência de planejamento público, em setembro os investimentos do PAC 2 atingiram 40,4% da meta prevista para o período 2011- 2014. 

Quase R$ 386 bi foram aplicados nesse meio tempo em obras de infraestrutura e logística social e urbana. 

Distinguir-se daquilo que seria o Brasil se o conservadorismo persistisse no governo é confortante. E pedagógico. Mas não suprime os desafios que a economia tem pela frente, marmorizados na luta pela sucessão.

O arsenal econômico acionado não é suficiente. O grosso do investimento do PAC concentra-se na construção civil (1,9 milhão de casas contratadas no Minha Casa, Minha Vida). 

Projetos ferroviários e de infraestrutura mais geral rastejam. 

O investimento da indústria brasileira anda de lado. Embora a taxa de juro real, sempre apontada como obstáculo à expansão do setor, seja a menor da história, o parque industrial registrou a 13ª queda seguida no nível de atividade em setembro (na comparação anual).

Sem planta manufatureira sólida nenhuma economia consolida sua autonomia externa. Sem autonomia externa não existe Estado soberano, nem demcracia efetiva. 

Não há Nação digna de usar esse nome sem que a sociedade tenha o comando do seu destino. A lição é de Celso Furtado.

A dependência de importações industriais, portanto, não fragiliza apenas a contabilidade em dólares. É também uma questão política.

Ela sonega aos trabalhadores empregos de maior qualidade, aqueles cuja produtividade eleva os salários e permite reduzir a desigualdade intergeracional, a herança trazida da senzala, que requer simultaneamente reformas estruturais --a da terra, a urbana e a do capital acumulado.

O êxito inegável na condução da economia durante a crise não isenta o PT e o governo de encarar contradições crescentes. Compromissos sagrados nas urnas adicionam tensão ao elástico de um sistema democrático que autoriza mais do que os mercados estão dispostos a conceder --e a crise quer estreitar.

O conflito se evidencia na incapacidade de alavancar o investimento público --por indução estatal interditada e insuficiente; bem como em destinar recursos fiscais necessários à saúde e à educação. 'É preciso fazer mais com menos', retruca o mesmo editorial a cada 24 horas em algum meio de difusão inimigo da taxação adicional à plutocracia, bem como crítico da regulação estatal do sistema financeiro. 

O que o Ibope mostra não é propriamente uma resignação com esses limites --a luta para ir além deles está na pauta da sociedade brasileira. O que ele faz de mais sólido talvez é sinalizar o profundo desencanto com as versões programáticas da casa grande em nossos dias. 

Quando maior esse discernimento mais se impõe ao aparato conservador camuflar suas bandeiras amarrotadas em outras agendas de apelo popular.
A disputa desloca-se do campo estratégico da economia para o uivo udenista.

A guerra aberta contra o PT testa os limites de um novo arsenal que consiste em destituir o poder, e os compromissos consagrados nas urnas, mas fazendo-o por dentro das instituições, sobretudo com a exacerbada manipulação da ferramenta judiciária.

A renuncia ao golpe de força é compensada pela força da hipertrofia midiática que se avoca inimputável para coordenar e ecoar a ofensiva.

Quem ainda insiste em delegar a defesa do projeto progressista brasileiro ao exclusivo sucesso econômico --que é crucial, de fato-- subestima as contradições políticas inerentes à travessia para um ciclo de crescimento justo num mundo em convulsão.

Apostar no discernimento compassivo da população diante desse horizonte de instabilidade e acirramento conservador implica não apenas em voluntarismo cego.

Há outras coagulações perigosas implícitas. Uma delas consiste em assinar uma pax branca que concede ao conservadorismo o pleito da hegemonia intocável na esfera da comunicação. 

É como se uma parte do PT e do governo Dilma não ouvisse os alarmes que soam de forma estridente e continuasse a perguntar: 'Que horas são?'. 
'É tarde; é tarde' --responderá um dia o coelho dessa história.
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A derrota da direita pitbull nos EUA

Vitória de Obama: a derrota da direita pitbull nos EUA 

“A demografia dos Estados Unidos mudou e Romney perdeu feio entre os latinos e afroestadunidenses”

por Márcia Denser

Para o analista político norte-americano Mark Weisbrot, do Centro para Investigação Econômica e Política, a nova composição demográfica dos Estados Unidos foi fator importante na vitória do atual presidente, mas não o fator decisivo: “Obama ganhou porque fez um apelo econômico popular para os eleitores da classe trabalhadora de todos os grupos raciais e étnicos, algo sem precedentes em mais de 50 anos de eleições presidenciais estadunidenses”, declarou, em entrevista dada à Carta Maior desta semana.

O presidente reeleito Barack Obama venceu estrondosamente o republicano Mitt Romney se considerarmos apenas o voto “étnico”. Entre os latinos obteve mais de dois terços de apoio; entre os afro-americanos, recebeu a adesão de nove em cada dez eleitores. Tais dados demonstram que a “América tradicional”, a preferida dos Wasp (Brancos, Anglo-Saxões e Protestantes) está desaparecendo. Contudo, a campanha democrata à presidência foi definitivamente vitoriosa porque conseguiu convencer a maioria dos eleitores norte-americanos de que para Romney e os republicanos só importam os ricos.

Segundo Weisbrot, esse resultado estava previsto pelas pesquisas eleitorais do Princeton Electin Consortium e do Fivethirtyeight.com, logo não foi uma surpresa, a não ser para a maioria dos meios de comunicação e especialistas que fingiam haver uma disputa acirrada. Eu mesma, dois dias antes das eleições, quando ouvi pelo rádio que o New York Times iria apoiar Obama, percebi que a coisa era uma espécie de fato consumado.

Mas afinal, por que Obama venceu, apesar de todos os pesares? O fato é que a demografia dos Estados Unidos mudou e Romney perdeu feio entre os latinos – 75% votaram em Obama – e afroestadunidenses, que deram 93% dos votos ao presidente. Romney teve grande maioria entre os eleitores brancos, mas não o suficiente para ganhar, especialmente nos estados em disputa. Ainda conforme nosso analista, a campanha de Obama teve tanta publicidade quanto a dos republicanos, mas Obama e os democratas se saíram melhor na campanha das ruas, portanto o grande capital de direita não foi decisivo nestas eleições.

Mas em termos de política interna, dado o impasse no Congresso, com uma maioria republicana na Câmara dos Representantes e a falta de liderança de Obama, as diferenças não serão significativas. Existirão melhores chances de haver uma reforma na lei dos imigrantes e a concretização do plano de seguro-saúde de Obama, algo que irá beneficiar cerca de 30 milhões de americanos e custos mais baixos para outros milhões. E haverá mais regulação financeira.

Dado o quadro político geral, na pior das hipóteses, é possível que Obama faça cortes na Seguridade Social, no Medicare e outros gastos sociais para barganhar com os republicanos a aprovação do orçamento e, nesse caso, será preciso uma grande pressão popular para impedir que Obama aceite tais mudanças.

As más notícias ficam mesmo por conta da política externa, a respeito da qual não se deve alimentar esperanças: desde o começo, Obama optou por se concentrar na política interna e não arriscar capital político na externa. Isso significa uma continuidade da geopolítica da era Bush. Infelizmente, uma guerra contra o Irã permanece no horizonte em razão das hostilidades e aumento de tensões no Oriente Médio. Quanto à America Latina, a política atual também prossegue sob o comando do Departamento de Estado, influenciado pelos direitistas no Congresso. Portanto, novamente a mesma política de Bush para os próximos quatro anos.

Claro que, a longo prazo, o dinheiro ainda corrompe os políticos ianques – “O povo votou em Obama pela mudança, mas não ganhou muito em troca. Nesse sentido, nossos políticos são mais corruptos que os de muitos países da América do Sul, onde – apesar de formas de corrupção piores que aqui – a população tem conseguido votar por mudanças progressistas nos últimos anos e recebê-las”. (grifos meus)

E Weisbrot conclui: “Portanto, mais importante que uma reforma no sistema de financiamento de campanhas nos Estados Unidos, seja uma reforma no sistema de votação. Mais de 40% dos estadunidenses não votaram nestas eleições, e os republicanos, tal como são atualmente, mal existiriam como um partido se tivéssemos leis e procedimentos de votação menos restritivos.”

Ou seja, no plano interno, a Direita Pitbull e o Tea-Party governam de costas e sempre contra os interesses da população dos EUA e esta sabe disso. A prova é o resultado das urnas.

Quanto à política externa, está muito além do poder de Obama desfazer contratos com a Halliburton, a Lockheed ou a Carlyle e Gilead, isto é, as mega-corporações que constituem a máquina suicida dum capitalismo de desastre que movimenta geopoliticamente, dentro e fora dos EUA, um governo corporatista oco, sem quadros, movido à Ideologia Neo-Conservadora do Dinheiro.
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Poderosos e "poderosos" no mensalão

Paulo Moreira Leite

Num esforço para exagerar a dimensão do julgamento do Supremo, já tem gente feliz porque agora foram condenados “poderosos…”

Devagar. Você pode até estar feliz porque José Dirceu, José Genoíno e outros podem ir para a cadeia e cumprir longas penas.

Eu acho lamentável porque não vi provas suficientes.
Você pode achar que elas existiam e que tudo foi expressão da Justiça.

“Poderosos?” Vai até o Butantã ver a casa do Genoíno…

Poderosos sem aspas, no Brasil, não vão a julgamento, não sentam no Supremo e não explicam o que fazem. As maiores fortunas que atravessaram o mensalão ficaram de fora, né meus amigos. Até gente que estava em grandes corrupções ativas, com nome e sobrenome, cheque assinado, dinheiro grosso, contrato (corrupção às vezes deixa recibo) e nada.

Esses escaparam, como tinham escapado sempre, numa boa, outras vezes.

É da tradição. Quando por azar os poderosos estão no meio de um inquérito e não dá para tirá-los de lá, as provas são anuladas e todo mundo fica feliz.

É só lembrar quantas investigações foram anuladas, na maior facilidade, quando atingiam os poderosos de verdade… Ficam até em segredo de justiça, porque poderoso de verdade se protege até da maledicência…
E se os poderosos insistem e tem poder mesmo, o investigador vira investigado…

Poderoso não é preso, coisa que já aconteceu com Genoíno e Dirceu.

Já viu poderoso ser torturado? Genoíno já foi.

Já viu poderoso ficar preso um ano inteiro sem julgamento sem julgamento?
Isso aconteceu com Dirceu em 1968.

Já viu poderoso viver anos na clandestinidade, sem ver pai nem mãe, perder amigos e nunca mais receber notícias deles, mortos covardemente, nem onde foram enterrados? Também aconteceu com os dois.

Já viu poderoso entregar passaporte?

Já viu foto dele com retrato em cartaz de procurados, aqueles que a ditadura colocava nos aeroportos. Será que você lembrou disso depois que mandaram incluir o nome dos réus na lista de procurados?

Poderoso? Se Dirceu fosse sem aspas, o Jefferson não teria dito o que disse. Teria se calado, de uma forma ou de outra. Teriam acertado a vida dele e tudo se resolveria sem escândalo.

Não vamos exagerar na sociologia embelezadora.

Kenneth Maxwell, historiador respeitado do Brasil colonial, compara o julgamento do mensalão ao Tribunal que julgou a inconfidência mineira. Não, a questão não é perguntar sobre Tiradentes. Mas sobre Maria I, a louca e poderosa.

Tanto lá como cá, diz Maxwell, tivemos condenações sem provas objetivas. Primeiro, a Coroa mandou todo mundo a julgamento. Depois, com uma ordem secreta, determinou que todos tivessem a vida poupada – menos Tiradentes.

Poderoso é quem faz isso.
Escolhe quem vai para a forca.

“Poderoso” pode ir para a forca, quando entra em conflito com sem aspas.

Genoíno, Dirceu e os outros eram pessoas importantes – e até muito importantes – num governo que foi capaz de abrir uma pequena brecha num sistema de poder estabelecido no país há séculos.

O poder que eles representam é o do voto. Tem duração limitada, quatro anos, é frágil, mas é o único poder para quem não tem poder de verdade e depende de uma vontade, apenas uma: a decisão soberana do povo.

Por isso queriam um julgamento na véspera da eleição, empurrando tudo para a última semana, torcendo abertamente para influenciar o eleitor, fazendo piadas sobre o PT, comparando com PCC e Comando Vermelho…

Por isso fala-se em “compra de apoio”, “compra de consciências”, “compra de eleitor…” Como se fosse assim, ir a feira e barganhar laranja por banana.

Trocando votos por sapatos, dentadura…

Tudo bem imaginar que é assim mas é bom provar.

Me diga o nome de um deputado que vendeu o voto. Um nome.

Também diga quando ele vendeu e para que.

Diga quem “jamais” teria votado no projeto x (ou y, ou z) sem receber dinheiro e aí conte quando o parlamentar x, y ou z colocou o dinheiro no bolso.

Estamos falando, meus amigos, de direito penal, aquele que coloca a pessoa na cadeia. E aí é a acusação que tem toda obrigação de provar seu ponto.

Como explica Claudio José Pereira, professor doutor na PUC de São Paulo, em direito penal você não pode transferir a responsabilidade para o acusado e obrigá-lo a provar sua inocência. Isso porque ele é inocente até prova em contrário.

O Poder é capaz de malabarismos e disfarces, mas cabe aos homens de boa fé não confundir rosto com máscara, nem plutocratas com deserdados…

Poder é o que dá medo, pressiona, é absoluto.

Passa por cima de suas próprias teorias, como o domínio do fato, cujo uso é questionado até por um de seus criadores, o que já está ficando chato.

Nem Dirceu nem Genoíno falam ou falaram pelo Estado brasileiro, o equivalente da Coroa portuguesa. Podem até nomear juízes, como se viu, mas não comandam as decisões da Justiça, sequer os votos daqueles que nomearam.

Imagine se, no julgamento de um poderoso, o ministério público aparecesse com uma teoria nova de direito, que ninguém conhece, pouca gente estudou de verdade – e resolvesse com ela pedir cadeia geral e irrestrita…

Imagine se depois o relator resolvesse dividir o julgamento de modo a provar cada parte e assim evitar o debate sobre o todo, que é a ideia de mensalão, a teoria do mensalão, a existência do mensalão, que desse jeito “só poderia existir”, “está na cara”, “é tão óbvio”, e assim todos são condenados, sem que o papel de muitos não seja demonstrado, nem de forma robusta nem de forma fraca…

Imagine um revisor sendo interrompido, humilhado, acusado e insinuado…

Isso não se faz com poderosos.

Também não vamos pensar que no mensalão PSDB-MG haverá uma volta do Cipó de Aroeira, como dizia aquela música de Geraldo Vandré.

Engano.

Não se trata de uma guerra de propaganda. Do Chico Anísio dizendo: “sou…mas quem não é?”

Bobagem pensar em justiça compensatória.

Não há José Dirceu, nem José Genoíno nem tantos outros que eles simbolizam no mensalão PSDB-MG. Se houvesse, não seria o caso. Porque seria torcer pela repetição do erro.

Essa dificuldade mostra como é grave o que se faz em Brasília.

Mas não custa observar, com todo respeito que todo cidadão merece: cadê os adversários da ditadura, os guerrilheiros, os corajosos, aqueles que têm história para a gente contar para filhos e netos? Aqueles que, mesmo sem serem anjos de presépio nem freiras de convento, agora serão sacrificados, vergonhosamente porque sim, a Maria I, invisível, onipresente, assim deseja.

Sem ilusões.

Não, meus amigos. O que está acontecendo em Brasília é um julgamento único, incomparável. Os mensalões são iguais.

Mas a política é diferente. É só perguntar o que acontecia com os brasileiros pobres nos outros governos. O que houve com o desemprego, com a distribuição de renda.

E é por isso que um deles vai ser julgado bem longe da vista de todos…

E o outro estará para sempre em nossos olhos, mesmo quando eles se fecharem.

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PT se manifesta sobre julgamento de exceção

O PT E O JULGAMENTO DA AÇÃO PENAL 470 

O PT, amparado no princípio da liberdade de expressão, critica e torna pública sua discordância da decisão do Supremo Tribunal Federal que, no julgamento da Ação Penal 470, condenou e imputou penas desproporcionais a alguns de seus filiados.

1. O STF não garantiu o amplo direito de defesa

O STF negou aos réus que não tinham direito ao foro especial a possibilidade de recorrer a instâncias inferiores da Justiça. Suprimiu-lhes, portanto, a plenitude do direito de defesa, que é um direito fundamental da cidadania internacionalmente consagrado.

A Constituição estabelece, no artigo 102, que apenas o presidente, o vice-presidente da República, os membros do Congresso Nacional, os próprios ministros do STF e o Procurador Geral da República podem ser processados e julgados exclusivamente pela Suprema Corte. E, também, nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os ministros de Estado, os comandantes das três Armas, os membros dos Tribunais superiores, do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática em caráter permanente.

Foi por esta razão que o ex-ministro Marcio Thomaz Bastos, logo no início do julgamento, pediu o desmembramento do processo. O que foi negado pelo STF, muito embora tenha decidido em sentido contrário no caso do “mensalão do PSDB” de Minas Gerais.

Ou seja: dois pesos, duas medidas; situações idênticas tratadas desigualmente.

Vale lembrar, finalmente, que em quatro ocasiões recentes, o STF votou pelo desmembramento de processos, para que pessoas sem foro privilegiado fossem julgadas pela primeira instância – todas elas posteriores à decisão de julgar a Ação Penal 470 de uma só vez.

Por isso mesmo, o PT considera legítimo e coerente, do ponto de vista legal, que os réus agora condenados pelo STF recorram a todos os meios jurídicos para se defenderem.

2. O STF deu valor de prova a indícios

Parte do STF decidiu pelas condenações, mesmo não havendo provas no processo. O julgamento não foi isento, de acordo com os autos e à luz das provas. Ao contrário, foi influenciado por um discurso paralelo e desenvolveu-se de forma “pouco ortodoxa” (segundo as palavras de um ministro do STF). Houve flexibilização do uso de provas, transferência do ônus da prova aos réus, presunções, ilações, deduções, inferências e a transformação de indícios em provas.

À falta de elementos objetivos na denúncia, deducões, ilações e conjecturas preencheram as lacunas probatórias – fato grave sobretudo quando se trata de ação penal, que pode condenar pessoas à privação de liberdade. Como se sabe, indícios apontam simplesmente possibilidades, nunca certezas capazes de fundamentar o livre convencimento motivado do julgador. Indícios nada mais são que sugestões, nunca evidências ou provas cabais.

Cabe à acusação apresentar, para se desincumbir de seu ônus processual, provas do que alega e, assim, obter a condenação de quem quer que seja. No caso em questão, imputou-se aos réus a obrigação de provar sua inocência ou comprovar álibis em sua defesa—papel que competiria ao acusador. A Suprema Corte inverteu, portanto, o ônus da prova.

3. O domínio funcional do fato não dispensa provas

O STF deu estatuto legal a uma teoria nascida na Alemanha nazista, em 1939, atualizada em 1963 em plena Guerra Fria e considerada superada por diversos juristas. Segundo esta doutrina, considera-se autor não apenas quem executa um crime, mas quem tem ou poderia ter, devido a sua função, capacidade de decisão sobre sua realização. Isto é, a improbabilidade de desconhecimento do crime seria suficiente para a condenação.

Ao lançarem mão da teoria do domínio funcional do fato, os ministros inferiram que o ex-ministro José Dirceu, pela posição de influência que ocupava, poderia ser condenado, mesmo sem provarem que participou diretamente dos fatos apontados como crimes. Ou que, tendo conhecimento deles, não agiu (ou omitiu-se) para evitar que se consumassem. Expressão-síntese da doutrina foi verbalizada pelo presidente do STF, quando indagou não se o réu tinha conhecimento dos fatos, mas se o réu “tinha como não saber”...

Ao admitir o ato de ofício presumido e adotar a teoria do direito do fato como responsabilidade objetiva, o STF cria um precedente perigoso: o de alguém ser condenado pelo que é, e não pelo que teria feito.

Trata-se de uma interpretação da lei moldada unicamente para atender a conveniência de condenar pessoas específicas e, indiretamente, atingir o partido a que estão vinculadas.

4. O risco da insegurança jurídica

As decisões do STF, em muitos pontos, prenunciam o fim do garantismo, o rebaixamento do direito de defesa, do avanço da noção de presunção de culpa em vez de inocência. E, ao inovar que a lavagem de dinheiro independe de crime antecedente, bem como ao concluir que houve compra de votos de parlamentares, o STF instaurou um clima de insegurança jurídica no País.

Pairam dúvidas se o novo paradigma se repetirá em outros julgamentos, ou, ainda, se os juízes de primeira instância e os tribunais seguirão a mesma trilha da Suprema Corte.

Doravante, juízes inescrupulosos, ou vinculados a interesses de qualquer espécie nas comarcas em que atuam poderão valer-se de provas indiciárias ou da teoria do domínio do fato para condenar desafetos ou inimigos políticos de caciques partidários locais.

Quanto à suposta compra de votos, cuja mácula comprometeria até mesmo emendas constitucionais, como as das reformas tributária e previdenciária, já estão em andamento ações diretas de inconstitucionalidade, movidas por sindicatos e pessoas físicas, com o intuito de fulminar as ditas mudanças na Carta Magna.

Ao instaurar-se a insegurança jurídica, não perdem apenas os que foram injustiçados no curso da Ação Penal 470. Perde a sociedade, que fica exposta a casuísmos e decisões de ocasião. Perde, enfim, o próprio Estado Democrático de Direito.

5. O STF fez um julgamento político

Sob intensa pressão da mídia conservadora—cujos veículos cumprem um papel de oposição ao governo e propagam a repulsa de uma certa elite ao PT - ministros do STF confirmaram condenações anunciadas, anteciparam votos à imprensa, pronunciaram-se fora dos autos e, por fim, imiscuiram-se em áreas reservadas ao Legislativo e ao Executivo, ferindo assim a independência entre os poderes.

Único dos poderes da República cujos integrantes independem do voto popular e detêm mandato vitalício até completarem 70 anos, o Supremo Tribunal Federal - assim como os demais poderes e todos os tribunais daqui e do exterior - faz política. E o fez, claramente, ao julgar a Ação Penal 470.

Fez política ao definir o calendário convenientemente coincidente com as eleições. Fez política ao recusar o desmembramento da ação e ao escolher a teoria do domínio do fato para compensar a escassez de provas.

Contrariamente a sua natureza, de corte constitucional contra-majoritária, o STF, ao deixar-se contaminar pela pressão de certos meios de comunicação e sem distanciar-se do processo político eleitoral, não assegurou-se a necessária isenção que deveria pautar seus julgamentos.

No STF, venceram as posições políticas ideológicas, muito bem representadas pela mídia conservadora neste episódio: a maioria dos ministros transformou delitos eleitorais em delitos de Estado (desvio de dinheiro público e compra de votos).

Embora realizado nos marcos do Estado Democrático de Direito sob o qual vivemos, o julgamento, nitidamente político, desrespeitou garantias constitucionais para retratar processos de corrupção à revelia de provas, condenar os réus e tentar criminalizar o PT. Assim orientado, o julgamento convergiu para produzir dois resultados: condenar os réus, em vários casos sem que houvesse provas nos autos, mas, principalmente, condenar alguns pela “compra de votos” para, desta forma, tentar criminalizar o PT.

Dezenas de testemunhas juramentadas acabaram simplesmente desprezadas. Inúmeras contraprovas não foram sequer objeto de análise. E inúmeras jurisprudências terminaram alteradas para servir aos objetivos da condenação.

Alguns ministros procuraram adequar a realidade à denúncia do Procurador Geral, supostamente por ouvir o chamado clamor da opinião pública, muito embora ele só se fizesse presente na mídia de direita, menos preocupada com a moralidade pública do que em tentar manchar a imagem histórica do governo Lula, como se quisesse matá-lo politicamente. O procurador não escondeu seu viés de parcialidade ao afirmar que seria positivo se o julgamento interferisse no resultado das eleições.

A luta pela Justiça continua

O PT envidará todos os esforços para que a partidarização do Judiciário, evidente no julgamento da Ação Penal 470, seja contida. Erros e ilegalidades que tenham sido cometidos por filiados do partido no âmbito de um sistema eleitoral inconsistente - que o PT luta para transformar através do projeto de reforma política em tramitação no Congresso Nacional - não justificam que o poder político da toga suplante a força da lei e dos poderes que emanam do povo.

Na trajetória do PT, que nasceu lutando pela democracia no Brasil, muitos foram os obstáculos que tivemos de transpor até nos convertermos no partido de maior preferência dos brasileiros. No partido que elegeu um operário duas vezes presidente da República e a primeira mulher como suprema mandatária. Ambos, Lula e Dilma, gozam de ampla aprovação em todos os setores da sociedade, pelas profundas transformações que têm promovido, principalmente nas condições de vida dos mais pobres.

A despeito das campanhas de ódio e preconceito, Lula e Dilma elevaram o Brasil a um novo estágio: 28 milhões de pessoas deixaram a miséria extrema e 40 milhões ascenderam socialmente.

Abriram-se novas oportunidades para todos, o Brasil tornou-se a 6ª economia do mundo e é respeitado internacionalmente, nada mais devendo a ninguém.

Tanto quanto fizemos antes do início do julgamento, o PT reafirma sua convicção de que não houve compra de votos no Congresso Nacional, nem tampouco o pagamento de mesada a parlamentares. Reafirmamos, também, que não houve, da parte de petistas denunciados, utilização de recursos públicos, nem apropriação privada e pessoal.

Ao mesmo tempo, reiteramos as resoluções de nosso Congresso Nacional, acerca de erros políticos cometidos coletiva ou individualmente.

É com esta postura equilibrada e serena que o PT não se deixa intimidar pelos que clamam pelo linchamento moral de companheiros injustamente condenados. Nosso partido terá forças para vencer mais este desafio. Continuaremos a lutar por uma profunda reforma do sistema político - o que inclui o financiamento público das campanhas eleitorais - e pela maior democratização do Estado, o que envolve constante disputa popular contra arbitrariedades como as perpetradas no julgamento da Ação Penal 470, em relação às quais não pouparemos esforços para que sejam revistas e corrigidas.

Conclamamos nossa militância a mobilizar-se em defesa do PT e de nossas bandeiras; a tornar o partido cada vez mais democrático e vinculado às lutas sociais. Um partido cada vez mais comprometido com as transformações em favor da igualdade e da liberdade.

São Paulo, 14 de novembro de 2012.

Comissão Executiva Nacional do PT.
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Mistérios insondáveis da mente humana

Essa pessoa conservadora e reacionária abaixo é seguida por inúmeros "esquerdistas" no Twitter e considerada uma pessoa "progressista". Por quê? Por nada. 

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Roberto Freire, ideólogo da Direita

Bemvindo Sequeira

Freire é, sobretudo, um político profissional. Tem que se eleger porque deputança é seu emprego. Mesmo que para isto troque Pernambuco por SP, ou até pela Ilha de Marajó. Isto eu compreendo. Sou um profissional também, e tenho que trabalhar onde arranjar vaga, embora eu seja menos artista que o "artista" citado.

Mas...

O perigo de Roberto Freire é que até então não havendo denuncia de corrupção contra ele, sua postura é ideológica.

Um bom orador, com ideologia da Esquerda que passa para a Direita caminha para o fascismo, veja Mussolini e Carlos Lacerda.

É o caminho natural para os da classe média com tendências autoritárias e fascistas - este sempre foi o comportamento de Freire no Partido.

É o discurso ideal que serve para alavancar Direitistas, corruptos ou não.

Freire me envergonha. Não tenho vergonha do meu passado com ele nos quadros do meu Partido, o PCB, mas tenho vergonha alheia pelo que ele se transformou.

No tempo de Carlos Lacerda cunhou-se um termo que identificava o "Corvo do Guanabara”: "Carreirista da Traição".
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Por falar em passaportes...


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O macartismo à brasileira

Carta Maior

"Estamos assistindo ao surgimento de um macartismo à brasileira. A  Ação Penal 470  transformou-se em um julgamento político contra o PT.  O que se acusa como crime são as mesmas práticas reputadas apenas como ilícito eleitoral quando se trata do PSDB, que desfruta de todos os atenuantes  daí decorrentes. É indecoroso. São absolutamente idênticas. Só as distingue  o tratamento político diferenciado  do STF, que alimenta assim a espiral macartista. 

O mesmo viés se insinua com relação  à mídia progressista. A publicidade federal quando dirigida a ela é catalogada pelo macartismo  brasileiro como suspeita e ilegítima. Dá-se a isso ares de grave denúncia. Quando é destinada à mídia conservadora , trata-se como norma.  

O governo erra ao se render a esse ardil.  Deveria, ao contrário, definir políticas explícitas de apoio e incentivo aos veículos que ampliam a pluralidade  de visões da sociedade  brasileira sobre ela mesma.  Sufocar economicamente e segregar politicamente a imprensa alternativa é abrir espaço ao macartismo à brasileira".

 (Bernardo Kuscinski, professor e romancista, autor do premiado 'K', a angustiante romaria de um pai em busca da filha nos labirintos da ditadura militar brasileira).

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Golpe paraguaio em marcha

Brasil 247 - É possível que Roberto Freire, ex-comunista, tenha desviado o ouro de Moscou. Mas também é possível que não. É possível que o senador Álvaro Dias (PSDB/PR) tenha grilado terras no Paraguai. Mas também é possível que não. É possível que Aloysio Nunes Ferreira tenha assaltado vários bancos durante a ditadura militar. Mas também é possível que não.

Esses três representantes da oposição, além dos deputados Rubens Bueno (PPS/PR) e Mendes Thame (PSDB/SP), acabam de protocolar uma representação junto à Procuradoria-Geral da República, endereçada a Roberto Gurgel, em que pedem a abertura de processo criminal contra o ex-presidente Lula. O motivo? Uma reportagem de Veja. "É possível que seja tudo mera especulação", diz o texto da representação. "Mas é possível que também não seja".

É com esses argumentos que cinco políticos brasileiros (já escalados pelo 247 para a seleção paraguaia, ao lado de Roberto Civita) pretendem iniciar uma cruzada para colocar atrás das grades um presidente que entregou o cargo com a mais alta aprovação popular na história brasileira.
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O alvo do golpe é Lula



No Supremo, há quem não esconda o desejo de que Lula é o alvo

Marcos Valério teve relações financeiras com o PT. Como teve com o PSDB de Minas. Empresas de Valério tiveram negócios com empresas do grupo Opportunity, de Daniel Dantas. Dantas teve ligações importantíssimas com gente importante no PSDB. Como teve ligações importantes com gente importantíssima no PT. Já passou da hora do PT vir a público e admitir os erros brutais que cometeu nesse contubérnio.

Condenado há 40 anos, Valério não quer ir para a cadeia. Para isso, fará e dirá qualquer coisa. Assim como Valério pode dizer o que quiser, a mídia tem o direito, e o dever, de publicar o que ele diz. Mesmo que, por ora, baseada apenas na palavra do condenado que não quer ser preso.

Há um consenso que esses são direitos democráticos, os de Valério, e os da Mídia. Como é de direito quem recebe tais informações, o telespectador, o leitor, fazer uma pergunta: por que o que Valério diz sobre Lula chega às manchetes e 115 páginas de documentos verídicos não são nem notícia? 115 páginas de documentos confidenciais produzidos em uma CPI ou obtidos em paraísos fiscais.

Valério prestou depoimento ao Ministério Público. Ele quer delatar e ser beneficiado com a liberdade. As 115 páginas de documentos estão num livro chamado "A Privataria Tucana". As informações contidas no livro receberam um registro em dois grandes jornais.

Essas informações seguem inéditas em boa parte da chamada Grande Mídia. Inclusive na revista Veja. A pergunta de quem não conhece esse ramo é: por que manchetes num caso e silêncio, ou desqualificação, no outro caso? Em outros casos também.

O PT errou, gravemente, ao montar parceria com Marcos Valério. Como errou quando alguns dos seus construíram pontes com, entre outros, Daniel Dantas e seus negócios. O PT erra quando não reconhece e não se desculpa publicamente pelos seus erros. Esses, e outros.

É claro como o dia que partidos de oposição também têm seus escândalos. Mas, para ter autoridade ao abordar escândalos alheios, o PT deve, antes, tratar dos seus. E, ao contrário do que sempre fizeram os demais partidos, tratar disso também publicamente.

Como já informado aqui em outros comentários, além dos que estão em julgamento do mensalão, havia, e há, um outro grande alvo. Esse alvo é Lula. No Supremo há quem não esconda isso em conversas reservadas. Da mesma forma, na mídia.

Lula deixou o governo com aprovação de 87% no Ibope. Felizmente, 13% não aprovaram seus 8 anos de governo; só nas ditaduras não existe oposição.

Brasil afora há quem venere Lula. E ele sabe disso; é muito mais agradável informar e ser informado sobre isso. Mas certamente Lula deve saber, alguém deve dizer a ele de quando em quando: além de fazer oposição, um direito de todos, há quem lhe devote um ódio profundo.

Bob Fernandes
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Na dúvida, linche-se o réu

O destino do "in dubio pro reo" 


Alvo de televisionamento, contendo o envolvimento de figuras proeminentes do mundo político, financeiro e publicitário. Colocado como um julgamento do comportamento ético de um partido político e dos seus governos. Posto como teste da imparcialidade do STF, pois a maioria dos seus integrantes foi nomeada pelos dois últimos governos. Envolvendo a sedimentada ideia de que no país as classes privilegiadas não são punidas.

O julgamento do chamado mensalão, com tudo isso, deixará marcas profundas no comportamento dos que operam o direito, como nos tribunais inferiores, e no próprio (in)consciente coletivo. Assim, certos aspectos de maior repercussão podem ser apontados, sem embargo de outros e dos efeitos do julgamento que só o futuro mostrará.

Para alguns ministros, nos crimes de difícil comprovação, o juiz não precisa de provas cabais, bastando indícios ou até a sua percepção pessoal para proferir uma condenação.

Em outras palavras, permite-se que o magistrado julgue por ouvir dizer, com base na verdade tida como sabida, mas não provada. Estará assim, na verdade, julgando com os sentidos e não com as provas.

É da tradição do direito penal dos povos civilizados a necessidade da certeza para uma condenação. Caso o juiz não tenha a convicção plena da responsabilidade do acusado, deverá absolve-lo. Trata-se do consagrado "in dubio pro reo" -na dúvida, absolve-se. Mais do que jurídica, essa máxima atende ao anseio natural de liberdade e de justiça. Não é justo punir-se com dúvida.

Alguns ministros, porém, pregaram a responsabilidade objetiva, com desprezo ao comportamento e à vontade do acusado.

Autoria criminal implica em um comportamento comissivo ou omissivo e na vontade dirigida à prática criminosa. Exemplificando para explicar: a condição pessoal, digamos, do dirigente de uma empresa, por si só, não o torna culpado por crimes cometidos em prol de tal empresa.

Utilizou-se a teoria já antiga do domínio do fato para justificar punições incabíveis. No entanto, ao contrário do propalado, essa teoria exige justamente que o autor vincule-se ao crime pela ação e pela vontade de agir criminosamente.

Alguns pronunciamentos trouxeram preocupante imprecisão ao conceito de lavagem de dinheiro. Consiste na conduta utilizada para emprestar aparente licitude ao produto de um crime, ocultando e dissimulando a sua origem. Há a necessidade de uma ação concreta, diversa do crime anterior.

No entanto, alguns julgadores, de forma imprecisa, parecem querer considerar lavagem a mera utilização do produto do outro delito.

Usar o dinheiro sem a simulação de sua origem não é lavagem, mas natural decorrência do crime patrimonial. Considerar o mero uso como outra figura penal é admitir crime sem conduta própria e permitir dupla punição a só uma ação.

A sociedade não ficou inerte e nem apática. Reagiu ao julgamento, em regra aplaudindo condenações e criticando absolvições. Conclui-se que a expectativa é pela culpa e não pela inocência. Isso é fruto da disseminação de uma cultura punitiva, de intolerância raivosa e vingativa, que tomou conta da nossa sociedade, fazendo-a apenas clamar por punição, sem pensar em prevenir o crime, combater suas causas.

Não pode passar sem registro um outro aspecto extraído ou confirmado pelo julgamento do mensalão: o poder da mídia para capturar a vaidade humana e torná-la sua refém.

Nesse sentido, um alerta: todos nós, integrantes da cena judiciária, deveremos administrar as nossas vaidades, para que ela não se sobreponha às responsabilidades que temos para com o seu principal protagonista, o cidadão jurisdicionado.

Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, 67, é advogado criminalista. Foi presidente da OAB-SP (1987-1990).
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Sobre conservadores e reacionários


Serra perde apoio entre evangélicos
Matheus Pichonelli

Há uma diferença entre um candidato que se diz conservador e outro, reacionário. Um conservador pode ser alguém avesso, por exemplo, a mudanças bruscas nos rumos da economia. Alguém que prefere a estabilidade da moeda e da inflação a uma intervenção aguda nos juros para incentivar a economia. Alguém que desconfia da eficiência do Estado para gerar emprego e renda ou mesmo para garantir, por leis e ações afirmativas, as diversidades ou a livre expressão individual no espaço público.

Em política, pode-se debater essas questões de modo honesto antes, durante e depois das eleições. A finalidade, por caminhos inversos, desboca num valor em comum entre liberais e conservadores legítimos: a justiça. Simplificando, uns a enxergam pelo caminho da igualdade, outros, pela liberdade sem interferências além das inevitáveis.

Este é o mundo ideal. Utópico até. Porque no meio do caminho existe o reacionário. E o reacionário é em si um sujeito raivoso, incapaz de apontar caminhos em direção a uma realidade mais digna para seu país, sua cidade, sua casa, seu bairro. O eleitor reacionário quer o retorno de uma velha ordem. O retorno de privilégios. Daí o nojo às normas formas de expressão. Daí o medo “dessas empregadinhas subirem na vida e se recusarem a trabalhar por mixarias”. Daí o medo de “esse aeroporto se transformar numa rodoviária”. O medo de ciclistas “atrapalharem as pirotecnias da minha SUV”. O medo de mandar “meu filho pra escola e dividir a carteira com o filho do motoboy”. Daí o medo das denominadas “ditaduras gays”.

Silas Malafaia é um reacionário. É um líder que espalha ódio para combater um elemento que ele não reconhece como humano simplesmente porque não nasceu como diz o mandamento. Em suas pregações, ele não diz se o Estado deve agir ou não para garantir a paz e a unidade, conceitos tão caros a qualquer cristão. Pede, em outras palavras, um aniquilamento, uma reação a um mundo de pretensa desordem. É um homem do antigo testamento pregando em 2012 num exercício similar ao esforço de segurar uma barragem com um graveto. Mal sabe ele que, como na música, “algo se perdeu, algo se quebrou, está se quebrando”.

Não fosse isso não haveria, em uma pesquisa Datafolha recente, 70% da população em São Paulo dizendo que a homossexualidade deve ser aceita por toda a sociedade, contra 23% que dizem concordar que “deve ser desencorajada”. Os 23% são muitos, é verdade, mas já não são maioria. E, diferentemente do que querem fazer crer, não estão restritos a evangélicos, católicos ou qualquer outra profissão de fé que tenha a paz como embrião.

Por isso, classificar um projeto anti-homofobia do Ministério da Educação como “kit gay”, tomar a parte pelo todo e dizer, em plena campanha para a prefeitura da maior cidade do País, que o programa empurraria os alunos para a homossexualidade, como se este fosse o temor de uma população em chamas, é no mínimo duvidoso. É o que se espera de Malafaia, um reacionário nato. Não de um candidato a prefeito. Qualquer passo em direção a isso soa a desfaçatez – como condenar a prática do aborto e ter um aborto no currículo, como dizer que o Estado não deve se intrometer na orientação sexual do indivíduo e ter lançado um “kit” semelhante. É um convite para o desembarque de um eleitorado progressista identificado com o PSDB fundado por Mário Covas.

Se a ideia era atingir o eleitorado “conservador” de uma cidade onde 79% dizem que “acreditar em Deus torna as pessoas melhores”, o tiro passou longe. Porque o cidadão pode ser conservador, mas nem sempre é burro, conforme poderia confirmar o ex-governador Claudio Lembo. E o perigo em subestimar sua inteligência parece exposto nos números da última pesquisa Ibope, que mostrou o petista Fernando Haddad com 16 pontos de vantagem sobre José Serra (PSDB) – 49% a 33%. 

Serra tinha 37% há uma semana, quando decidiu elevar o tom e trazer a homossexualidade para o centro do debate sobre os problemas de São Paulo, numa tentativa clara de afinar o discurso com o do pastor em guerra declarada por sua candidatura. E, ironia, foi justamente entre os evangélicos que ele mais perdeu apoio (de 37% para 28%) – neste grupo, Haddad tem 52% das preferências.

E por que Haddad ampliou a vantagem em relação à última pesquisa? Porque o eleitor é pouco instruído, alienado sobre o processo do “mensalão” e se contenta com migalhas de programas sociais como o Bolsa Família? Nada disso. A mesma pesquisa mostrou uma melhora da avaliação do petista justamente no centro expandido de São Paulo, onde o eleitor é mais escolarizado e, em tese, não precisa de programas sociais. Haddad chegou mais perto de Serra no conjunto dessas regiões, algo até então inesperado, conforme mostrou a CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, ao colunista José Roberto de Toledo, do Estado de S.Paulo.

Segundo ela, Haddad passou a liderar em todos o segmentos de escolaridade, ampliou a vantagem entre os eleitores com ensino fundamental, manteve a dianteira entre os que cursaram até o ensino médio e empatou com Serra entre os que têm nível superior: 42% a 42%.

Este eleitor, que historicamente tende a rejeitar candidatos petistas em São Paulo, não parece preocupado com o “incentivo” à homossexualidade citada por Malafaia para atacar a campanha petista. Por um motivo simples: este eleitor não está no antigo testamento. Está em 2012. E não vai ser rifando direitos consolidados ao longo de anos, como bem frisou o ativista Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que o candidato vai cativar um eleitorado supostamente avesso a mudanças. Nem falando alto com quem insiste em fazer perguntas incômodas. Nem associando o candidato rival a um escândalo ocorrido num tempo em que era professor de política na Universidade de São Paulo.

O eleitor conservador tem as suas preferências, mas identifica de longe o cheiro de oportunismo. Não é tratando-o como idiota que se conseguirá o seu respeito.

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Extrema-direita se une contra Haddad


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