Datafolha, o descrédito camuflado

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  • domingo, 16 de dezembro de 2012
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  • A pesquisa do Datafolha divulgada neste domingo envolve um contexto tão ou mais humilhante para a oposição e o seu dispositivo midiático do que os resultados que revela. O que revela, em contrapartida, deve ser encarado com cautelosos festejos pelo governo: pode ser a ante-sala de uma radicalização ainda maior do conservadorismo. 

    Os números tabulados são devastadores. 

    Dos entrevistados, 56% e 57% preferem que Brasil continue governado,respectivamente, por Lula ou Dilma, rejeitando a hipótese de se transferir o comando da sociedade à oposição.

    Significa que Lula ou Dilma, é indiferente, qualquer um dos dois venceria hoje as eleições presidenciais num hipotético primeiro turno. Repita-se:o PT tem dois candidatos para vencer; a oposição não tem nenhum.

    Esse é o tamanho do rombo que o Datafolha desvela na trincheira neoudenista, após cinco meses de açoites sucessivos, iniciados com o julgamento da Ação 470, em 2 de agosto.

    Com Lula ou Dilma, o PT supera a soma das preferências atribuídas a todas as alternativas reais ou acalentadas pela direita brasileira - de Marina Silva a Aécio, passando pelo eterno candidato da derrota conservadora, José Serra, ao cobiçado Eduardo Campos. 

    O resultado é ainda mais humilhante quando se contextualiza a sua coleta. 

    A pesquisa foi feita estrategicamente no dia 13 de dezembro, 5ª feira passada, ouvindo-se 2.588 pessoas. 

    A Folha aguardou todo o desgaste da Operação Seguro, iniciada no dia 24 de novembro.Deixou acumular vapor na fornalha e enviou seus pesquisadores a campo no dia seguinte ao vazamento das supostas acusações de Marcos Valério contra Lula.

    É uma aula de como fazer política com pesquisas supostamente 'científicas'.
    Primeiro , o jornal e seus assemelhados dão uma 'esquentada' na opinião pública. Concluído o bombardeio, lá vai o isento Datafolha mensurar 'cientificamente' o diâmetro da cratera aberta no prestígio do PT e do governo. 

    Não incorre em erro quem asseverar que o Datafolha dilapida rapidamente sua credibilidade nessa endogamia entre manchetes e enquetes. 

    Neste caso, por exemplo, a pesquisa foi dia 13 porque no dia 12 as manchetes dos jornais foram as seguintes: 

    'O Globo' 12/12/2012:

    * 'Operador do mensalão disse ter pagado despesas do então presidente da República Lula e que este sabia dos empréstimos ao PT'.

    *'Joaquim defende nova investigação (diante das acusações de Marcos Valério a Lula);

    * 'Sou o garganta profunda do PT; o bicheiro Carlinhos Cachoeira deixou o presídio com insinuações contra o PT'.

    'Estadão',12/12/2012:

    *'BB arrecadava para PT, diz Valério'. 

    *'Joaquim Barbosa afirma que Lula tem de ser investigado'.

    * 'PF apura se Rose e irmãos Vieira ocultam bens'.

    'Folha de SP' 12/12/2012

    'Presidente do Supremo quer Lula investigado no 'mensalão' .

    Foi assim que a coisa se deu, com o efeito bumerangue conhecido.

    Há mais , porém. E não é menos sugestivo do expediente ardiloso que assentou praça em veículos que gostavam de ostentar o seu 'republicanismo'.

    Camuflado sob o título 'Aumenta a percepção de corrupção no governo', a Folha asfixia em quatro linhas de rodapé outra novidade incomoda trazida das ruas. 

    O elemento camuflado pela Folha diz respeito exatamente ao exercício dada manipulação.

    A pesquisa do Datafolha mostrou uma queda de 10 (dez) pontos percentuais na confiança da população na imprensa, comparando-se justamente o período em que ela foi mais ativa na escalada criminalizante contra o PT e suas lideranças.Ou seja, de 2 de agosto, início do julgamento do chamado 'mensalão', até o último dia 13 de dezembro.

    O fato de que tenha o jornal dos Frias tenha camuflado uma variação estatística que é o dobro daquela destacada na manchete sobre corrupção ( cuja percepção saltou de 64% para 69% no mesmo período) apenas comprova a pertinência da desconfiança registrada na pesquisa. 

    A manipulação dentro da manipulação serve também de advertência ao governo: o conservadorismo brasileiro dobrou um Rubicão.

    Não se espere recuo ou acomodação em meio à escalada conservadora para voltar ao poder.

    A mídia já está em campanha e o que tem cometido e ventilado como jornalismo é o aperitivo do que vem pela frente. (Leia também aqui :'O agendamento conservador' )

    Postado por Saul Leblon - via  Agência Carta Maior
     
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