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O funesto império das corporações

Por Leonardo Boff, no sítio da Adital:

O individualismo, marca registrada da sociedade de mercado e do capitalismo como modo de produção e sua expressão política o neoliberalismo, revelam toda sua força mediante as corporações nacionais e multinacionais. Nelas vigora cruel competição dentro da lógica do ganha-perde.

Pensava-se que a crise sistêmica de 2008 que afetou pesadamente o coração dos centros econômico-financeiros nos USA e na Europa, lá onde a sociedade de mercado é dominante e elabora as estratégias para o mundo inteiro, levasse a uma revisão de rota. Ainda mais que não se trata apenas do futuro da sociedade de mercado mundializada, mas de nossa civilização e até de nossa espécie e do sistema-vida.

Muitos como J. Stiglitz e P. Krugman esperavam que o legado da crise de 2008 seria um grande debate sobre que tipo de sociedade queremos construir. Enganaram-se rotundamente. A discussão não se deu. Ao contrário, a lógica que provocou a crise foi retomada com mais furor.

Richard Wilkinson, epidemiologista inglês e um dos maiores especialistas sobre o tema desigualdade foi mais atento e disse, ainda em 2013 numa entrevista ao jornal Die Zeit da Alemanha: "a questão fundamental é esta: queremos ou não verdadeiramente viver segundo o princípio que o mais forte se apropria de quase tudo e o mais fraco é deixado para trás?”.

Os superricos e superpoderosos decidiram que querem viver segundo o princípio darwinista do mais forte e que se danem os mais fracos. Mas comenta Wilkinson: "creio que todos temos necessidade de uma maior cooperação e reciprocidade, pois as pessoas desejam uma maior igualdade social”. Esse desejo é intencionalmente negado por esses epulões.

Via de regra, a lógica capitalista é feroz: uma empresa engole a outra (eufemisticamente se diz que se fizeram fusões). Quando se chega a um ponto em que só restam apenas algumas grandes, elas mudam a lógica: ao invés de se guerrearem, fazem entre si uma aliança de lobos e comportam-se mutuamente como cordeiros. Assim articuladas detém mais poder, acumulam com mais certeza para si e para seus acionistas, desconsiderando totalmente o bem da sociedade.

A influência política e econômica que exercem sobre os governos, a maioria muito mais fracos que elas, é extremamente constrangedor, interferindo no preço das commodities, na redução dos investimentos sociais, na saúde, educação, transporte e segurança. Os milhares que ocupam as ruas no mundo e no Brasil intuíram essa dominação de um novo tipo de império, feito sob o lema: "a ganância é boa” (greed is good) e "devoremos o que pudermos devorar”.

Há excelentes estudos sobre a dominação do mundo por parte das grandes corporações multilaterais. Conhecido é o do economista norte-americano David Korten "Quando as corporações regem o mundo” (When the Corporations rule the World, Berret-Koehler Publisher 1995/2001)). Mas fazia falta um estudo de síntese. Este foi feito pelo Instituto Suíço de Pesquisa Tecnológica (ETH), em Zurique em 2011 que se conta entre os mais respeitados centros de pesquisa, competindo com MIT. O documento envolve grandes nomes, é curto, não mais de 10 páginas e 26 sobre a metodologia para mostrar a total transparência dos resultados. Foi resumido pelo Professor de economia da PUC-SP Ladislau Dowbor em seu site. Baseamo-nos nele.

Dentre as 30 milhões de corporações existentes, o Instituto selecionou 43 mil para estudar melhor a lógica de seu funcionamento. O esquema simplificado se articula assim: há um pequeno núcleo financeiro central que possui dois lados: de um, são as corporações que compõe o núcleo e do outro, aquelas que são controladas por ele. Tal articulação cria uma rede de controle corporativo global. Esse pequeno núcleo (core) constitui uma superentidade (super entity). Dele emanam os controles em rede, o que facilita a redução dos custos, a proteção dos riscos, o aumento da confiança e, o que é principal, a definição das linhas da economia global que devem ser fortalecidas e onde.

Esse pequeno núcleo, fundamentalmente de grandes bancos, detém a maior parte das participações nas outras corporações. O topo controla 80% de toda rede de corporações. São apenas 737 atores, presentes em 147 grandes empresas. Ai estão o Deutsche Bank, o J.P. Morgan Chase, o UBS, o Santander, o Goldes Sachs, o BNP Paribas entre outros tantos. No final menos de 1% das empresas controla 40% de toda rede.

Este fato nos permite entender agora a indignação dos Occupies e de outros que acusam que 1% das empresas faz o que quer com os recursos suados de 99% da população. Eles não trabalham e nada produzem. Apenas fazem mais dinheiro com dinheiro lançado no mercado da especulação.

Foi esta absurda voracidade de acumular ilimitadamente que gestou a crise sistêmica de 2008. Esta lógica aprofunda cada vez mais a desigualdade e torna mais difícil a saída da crise. Quanto de desumanidade aquenta o estômago dos povos? Pois tudo tem seu limite nem a economia é tudo. Mas agora nos é dado ver as entranhas do monstro. Como diz Dowbor: "A verdade é que temos ignorado o elefante que está no centro da sala”. Ele está quebrando tudo, cristais, louças e pisoteando pessoas. Mas até quando? O senso ético mundial nos assegura que uma sociedade não pode subsistir por muito tempo assentada sobre a superexploração, a mentira e a antivida.

A grande alternativa é oferecida por David Korten que tem trabalhado com Joanna Macy, uma das mais comprometidas educadoras com o novo paradigma e com um futuro diferente e otimista do mundo. A grande virada (The Great Turning) se dará com a passagem do paradigma "Império” para o da "Comunidade da Terra”. O primeiro dominou nos últimos cinco mil anos. Agora chegou seu ponto mais baixo de degradação. Uma virada salvadora é a renúncia ao poder como dominação imperial sobre e contra os outros na direção de uma convivência de todos com todos na única "Comunidade da Terra”, na qual seres humanos e demais seres da grande comunidade de vida convivem, colaboram e juntos mantém uma Casa Comum hospitaleira e acolhedora para todos. Só nesta direção poderemos garantir um futuro comum, digno de ser vivido.
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Como os jornalões estragaram o Natal

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

Folha e Estadão esmeraram-se em tratar as vendas de Natal como um fracasso.

Manchete da Folha: “Comércio tem o pior resultado no Natal em 11 anos”.

Manchete do Estadão: “Com crédito contido e juros altos, vendas de Natal decepcionam”.

Ambos os jornais trabalham em cima de dados da Serasa Experian e da Alshop (a associação dos lojistas de shoppings).

Vamos a alguns erros de manchetes e de análises.

1. Erro de manchete: Se em 2013 vendeu-se mais do que em 2012, como considerar que foi o pior resultado em 11 anos?

2. A Serasa trabalha especificamente com pedidos de informação para crédito. Houve retração no crédito, mas a maior ferramenta de vendas têm sido o parcelamento (em até dez vezes) em cartões de crédito e de loja. Os jornalões trataram os dados da Serasa como se representassem o universo total de vendas.

3. As vendas em shoppings deixam de lado o comércio para classes C e D - justamente as que mais vêm crescendo. Mesmo assim, os jornalões trataram os dados como se representassem o todo.

4. A Alshop (associação dos lojistas) informou que as vendas cresceram 6% no Natal. O problema maior foi o aumento do número de lojas, que fez com que as lojas mais antigas permanecessem com o mesmo faturamento. Ora, o que expressa o mercado são as vendas totais. A distribuição entre lojas novas e antigas é problema setorial, que nada tem a ver com a conjuntura.

5. Os jornalões deixaram de lado o comércio eletrônico - que tem sido o principal competidor das lojas de shopping. Em 2013 os shoppings centers venderam R$ 138 bilhões, 8% a mais do que em 2012. O comércio eletrônico vendeu R$ 23 bilhões, ou 45% a mais do que em 2012. Somando a venda dos dois segmentos, saltou de R$ 151 bi em 2012 para R$ 161 bi em 2013, aumento de expressivos 12%.

6. Os jornais falam em “decepção”, porque a Alhosp esperava crescimento de 10% nas vendas de Natal e conseguiu-se “apenas" 6%. Esperar 10% de crescimento com uma economia rodando a 2% é erro clamoroso de análise. Mas, para os jornalões, o erro está na realidade, que não acompanhou os sonhos.

Se não houvesse essa politização descabida do noticiário econômico, as análises estariam em outra direção: a razão do consumo ainda não ter se acomodado mesmo com dinheiro mais caro, o crédito mais escasso, com a competição de Miami, com o PIB andando de lado etc. E suas implicações sobre as contas externas brasileiras. Estariam questionando também que raios de política monetária é esta, na qual aumenta-se a Selic para supostamente reduzir a demanda agregada, e ela continua crescendo.
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ECONOMIA - Reescrevendo a Folha de São Paulo


Reescrevendo a Folha de São Paulo, sem o fígado

Os fatos são os mesmo, mas a versão, quanta diferença.
Os dados e citações aqui contidos são rigorosamente os mesmos da matéria da Folha de hoje, 27.12.2013, cuja manchete é “Comércio tem Natal mais fraco em 11 anos”.
Se retirada a “bílis negra”, ficaria assim:
Comércio no Natal cresce pelo 11º ano consecutivo. 
Sem crise.
Apesar da crise mundial, no Brasil, o comércio natalino cresce consecutivamente há mais de uma década.
Em 2013, segundo indicador de atividade do comércio da Serasa Experian, as vendas na principal data para o comércio cresceram 8,7% no país (2,7% de crescimento, descontada a inflação), representando um crescimento contínuo desde o início da série em 2003. O levantamento foi feito com base em consultas realizadas na semana de 18 a 24 de dezembro.
Um setor dinâmico.
Os setores de shoppings e E-Comerce tiveram natal dinâmico em 2013. Os shoppings registraram um crescimento de 5% em termos reais. O setor deve encerrar o ano com faturamento de R$ 132,8 bilhões e com mais 38 novos shoppings abertos ao longo do ano. O E-comerce teve um crescimento nominal de 41%. De 15 de novembro a 24 deste mês, as vendas somaram R$ 4,3 bilhões. No ano, o setor deve faturar R$ 28 bilhões, segundo a E-Bit.
Efeito Miami, IPI e Black Friday, podia ser melhor ainda.
Os dados do comércio no natal podiam ser melhores ainda. O consumidor, que espera, normalmente, a entrada do 13º salário para efetuar suas compras, este ano, teve alguns motivos para antecipá-las. Um deles foi o fim da redução do IPI para móveis e automóveis. Outro fator que também contribuiu para um não aumento maior, em dezembro, foi a liquidação conhecida como Black Friday, realizada na última semana de novembro.
Os shoppings tiveram ainda a competição com outlets de Miami e Orlando, que vivem abarrotados de brasileiros. “Os preços lá fora são muito menores e isso é um inibidor de compras, sobretudo no setor de vestiário”, diz Sahyoun, presidente da Alshop.
A inadimplência afastada.
Todo crescimento, principalmente se baseado no crédito, embute o risco da inadimplência. Esse, contudo, não parece ser um risco a curto prazo. As famílias brasileiras se mostram responsáveis nesse sentido.  
Segundo a Alshop , o gasto individual com presentes caiu 10% neste ano. Variou de R$ 35 a R$ 45 nos shoppings populares. E de R$ 75 a R$ 125 nos estabelecimentos de classe média. O crescimento, então, se explica por mais pessoas terem ido às compras, mas gastado menos individualmente.
“O consumidor está menos disposto a comprar e mais preocupado em sair da inadimplência do que contrair novas dívidas”, diz Luiz Rabi, economista do Serasa.
Para 2014, a estabilidade. Mas...
O ano de 2010 - PIB de 7,5%, foi atípico com um crescimento de 15,5% do comércio em dezembro. A análise da série histórica de crescimento do varejo no Natal, no entanto, mostra uma tendência de estabilização.
“Vivemos nos últimos anos uma antecipação forte do consumo, estimulado pela redução das alíquotas de impostos”, diz Nuno Fouto, professor do Provar/FIA.
Segundo Luiz Augusto Ildefonso da Silva, diretor de relações institucionais da Alshop, “A volúpia de compras acabou. As pessoas já compraram o que precisaram e, agora, estão fazendo reposição”.
E para o economista Eduardo Tonooka, “Com os níveis de emprego elevados, não há muito mais espaço para ter mais pessoas ingressando no mercado de consumo”.
O comércio natalino cresce a uma taxa média próxima a 3,3%, a partir de 2008. Logo, 2014 deve repetir 2013.
Mas 2014 tem Copa do Mundo e eleições, e aí...
Agora, para a Folha de São Paulo, os fatos são os mesmo, mas a versão, quanta diferença.
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/12/1390201-vendas-de-natal-tem-pior-desempenho-em-11-anos-segundo-serasa-experian.shtml
Fonte: Blog do Luis Nassif
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ECONOMIA - O Brasil não acabou em 2013.

Jornalismo econômico não entende nada de economia e menos ainda de jornalismo

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Como os jornalões conseguiram estragar um Natal surpreendente


Folha e Estadão esmeraram-se em tratar as vendas de Natal como um fracasso.

Manchete da Folha: “Comércio tem o pior resultado no Natal em 11 anos”.

Manchete do Estadão: “Com crédito contido e juros altos, vendas de Natal decepcionam”.

Ambos os jornais trabalham em cima de dados da Serasa Experian e da Alshop (a associação dos lojistas de shoppings).

Vamos a alguns erros de manchetes e de análises.

1. Erro de manchete: Se em 2013 vendeu-se mais do que em 2012, como considerar que foi o pior resultado  em 11 anos?

2. A Serasa trabalha especificamente com pedidos de informação para crédito. Houve retração no crédito, mas a maior ferramenta de vendas têm sido o parcelamento (em até dez vezes) em cartões de crédito e de loja. Os jornalões trataram os dados da Serasa como se representassem o universo total de vendas.

3. As vendas em shoppings deixam de lado o comércio para classes C e D - justamente as que mais vêm crescendo. Mesmo assim, os jornalões trataram os dados como se representassem o todo.

4. A Alshop (associação dos lojistas) informou que as vendas cresceram 6% no Natal. O problema maior foi o aumento do número de lojas, que fez com que as lojas mais antigas permanecessem com o mesmo faturamento. Ora, o que expressa o mercado são as vendas totais. A distribuição entre lojas novas e antigas é problema setorial, que nada tem a ver com a conjuntura.

5. Os jornalões deixaram de lado o comércio eletrônico - que tem sido o principal competidor das lojas de shopping. Em 2013 os shoppings centers venderam R$ 138 bilhões, 8% a mais do que em 2012. O comércio eletrônico vendeu R$ 23 bilhões, ou 45% a mais do que em 2012. Somando a venda dos dois segmentos, saltou de R$ 151 bi em 2012 para R$ 161 bi em 2013, aumento de expressivos 12%.

6. Os jornais falam em “decepção”, porque a Alshop esperava crescimento de 10% nas vendas de Natal e conseguiu-se “apenas" 6%. Esperar 10% de crescimento com uma economia rodando a 2% é erro clamoroso de análise. Mas, para os jornalões, o erro está na realidade, que não acompanhou os sonhos.

Se não houvesse essa politização descabida do noticiário econômico, as análises estariam em outra direção: a razão do consumo ainda não ter se acomodado mesmo com dinheiro mais caro, o crédito mais escasso, com a competição de Miami, com o PIB andando de lado etc. E suas implicações sobre as contas externas brasileiras. Estariam questionando também que raios de política monetária é esta, na qual aumenta-se a Selic para supostamente reduzir a demanda agregada, e ela continua crescendo.

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ECONOMIA - As grandes corporações controlam o mundo.


Os bons votos de um ano feliz são rituais. Não passam de simples votos, pois não conseguem mudar o curso do mundo  onde os super-poderosos  seguem sua estratégia de dominação global. Sobre isso é que precisamos pensar e até rezar pois as consequências econômicas, sociais, culturais, espirituais e para o futuro da espécie e da natureza podem ser nefastas.

Muitos como J. Stiglitz e P. Krugman esperavam que o legado da crise de 2008 seria um grande debate sobre que tipo de sociedade queremos construir. Erraram feio. A discussão não se deu. Ao contrário, a lógica que provocou a crise foi retomada com mais furor. Richard  Wilkinson, um dos maiores especialistas sobre o tema desigualdade  foi mais atento e dissse, há tempos, nums entrevista ao jornal Die Zeit da Alemanha: ”a questão fundamental é esta: queremos ou não verdeiramente viver segundo o princípio que o mais forte se apropria de quase tudo e o mais fraco é deixado para trás?”.

Os super-ricos e super-poderosos decidiram que querem viver segundo o princípio darwinista do mais forte e que se danem os mais fracos. Mas comenta Wilkinson: “creio que todos temos necessidade de uma maior cooperação e reciprocidade, pois as pessoas desejam uma maior igualdade social”. Esse desejo é intencionalmene negado por esses epulões.

Via de regra, a lógica capitalista é feroz: uma empresa engole a outra (eufemisticamente se diz que se fizeram fusões). Quando se chega a um ponto em que só restam apenas algumas grandes, elas mudam a lógica: ao invés de se guerrearem, fazem entre si uma aliança de lobos e comportam-se mutuamente como  cordeiros. Assim articuladas detém mais poder, acumulam com mais certeza para si e para seus acionistas, desconsiderando totalmente o bem da sociedade.

A influência política e econômica que exercem sobre os governos, a maioria muito mais fracos que elas, é extremamente constrangedor, interferindo no preço das commodities, na redução dos investimentos sociais, na saúde, educação, transporte e segurança. Os milhares que ocupam as ruas no mundo e no Brasil intuíram essa dominação de um novo tipo de império, feito sob o lema:”a ganância é boa” (greed is good) e “devoremos o que pudermos devorar”.

Há excelentes estudos sobre a dominação do mundo por parte das grandes corporações multilaterais. Conhecido é o de David Korten”Quando as corporações regem o mundo”(When the Corporations rule the World). Mas fazia falta  um estudo de síntese. Este foi feito pelo Instituto Suiço de Pesquisa Tecnológica (ETH)” em Zurique em 2011 que se conta entre os mais respeitados centros de pesquisa, competindo com MIT. O documento envolve grandes nomes, é curto, não mais de 10 páginas e 26 sobre a metodologia para mostrar a total transparência dos resultados. Foi resumido pelo Prof. de economia da PUC-SP
Ladislau Dowbor em seu site. Baseamo-nos nele.

Dentre as 30 milhões de corporações existentes, o Instituto selecionou 43 mil para estudar melhor a lógica de seu funcionamento. O esquema simplificado se articula assim: há um pequeno núcleo financeiro central que possui dois lados: de um,  são as corporações que compõe o núcleo e do outro, aquelas que são controladas por ele. Tal articulação cria uma rede de controle corporativo global. Essse pequeno núcleo (core) constitui uma super-entidade(super entity). Dele emanam os controles em rede, o que facilita a redução dos custos, a proteção dos riscos, o aumento da confiança e, o que é principal, a definição das linhas da economia global que devem ser fortalecidas e onde.

Esse pequeno núcleo, fundamentalmente de grandes bancos, detém a maior parte das participações nas outras corporações. O topo controla 80% de toda rede de corporações. São apenas 737 atores, presentes em 147 grandes empresas. Ai estão o Deutsche Bank, o J.P. Morgan Chase, o UBS, o Santander, o Goldes Sachs, o BNP Paribas entre outros tantos. No final menos de 1% das empresas controla 40% de toda rede.

Este fato nos permite entender agora a indignação dos Occupies  e de outros que acusam que 1% das empresas faz o que quer com os recursos suados de 99% da população. Eles não trabalham e nada produzem. Apenas fazem mais dinheiro com dinheiro lançado no mercado da especulação.

Foi esta absurda voraciade de acumular ilimitadamente que gestou a crise sistêmica de 2008. Esta lógica aprofunda cada vez mais a desigualdade e torna mais difícil a saída da crise. Quanto de desumanidade aquenta o estômago dos povos? Pois tudo tem seu limite nem a economia é tudo. Mas agora nos é dado ver as entranhas do monstro. Como diz Dowbor: ”A verdade é que temos ignorado o elefante que está no centro da sala”.  Ele está quebrando tudo, critais, louças e pisoteando pessoas. Mas até quando? O senso ético mundial nos assegura que uma sociedade não pode subsistir por muito tempo assentada sobre a super exploração, a mentira e a anti-vida.
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ECONOMIA - A reversão do pessimismo.

A reversão do pessimismo, na opinião de um campeão de mercado



“O repórter Fernando Travaglini, do Estadão, trouxe a melhor reportagem da semana para avaliar o comportamento dos mercados em relação à economia: entrevistou um administrador de fundos campeão, Luís Stuhlberger, que ganhou no começo do ano apostando no pessimismo; e agora aposta no otimismo, mesmo com ressalvas.

Os melhores termômetros do mercado são os grandes gestores de fundos e os tesoureiros dos grande grupos. Quando erra, o economista perde credibilidade (no caso brasileiro, nem isso). O gestor perde dinheiro.

Por isso mesmo são os leitores mais privilegiados das notícias econômicas. Sabem separar a espuma do essencial, o conteúdo das manchetes escandalosas.

As análises dos economistas são apenas um dos elementos de decisão. Elas servem de ponto de partida porque partem de uma metodologia de pegar o passado e projetar o futuro. Ou seja, se nada for feito nesse período, o resultado lá na frente será xis.

Ora, a construção do futuro depende de outros fatores subjetivos, nos quais experiência e intuição são os elementos que diferenciam os grandes gestores da massa dos analistas.

Como um craque como Stuhlberger analisa, por exemplo, a questão fiscal:

1. Lê as notícias sobre manipulação de indicadores e se assusta. E com razão.

2, Depois, lê as análises dos economistas prevendo que, a continuar no ritmo atual, o Brasil perderá a condição de grau de investimento em pouco tempo. São mencionadas agências de risco, frases entre aspas de gestores etc.

Aí, fará seu próprio contraponto:

1. Dará o devido desconto ao cenário econômico, porque, na maioria das vezes, limita-se a ler o passado e projetar o futuro. Como já dito, entre o passado e o futuro, há as decisões a serem tomadas.

2, Em vez de se valer dos jornais, vai buscar a notícia na fonte. Recebe os relatórios da Standard & Poors e constata que as manchetes de jornal são terrorismo: não há o menor risco de derrubar a classificação nos próximos anos.

3. Aí ele volta os olhares para Brasilia, lê as declarações de Guido, as manifestações de Dilma, dá o devido desconto nos tropeções retóricos e se fixa no essencial: caiu a ficha de que não se deve brincar com inflação e questão fiscal.

A partir daí, define sua estratégia.

Nem se pense que o grande gestor desgosta das manchetes escandalosas ou inverossímeis: elas se constituem em elemento essencial de lucro. Quanto maior a dessintonia entre a boa e a má informação, maior o ganho do gestor competente. Em suma, quanto mais agentes de mercado acreditarem na direção apontada pelas manchetes, maior o ganho de quem fizer o contraponto

As conclusões de Stuhlberger

Na entrevista de Stuhlberger as conclusões essenciais são as seguintes:

As críticas dos analistas e a opinião do mercado são um fator de contenção. Ou seja, se a situação fiscal começa a degradar, há uma grita que acorda o governo para a questão, seguindo-se medidas corretivas. Esse fator de racionalidade é essencial para garantir as expectativas positivas.

A política econômica importa-se muito mais com a inflação do que com a Selic. Ou seja, o fantasma da inflação é garantia de aumento dos juros e dos ganhos de tesouraria. O fato do BC ter jogado a toalha da Selic baixa é péssimo para a economia; mas trouxe tranquilidade para o mercado.

Fica tranquilo em saber que o governo já tem o diagnóstico de que a próxima etapa do desenvolvimento se dará através de investimentos - particularmente em infraestrutura. É sinalização importante para a reciclagem da poupança.

Sabe que a questão fiscal imediata se resolve com alguma melhoria na margem.

Não consegue entender porque o Banco Central persiste em segurar a desvalorização cambial - que considera irreversível.

Persistema fatores de risco, especialmente nas contas externas, mas acredita na racionalidade de Dilma Rousseff e sabe que muitos dos problemas apontados pela imprensa só se resolvem com muito tempo do país como um todo.

Do Estadão

Para gestor de recursos, modelo de desenvolvimento do País é ruim, mas ele diz estar se posicionando para a tendência de um 'swing' de discreta melhora
21 de dezembro de 2013 | 23h 06
  
Fernando Travaglini - O Estado de S.Paulo

Luis Stuhlberger, que administra uma das famílias de fundos de investimentos mais bem-sucedidas do País, prefere não dizer se está otimista ou pessimista. "Gestor de patrimônio não tem de ter essa resposta", diz ele. "Tem de pensar no que está nos preços." Mas ao final admite: "Já estive expressando nos meus fundos uma visão mais negativa do que hoje. Isso não quer dizer que estou otimista. Acho apenas que a gente vai ganhar um tempo", afirma. "O Brasil ainda melhora um pouco antes de piorar."

'O governo aprendeu que a inflação tira a popularidade com uma rapidez enorme. Muito mais do que a Selic', diz Luís Stuhlberger
NOTÍCIAS RELACIONADAS'Economista gosta muito de pajelança', diz Belluzzo‘EsseEle explica: "Nosso modelo de desenvolvimento é ruim, mas a gente tende a ter um ‘swing’ (oscilação) de discreta melhora. Estou me posicionando para isso", afirma em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, na sede da corretora Credit Suisse Hedging-Griffo, da qual é diretor.

Esse reposicionamento, que significa ajustar ativos superiores a R$ 20 bilhões, vem depois de um ano em que o fundo Verde, sob sua gestão, apostou em acentuada piora das condições brasileiras.

O resultado - que ele faz questão de dizer que o deixou feliz por ter feito as previsões corretas, que é o seu principal papel como gestor, mas "triste com o País" - foi uma valorização acumulada de 16,14% no ano até novembro, contra um CDI (juros) de 7,22% e uma bolsa que perdeu quase 15% nesse período.

Dois aspectos o haviam levado, ainda em setembro de 2012, a prever essa deterioração: a política fiscal e as contas externas. Mais recentemente, no entanto, ele começou a ver sinais mais positivos vindos tanto de Brasília quanto do cenário externo. O governo Dilma Rousseff, diz ele, tomou algumas medidas na direção certa, como o leilão de Libra, as concessões de infraestrutura à iniciativa privada, além do combate à inflação - inflação que ele credita como um dos principais catalisadores para as manifestações de junho.

O reflexo da mudança na visão de Stuhlberger nas carteiras de investimentos dos fundos administrados por ele se deu principalmente pela compra de ações brasileiras - cuja participação havia caída para 8%, mas voltou recentemente para 13%. Os fundos mantiveram, no entanto, a posição comprada em dólar (apostando na alta da moeda americana) - que ele entende estar "represado" pela atuação do Banco Central, que vem ofertando semanalmente US$ 2 bilhões em swaps cambiais.

Durante a conversa, na última quarta-feira, Stuhlberger interrompeu uma das respostas, às 17h01, para se informar sobre a reunião do Federal Reserve que terminara pouco antes e da qual saiu a decisão de reduzir, a partir de janeiro, as compras mensais de ativos em US$ 10 bilhões (processo chamado no mercado de tapering). "Terminou o Fed?", pergunta, ao telefone. "Saiu o taper! Humm... Em janeiro já? Uau. Uh-huh... pouca coisa. E aqui? Os juros? Janeiro 17... Só? Ah. E o dólar? Ah, não andou. Não mexeu nada, então. Índice? Nossa, quase que sem... sem... Pouco impacto, hein? Tá bom. Ok", finaliza a ligação. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Menos pessimista

"Já estive expressando nos meus fundos uma visão mais negativa do que hoje. Isso não quer dizer que estou otimista. Acho apenas que a gente vai ganhar um tempo. O Brasil ainda melhora um pouco antes de piorar. Nosso modelo de desenvolvimento é ruim, mas a gente tende a ter um ‘swing’ (oscilação) de discreta melhora. Estou me posicionando para isso. A piora na percepção do Brasil aumenta o prêmio, aumenta a angústia, mas pelo menos já serviu para alguma coisa. Pelo menos, o governo acordou para algumas questões. Estávamos assim há quatro, cinco anos e de repente destravou Libra, destravou Galeão, destravou Confins, estradas. O governo acordou para dar um certo ‘push’ nessa agenda. Você não conserta o modelo totalmente, mas joga o muro onde você vai bater para mais longe."

Inflação e manifestações

"Minha percepção é que o País continua com uma certa agonia lenta nesse modelo de inflação resiliente, sem sair muito da meta, e pouco crescimento por mais algum tempo. Mas o governo aprendeu que a inflação tira a popularidade com uma rapidez enorme. Muito mais do que a Selic (taxa básica de juros). Ninguém se incomoda com a Selic. A inflação, principalmente de alimentos, corrói a renda. Esse movimento de junho (manifestações) foi desencadeado mesmo pela alta de alimentos de abril e maio. E acho que em saúde, educação e mobilidade urbana se ganhou muito pouco. Essa noção do equívoco ela também veio muito rápido."

Moto-contínuo tropical não deu certo

"Só gerar consumo não deu certo. Esse movimento todo voltado somente em transferência de renda, aumento do salário mínimo e crédito, investindo 5% menos do PIB do que o mínimo necessário, uma hora pagaria o seu preço. O governo tem de planejar o desenvolvimento. Tem de planejar os vetores do desenvolvimento e, na verdade, o governo ficou feliz com a inclusão social e a distribuição de renda e achou que o resto viria naturalmente, a reboque. É o ‘moto-contínuo tropical’, movido por princípios como a ‘oferta cria sua própria demanda’, ‘a previdência é um ativo, não um passivo’ e ‘quanto mais se aumenta o salário mínimo melhor, porque a renda se espalha e todos ganham’. É como se dissessem: ‘deixe as commodities fazerem o trabalho delas e a gente vai crescendo’. Agora a gente viu que isso não existe. Quando eu vejo que o governo já tem o diagnóstico, eu fico feliz. Eu não negligencio esse fator. Não acho que isso seja pouca coisa."

PT e Dilma estão aprendendo

"Eu acho, honestamente, que o PT sempre aprende. Acho a Dilma uma mulher inteligente e preparada. Se você me dissesse que conseguiriam ressuscitar a Margaret Thatcher, ainda assim ela teria dificuldades para consertar isso aqui. Por que onde você vai achar os R$ 4 trilhões que deixaram de ser investidos nos últimos 20 anos? Isso aqui não é um problema de pessoas. O aparente ‘way of life’ dos mercados emergentes, enfiando US$ 1 trilhão por ano, melhora muito. Mas quanto tempo é necessário para melhorar a qualidade das instituições? Demora muito, uma centena de anos. Estamos vivendo as dores de ter melhorado algumas coisas e não melhorado em outras."

Câmbio represado pelos US$ 80 bi em swaps

"O BC tem de agir. Não estou dizendo que o Banco Central está equivocado (com o programa de oferta diária de swap cambial - venda de dólares). Eu acho que ele está, talvez, exagerando na dose. Vendendo seguro em dia de sol. Em momentos de pânico, como quando começou a história, em maio, do tapering, todas as moedas se depreciaram. Hoje o Brasil ficou sozinho nessa política de intervenção. Isso não é de se achar que é normal. Há dois fatores para levar a uma desvalorização no câmbio: conta corrente (contas externas) ou fiscal. E os dois vão na mesma direção (de piora). Acho que o BC vai administrar uma alta. Não vai querer congelar o câmbio."

Fiscal precisa de Pelés para marcar gol todo ano

"As despesas do governo - e não é um ano eleitoral - vão acabar o ano subindo quase 8%. E as receitas, algo como 3,5%, mesmo com Libra e Refis. A receita federal sem as excepcionalidades estaria crescendo na proporção do PIB, 2,5%. O superávit primário sem as receitas extraordinárias é quase zero. Está em 0,3%, 0,4% (no conceito estrutural - sem receitas extraordinárias). Mostrar que o País tem sustentabilidade fiscal sem precisar de receitas extraordinárias é justamente o maior desafio brasileiro. Isso me lembra dos anos 60, quando falavam que o Santos só ganhava porque tinha o Pelé. O Pelé estava sempre lá para fazer os gols salvadores. Este ano, o Brasil teve seus ‘Pelés’. Teve Libra, o Refis da crise e dos lucros no exterior. Quais serão os Pelés dos próximos anos?"

Dá para ter alguma melhora na margem

"Em suma, eu, por incrível que pareça, estou menos pessimista do que já estive. Um país que gasta tanto dinheiro, que consome 41% do PIB, se ele puser um pouco de ordem na casa, ainda que no longo prazo esse modelo seja insustentável sem reformas, dá para melhorar. Alguma melhoria na margem dá para ter e acho que o mundo indo bem nos ajuda."

Exagero com o tapering

"Saiu o tapering. Se você me perguntasse às 16h50 (dez minutos antes do anúncio), eu diria que iriam esperar mais um mês. Mas é questão de mais um mês, apenas. Não tem muita diferença. Agora, dado que havia uma expectativa de 70% de não ocorrer agora o tapering, eu esperava que a reação dos mercados, que a valorização do dólar, fosse maior do que foi. O tapering, francamente, não é tightening (aperto). É simplesmente imprimir menos dinheiro. Não é que estão subindo os juros. Há um certo exagero nisso. Deu um certo ‘shake’ em maio, junho, mas no segundo semestre ele foi típico: cada um na sua. Honestamente, não culpe os americanos, os gregos, os espanhóis, os russos e os chineses pelos problemas dos brasileiros. Nossos problemas são nossos. De todos nós. É muito fácil sempre colocar a culpa no Fed pelos nossos problemas. Vamos ignorar o Fed."

Economia internacional não joga contra

"A China andou bem. A Europa andou médio, mas melhorando. E os Estados Unidos andaram muito. Isso naturalmente é benéfico. Pelo menos para a indústria brasileira e para as commodities. Não necessariamente é bom para o consumo, mas ajuda a economia brasileira. Em 2014, o cenário se repetirá, com crescimento moderado no mundo e com juros sob controle lá fora." 
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ECONOMIA - Dívida Pública Brasileira.

Copiado do Democracia&Política

AS RAÍZES E AS FONTES DA DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA


Por Adriano Benayon

Adriano Benayon

“Este artigo desenvolve pontos que abordei no Seminário Internacional “O Sistema da Dívida na Conjuntura Nacional e Internacional", realizado em Brasília, de 11 a 13.11.2013.

2. Esse evento focou questões fundamentais, como as absurdas taxas de juros que a União impõe a Estados e Municípios como credora deles, exações semelhantes às que ela paga ao sistema financeiro, liderado pela oligarquia financeira angloamericana.

3. Também revelou provas existentes no Brasil e em auditorias levadas a efeito no Equador, na Argentina e na Islândia, reveladoras de que o grosso das dívidas originais não está documentado, e de que elas se multiplicaram através da capitalização de juros, taxas e comissões injustificados.

4. Não obstante, até hoje, o Congresso Nacional não cumpriu a determinação do art. 26 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da CF de 1988: efetuar a auditoria da dívida pública.

5. Apresentei documentos do Arquivo da Constituinte que comprovam ter sido introduzido, por meio de fraude, no art. 166, § 3º, inciso II, da Constituição de 1988, o dispositivo que privilegia as despesas de juros e amortizações da dívida no Orçamento da União.

6. Dito dispositivo não foi jamais discutido nos trabalhos da Constituinte, mas entrou, de contrabando, depois de o texto constitucional ter sido aprovado, sem ele, pelo Plenário, no 1º Turno. Isso permitiu que as despesas com o serviço da dívida somassem – de 1988 ao presente - a colossal quantia de R$ 10 trilhões em preços atualizados.

7. Essa causa da ruína da União, Estados e municípios resulta, por sua vez, de duas outras fontes de sugação dos recursos do País:

a) a entrega do mercado brasileiro às transnacionais;
b) a dependência financeira e tecnológica nos investimentos na infraestrutura e nas indústrias básicas.

8. Essas duas fontes primordiais – começaram a implantar-se com o golpe de Estado de agosto de 1954, regido pelos serviços secretos angloamericanos. Elas causam os déficits nas transações correntes com o exterior e acarretam a desindustrialização e o empobrecimento do País, juntamente com o serviço da dívida pública delas derivado.

9. A entrega do mercado às transnacionais causou danos irreversíveis ao País, e o teria feito mesmo que tivesse havido contrapartidas. Mas foi ainda pior: o governo, além do mercado, outorgou-lhes subsídios e vantagens de tal monta que os prejuízos foram ainda mais profundos e avassaladores.

10. As benesses ao capital estrangeiro deram-se a partir da Instrução 113 da SUMOC (janeiro de 1955), que autorizou a CACEX (Carteira de Comércio Exterior) a emitir licenças de importação para equipamentos usados, sem cobertura cambial, permitindo, também, que o valor a eles atribuído pelas transnacionais fosse registrado como investimento estrangeiro em moeda.

11. Isso implicou suprimir a promissora indústria brasileira, que progredira desde o início do século XX, porquanto deu às empresas estrangeiras vantagem competitiva insuperável, proporcionando-lhes produzir no Brasil com custo zero de capital e de tecnologia.

12. De fato, as transnacionais puderam trazer máquinas e equipamentos usados, amortizados com as vendas nos países de origem e em outros mercados de grandes dimensões, enquanto as indústrias nacionais teriam de pagar pela importação de bens de capital e por tecnologia, ou investir por longos anos para produzir seus próprios bens de capital.

13. Além de doar o mercado brasileiro às transnacionais, através da licença para trazer seus bens de capital usados, de valor real zero, e contabilizá-lo por centenas de milhões dólares - base para transferir capital e lucros para o exterior -, o governo [da direita] militar-udenista (1954-55) agraciou as transnacionais com a diferença entre a taxa de câmbio livre e a taxa preferencial.

14. A livre era mais que o dobro da preferencial.

a) as transnacionais declaravam o valor que quisessem, em moeda estrangeira, dos bens de capital importados;
b) convertiam-no à taxa livre;
c) ao transferir capital, “despesas” e lucros para o exterior, a conversão era à taxa preferencial.

15. Esse triplo favorecimento e mais os ganhos comerciais das transnacionais com suas importações, mediante sobrepreços – também altíssimos após o início da produção local - permitiu às transnacionais transferir fabulosos ganhos para suas matrizes no exterior.

16. Absurdamente, o Brasil entregou o que não deveria entregar por preço algum, e, além disso, em vez de cobrar, pagou para entregar.

17. JK foi entreguista tão radical que, não só manteve os indecentes favorecimentos ao capital estrangeiro, mas reforçou-os a ponto de ser aberta linha de crédito oficial para financiar as montadoras estrangeiras. Esse benefício foi negado à empresa brasileira “Romi”, de Santa Bárbara do Oeste (SP), que produziu 3.000 unidades da “Romisetta”, automóvel de um só banco, de 1956 a 1959.

18. Além disso, JK criou grupos executivos setoriais, como o GEIA, da indústria automobilística, para facilitar os procedimentos de entrada em funcionamento das montadoras estrangeiras e baixou a lei 3.244, de 14.08.1957, e o Decreto 42.820, de 16.12.1957, proporcionando mais vantagens cambiais aos “investidores” estrangeiros.

19. Não admira que, ao final do quinquênio de JK, o Brasil sofresse sua primeira crise de contas externas desde o início dos anos 30. Vargas havia, em 1943, reduzido a dívida externa do País a quase nada.

20. As transferências das transnacionais são o principal fator dos elevados déficits nas transações correntes com o exterior (US$ 80 bilhões nos últimos doze meses), que colocam o Brasil no limiar de mais uma crise.

21. Sobre os escandalosos sobrepreços, escreveu o senador Vasconcelos Torres (1920/1982), p. 94 do livro “Automóveis de Ouro para um Povo Descalço” (1977):

No exercício de 1962, foi registrado, no balanço consolidado das onze empresas produtoras de veículos automóveis e caminhões, lucro de 65% em relação ao capital social, constituído por máquinas usadas, e aumentado posteriormente, com incorporações de reservas e reavaliação dos ativos”.

22. Na pág 95 desse livro, há tabela referente aos balanços de 1963, comparativa de preços de venda da fábrica à distribuidora com os preços de venda do distribuidor ao público, para quatro montadoras, entre elas a Volkswagen: “o preço nas distribuidoras era mais de três vezes o preço na fábrica”, e os donos desta eram os mesmos daquelas ou tinham participação naquelas.

23. Desde o final dos anos 60, as transnacionais foram cumuladas por Delfim Neto com colossais subsídios à exportação, como isenções de IPI e ICM, nas importações de seus bens de capital e insumos, e créditos fiscais. Daí ao final dos anos 70, a dívida externa do País teve o crescimento mais rápido de toda sua história.

24. No livro “Globalização versus Desenvolvimento”, elenco quinze mecanismos através dos quais as transnacionais transferem recursos para suas matrizes, desde superfaturamento de importações e subfaturamento de exportações aos pagamentos à matriz por “serviços” superfaturados e fictícios, afora a remessa oficial de lucros.

25. A entrega do mercado às transnacionais é a principal, mas não a única fonte das transferências de recursos, dos déficits de conta corrente com o exterior e, por conseguinte, da dívida externa, a qual deu origem à hoje enorme dívida interna.

26. Esses déficits e dívidas derivam, também, da realização, sob dependência tecnológica dos investimentos públicos na infraestrutura e indústrias básicas, como a siderurgia, em pacotes fechados, caixas pretas, usinas “clés-en-main” ou “turn-key”.




27. Em lugar de proporcionar espaço a pequenas e médias empresas de capital nacional, com capacidade de evolução tecnológica (engenharia e bens de capital), os governos pós-1954 privilegiaram grandes projetos, reservando assim o mercado para carteis transnacionais.

28. Ademais, esses governos subordinaram sua política financeira aos bancos privados, pois o Tesouro não emite a moeda, nem comanda o crédito através de bancos públicos. Assim, o subdesenvolvimento tecnológico foi agravado, devido à carência financeira, decorrente da própria política, que levou a buscar financiamento externo, liderado pelos bancos internacionais multilaterais (Banco Mundial e BID).

29. Confiada a essas instituições -- dominadas pelas potências imperiais -- a direção das concorrências para as obras públicas, foram favorecidos os carteis transnacionais produtores dos equipamentos e demais bens de capital. Além disso, participavam do financiamento os bancos oficiais de exportação daquelas potências, bem como seus bancos comerciais privados.

30. Assim, ao contrário dos países que progrediram, a política econômica do Brasil não deu chances às empresas nacionais de desenvolverem tecnologia e de ganhar dimensão.

31. Nos países onde houve desenvolvimento real, as compras governamentais foram fundamentais para o surgimento de empresas de capital nacional dotadas de tecnologias competitivas.

32. Isso ocorreu no Brasil graças à Petrobrás, mas está decaindo com a quebra do monopólio estatal do petróleo. Houve também nas telecomunicações e no setor elétrico, mas acabou com as privatizações. Funcionou também em indústrias ligadas à área militar, a qual foi, depois, enfraquecida por cortes no investimento público e pela desnacionalização.

33. O financiamento dos bancos públicos fortaleceu o capital nacional, naqueles países, inclusive os de desenvolvimento recente, como Coreia do Sul, Taiwan e China. Enquanto isso, no Brasil, o BNDES e os demais bancos estatais, há muito, deixaram de priorizar as empresas nacionais e oferecem empréstimos favorecidos a empresas transnacionais.

34. As instituições brasileiras desmoronaram a partir da crise da dívida de 1982, e esta decorreu:

a) da entrega do mercado às transnacionais, que se assenhorearam da produção industrial no País, inclusive bens de capital;
b) de os investimentos públicos terem utilizado equipamento importado e/ou produzido localmente por empresas estrangeiras, em grau muito maior que o devido à incapacidade de oferta adequada por empresas de capital nacional.

35. A dependência tecnológica foi agravada em função da entrega do mercado às transnacionais. Além disso:

a) as empresas nacionais foram asfixiadas pelas políticas restritivas aos investimentos públicos e ao crédito - tornado proibitivo sob o governo de 1964 a 1966;
b) o governo recorreu, em grau crescente, aos empréstimos e financiamentos estrangeiros, em face do crescimento da própria dívida. Esse recurso era, de início, desnecessário, pois o Estado poderia emitir moeda e crédito.

36. Apesar de os choques do petróleo terem contribuído para a explosão da dívida externa nos anos 70 – pois o Brasil era importador líquido - isso não foi fator decisivo. Não o foi tampouco a brutal elevação dos juros nos EUA em agosto de 1979, quando, de resto, a situação das contas externas brasileiras já se mostrava insustentável.

37. Outros países com ainda maior coeficiente de importação de petróleo - como Alemanha, Itália, França, Japão, Coreia - não caíram, em 1982, na mesma situação de Brasil, Argentina e México, caracterizados pelo modelo dependente e pela ocupação de setores estratégicos de suas economias pelos investimentos estrangeiros diretos.

38. Desde 1982, o governo pôs-se de joelhos diante dos bancos comerciais e dos governos das potências hegemônicas, a pretexto da crise da dívida externa, oficializando a submissão ao FMI e Banco Mundial e aos planos dos banqueiros (Baker e Brady - 1983-1987).

39. Assim, a desnacionalização e a primitivização tecnológica, consequências das políticas adotadas desde o final de 1954, tornaram-se ainda mais intensas. A condição colonial ficou evidente na Constituição de 1988, não só através do dispositivo fraudulentamente inserido no art. 166 (Vide § 5 acima) para privilegiar as despesas com o serviço da dívida, mas também de outras normas, como o art. 164.


 Divisão do Orçamento Geral da União - Gráfico de 2012

40. Esse (art. 164) determina que a competência da União para emitir moeda seja exercida exclusivamente pelo Banco Central (BACEN), e o proíbe de conceder, direta ou indiretamente, empréstimos ao Tesouro Nacional e a qualquer órgão ou entidade que não seja instituição financeira. Dispõe, ademais, que os saldos de caixa da União serão depositados no BACEN.

41. Ora, o Tesouro, que deveria ser o emissor da moeda e financiar parte dos investimentos públicos desse modo, não pode fazê-lo. Portanto, a Constituição força o Tesouro a endividar-se, emitindo títulos públicos. Com isso, assegura lucros absurdos aos bancos privados, os quais recebem recursos do BACEN, a baixo custo, e os aplicam em títulos do Tesouro, que pagam juros elevadíssimos.

42. Esses juros (taxa SELIC) são fixados pelo COPOM (Comitê de Política Monetária), controlado pelo BACEN, um feudo dos bancos privados. Essa é mais uma fonte de enriquecimento sem causa, como a decorrente do privilégio de criar dinheiro do nada, fazendo empréstimos em múltiplo dos depósitos.

43. Banco é uma concessão que o Estado só deveria dar à mãe dele, a sociedade: é uma concessão que só tem sentido se for estatal e exercer suas funções em prol da sociedade. No Brasil, essa não poderia estar sendo mais traída, pois aqui são praticadas taxas de juros altíssimas sem qualquer razão, afora a mistificação.

44. Chegou-se a taxas básicas para títulos públicos acima de 40%, inclusive após o Plano Real, falsamente apresentado como “saneador da inflação”. E, de resto, para reduzir a inflação faz mais sentido baixar que elevar as taxas de juros.

45. A taxa de 2% aa. capitalizada mensalmente por 30 anos não faz dobrar um saldo devedor. A de 15% faz que o saldo seja multiplicado por 66,3.

46. O Brasil já estava subjugado em 1988, e depois o opróbrio intensificou-se a cada eleição. Veio a liquidação de estatais estratégicas; a lei da desestatização; os planos “antiinflacionários”, repressores da economia produtiva; dezenas de emendas constitucionais contrárias ao País, como a que acabou com qualquer possibilidade de distinção entre empresa de capital nacional e empresa de capital estrangeiro.

47. Mais: as infinitamente danosas privatizações; a abertura das importações, sem contrapartida; a isenção de impostos e contribuições à exportação de produtos primários; a adoção do estatuto da OMC e da lei de propriedade industrial, que afunda o País no ‘apartheid’ tecnológico; a lei 9.478/1997: entrega do petróleo às transnacionais; a lei de “responsabilidade” fiscal: prioridade absoluta aos gastos com a dívida pública; a demissão do Estado com a criação das agências e as concessões; as parcerias público-privadas: o Estado dá dinheiro, financia e garante lucro sem risco aos concentradores privados; a intensificação dos subsídios e privilégios aos “investimentos” diretos estrangeiros.

48. Em resumo, aumenta-se a dose das políticas de desnacionalização da economia, causadoras originárias da dívida pública. A desnacionalização gera mais dívida, e esta aprofunda o rombo.

49. Fixam-se taxas de juros altíssimas sobre o montante enorme dessa dívida. Desse modo, mesmo sugando os contribuintes, com tributos, o Estado não consegue receitas suficientes para pagar a conta dos juros.

50. Isso demonstra que essas taxas não têm outro sentido senão acarretar o crescimento sustentado da dívida, por meio da capitalização de juros. Desnecessário reiterar o quanto tais políticas são destrutivas.

51. Além de escorchada pela carga tributária, a sociedade o é adicionalmente pelos preços dos produtos fornecidos por oligopólios e carteis transnacionais.

52. Ela sofre, pois, de múltiplos ataques que corroem a renda disponível dos cidadãos:

a) os preços abusivos dos produtos que se usa ou consome;
b) impostos e contribuições fiscais acima da capacidade contributiva;
c) crescente insuficiência dos investimentos públicos, decorrente de quase metade das despesas serem torradas com o improdutivo serviço da dívida, bem como de desonerações fiscais e subsídios em favor do sistema financeiro e dos concentradores em geral.

53. Desgastam ainda mais a renda social e a qualidade de vida das pessoas:

a) a lastimável condição das infraestruturas, especialmente a de transportes e a de energia;
b) a baixa e decadente qualidade da educação e da saúde, inclusive saneamento e prevenção;
c) a carência de empregos de produtividade elevada e os bem remunerados."

FONTE: escrito por [*]Adriano Benayon, consultor em finanças e em biomassa. Doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo, Bacharel em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Diplomado no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, Itamaraty. Diplomata de carreira, postos na Holanda, Paraguai, Bulgária, Alemanha, Estados Unidos e México. Delegado do Brasil em reuniões multilaterais nas áreas econômica e tecnológica. Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e do Senado Federal na área de economia. Professor da Universidade de Brasília (Empresas Multinacionais; Sistema Financeiro Internacional; Estado e Desenvolvimento no Brasil). Autor de ”Globalização versus Desenvolvimento”, 2ª ed. “Editora Escrituras”, São Paulo.”. Artigo postado por Castor Filho em seu blog “Redecastorphoto”  (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/12/as-raizes-e-as-fontes-da-divida-publica.html).
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O pessimismo militante da velha mídia

pigimprensagolpista.blogspot.com.br
Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

Dia desses conversava com o executivo de um grande grupo europeu, que não se conformava com o clima de pessimismo que via em meios empresariais brasileiros, como resultado da cobertura da velha mídia do eixo Rio-São Paulo. Comparava com Portugal e Espanha, desmanchando-se, com a União Europeia, estagnada, com os desastres na Irlanda e na Grécia. Aí, voltava-se para o Brasil com o mercado de consumo aquecido, o desemprego em níveis mínimos históricos, o investimento privado direcionando-se para os leilões de concessão. E me dizia que o Brasil era um país muito louco.


*****

Há muitas críticas à condução da política econômica e vulnerabilidades que precisarão ser enfrentadas – especialmente o desequilíbrio nas contas externas. Mas nada que nem de longe se pareça com o quadro pintado nos grandes veículos. Aumentos de meio ponto percentual ao ano nos índices inflacionários são tratados como prenúncio de hiperinflação; acomodamento das vendas do varejo, em níveis elevados, como prenúncio de recessão.

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No fundo desse pessimismo renitente há uma guerra política inaugurada em 2005 que, quase nove anos depois, continua sacrificando a notícia no altar das disputas partidárias.

É significativa a cobertura, em um jornal econômico relativamente equilibrado, do discurso de Dilma Rousseff em um evento da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

O primeiro parágrafo é dedicado ao discurso de Dilma, à necessidade de uma indústria forte, de não transformar o país em uma mera “economia de serviços”. Em seguida, mencionou programas exitosos, como o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) e ao Ciência Sem Fronteiras.

*****

Se Dilma permanecesse no encontro, continua a matéria, iria colher relatos bem diferentes sobre o que mencionou. É entrevistada então a superintendente de uma empresa de eletrodomésticos que diz que os programas são bons, “mas chegaram atrasados”. “O problema é que não temos nenhuma garantia de que o empregado no qual investimos tanto seguirá na companhia", é a reclamação. E sugere a criação de uma “bolsa emprego”, destinada a premiar o funcionário que permanecer mais tempo na empresa.

O que isso tem a ver com a Pronatec? Nada. É um problema interno da empresa, de gestão de recursos humanos em uma economia aquecida, mas que é utilizado como contraponto ao que parecia ser excesso de otimismo na abertura da matéria.

*****

É um entre muitos exemplos do pessimismo militante que recobriu a cobertura econômica da velha mídia nos últimos anos. E que acaba comprometendo a crítica necessária sobre os pontos efetivamente vulneráveis da política econômica e do processo de desenvolvimento brasileiros.

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Na sexta-feira, a mesma CNI divulgou a pesquisa CNI-Ibope. Os que consideram seu governo bom e ótimo saltaram de 37% para 43% em relação ao último levantamento, de setembro. Desde julho, o crescimento foi de 12 pontos percentuais. O percentual dos que aprovam a maneira de Dilma governar aumentou de 54% para 56%.

É evidente que há muito a melhorar no ambiente e na política econômica. Mas quem está em crise exposta, hoje em dia, é certo tipo de jornalismo que acabou subordinando o senhor fato a disputas políticas menores.
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ECONOMIA - Perspectivas para 2014.

Perspectivas tranquilas para 2014

Na entrevista de fim de ano para a imprensa, o presidente do banco Central Alexandre Tombini considerou como positivo o processo de transição na economia global, em relação ao fim dos estímulos monetários do FED (o BC norte-americano). Chamou de “volatilidade do bem”.
Tem razão.
Primeiro, porque o final dos estímulos monetários se dará quando houver convicção da recuperação da economia norte-americana. Com a economia chinesa também se recuperando, significará que as duas principais economias do mundo poderão puxar o crescimento global.
***
O segundo ponto relevante é a desmistificação do cataclisma anunciado, quando o FED tirar os estímulos.
***
No mercado, ninguém morre de véspera. É quase impossível a crônica de mortes anunciadas com muita antecedência, simplesmente porque, antes do evento, o mercado começa a se ajustar por si.
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Um dos efeitos do final dos estímulos será a volta do fluxo de capitais para os títulos do Tesouro norte-americano. Esses fundos venderão sua posição em moeda estrangeira e comprarão dólares para investir em títulos do Tesouro norte-americano. Quando isso ocorrer, haverá uma valorização do dólar e uma desvalorização das demais moedas.
Suponha o seguinte exemplo:
  1. O fundo A aplicou US$ 100 milhões no país, com o dólar valendo R$ 2,00 reais, ou R$ 200 milhões. Ganhou 20% no período, ficando com R$ 240 milhões.
  2. Se sair enquanto o dólar estiver em R$ 2,30, resgatará US$ 104,3 milhões. Se o dólar for a R$ 2,50, resgatará apenas US$ 96 milhões.
Por conta dessa imprevisibilidade, parte dos fundos começa a sair mais cedo, de tal maneira que, no dia em que houver a retirada dos estímulos, grande parte dos recursos voláteis já estará fora dos emergentes.
***
O mesmo ocorre com a curva de juros dos títulos públicos brasileiros. Com a saída dos dólares e os boatos de rebaixamento nas avaliações do Brasil pelas agências de risco, já houve um descolamento prévio nas taxas dos títulos públicos.
É uma velha regra de mercado, segundo a qual especula-se no boato e realiza-se no fato.
Se não haverá a temida explosão, a economia terá que conviver com uma depreciação maior do real, que terá algum impacto nos índices de preços.
***
O cenário de 2014 está relativamente dado.
A economia continuará em um ritmo baixo de crescimento, mas estimulada pelo destravamento dos leilões de concessão e pela aceleração final das obras da Copa. O dólar permanecerá pressionado, com o BC evitando valorizações mais expressivas.
Mesmo com a revoada de investimentos para os EUA, o Brasil continuará apresentando taxas de juros reais compensatórias.
***
Esses períodos de trégua poderiam ser melhor aproveitados para uma discussão mais aprofundada sobre o Brasil a partir de 2015.
Em muitas áreas, haverá o amadurecimento de experiências. Na área de logística, por exemplo, espera-se que os investimentos já estejam a pleno vapor, com a consolidação da EPL (Empresa de Planejamento em Logística),
Mas está na hora de destravar questões estruturais, como reforma política, a colcha de retalhos fiscal e a barafunda burocrática que ainda emperra o ambiente de negócios.
É o que falta para completar o enorme salto representado pelo amadurecimento das políticas sociais.
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ECONOMIA - Integração latino-americana.

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Conheça oito fatos marcantes sobre integração regional na América Latina
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Mercosul, Unasul, CELAC, Aliança do Pacífico: região é marcada por acordos e assimetrias

Gabriela Néspoli
Nesta quinta-feira (28/11), a partir das 21 horas, Opera Mundi disponibilizará o quarto programa da série "Aula Pública", que responderá a pergunta: "a prioridade diplomática à América Latina é benéfica para o Brasil?". Antes disso, publicamos uma lista de oito fatos relevantes sobre a integração latino-americana.
1. Mercosul - O Mercosul (Mercado Comum do Sul) foi o primeiro bloco de integração regional da América Latina do qual o Brasil faz parte. Sua origem remete ao Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento estabelecido entre Brasil e Argentina, em 1988, no contexto da redemocratização de ambos os países. Em 1991, a assinatura do Tratado de Assunção e a aderência de Paraguai e Uruguai efetivaram a criação do bloco.
2. ALCA - A atuação da diplomacia brasileira é tida como central para a paralisação do projeto da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), proposto em 1994 pelos Estados Unidos. Se fosse efetivado, o acordo criaria o maior bloco econômico do mundo, englobando as áreas do NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio, na sigla em inglês) e do Mercosul, e eliminaria as barreiras comerciais entre todos os Estados membros.
3. Unasul - No governo Lula, foi criada a Comunidade Sul-Americana de Nações, que em 2008 passou a se chamar Unasul (União de Nações Sul-Americanas), composta por Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. O objetivo do órgão é reduzir as assimetrias entre os Estados da América Latina e do Caribe.
4. Desigualdade social - De fato, os países da região possuem disparidades econômicas e sociais relevantes, internamente e entre si. Apesar de ocupar o posto de sexta maior economia mundial, o Brasil ainda é o quarto país mais desigual da América Latina e do Caribe, segundo o índice Gini, medida internacional de concentração de renda. No estudo publicado no início de 2013 pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, a Venezuela desponta como o país mais igualitário em termos sociais.
5. Unila - Para acentuar a integração regional pela via do ensino superior e do intercâmbio científico, os Estados membros do Mercosul (Mercado Comum do Sul) inauguraram, em 2010, a Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), em Foz do Iguaçu, como parte dos programas sociais estabelecidos pelo bloco.
6. Economia - A exportação de produtos brasileiros para países da América Latina e do Caribe quintuplicou ao longo dos últimos dez anos, passando de US$ 10,6 bilhões, em 2002, para US$ 50, 4 bilhões, em 2012.
7. CELAC - A última instituição com caráter integracionista retificada pelo Brasil foi a CELAC (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), constituída em 2011, já durante o governo Dilma. Composto pelos trinta e três países da América do Sul, América Central e Caribe, o bloco é o mais extenso da região. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, a finalidade é conformar uma identidade própria regional entre os povos.
8. Aliança do Pacífico - Com um PIB de 35% do total latino-americano, a recém-criada Aliança do Pacífico se contrapõe ao Mercosul, por possuir um viés pró-mercado e ser favorável a uma maior aproximação com os Estados Unidos. Peru, Chile, Colômbia e México já aderiram ao bloco, que prega o livre comércio e a privatização de serviços.
Fonte: Site Controvérsia.
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