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Pesquisa sobre parlamentares negros eleitos em 2010


Negros/as eleitos

Confira a pesquisa da Educafro!



A pesquisa da Educafro sobre as negros/as eleitos, chegou aos seguintes dados:

Senadores afro-brasileiros =  4  equivale a 5%
Dep Fed. afro-brasileiros =  17  equivale a 3%
Estes dados revelam o descaso dos partidos com a Comunidade negra. Em alguns Partidos como o PSDB não encontramos um único afro-brasileiro eleito SENADOR  ou DEPUTADO FEDERAL. Motivo? Vários! O principal: os líderes comunitários negros/as são usados para captar  quantidade de votos em suas comunidades. Os donos dos partidos prometem, sempre,  muito investimento financeiro nas suas campanhas. Estes pobres coitados acreditam.  

Pegam o que tem em suas pequenas reservas e já investem em material,   confiando que irão despejar muito dinheiro para a campanha deles.  Isto não acontece... é só enrolação! Eles, os donos dos partidos,  sabem que estes pobres coitados nunca serão eleitos,  mas a soma dos votos de cada um (que cai nesta armadilha), elege "os donos dos partidos" que, sempre são eurodescendentes. Isto se repete há anos! Este uso abusivo da comunidade negra é uma atitude exageradamente desonesta por parte destes partidos.
O que fazer?
Sonhamos com um fundo financeiro para investir em campanhas de candidatos afro-brasileiros! Esta é uma das possiveis soluções. OBS: alguns partidos não investiram em nenhum negro, financeiramente. Por exemplo: quantos deputados federais negros foram eleitos pelo PSDB? E pelo DEM? Etc...

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Paulo Paim [PT], um dos representantes da comunidade negra no Senado, foi eleito pelo estado do RS.

Na página, não há dados sobre a representação de mulheres negras. Encontrar esses dados na página do TSE é uma dificuldade! Confira AQUI. Quem souber detalhes, por favor, deixe comentários!
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ilustreBOB: O Brasil não é bicolor

Bruno O. Barros realiza mais um trabalho em prol da compreensão da política partidária para pessoas que só entendem, quando se desenha!

Em que pese a discussão, promovida por Emir Sader, do índice considerado alto dos votos em José Serra [PSDB], evidencia-se que a derrota da candidata do PT, cantarolada desde 2009, até o início da campanha eleitoral oficial, era uma falácia, assutando, inclusive, esta blogueira. Escaldada com as eleições de Rigotto, Yeda e Fogaça [duas vezes], perdemos a confiança no eleitorado.  



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Twitter e eleição 2010

Nem Huck, nem Sato, nem robôs, nem trolleiros preconceituosos venceram militância pró-Dilma no Twitter

Por Conceição Oliveira no Maria Frô


Bastante interessante o artigo que reproduzo a seguir analisando o comportamento das hashtags sobre Dilma e Serra no twitter dia 31/10, dia da votação do segundo turno.
Lembrando que todas as webcelebrities – indivíduos que têm alta exposição na tevê em diferentes canais e vão para o twitter disputar entre si a fogueira das vaidades e uns trocos em publicidade -, são pró-Serra.
Marcelo Tas do CQC e seu meninos* amestrados e preconceituosos, por exemplo, além de  se declararem pró-Serra  na timeline, têm episódios clássicos de campanha detratora em relação à candidata, a seus partidários, aos políticos do PT e até mesmo ao presidente da República,  acusando-os de corrupção, censura e  os tornando alvos de toda a sorte de preconceitos. Danilo Gentili, por exemplo, tem um vídeo no youtube que poderia ser facilmente enquadrado pelo MP: da aparência da candidata até sua sexualidade tudo é posto à prova com piadas sexistas e, como tal, de extremo mau gosto. O presidente é ‘corrupto’, ‘analfabeto’, ‘cachaceiro’… Mas as críticas ao seu vídeo são tidas por eles como críticas de petistas que não entendem ‘humor’, como de gente comunista que é a favor de ‘censura’.
Há ainda os que se tornaram famosidades via twitter como @OCriador que igualmente declarou seu voto a Serra. Há os fakes criados pela campanha de Serra imitando celebridades como o que se passou por Ronaldo, jogador do Corinthians e que durante a campanha enganaram incautos e ajudaram a bombar tags negativas com o nome de Dilma. E houve ainda vários jornalistas que abertamente fizeram campanha diária contra a candidata e também contra os jornalistas que não embarcaram na onda de detratação.
Pensando que a campanha de Serra no twitter foi coisa de profissional, planejada muito antes de Serra sequer ser candidato ( Serra um ano antes da campanha já estava no twitter), que Graeff, Soninha Francine e outros  que coordenaram na rede uma campanha agressiva e detratora contra a candidata Dilma Rousseff seu partido e aliados, é realmente surpreendente que  a presidenta eleita tenha tido resultado positivo no twitter.
Ponto para a militância e ponto para o projeto político defendido por Dilma Rousseff que mobilizou uma militância espontânea de não filiados e até mesmo de não petistas. Ponto para a blogosfera progressista sempre atenta que denunciou todas as tentativas de ataques desonestos disseminados no twitter.
Infelizmente o mesmo não podemos dizer para a campanha oficial do PT na rede, sem investimento, sem coordenação, sem foco. Espero imensamente que o PT, para as próximas campanhas, tenha aprendido que o mundo off line e o mundo on line estão conectados. #ficaadica.
*PS. Eu havia visto a declaração de Rafinha Bastos no twitter de que não votaria em Serra, não vi a de que ele disse que a vida dele e dos brasileiros melhoraram nos últimos oito anos. De todo modo, não vi sua declaração explícita de que votaria em Dilma, como fez, por exemplo, Tas e outras famosidades twitteiras tucanas que declararam abertamente seu voto em Serra.


Dilma venceu Serra também no Twitter
Por: Risoletta Miranda, no IdgNow
Na espera do início da campanha e entre elaborações de projetos e trabalhos, tinha uma certeza: o Twitter seria a rede “estrela” das Eleições 2010.
Não era uma dedução difícil: os políticos estavam adotando, os jornalistas idem (usando e se pautando) e a curva de adesão no Brasil cresce em números impressionantes (23% de penetração) mundial). Também há a parte conceitual, pois o microblog faz uma interessante mistura de rede social (há divergências) com uma rede de informação em tempo real. Bons ingredientes para a campanha.
O fato é que assim o foi. Esses itens combinados e potencializados pela convergência com a imprensa clássica deram para o Twitter um papel de protagonista. Tenho lido boas análises sobre isso, e as mais recentes foram do blog Interney, escrita por Gilberto Consoni , que fala sobre a preocupação quanti, quali e a presença de hashtags no Trending Topics. Da mesma forma a pesquisa de Marcelo Coutinho quando mostra que o microblog foi o segundo meio de informação mais importante na campanha para mobilizar o eleitorado, logo depois da televisão.
O que eles abordam são duas boas questões. Neste momento, a primeira é mais instigante para mim é: funcionou o “barulho” feito pela veiculação de hashtags? No Twitter prevalece o “fale bem ou mal mas falem de mim”?
Novamente fomos (a equipe da @fsprdigital) a campo com ferramentas e recursos humanos atrás de algumas respostas. Escolhemos a trajetória das hashtags no dia do voto, 31/10.
Quando as urnas estavam liberadas para o voto, a campanha de Dilma Rousseff pedia para que a militância e eleitores da candidata usassem as hashtags #dilmaday e #13neles. Do lado da campanha de José Serra houve um foco maior em #euquero45. A hashtag #bra45il também foi divulgada, mas não “pegou”.
A seguir, o resultado quantitativo quando comparamos #dilmaday e #euquero45, considerando o que foi postado apenas no dia 31/10, entre 8 e 17 horas:
1. #dilmaday teve 127 mil tweets postados por 43 mil pessoas. Essa atividade de postagem alcançou 3,7 milhões de pessoas e foi repetida na rede 73 milhões de vezes. Lembrando que exposição pode contar mais de uma vez.
2. No caso do #euquero45 foram 43 mil tweets postados por 24 mil perfis. O alcance foi 4,4 milhões e o número de impressões ficou em 24 milhões de vezes.
Pelos números dá para dizer que Dilma ganhou na “disputa” das hashtags? Que isso contribuiu para a qualidade das mensagens que falavam sobre ela? Afinal, ela teve quase 3 vezes mais tweets do que Serra e quase o triplo em exposição (número de impressões).
E sobre Jose Serra? Quem contribuiu para sua divulgação no dia da eleição o fez como? Que tipo de mensagem usou? Quem foram os multiplicadores mais ativos?
A avaliação da qualidade desses tweets é bem interessante. Tirem conclusões pelos dados abaixo. Consideramos os 50 maiores multiplicadores das mensagens dos candidatos. Ou seja, aquelas pessoas que possuem elevado número de seguidores, que, por sua vez, fazem retweets de suas mensagens:
• Dilma teve 51% de exposição negativa contra 5% de Serra.
• Todos os 51% dos perfis negativos usam palavrões ou expressões preconceituosas contra a candidata. Foi o que se chama na rede de “trollagem” pesada.
• Serra teve 69% de multiplicadores que possuem características de robots ou fakes (classificamos no gráfico abaixo como “neutros”).
• Dilma teve 39% de exposição positiva e Serra 26%. Eram mensagens de apoio.
• No caso de subtrair os 51% de presença negativa de Dilma – provocada pelos eleitores e militantes do outro candidato -, ainda assim seus apoiadores teriam feito uma campanha mais positiva no Twitter. Inclusive porque não identificamos o uso de robots ou fakes no caso do #dilmaday.
• Os 10% de “neutros” alocados na conta do #dilmaday foram pessoas que fizeram apenas piadas sem tomar partido.
• O perfil de Luciano Huck – com um tweet pedindo para dar RT’s em #euquero45, por volta de 12h – gerou quase 3 milhões de exposição para Serra. Ele é uma espécie de horário nobre do Twitter, nesse quesito. Foi assim no 1º turno.
• Embora nos principais influenciadores de audiência de José Serra o principal fato tenha sido os robots/fakes, nos tweets negativos sobre ele não há ofensas como no caso de Dilma. Mas foi muito veiculado e com grande exposição uma possível indicação (fake) de que Marina Silva, do PV, teria dito para não votar em Dilma.
twitterEleicao
Entre tantas, uma conclusão possível: os “tuiteiros” contra Dilma foram muito hostis (audiência negativa de 51%) e entre os de Serra parece que prevaleceram os robots (69%). Sobre as celebridades (caso de @sabrinasatoreal e @huckluciano): eles realmente alavancam qualquer idéia que publicam.
Ainda assim, o saldo de 39% positivo de #dilmaday (muita militância partidária) e 26% de #euquero45 (idem militância) podem ser retirados desse contexto e mostrar um dado peculiar: o Twitter espelhou o mundo real, pois a diferença entre um e outro ficou muito parecida com a diferença nas urnas: 13% na web e 12,1 nos votos.
Fontes:
Os dados apresentados neste artigo foram coletados e analisados com a ferramenta TweetReach no dia 31/10/10.
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"Era algo para atingir outro foco"*


*Qual seria o outro foco no pedido de desculpas dessa moça? 

Como não tenho o endereço dessa moça, Mayara Petruso, permito-me enviar esse texto na forma de carta aberta.

A ela, que transformou-se numa espécie de musa daquilo que há de mais obscuro na sociedade brasileira, digo, inicialmente, o seguinte: que preste atenção no seu próprio nome. Mayara, q pode ser uma corruptela de Maíra, é um nome de origem indígena. O sobrenome Petruso, deve ser de origem italiana, como o de muitos que apoiaram seu "manifesto". Vê-se pois, uma mescla tipicamente brasileira, bem longe daqueles padrões de "pureza" racial, tão ao gosto de quem advoga em favor dessas idiotices. Na pesquisa que fiz na internet, alguém afirmou que ela é "detentora de olhinhos com traço nipônico". Então, dá para ver como pode-se ir longe nessa polêmica que envolve as questões raciais.

Seria interessante que Mayara e seus apoiadores (ao que parece, muitos descendentes de imigrantes), passassem os olhos sobre a história das várias populações que imigraram para o Brasil nos diversos períodos da nossa história e que acabaram formando o que se conhece hoje como povo brasileiro. Verão q, com algumas exceções, a maioria dos imigrantes, vieram para o Brasil, como se diz por aqui, com uma mão na frente e outra a atrás. Primeiro foram os degredados, depois os pobres de Portugal e alguns de seus senhores, que trouxeram para cá, à força, os negros africanos. Mais tarde, os pobres de várias partes da Europa e de outras partes do mundo.

Não dá para dizer que esses "colonos" foram recebidos com rosas. Tiveram que lutar duramente pela sobrevivência, até conseguir ascender socialmente e desfrutar de uma certa estabilidade econômica. Alguns prosperaram de tal forma que isso seria inimaginável se tivessem permanecido em seus países de origem. Mas, convenhamos, se essas pessoas vieram para cá nas condições que bem conhecemos, não foi pela cor dos olhos dos nossos nativos. Ninguém sai de sua pátria para enfrentar agruras além fronteiras por nada. Vieram, porque em seus países de origem eram considerados a escória da sociedade, eram discriminados da mesma forma como hoje seus descendentes discriminam os "nordestinos" que "afundam o país de quem trabalha...". Esses "colonos" eram o sub produto de intermináveis crises e guerras que sempre varreram o mundo. E ainda varrem: lembrem a barbárie na Iugoslávia, no coração da Europa "civilizada". Eram o excedente populacional, a reserva de mão de obra semi escrava que a economia não consegue absorver, os bucha de canhão, que as classes dominantes e os donos do capital utilizavam a seu bel prazer para garantir a acumulação de sua riqueza.

Aqui, talvez, eu esteja falando grego para Mayara e seu seguidores, pois eles não tem repertório para entender os processos históricos que estão por trás das crises que levam a esses movimentos populacionais e que, também, explicam a sua visão de classe, a sua pretensiosa ilusão de pertencimento a uma "elite" a qual estão muito longe de pertencer. Até porque, se fossem capazes de entender isso, jamais teriam escrito as barbaridade que escreveram.

Mas como sempre é tempo de recuperar o tempo perdido escrevendo barbaridade nos "orkuts", Mayara e seus seguidores poderiam começar lendo "A Ferro e Fogo", romance de Josué Guimarães, que pode lhes esclarecer, não de uma forma meramente técnica, mas a partir de uma visão humanista, o que significa ser um imigrante. O autor, falando pela boca de seus personagens, dá uma visão do que foi o traumático processo da colonização alemã no Rio Grande do Sul e que, de certa forma, guardadas as especificidades, é o que acontece com todas as pessoas que são deslocadas (ou se deslocam) de seus lugares de origem em busca de melhores condições de vida. Quem, em sã consciência, deixaria suas raízes, sua cultura, as coisas com as quais tem afinidade, para lançar-se gratuitamente em tantas dificuldades? Salvo um que outro, com espírito de aventura, as pessoas só fazem isso em situações extremas.
Claro, poderíamos dizer que os imigrantes nordestinos que "infestam" São Paulo são vítima da miséria e da ignorância que os levam as mas escolhas políticas, que num ciclo vicioso, produzem mais ignorância e miséria ou vice-versa, o que nos enredaria numa interminável discussão sobre o que é causa e o que é efeito.

Mas, se os "ignorantes" tem a desculpa da miséria para suas más escolhas, Mayara e seus seguidores, que fazem parte da "elite" letrada não tem desculpa nenhuma para votar num "coiso" como Serra. Qual é a justificativa para dar voto a alguém que tem aliados como os neonazistas, militares golpistas e religiosos fanáticos? Querem eles instaurar no Brasil um regime nazi teocrático? Mayara quer usar burka?

Penso ser fundamental Mayara e seus simpatizantes entenderem que não podem impedir as pessoas de buscarem melhores condições de vida e que os governos tem a obrigação de criar políticas públicas para que isso aconteça. Ainda mais no caso dela, uma estudante de direito. Como alguém pode advogar se não reconhece o direito mais elementar, que é o direito do outro a sobrevivência? Como alguém pode advogar sem ter a menor noção sobre o papel do estado como instância protetora e provedora dos cidadãos e reguladora das relações sociais?

Tenho certeza absoluta q cada uma dessas pessoas que comungam com as "idéias" de Mayara, que ela "brilhantemente" sintetiza numa frase, essas mesmas pessoas que se sentem roubadas por que o governo usa o dinheiro dos impostos "para sustentar vagabundos", estariam sadicamente satisfeitas se o governo gastasse o triplo ou mais desse valor, para construir presídios e equipar a polícia a fim de por esse mesmo número de "vagabundos" na cadeia. Para vigiar e punir a "negrada que não conhece o seu lugar", não há dinheiro mal gasto, no entender dessa "elite" herdeira da mentalidade escravagista. Mesmo que, contraditoriamente, educar e prover seja muito mais barato em todos os sentidos.
A contabilidade dessa direita proto fascista é fantasticamente mesquinha e rasa, só se equiparando a sua capacidade de sintetizar numa única frase toda a complexidade do mundo. O que sempre nos obriga a escrever laudas e laudas para demonstrar a falácia dessas "sínteses".

Mas, o que seria uma aparente contradição, pode ter uma explicação óbvia, que de tão óbvia jamais seria admitida por Mayara e seus pares, nem nos seus mais sombrios delírios. Para exemplificar, recorrerei a um episódio ocorrido quando o PT era governo em porto Alegre. Uma área em que esta administração atuou com firmeza foi a da habitação popular. Muitos regiões da cidade com sub habitações foram reconstruídas e urbanizadas. O entorno de tais áreas, ao contrário do que era esperado, reagiu mal a tais melhorias, pois a "prefeitura deu casa de graça para vagabundos". Intui, na época, que o custo monetário de tais melhorias não era realmente o que importava. O que subjazia, não perceptível racionalmente aos críticos, era o custo simbólico dessa ação da prefeitura. Mesmo as favelas sendo uma vizinhança incômoda dentro de bairros classe média, ainda assim isso era usado como uma espécie de "medidor" social. Os moradores mais bem situados economicamente, sempre poderiam abrir suas janelas e constatar como estavam "bem de vida", pois logo alí ao lado eles podiam ver os que "estavam na pior". Isso trazia um certo conforto íntimo, por não estarem na mesma situação. Bastou a prefeitura agir sobre tais áreas e aquele "medidor" desapareceu, mostrando as "pessoas de bem" que a diferença que os separava dos favelados não era tão grande assim. Bastavam algumas melhorias aqui e ali e tudo ficava muito parecido e o que antes distingua, agora não distinguia mais. (Hoje, paradoxalmente, ao passar-se alí, essas habitações construídas por um programa habitacional de um partido progressista, estão com suas janelas tomadas por adesivos de partidos de direita.)

Para minha surpresa, durante a campanha recebi um texto de Marilena Chauí onde ela afirma:

"A classe média urbana, que está apavorada com a diminuição da desigualdade social e que apostou todas suas fichas na idéia de ascensão social e de recusa de qualquer possibilidade de cair na classe trabalhadora. Ao ver o contrário, que a classe trabalhadora ascende socialmente e que há uma distribuição efetiva de renda, se apavorou porque perdeu seu próprio diferencial. E seu medo, que era de cair na classe trabalhadora, mudou. Foram invadidos pela classe trabalhadora."

Então pode ser isso: Mayara, mesmo inconscientemente, já não se sente tão diferente, aquilo que a diferenciava da ralé agora a iguala, aquele celular que parecia exclusivo, agora qualquer "empregadinha chinelona tem". Aquele tênis exclusivo está ao alcance de muitos. A diferença q Mayara buscava no outro, claro q sempre com um saldo positivo para ela, desapareceu ou ficou difícil de encontrar. Mayara é só mais uma moça da classe média remedada que busca a todo custo manter o seu stados social em meio a uma horda de "bárbaros" que buscam ascender socialmente, disputando com ela espaços e símbolos de poder e prosperidade que antes eram exclusivos de uma minoria.

Essa incapacidade da maioria das pessoas de porem-se no lugar do outro, sempre me impressiona. E todas esquecem muito rápido o que se passou em uma ou duas gerações. Melhorando sua condição de vida, ao invés de lançarem um olhar solidário as pessoas que estão numa situação em que elas próprias estiveram há pouco tempo, discriminam e segregam. Como sou um tanto pessimista sobre a natureza humana, não me surpreenderia em nada, se esses mesmos nordestinos, ao melhorarem de vida, não passariam eles próprios a discriminarem seus conterrâneos menos afortunados.

A única maneira de evitar isso é impor (a palavra é essa mesma), um processo educativo que vá além da formação de alfabetizados funcionais, com é o caso de Mayara e sua turma. Impor um processo educativo onde a sociologia, a filosofia, a formação política e os direitos humanos sejam disciplinas obrigatórias desde as séries iniciais, a fim de garantir uma formação cidadã na acepção da palavra. Claro que sempre haverão os refratários e os recalcitrantes, nos quais ter-se-á que empurrar goela abaixo os conceitos de cidadania. Então que seja, pois se não for por outro motivo, pelo menos para que o estado possa agir com a consciência tranquila sobre esses fascistas empedernidos, já que forneceu todas as condições para que cada pessoa entenda que não pode fazer apologia da violência e do preconceito. Para que nunca possam alegar em sua defesa que o "preconceito acabou saindo fora de controle" ou que "era algo pra atingir outro foco", como disse Mayara.

Nosso presidente operário, também ele um nordestino retirante, que já garantiu com folga seu lugar na história, por tudo o que fez pelo Brasil, de certa forma esqueceu seu passado e se deixou contaminar por uma espécie de vaidade frívola, ao enterrar uma babilônia de dinheiro em projetos duvidosas como copas e olimpíadas. Lula parece preferir passar para a história como patrono desses eventos megalômanos do que como alguém que fez uma verdadeira revolução educacional e cultural no Brasil. Sim, por que não basta inaugurar escolas técnicas para formar mão de obra qualificada a fim de atender as demandas do capital. É preciso ir muito além e entender por que uma parte importante da juventude alienou-se da política, por que está disposta a atropelar os princípios civilizatórios mais elementares, a pondo de dedicar-se com tanto empenho a essa cruzada fascista desencadeada pela campanha de Serra. Ou participar, com entusiasmo, de certos "eventos" universitários, como perseguições a alunas de minissaias e "rodeios de gordas". Isso é extremamente preocupante.

Se a disputa com Serra produziu algo de útil, foi fazer emergir das profundezas da nossa sociedade ilusoriamente pacífica e que mal disfarça seu racismo, o monstro da intolerância que muitos supunham extinto. Isso só mostra o quanto precisamos andar, o quanto uma democracia formal, por si só, não dá conta de neutralizar essas forças antediluvianas que estão em permanente prontidão a espera de uma oportunidade de voltar ao poder. A disputa eleitoral deixou escancarado o quanto é necessária uma grande campanha nacional de formação cidadã, o quanto cada recurso de que dispomos deve ser aplicado no que é absolutamente necessário, a fim de criar uma barreira efetiva contra o retrocesso e o fascismo.

Talvez fosse interessante nosso presidente dar um mergulho em suas lembranças de retirante, para recordar o quanto sua vida foi difícil e de como ele precisou e conseguiu superar tais dificuldades, para tornar-se aquele que hoje comanda a maior transformação social e política do Brasil, desde que esse país se conhece como tal. Lula precisa dar esse mergulho na sua antiga vida de pobre, para recuperar aquele sentido de prioridade que a pobreza dá, onde cada centavo tem a sua destinação e mesmo assim sempre falta algum para atender todas as necessidades. E fazer com que Dilma entenda isso também, entenda o quanto é preciso investir cada precioso centavo dessa babilônia de dinheiro que ela precisará aplicar no "bolsa cidadania". Mas não para acabar com a pobreza dos nordestinos, pois isso já está sendo feito com os recursos destinados ao bolsa família, mas para debelar a pobreza de espírito das mayaras da vida, dessa classe média arrogante e desnorteada, açulada pelos capangas da mídia e os neonazistas, preza fácil que é de qualquer tucano/picareta/messiânico/carola.

Talvez isso nos saia infinitamente mais caro do que o bolsa família, consuma boa parte daquilo que vamos ganhar no pré-sal, pois o preconceito e a ignorância são infinitamente mais difíceis de erradicar do que a fome. Mas tem que ser feito. É fundamental o enfrentamento aos ignorantes, os que se pretendem letrados, essa falsa "elite" que olha com desprezo aqueles que não pertencem a classe a que ela supõe pertencer. Assim, Lula e Dilma, deixemos de lado certas "manias de grandeza" e vamos ao que é essencial, sob pena de que tudo isso que foi construído ao longo dos oito últimos anos seja transformado em pó. Se a esquerda não tem os sentidos da prioridade e da urgência, a direita os tem. Se a direita voltar ao poder, possibilidade que não é remota, ela correrá contra o tempo e num único mandato acabará com o que sobreviveu a devastação neoliberal da era FHC. Entraremos aceleradamente num processo de mexicanização. O estado brasileiro será de tal forma destruído, que não terá mais estrutura e nem recursos para impor qualquer política pública. Será um retrocesso a condição de colônia dos EUA, de uma forma nunca vista até aqui.

Assim, nós também devemos trabalhar em regime de urgência, para criar uma certeza inabalável na sociedade sobre quem realmente tem um projeto político para o Brasil. De tal forma que nunca mais precisemos passar por uma campanha eleitoral tão sórdida como essa última. Não resolver no primeiro turno uma disputa com um adversários tão desqualificados, deve nos fazer meditar profundamente. O surgimento de candidaturas diversionistas, como a de Marina Silva, e a sobrevida de Serra no segundo turno, só foi possível graças a um fator que impediu a população de reconhecer claramente qual era a proposta real para o pais e que no caso de Mayara, atingiu as raias do absurdo: a brutal falta de formação política do povo brasileiro.

Apesar de todas as realizações, o governo Lula avançou muito pouco em relação a sua capacidade de fazer a população entender a gritante diferença entre os projetos em disputa. Isso pode ser explicado pela vacilação de Lula em confrontar a mídia, que no final das contas, acabou funcionando como a viga mestra da campanha serrista. Foi dalí que partiram os golpes mais baixos, as articulações mais sórdidas, a pregação golpista descarada, muito além daquilo que já tinha emoldurado as campanhas anteriores. Se Dilma não tomar as rédeas dessa questão, ela pode fazer o melhor governo que fizer e mesmo assim será arrastada para outra disputa suja, onde as propostas e o projeto político serão escamoteados para dar lugar a toda a vilania que a mídia/braço/armado da direira puder engendrar.
A Dilma não basta fazer, ela precisa convencer as pessoas que fez, mesmo que suas realizações estejam alí, visíveis e ao alcance da mão. Num mundo midiatizado, o simulacro da realidade é mais importante que a própria realidade. O único antídoto para isso é a formação política, que permita a população desenvolver um senso crítico de tal forma que ela saiba, pelo menos, que não deve colocar nas janelas de suas casas, adesivos dos seus inimigos de classe.

De tudo o q Dilma pode deixar para o futuro, além das realizações materiais, o que contará mesmo, é fazer o povo entender o que é real e o que é obscurantismo. Isso é a garantia do nosso próprio futuro e o que nos salvará das mayaras desse país.

E quanto a Mayara...bem, agora ela sentirá o q é ser discriminada. Ficará "marcada na paleta", por ser tão voluntariosa e ir atrás de um Lacerda tardio e dizer claramente o que Serra dizia nas entrelinhas. Serra fez a campanha mais suja que esse país já viu e não teve tanta sutileza assim ao, por exemplo, responsabilizar os imigrantes pela deplorável situação do ensino em São Paulo, durante seu mandato. Mas quem responsabilizará criminalmente Serra como xenófobo ou racista? Ele está lá, bem protegido, ao lado de seus pares, da tal elite quatrocentona, perversa e parasitária, descendente dos capitães de mato que massacravam e escravizavam índios.
Já Mayara, pelos bons serviços prestados, perdeu seu emprego e está tomando um processo pelas fuças. E o pior é que nem pode esperar solidariedade do Serra, que não foi capaz de defender a própria mulher quando Dilma, num dos debates da campanha, cobrou, de Mônica Serra, a denúncia de que ela, Dilma, era "assassina de criancinha".
Mayara aprenderá, agora, que a distancia que a separa de "ralé" e bem menor do que ela imaginava.

Eugênio Neves

Atualizado em 5 de novembro de 2010 às 21h09min.
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Mapa da eleição do dia 31 de outubro de 2010

Escreve Conceição Oliveira em seu blog Maria Frô:

Alê Porto: O Brasil não é vermelho nem azul


O leitor João Ferrari sugeriu:
Alguém que entenda de arte gráfica poderia fazer um mapa do Brasil, com cada estado dividido em duas partes, azul e vermelha, proporcionalmente dividido de acordo com a votação recebida, para mostrar mais claramente que a parte vermelha é muito grande no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Este mapa desmistificaria o mapa falseado usado pela imprensa com estados azuis e vermelhos inteiros, quando na realidade são divididos. O apelo visual seria muito forte, é talvez o mais forte….
Vários twitteiros ajudaram a organizar os dados e o @aleportoblog desenvolveu o mapa interativo reproduzido abaixo. Ao clicar em cada estado você pode conferir a percentagem que cada candidato recebeu no segundo turno.
Quem sabe assim os preconceituosos que desprezaram o voto, a cultura, o trabalho e a importância do Norte e Nordeste do país sintam ao menos vergonha por serem tão mal informados?

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A oposição no divã

De Lúcia Avelar*, publicado na Carta Capital

As legendas de centro-direita terão de mudar a forma de recrutamento e de organização e apresentar seu programa de governo com mais clareza

A vitória de Dilma Rousseff tem bases mais sólidas do que parece à primeira vista. Não se deve apenas à popularidade de Lula e ao bom desempenho da economia. Há um realinhamento eleitoral que vem se desenhando desde 1994, o adensamento da sociedade civil organizada, a percepção de que há governos que fazem diferença – para melhor – na vida das pessoas, a emergência de um sentimento de identificação e solidariedade com a coletividade destituída, e de que é possível governar também para ela.

Quanto ao realinhamento eleitoral, principalmente nos municípios, a disputa entre PSDB, DEM/PP e PT se instalou e os partidos tradicionais vêm perdendo sua hegemonia histórica. O caso que mais expressa essa disputa é o confronto entre o DEM e o PT, o primeiro caindo vertiginosamente enquanto o segundo cresce e o sobrepuja. A disputa entre o PSDB e o PT nas eleições presidenciais reflete esse balanço de forças, com a ressalva de que o PT e outros partidos de esquerda, seus aliados, passaram por mudanças ideológicas e programáticas sem perder o horizonte da questão social brasileira.

A clivagem direita/esquerda é, mesmo se usada com reservas, parte do quadro atual. Ela é uma dimensão simbólica útil para organizar um conjunto de posições políticas de candidatos, partidos e eleitores. Em toda a América Latina a clivagem é por demais discutida como parte da emergência política de minorias e da relativa desconcentração do poder. É o caso de Chile, Argentina, Bolívia, Uruguai e Equador, por exemplo.

Nesse cenário regional é indiscutível a liderança de Lula. Seus críticos salientam os traços personalistas e populistas de sua liderança. Como mostra o economista argentino Ricardo Aronskind, o termo populismo é usada de modo depreciativo para todos os políticos da América Latina que tentam alguma estratégia de mudança dos beneficiados pela política. Além da liderança de Lula, outros aspectos devem ser levados em conta na vitória de Dilma, entre eles a organização e a coesão partidária do PT. Ao apontar sua candidata, Lula cuidou da coesão do partido; investiu e cedeu em alianças que revertessem em ganhos na corrida presidencial, como foi o caso de Minas Gerais.

Não foi o que ocorreu com o partido de oposição e seus aliados. O PSDB jamais foi um partido coeso, mas a negativa em realizar uma consulta interna numa eventual disputa entre os candidatos José Serra e Aécio Neves abriu uma trinca ainda maior. E o programa de Serra, favorável a um Estado enxuto e maior liberdade do mercado, funciona em São Paulo, quase o único exemplo onde o capitalismo liberal é bem-sucedido no País. A grande maioria dos estados depende do governo federal para impulsionar o desenvolvimento e combater a pobreza. Para o bloco tucano, em termos sucintos, as políticas sociais universalizantes conduzem à dependência dos assistidos, e os problemas de desigualdade estrutural devem ser solucionados no plano individual, pela ajuda humanitária, como a filantropia e o voluntariado. Na visão dos adeptos da cidadania, as políticas de bem-estar, mesmo que não modifiquem a forma como se redistribui a renda, atuam nos segmentos em condições extremas de pobreza, projetando melhoras para as gerações seguintes. Sem revolução ou reformas, sem o ethos estatista ou socialista, o governo Lula foi um governo de programas, principalmente no tratamento da questão social em sintonia com as lideranças socialmente avançadas do País.

Não há dúvidas de que neste governo entrou em cena a problemática da cidadania. Fábio W. Reis, citando George Armstrong Kelly, discute a ambiguidade desse conceito, ao distinguir entre a sua dimensão civil e sua dimensão cívica. Do ponto de vista civil, corresponde à afirmação dos direitos individuais garantidos constitucionalmente. A dimensão cívica está associada aos deveres e responsabilidades do cidadão com a sua coletividade. É a propensão ao comportamento solidário, a uma disposição de entregar ao Estado parte de seus recursos e autoridade para governar a favor dos destituídos. Os indivíduos recebem prestações sociais não como indivíduos, mas como membros de um corpo coletivo que por circunstâncias dos processos estruturais de distribuição da riqueza encontram-se em situação de extrema pobreza.

Sob tal perspectiva, há convergência quanto à ideia de não haver livre jogo das forças de mercado que dê conta de uma dívida social construída pelo modelo de desenvolvimento concentrador de renda e pelo passado escravocrata. “Governar a pobreza” é, portanto, uma decisão política com o objetivo de criar cidadãos, de execução administrativa e com o apoio da coletividade. Entramos neste caminho, ao que tudo indica.

Outra mudança foi a abertura de canais de interlocução do governo com a sociedade. A diferenciação democrática que presenciamos hoje, com um mosaico de participação da sociedade difícil de ser mapeado, é uma construção que vem do desencanto e do mal-estar com os partidos tradicionais, com a arrogância das elites, com seu distanciamento dos problemas sociais. O PT nasceu da sociedade organizada, depois dela, quando os movimentos das décadas de 1950 e 1960 amadureceram e se adensaram contra a ditadura. A interlocução com o sindicalismo urbano e rural, com as comunidades eclesiais de base, associações de bairro e de luta por moradias, ONGs ambientalistas, entidades de mulheres, de jovens, de defesa da igualdade racial, de direitos humanos e combate à homofobia não foi descartada durante o governo Lula.

“Ainda é pouco”, afirmam os adeptos da democracia participativa, numa expressão da mudança de valores das democracias contemporâneas, mudanças estas que não foram assimiladas ao contexto dos partidos tradicionais. Eles não se deram conta da emergência de comunidades críticas, do ativismo de mais de meio século e de ativistas que aprenderam a usar as regras eleitorais e partidárias para influenciar a escolha de candidatos.

Em 2002, ou seja, oito anos atrás, segundo os dados, havia 276 mil associações civis no País empregando 1,5 milhão de pessoas, 62% das quais foram constituídas a partir de 1991. A difusão das ideias de igualdade e de direitos são a seiva desses movimentos. Pouco sabemos a respeito do relacionamento entre associativismo e número de votos para este ou aquele partido, mas é plausível a hipótese de que o crescimento dos partidos de esquerda se relacione com o crescimento do associativismo político. Os movimentos formam uma base corporativa com influência no processo eleitoral, ao se declararem por este ou aquele candidato. Estaria a difusão das ideias de direitos e de igualdade na base da perda de poder político dos partidos de direita?

Outro aspecto a ser mencionado é a melhora da autoimagem do Brasil, mesmo que com muitas ambiguidades. Um líder de oposição chegar ao final de dois mandatos e eleger uma sucessora é um ganho institucional histórico indiscutível e tem a ver com um novo ciclo da política latino-americana. A autoimagem do País está fortalecida e, ao mesmo tempo, carrega muitas tensões. A percepção de que se pode construir uma história diferente, de que a miséria pode ser extirpada, de que há um horizonte de muitas possibilidades, convive com a visão dos universos de muitas necessidades que serão atendidas apenas com políticas de muito longo prazo. Os desafios de educar a população jovem para o mundo do trabalho, na hipótese da continuidade do desenvolvimento e para uma sociedade complexa, são evidentes. Estão aí os estudos do Ipea com projeções demográficas, alertando para as prementes e necessárias modificações no campo educacional. Ao lado disso a percepção de uma política menos subordinada à ordem internacional e a valorização de parceiros emergentes e dos países vizinhos têm a ver com o papel do Ministério das Relações Exteriores e que, para os opositores, não passa de devaneios. Sabemos que não são, pois basta consultar as análises da imprensa internacional.

Nesse quadro, o que esperar do futuro dos partidos de direita e centro-direita? De onde virá a oposição ao lulismo? Em documento publicado em 2007 pelo Transnational Institute chamado “No olho do furacão”, líderes de esquerda e antigos militantes do Partido dos Trabalhadores falavam de certo mal-estar diante do fortalecimento de Lula em relação às outras correntes do partido. Depois disso, e principalmente no decorrer do segundo governo Lula, o lulismo foi tomando conotações das mais diversas, recebendo o apoio geral, mas sobretudo da população alvo dos programas sociais e dos ascendentes da nova classe média. Do lado dos opositores, a pauta é identificar o lulismo com o populismo. É claro, o termo populismo continua sendo terreno de disputa política e ideológica, principalmente na América Latina.

Mas, caso se confirmem na próxima década políticas de bem-estar e melhora da vergonhosa desigualdade social, o lulismo desaparecerá na esteira do protagonismo de um Estado de contínua agenda positiva para o País. E há muitas personalidades com sensibilidade social, mesmo que discretas, para realizar essa agenda. Permanece a questão do futuro dos partidos de direita. Estes sim terão de mudar suas formas de recrutamento e de organização, apresentar com mais clareza seus programas e convencer o eleitorado popular de que suas propostas redundariam em melhora para a vida. Uma disputa antiga, de raízes filosóficas, que só agora chega até nós porque a oposição aos partidos tradicionais logrou governar pela primeira vez e, até agora, com sucesso.

* Lúcia Avelar é professora titular de Ciência Política/Instituto de Ciência Política/Universidade de Brasília. Pesquisadora do CNPq. Membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz
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OS DESAFIOS DE DILMA – O BRASIL E A ORDEM MUNDIAL

Laerte Braga


As perspectivas de derrota eleitoral do Partido Democrata e por extensão do governo do presidente Barack Obama, há dois anos das eleições presidenciais nos EUA, são uma dificuldade de monta para a presidente eleita do Brasil Dilma Roussef. Não que Obama signifique alguma coisa, mas pelo que Republicanos representam numa escala de gradação do terrorismo político, econômico e militar dos EUA.

Se antes dos oito anos de Lula éramos figurantes no contexto da chamada Nova Ordem Mundial, hoje somos protagonistas dessa ordem. E a América Latina é decisiva em todo esse processo.

Mais que nunca vale a frase do ex-presidente Richard Nixon dita em plena ditadura militar, ao buscar encontrar justificativa para as notícias de sistemáticas violações de direitos humanos pelo regime dos generais. “É uma pena, mas o Médice é um bom aliado e para onde inclinar-se o Brasil, inclina-se a América Latina”.

Quer queiramos ou não o atoleiro que George Bush meteu o seu país diz respeito ao Brasil, ao mundo inteiro. A presença de governos independentes de Washington no continente político latino-americanos é um momento histórico de afirmação, mas pode vir a ser de queda.

A economia mundial globalizada faz com que um espirro no pólo norte seja sentido em qualquer canto do mundo, que dirá no Brasil, um país com dimensões continentais e agora, com um caminho aberto para um processo de integração latino-americana numa fase aguda.

Dilma Roussef vai enfrentar de saída duas frentes de combate. Impedir que a crise econômica mundial (ainda forte e viva) afete esses anos Lula de prosperidade e segurança. Os olhos postos do grande irmão do norte sobre o Brasil e a importância, para eles, de domar essa onça que surge com um vigor impressionante.

Uma eventual vitória republicana em 2012 vai significar que à frente de uma situação de declínio a boçalidade suba de tom nos EUA.

Isso sinaliza para mais que a integração latino-americana. Ultrapassa esses limites e se estende a partes outras do mundo numa luta que se ainda não deixou claros esses contornos, é de sobrevivência das nações independentes ou que se pretendem assim.

No aspecto interno Dilma vai sofrer a feroz oposição das forças de extrema-direita (se mostraram com todas as garras nessa campanha eleitoral), aliadas incondicionais desse contexto internacional e subordinadas a interesses de nações que mais e mais vão se tornando grandes conglomerados empresariais. É o caso dos EUA.

É indiscutível que tem estatura para esse desafio, mas não é Lula e vai ter que construir seu próprio caminho, abrir sua picada em mata fechada e afirmar-se como líder desse espaço fundamental para o Brasil e imediatamente a América Latina.

Em todo o processo de destruição levado a cabo pelos EUA nos últimos anos, mesmo no período Clinton, onde a ALCA –ALIANÇA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS – era a palavra de ordem para essa parte do mundo, se olharmos o resto do mundo, são poucos os países que conseguiram preservar-se intactos ou escapar incólumes do desvario neoliberal.

A morte de Néstor Kirchnner é outro complicador.  O futuro da Argentina, país essencial para e como o Brasil para a América Latina, é incerto.

As cunhas do neoliberalismo e da estupidez militar dos EUA já estão plantadas por aqui. Colômbia e Chile.

Os desafios das elites econômicas no Brasil, latifundiários, banqueiros e grandes empresários tem um componente complicado. São forças de natureza golpista, agarradas a privilégios, o que significa que reformas são indispensáveis para que se possa mexer na infra-estrutura política e econômica do Pais, abrindo perspectivas para uma independência completa e real, consumando o processo iniciado no governo Lula.

Dilma vai ter que enfrentar essa batalha para além dos caminhos tradicionais da política brasileira.

Vai ter que lutá-la nas ruas ampliando os canais de participação popular e alcançar através dessas forças os objetivos que os brasileiros que a elegeram sonham e desejam.

A própria configuração de sua vitória mostra isso. Perdeu as eleições em estados onde predomina o agro-negócio e onde são fortes as elites de extrema-direita. Tem a seu desfavor a mídia privada que tece loas à liberdade de expressão para garantir o controle do processo que é alienante e o domínio de poucas famílias num modelo em que curiosamente essa liberdade de expressão tem mão única.

As eleições mostraram sem disfarces essa face perversa do modelo.

São desafios que combinam políticas de fortalecimento da integração latino-americana, de ampliação dos mercados brasileiros com nações de outras partes, modelo pacientemente construído pelo governo Lula através do chanceler Celso Amorim – um dos grandes brasileiros de sua geração e da história de nossa diplomacia – com a preservação dos níveis de crescimento econômico e políticas sociais que permitam as reformas necessárias a que essa infra-estrutura perversa que ainda habita entre nós, possa se transformar de fato num governo popular.

Onde o cidadão fale, onde o povo seja o principal ator.

É como matar uma onça por dia. Os adversários são fortes, já mostraram não ter escrúpulos e deixaram claros os seus interesses e objetivos.

De saída a política externa traz desafios que têm largos reflexos na política, na economia e no social. Enfrentar a ação golpista dos EUA via Colômbia e Chile contra Venezuela, Bolívia, Equador, Uruguai, Paraguai e o esforço que farão para recuperar a Argentina.

Não aceitar as imposições quanto ao Irã, opor-se às políticas terroristas no Afeganistão, no Iraque e na Palestina, ampliar a integração com países de língua portuguesa e buscar formas de relacionamento com países da Comunidade Européia (uma espécie de protetorado dos EUA) que impliquem em equilíbrio político e econômico sem concessões que não resultem de consenso que possam beneficiar a ambos.

Se os governos da maioria dos países da Europa subordinam-se aos EUA, os povos das nações européias começam a perceber a armadilha travestida para além da economia, seja em cerco militar, ou em reformas neoliberais.

Ampliar as relações com a Rússia, estabelecer premissas novas para com a China, enfim, afirmar-se como potência mundial que, a permanecerem os números, em breve terá ultrapassado Itália, França e estará nos calcanhares de um semi falido Reino Unido.

A vitória de Dilma tem esse sentido, esse significado. E a certa altura com certeza irá passar por um momento de união nacional das forças progressistas em torno dessas questões básicas (vai ser necessária a maturidade dessas forças), sob pena de nada do que foi conquistado valer.

Nossos adversários internos e externos jogam o jogo em estreito acordo e com objetivos bem claros.

Dilma não vai encontrar e nem pode pensar em tratar o governo como um clube de inimigos e amigos cordiais. É só olhar as dificuldades enfrentadas por Lula e perceber que a dimensão de estadista do atual presidente se deveu, entre erros e acertos, à coragem de resistir.

E uma resistência que o Brasil excluído percebeu com clareza tal que elegeu Dilma.

Se os primeiros passos foram dados, os próximos serão em terreno bem mais pantanoso, pois os inimigos do Brasil sabem que um descuido e vamos ao chão.

Abraçar os movimentos populares, reciclar o caráter corporativo de boa parte do movimento sindical, evitar aparelhamentos pelegos, abrir as portas do processo à participação popular.

Trazer ao debate temas como o monopólio da informação (decisivo) e não se deixar encantar pelo canto do jogo institucional montado sobre estruturas que atendem apenas aos interesses dos donos.

Aprofundar a reforma agrária é de tal ordem importante, diz respeito à própria soberania nacional em vários campos. 

Se Dilma tem dimensão para isso? Claro que tem, vai ter que mostrá-la em cada dia de seu governo.

Existem momentos que enfrentar desafios se torna questão de sobrevivência. Esse é um deles. O nível da campanha eleitoral mostrou que é assim. 
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Não ao terceiro turno

Brasília Confidencial - Editorial, 1º/11/2010

Parcela minoritária e barulhenta de derrotados nas urnas reagiu ao resultado da disputa pela Presidência da República como se fosse passível de desmerecimento, contestação e enfrentamento a decisão majoritária de tornar Dilma Rousseff a sucessora do presidente Lula. Essa parcela reagiu, enfim, como quem inaugura ou pretende inaugurar uma espécie de terceiro turno imprevisto pela legislação, indesejado pela população, insultuoso ao eleitorado e improdutivo para o país.

A ideia de iniciar um terceiro turno se evidencia na edição de ontem dos principais diários impressos do país. Começa na informação de que, antes mesmo de começar, o Governo Dilma já vive sua primeira crise causada pela presença explícita ou pela sombra ameaçadora de Lula, que seria candidato à Presidência em 2014. O terceiro turno se insinua também entre o receio de que Lula interfira no governo, tutelando Dilma, e o medo de que não faça isso e deixe o caminho livre para a hegemonia da esquerda do PT. É deflagrado também, o terceiro turno, no pavor provocado pela maioria de praticamente três quintos no Congresso, que poderia dar a Dilma força suficiente para legislar conforme bem quisesse.

O segmento da mídia que orienta os partidos de oposição participa da tentativa de inaugurar o terceiro turno com o mesmo método jornalístico adotado desde o primeiro semestre do ano passado: textos, comentários, notas e artigos que depreciam Dilma tentando reduzí-la a uma figura influenciável e manipulável. Desmereceram a candidata, agora desmerecem a presidente eleita e, desde já, seu futuro governo.

A motivação da imprensa aliada aos partidos de oposição antecede a ideia de golpe. Os jornais acreditam representar o pedaço do Brasil que rejeitou Dilma.

Dilma foi eleita pelo Brasil setentrional. A oposição é o Brasil meridional. É verdade que Dilma fez muito mais votos na parte Sul do que Serra obteve na parte Norte. Mas ela perdeu entre os ‘sulistas ou ‘confederados’, que formam o Brasil da mídia. O Brasil de Dilma é o Brasil sem mídia. E o terceiro turno é, a par de um desejo de facções partidárias oposicionistas, uma tentativa da imprensa mais poderosa do Brasil meridional de expulsar para o Brasil setentrional a candidata e futura presidente dos pobres, dos excluídos, dos desvalidos, dos discriminados, dos trabalhadores, da classe operária.

Até aqui, Dilma mostrou que é muito maior do que se dizia dela no início da campanha. Mostrou que é capaz de traduzir perfeitamente a ideia da eficiência e da continuidade de um projeto bem sucedido e aprovado. Venceu a campanha eleitoral mais sórdida, repugnante e infame da história republicana. Venceu uma oposição torpe e uma imprensa indecente. E, no primeiro discurso de presidente eleita, estendeu a mão aos adversários propondo trabalho e união pelo país.

A deflagração do terceiro turno para o período 2011/2014 equivale ao anúncio de, no mínimo, mais de 1.400 dias de campanha e de confronto. Com certeza, não é o que quer e muito menos é de que precisa o povo do Brasil.
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Cobertura das Eleições: Oportunismo partidário

Por Marlos Mello em 2/11/2010 no Observatório da Imprensa

As eleições cumprem o papel fundamental de dar dimensão pública às questões políticas. Numa democracia, como a brasileira, os políticos sabem disso e, dependentes do voto e da avaliação popular, estão sempre em busca de espaço nos diversos meios de exposição. Sabe-se que somente os horários gratuitos de televisão e rádio não dão conta dessa almejada popularidade. Por isso, como forma de atrair a atenção dos eleitores, os candidatos não poupam discursos, nem mesmo atitudes que possam ampliar sua visibilidade.

O Brasil é um país de mais de 190 milhões de habitantes, dentre os quais estão os 135 milhões de eleitores, que se apresentam mais concisos em suas escolhas eleitorais. Porém esse número tão representativo não significa que há maior criticidade por parte do eleitorado. Este breve texto pretende apresentar algumas considerações a respeito das eleições brasileiras do ano de 2010. Não entraremos no mérito dos partidos e candidatos vencedores. Nosso objetivo é apresentar alguns dos desafios do novo cenário político brasileiro.

Para muitos eleitores, a política é simplesmente o fenômeno social mais assombroso e surpreendente que existe. há somente regras simbólicas de como os eleitores e eleitos devem se comportar. Neste sentido, não é exagero dizer que os cidadãos não percebem, ou talvez nem queiram perceber, a importância do contexto eleitoral. Como também não é exagero dizer que os candidatos, depois de eleitos, partem para novos desafios, ou seja, montar seu esquema de governo.

Cidades ficam paradas

Desse modo, os candidatos eleitos organizam a estrutura de trabalho do novo governo baseados nos acordos fixados em suas campanhas eleitorais. A impressão ainda prevalecente nos últimos anos de democracia brasileira é a de que a consciência e o consenso social evaporam no calor dos procedimentos de escolha dos ocupantes dos cargos majoritários. Geralmente, os oportunismos e fisiologismos partidários acabam tomando conta das principais pastas ministeriais. No nosso entendimento, o problema está na cultura política brasileira que é, simplesmente, uma cultura de acúmulo de cargos e funções distribuídas por autoconfiança do governante, mas esse é assunto para um próximo artigo.

As supostas autonomia e autossuficiência dos partidos políticos continuam a explorar a vasta porta eleitoral brasileira, que parece não ter fim, pois uma campanha eleitoral não termina nunca. Logo que uma eleição acaba, os partidos se organizam para uma nova batalha. Assim é, de dois em dois anos. Os critérios, embora desconhecidos por grande parte da população, parecem não deixar de fazer parte do cotidiano brasileiro. A dependência política é tão grande que a cada ano eleitoral as cidades ficam paradas em si mesmas, ou seja, projetos param, licitações deixam de acontecer e o centro das atenções são os candidatos e os eleitores.

Terrorismo eleitoral

Tal como se dá em outros setores da nossa vida, a política atinge patamares de importância altíssima. Isto se traduz nas características burocráticas da organização eleitoral, onde nem mesmo a Suprema Corte consegue julgar e decidir convictamente os fatos. Seria injusto apontar somente as deficiências das eleições brasileiras, porém atentando-se ao quadro de responsabilidade dos candidatos, especialmente no 2º turno, torna-se impossível não repugnar o comportamento de alguns que se propõem a dirigir os rumos do nosso país.

É preciso compreender que a democracia não deve ser praticada apenas quando convém a um ou outro candidato, mas está acima de quaisquer interesses pessoais. Infelizmente, hoje em dia acha-se largamente disseminada, nos grandes meios de comunicação, a ideia de que a democracia está associada a corrupção e impunidade. Contudo, não podemos deixar de nos manifestar a respeito do terrorismo eleitoral a que fomos submetidos. O oportunismo de alguns partidos políticos nos envergonha enquanto cidadãos e afasta até mesmo a possibilidade de respeito entre os candidatos.

Finalizando, as perguntas a que devemos dar resposta são as seguintes: Que atitudes e decisões significativas esperamos do novo governo? Continuaremos aprisionados ao modo de fazer política especulativa e, ultimamente, terrorista? O progresso brasileiro esta indubitavelmente vinculado a essas questões e não são os partidos que devem dar essas respostas. Na verdade, essas são preocupações fundamentais dos eleitores brasileiros.
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Governo Dilma. Qual deve ser a postura do movimento popular e sindical?


Qual deve ser a postura do movimento popular e sindical, e quais as bandeiras centrais no governo Dilma, recém-eleita presidente do país? A ofensiva conservadora que marcou as eleições de 2010, as reivindicações da classe não cumpridas durante o governo Lula e a base econômica deixada pelo atual governo são alguns dos pontos de partida para as lutas dos movimentos sociais, de acordo com as reflexões de suas lideranças.
A reportagem é de Pedro Carrano e publicado pelo Brasil de Fato, 31-10-2010.

Para o integrante da coordenação nacional do MST, Gilmar Mauro, o resultado eleitoral não quer dizer apenas uma derrota de José Serra (PSDB), mas da grande mídia como um todo. Mauro avisa que os movimentos sociais terão uma relação de autonomia com o próximo governo, com quem as organizações devem confrontar suas reivindicações. A reforma agrária, por exemplo, não foi pautada na campanha eleitoral deste ano e deve voltar à agenda.

Sobre a questão agrária, Mauro enfatiza que o debate se dá em três frentes: sobre o uso do solo e recursos naturais, que não devem ser transformados em mercadorias, sobre o tipo de alimentos que a população está consumindo, e a serviço de quem serão usadas as tecnologias no campo.

 “Eu acho que a reforma agrária é uma das coisas mais modernas do mundo na atualidade. Mas uma reforma agrária vai ter que alterar o modelo agrícola, o modelo de produção, o tipo de comida, o tipo de tecnologia, e esse debate vamos ter que fazer o debate com a sociedade. Esperamos  que o governo Dilma possa ajudar, no sentido de favorecer, de criar espaços para que esse debate ocorra e que a sociedade participe da discussão de uma verdadeira reforma agrária que altere a estrutura fundiária no Brasil e o modelo de produção no Brasil.”

A postura do movimento negro será de apoio crítico e pressão permanente em defesa de políticas públicas. Esta é a posição da Uneafro, de acordo com Douglas Belchior, do conselho geral da organização. Para ele, Dilma terá que revisar as políticas de segurança pública que vitimam a população negra em todos os estados. O aprofundamento das políticas de acesso à educação e a pressão pelo Estatuto de Igualdade Racial são pontos estratégicos na avaliação da entidade.
 “O movimento negro deve ter uma postura de luta permanente e vamos ocupar as ruas. Também vamos ocupar as universidades no sentido de pressionar para que o governo haja e preste serviço ao povo brasileiro e não para os latifundiários, para os racistas, empresários e banqueiros.”

A base econômica construída nos oito anos de governo Lula resultou na geração de empregos e estancou a flexibilização do trabalho no período Fernando Henrique Cardoso (FHC) é o que  analisa o sindicalista Milton Viário, da Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul e da CUT. Ele enxerga que o momento é de pautar a plataforma unificada dos trabalhadores, construída em 2010 pelo movimento social e sindical. No campo sindical, maior democracia e condições de trabalho, jornada de 40 horas e o fim do fato previdenciário são pontos centrais nesse projeto.

“Nós vamos ter condições melhores para apresentar a plataforma da classe trabalhadora, voltada basicamente no desenvolvimento econômico. Portanto, ampliando a atividade produtiva, mas reivindicando fortemente a geração de empregos de qualidade, empregos aonde se possa ter uma melhor remuneração, empregos aonde se possa ter de fato uma qualificação profissional e que haja a especialização do trabalho.”
A deputada federal recém-eleita pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) de São Paulo, Luiza Erundina, aponta que o governo Dilma terá que enfrentar o desafio de maior democratização do Estado brasileiro. O que, de acordo com ela, passa por dois caminhos: reforma política e democratização dos meios de comunicação.

“A reforma política que já tem um acúmulo no Congresso, tem uma frente parlamentar pela reforma política com participação popular. Já tem inclusive um Projeto de Lei de iniciativa popular que está na Comissão de Legislação Participativa e já responde a questões importantes, estruturais do sistema de comunicação. Tem, por exemplo, a reforma Tributária como mecanismo de distribuição de renda.”

Na mesma linha da democratização da mídia como bandeira central para a luta da esquerda, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, avalia que a pressão a partir as bandeiras nascidas no processo das Conferências de Comunicação devem ser pautadas desde janeiro de 2011.
“Este é um ponto da agenda, o debate que as organizações sociais vão ter que estar muito organizadas, mobilizadas, pressionando o governo. Não pensem que vai ser fácil. Eu lembro que a primeira Conferência de Comunicação só saiu no último ano do governo Lula. Era um governo em disputa. E, portanto, nós temos que continuar debatendo isso. O próximo governo da Dilma Roussef também será um governo de disputa.”
A luta das mulheres tem dimensão importante em 2011. Darli Sampaio, da Casa do Trabalhador de Curitiba, acredita que o debate ideológico sobre a questão do aborto nas eleições agora deve ter o efeito contrário. Uma vez que as organizações devem pressionar para obter avanços neste tema. De acordo com ela, a união civil dos homossexuais e os desafios da inserção da mulher no mundo da política também são desafios no debate de gênero.

 “Do ponto de vista da organização das mulheres, tem uma pauta já que ela não se esgota, porque as questões não estão resolvidas. Por exemplo, a discussão sobre a questão de gênero, que abarca polêmicas que nós vimos agora no período da campanha, que diz respeito à questão do aborto, aliás, a forma desrespeitosa com que essa discussão foi travada no debate político. O Movimento de Mulheres entende que aborto é uma questão de saúde pública”.

Na avaliação de Luiza Erundina, há um espaço no Estado brasileiro para a politização a partir do governo, mesmo o Estado tendo um caráter de classe.

“É exatamente a forma de governar. É mais do que os resultados, é a forma de dividir o poder, a relação com a sociedade civil. Fatos que leva a uma mudança de cultura política na forma de governar, um governo democrático, além de popular, no sentido de priorizar os interesses da maioria da população. Também ser um governo voltado, desde o primeiro momento, sobre todas as questões estratégicas, a participação popular organizada e politizada. Lamentavelmente não tivemos isso num governo Lula.”


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos
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