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Bancos são multados em R$ 24,3 milhões

Por Altamiro Borges

Além das demissões constantes e do brutal arrocho de salários, os bancos não têm qualquer preocupação com a segurança dos bancários – nem dos seus clientes. Pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base em dados da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), revela que até novembro passado a Polícia Federal aplicou R$ 24,303 milhões em multas a 28 bancos que apresentaram falhas na segurança das agências e postos de atendimento.

Segundo reportagem da Agência Brasil, “o montante é 583,24% superior ao do ano passado, quando os bancos foram multados em R$ 3,557 milhões... A instituição que recebeu mais multas foi o Banco do Brasil, com um total de R$ 7,728 milhões, seguido pelo Bradesco, com R$ 5,566 milhões, o Itaú, com R$ 4,173 milhões, Santander, com R$ 3,711 milhões, Caixa Econômica Federal, com R$ 1,679 milhão, e o HSBC, com R$ 727 mil”. Para a Contraf, a questão da falta de segurança é um dos problemas mais sentidos pelos bancários na atualidade. 

“O aumento das multas revela, por um lado, que melhorou o trabalho da Polícia Federal e, por outro, que os bancos não priorizam a segurança dos estabelecimentos”, afirma Ademir Wiederkehr, diretor da entidade. “Os bancos enxergam a segurança como custo, que pode ser reduzido para aumentar ainda mais os lucros, e por isso agem com negligência, em vez de respeitar a legislação e fazer os investimentos para prevenir assaltos e sequestros e proteger a vida dos bancários, vigilantes e clientes”.

De fato, os lucros dos banqueiros seguem nas alturas. De acordo com estudo do Dieese, com base nos balanços publicados no primeiro semestre deste ano, os seis maiores bancos lucraram R$ 29,6 bilhões e aplicaram somente R$ 1,6 bilhão em despesas com segurança e vigilância, o que representa uma média de 5,4% na comparação entre os lucros e os gastos com segurança. O resultado deste descaso é que apenas no primeiro semestre deste ano, 30 pessoas morreram em assaltos nos estabelecimentos bancários.

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GM demite na véspera do Ano Novo

Por Altamiro Borges

De forma covarde e cruel, a multinacional estadunidense GM demitiu centenas de operários da unidade de São José dos Campos, no interior paulista, neste final de semana. Os metalúrgicos foram avisados por telegrama da sua dispensa na véspera do Ano Novo. O facão atingiu os trabalhadores da linha de montagem de veículos de passageiros (MVA), onde era fabricado o modelo Classic. "A decisão nos pegou de surpresa", afirma Antônio Ferreira Barros, presidente do sindicato da categoria.

Segundo relato do Estadão, "os trabalhadores receberam telegramas informando que a partir de 31 de dezembro eles estarão demitidos". O sindicato, filiado à CSP-Conlutas, sequer foi comunicado sobre os cortes e ingressará na Justiça do Trabalho exigindo o cancelamento das "demissões em massa". A entidade ainda não tem informações seguras sobre o total de atingidos, mas o setor empregava 750 operários, sendo que 304 já tinham aderido ao programa de demissão voluntária. O restante estava em licença remunerada e deveria iniciar um período de férias coletivas entre os dias 2 e 20 de janeiro.

Numa nota lacônica, a GM apenas informou "o encerramento das atividades da linha de montagem de veículos de passageiros (conhecida como MVA)". Já o diretor de assuntos institucionais da empresa, Luiz Moan, ainda tentou queimar a direção do entidade da categoria: "Estamos cumprindo o acordo assinado com o sindicato em janeiro deste ano". O líder sindical Antônio Ferreira Barros rechaça a insinuação e lembra que as demissões ocorrem quatro dias após o governo decidir voltar a cobrar, de forma gradual, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Segundo afirma, a volta da cobrança do imposto em duas etapas estaria vinculada ao compromisso de manutenção de empregos nas montadoras. "Esse será o argumento do sindicato para contestar judicialmente as demissões. Na sua avaliação, com os cortes na GM, esse compromisso teria sido quebrado". Na prática, a multinacional ianque - a exemplo das outras montadoras de automóveis - faz chantagem com os empregos dos trabalhadores para obter novas vantagens do governo federal.

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As vitórias do sindicalismo em 2013

Por Viviane Claudino, na Rede Brasil Atual:

Campanhas de bancários, químicos, metalúrgicos, petroleiros e trabalhadores nos Correios, no segundo semestre de 2013, resultaram em um acréscimo nos salários de aproximadamente R$ 12 bilhões. A média de aumento real (acima da inflação) dessas categorias profissionais pode ser calculada entre 1 e 1,5 ponto percentual, segundo o Dieese. O percentual é menor, se comparado ao mesmo período do ano anterior, que apresentou ganhos nos salários acima da inflação entre 2 e 2,5 pontos. Mas, segundo análise do coordenador técnico sindical do Dieese, Airton Gustavo dos Santos, o resultado é positivo considerando a situação da economia e a resistência patronal.

"No começo deste ano, a projeção para crescimento econômico brasileiro estava entre 4% e 4,5%, mas ao longo do ano foi ficando mais claro que seria difícil alcançar essa meta e as negociações se dificultaram. Com a nova perspectiva econômica que começou a se desenhar, o setor patronal começou a ficar com o pé atrás e mais resistente. Podemos dizer que as negociações do segundo semestre foram mais difíceis do que as do primeiro, mas mesmo com ganhos reais menores as categorias tiveram reajustes significativos", avalia Santos.

Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), havia 513 mil bancários no Brasil em 2012 . Com o reajuste de 8% nos salários da categoria, estima-se a injeção de aproximadamente R$ 2,8 bilhões na economia até agosto do ano que vem. A quantia é 14,5% maior do que a do ano passado. Somada a participação nos lucros ou resultados (PLR), o valor sobe para R$ 8,7 bilhões. Para se ter ideia, os lucros do Bradesco e Santander, no primeiro semestre de 2013, totalizaram R$ 8,8 bilhões. O do Itaú, R$ 7,1 bilhões.
Acordos nacionais

“Foi uma das campanhas mais difíceis que já tivemos. Os bancos tinham uma estratégia muito bem desenhada com o terrorismo da inflação, mas nós olhávamos sempre para os altos lucros do setor financeiro, que vai bem em qualquer situação”, disse o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Carlos Cordeiro. Ele também destaca a inclusão de cláusulas em convenção coletiva, como a proibição do envio de torpedos aos bancários fora do horário de trabalho e adesão ao Programa Vale-Cultura, que proporciona R$ 50 por mês para trabalhadores com salários até R$ 3.390 para ser usado em bens e atividades culturais.

No setor estatal, de acordo com estimativas do Dieese, os reajustes alcançados pelos trabalhadores dos Correios e pelo petroleiros somam aproximadamente R$ 130 milhões mensais – Correios, R$ 31 milhões, e petroleiros, R$ 98 milhões. A estimativa leva em consideração o salário médio, antes e depois dos reajustes, e o número de trabalhadores em cada segmento.

Com data-base em 1º de agosto, os funcionários dos Correios viram novamente a campanha salarial terminar sem acordo negociado diretamente entre as partes. A direção da empresa ingressou com dissídio coletivo no Tribunal Superior do Trabalho (TST), que determinou reajuste de 8% para os 122 mil funcionários em todo o país.

Na Petrobras, o resultado econômico "relativamente satisfatório" não é a principal conquista dos trabalhadores em 2013, segundo o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes. "Para nós, o grande avanço foi pactuar um seguro para os terceirizados, tendo em vista que é muito comum as empresas contratadas não pagarem a esses trabalhadores direitos básicos, como 13º salário ou férias, quando expiram os seus contratos."

De acordo com a FUP, a categoria é formada por aproximadamente 85 mil trabalhadores diretos e outros 300 mil terceirizados. A nova cláusula de convenção coletiva garante a criação de um seguro, para onde será destinado de 1% a 5% do valor dos contratos de empresas terceirizadas com a Petrobras. “Há mais de seis anos tentamos fechar algum acordo neste sentido e agora os direitos desses trabalhadores estarão garantidos”, disse Moraes.

Os petroleiros tiveram reajuste de 8,56% na remuneração mínima por nível e regime (RMNR), o que representa aumento real entre 1,82% e 2,33%. Mas também garantiram avanços no plano de cargos e salários e implementação de auxílio-medicamento, que funcionará como um plano de assistência médica, em que a empresa custeia mensalmente uma determinada quantia, para não haver mais custos com medicamentos. Em troca, os trabalhadores terão desconto fixo mensal de R$ 2,36 a R$ 14,17, de acordo com a faixa de renda. “Foi uma ótima campanha, não só do ponto de vista econômico, que sem dúvida apresenta ganhos reais consideráveis, mas também em direitos estruturantes”, avalia o coordenador-geral da FUP.


Indústria paulista
O resultado da campanha salarial dos trabalhadores dos ramos químico, cosmético e plástico do estado de São Paulo representará impacto mensal de R$ 61 milhões, segundo levantamento do Dieese, com base em dados da Rais e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Em 12 meses concluídos em outubro de 2014, os ganhos serão de aproximadamente R$ 817 milhões.

“Desde o governo Lula, em 2003, tivemos quase 25% de aumento real e, assim, conseguimos repor parte das perdas que tivemos durante o governo FHC. Nosso grande desafio era manter essa conquista, porque esse é o grande ganho, não perder de vista a reposição da inflação e aumento real nos salários”, afirma o coordenador-geral da Federação dos Trabalhadores do Ramo Químico no Estado de São Paulo (Fetquim-CUT/SP), Raimundo Suzart.

Com data-base em 1º de novembro, os químicos tiveram reajuste de 7,5% nos salários, sendo 1,8% aumento real.

Já o reajuste de 8% obtido pelo 259 mil metalúrgicos do estado de São Paulo, da base da CUT, vai representar cerca de R$ 929 milhões na economia de 47 municípios, até a próxima campanha salarial. O valor é 22% superior ao do ano passado, segundo levantamentos da subseção do Dieese na Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT) e da federação estadual da categoria (FEM-CUT).

“Conquistar 1,82% de aumento real, sem dúvida, reflete um dos maiores acordos. Além disso, a campanha foi vitoriosa no campo social, porque conquistamos avanços importantes nos direitos que beneficiaram as mulheres metalúrgicas, estudantes e os trabalhadores do chão de fábrica em geral”, afirma o presidente da FEM-CUT, Valmir Marques da Silva, o Biro Biro. “Os resultados financeiros são muito importantes, mas essa é uma disputa de renda que devemos fazer em toda a sociedade, porque o único caminho para a construção de um país justo é a distribuição e valorização da renda dos trabalhadores."

Em andamento
Entre as principais campanhas deste período também estão os comerciários, com data base em 1º de setembro. As reivindicações de aproximadamente 2,5 milhões de trabalhadores, representados pela Federação dos Empregados no Comércio no Estado de São Paulo, foram entregues em 5 de agosto, mas a campanha ainda não foi concluída. Alguns sindicatos que representam os trabalhadores dos segmentos varejista e lojista estão fechando acordo com reajuste de 8,5%.
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Pão de Açúcar explora adolescentes

Por Igor Ojeda, no sítio Repórter Brasil:

O supermercado Pão de Açúcar é “lugar de gente feliz”, diz o comercial na TV. Clientes felizes e ecologicamente sustentáveis encontram, em qualquer loja da rede, funcionários igualmente felizes e ecologicamente sustentáveis sempre dispostos a atendê-los.

De acordo com a juíza Francieli Pissoli, da 5ª Vara do Trabalho de Ribeirão Preto (SP), no entanto, a realidade é um pouco diferente. Em decisão de novembro deste ano, ela concedeu liminar favorável ao Ministério Público do Trabalho (MPT) determinando ao Grupo Pão de Açúcar (GPA) que deixe de praticar uma série de irregularidades trabalhistas, entre estas, a submissão de jovens aprendizes a desvios de função e de seus funcionários em geral a jornadas excessivas. As violações foram flagradas por auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) na loja do grupo localizada na avenida João Fiúsa, na Zona Sul de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.


Segundo a fiscalização, a gerência da unidade obrigava os adolescentes contratados pelo programa de aprendizagem a trabalhar como caixas e empacotadores, em períodos noturnos e em regime de compensação de jornada, condições não permitidas pela legislação brasileira. Além disso, a empresa não cumpria o número mínimo de 5% de aprendizes em relação ao total do quadro de empregados.

De acordo com a fiscalização do MTE, além de desrespeitar as violações dos direitos dos adolescentes aprendizes, o Pão de Açúcar Fiúsa, como a unidade era conhecida, não cumpria com algumas obrigações trabalhistas dos funcionários adultos. Extensão de jornadas acima do permitido, ausência de intervalos regulares e descanso semanal, e falta de registro de horário de entrada e saída dos empregados foram algumas das práticas flagradas.

Em nota enviada à reportagem, o Grupo Pão de Açúcar afirma que cumpre a legislação trabalhista e “repudia qualquer situação de violação aos seus preceitos”. Sobre os adolescentes, a rede garante que seu programa direcionado a aprendizes possui diretrizes “orientadas pelas leis vigentes”, o objetivo de “possibilitar a entrada desses jovens no mercado de trabalho” e a premissa do “desenvolvimento e aperfeiçoamento profissional dos participantes da iniciativa”.

A Ação Civil Pública (ACP) havia sido ajuizada pelo procurador Henrique Lima Correia, da Procuradoria do Trabalho do Município de Ribeirão Preto, após o Pão de Açúcar ter se negado a firmar um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) proposto por Correia. “As denúncias de irregularidades chegaram a nós através do site da Procuradoria. Chamei o Pão de Açúcar para se manifestar sobre elas. Se fossem verdadeiras, que firmássemos um acordo extrajudicial, um TAC. A empresa negou que houvesse irregularidades e não aceitou firmar o TAC. Então requisitei uma fiscalização junto aos fiscais do trabalho. Esta foi feita e foram constatadas várias irregularidades”, explica o procurador à Repórter Brasil.

Uma vez flagradas as violações, e como a rede de supermercados já havia se recusado a firmar qualquer acordo extrajudicial, Correia decidiu entrar com a ação solicitando, por meio de antecipação de tutela, que a empresa imediatamente cessasse de realizar tais práticas irregulares. “Em razão das graves irregularidades, além de pedir para que fosse regularizado tudo isso, solicitei à Justiça a condenação, por danos morais coletivos, ao pagamento de R$ 400 mil”, esclarece o procurador. Caso o Judiciário condene o Pão de Açúcar, esse valor será revertido ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

A inspeção à unidade do Pão de Açúcar na Zona Sul de Ribeirão Preto, realizada pela Gerência Regional do Trabalho e Emprego (GRTE) do município, teve como resultado 11 autos de infração. Foram encontrados jovens aprendizes em jornadas abusivas e trabalhando em horários noturnos – depois das 22 horas. Além disso, os auditores verificaram que adolescentes estavam incluídos em banco de horas, que controlava a realização de horas-extras e a concessão de folga compensatória.

“Registre-se que a situação ora autuada contraria o disposto no artigo 432, caput, da CLT [Consolidação das Leis do Trabalho], que assim dispõe: ‘A duração do trabalho do aprendiz não excederá de seis horas diárias, sendo vedadas a prorrogação e a compensação de jornada’”, argumenta a ação ajuizada pelo procurador Henrique Lima Correia.

Trabalho infantojuvenil
A psicóloga Fabrícia Rodrigues Amorim Aride, estudiosa da questão do trabalho adolescente, lamenta que o caso do Pão de Açúcar não seja isolado. Segundo ela, há no Brasil uma cultura de valorização do labor de crianças e adolescentes como um meio de afastá-los da ociosidade e da possível delinquência, e, quando vinculado às tradições familiares de organização econômica, fazê-los aprender um ofício e auxiliar na mão de obra familiar. “Em contrapartida, pode ocorrer a exploração da mão de obra infanto-juvenil, legitimada pelo governo, que muitas vezes é a única forma de sustento formal da família”, pondera.

De acordo com a psicóloga, apesar de trazer um retorno imediato, o trabalho nessa idade pode ter consequências de longo prazo. “Por exemplo, abandono escolar e diminuição da interação social devido ao cansaço físico, afastamento de amigos que passam a ver esse jovem de uma forma diferente (e ele também pode passar a se ver dessa maneira) e, entre outras questões, inserção precoce nas angústias características dos trabalhadores.”

Além disso, segundo ela, a entrada dos jovens no mercado de trabalho geralmente não traz a possibilidade de ascensão social, perpetuando, desse modo, a pobreza e a desigualdade social. “Infelizmente, pode-se dizer que os jovens de baixa renda sofrem mais impactos negativos do que os jovens de classes mais privilegiadas, visto que aos segundos são dadas possibilidades de aprendizagens bem diferenciadas, como por exemplo, cursos, intercâmbios, viagens, enquanto aos primeiros, as atividades profissionalizantes que funcionam sob a égide ‘mente vazia é oficina do Diabo’”, analisa Fabrícia.

Aprendizagem
De acordo com a legislação brasileira, não é permitido empregar jovens de idade inferior a 18 anos em trabalhos noturnos, perigosos ou insalubres. Adolescentes de 16 anos ou menos não podem ser contratados para nenhum trabalho, salvo na condição de aprendiz, permitida a partir dos 14 anos. Segundo o MTE, “aprendiz é o empregado com um contrato de trabalho especial e com direitos trabalhistas e previdenciários garantidos. Parte do seu tempo de trabalho é dedicada a um curso de aprendizagem profissional e outra é dedicada a aprender e praticar no local de trabalho aquilo que foi ensinado nesse curso”.

A aprendizagem foi estabelecida oficialmente no Brasil pela Lei 10.097/ 2000 e regulamentada pelo Decreto 5.598/2005. Lei e decreto determinam que qualquer empresa de médio e grande porte é obrigada a contratar adolescentes e jovens entre 14 e 24 anos, cujo contrato terá, no máximo, dois anos de duração.

Ao mesmo tempo, estes devem ser matriculados em cursos de aprendizagem ministrados por instituições qualificadoras reconhecidas, que serão as responsáveis pela certificação – por exemplo, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), escolas técnicas e entidades sem fins lucrativos que tenha como objetivo a educação profissional. A carga horária máxima é de seis horas diárias, podendo chegar a oito caso estejam incluídos os períodos dedicados ao aprendizado teórico. “A aprendizagem deve ter caráter mais pedagógico do que de trabalho. As funções que os adolescentes estavam ocupando na loja do Pão de Açúcar de Ribeirão Preto não eram condizentes com a aprendizagem”, explica o procurador do trabalho responsável pela ação.

Para Fabrícia, a regulamentação da aprendizagem pelo governo federal foi uma iniciativa importante, que propiciou a legalização e o reconhecimento dos direitos dos adolescentes, uma vez que, segundo ela, o trabalho é uma atividade estruturante da vida e tem importância fundamental na construção da identidade do jovem. “Entretanto, não há uma lei que defina o que de fato seja o trabalho educativo e imponha limites a ele. Observamos, por exemplo, jovens universitários trabalhando em organizações sem ligação nenhuma com sua futura formação profissional, e acobertando um problema ainda mais amplo: a ausência de contratações efetivas pelas instituições. Portanto, essa é uma questão que não se restringe apenas aos jovens do programa”, alerta.

Pão de Açúcar

De acordo com sua própria página na internet, o Grupo Pão de Açúcar – empresa do Grupo Casino, de origem francesa – é um dos líderes mundiais no varejo de alimentos. É a maior companhia da América Latina no setor, com quase 2 mil pontos de venda e mais de 155 mil funcionários. Controla ainda estabelecimentos como Extra, Casas Bahia e Ponto Frio. Em 2012, registrou lucro recorde: R$ 1,1 bilhão, crescimento de 60,7% em relação ao ano anterior. Em 2013, os primeiros nove meses já renderam R$ 709 milhões, alta de 14,8% em comparação ao mesmo período do ano passado.

No tópico “Missão, visão e pilares” de seu site, o grupo chama seus trabalhadores de “nossa gente”, que são, de acordo com o site, “profissionais com excelência técnica, bem preparados e motivados para assumir desafios, riscos e atitudes inovadoras. Pessoas que gostem de servir, que valorizem o respeito em suas relações internas com o cliente, fornecedores e parceiros”. Entre os princípios da empresa, figuram, entre outros, a garantia de que “nossa gente é gente que faz a diferença” e o compromisso “com o crescimento de uma sociedade justa, humana e saudável”. Sobre o Instituto Pão de Açúcar, voltado à responsabilidade social, o GPA diz que “acredita e sempre trabalhou com foco no potencial humano, acreditando que, quando estimulada, sua força latente se revela e dá novos sentidos a vida”.

Já a unidade Fiúsa, de Ribeirão Preto, foi inaugurada em novembro de 2009. De acordo com informações da imprensa da época, foi a segunda do grupo na cidade e o primeiro “supermercado Verde” local: foram investidos R$ 11 milhões para que todas as etapas da implementação da loja fossem concebidas sob critérios de responsabilidade socioambiental, segundo a empresa.
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McDonald´s sem sabor de passividade

Por Gabriela Leite, no sítio Outras Palavras:

Os quase invisíveis funcionários de fast foods norte-americanos estão organizando-se para chamar a atenção para que seus direitos sejam reconhecidos. Em 5 de dezembro, atendentes de redes como McDonald’s, Burger King, KFC e Wendy’s de mais de 100 cidades dos Estados Unidos não apareceram nas lanchonetes. Organizaram-se, à sua maneira, em cada parte do país, exigindo melhores salários e o direito de poderem se sindicalizar. De flash mobs a cartazes luminosos e fantasias irônicas de Ronald McDonald e Tio Sam, levantaram uma mesma bandeira: o aumento do salário mínimo para 15 dólares por hora - mais que o dobro dos U$7,25 atuais, piso salarial norte-americano, equivalentes a R$ 16,80.

O movimento começou com uma pequena marcha em Nova York, em novembro de 2012, com trabalhadores das redes KFC, McDonald’s e Burger King. Já protestavam pelo aumento do salário para 15 dólares por hora, e chamavam a atenção para como é impossível viver em condições materiais dignas com um destes empregos. Em agosto deste ano, os protestos aumentaram: aconteceram em mais de 60 cidades norte-americanas.

Você pode não reparar, mas os sanduíches de aparência plastificada são montados e servidos por mãos humanas. E, apesar de haver um mito de que este é um emprego para jovens e profissionais iniciantes, os números mostram exatamente o contrário: a maior parte dos funcionários têm mais de 25 anos e em torno de 68% deles são os principais responsáveis pela renda de sua família. Muitos têm filhos e cumprem jornada dupla para poder manter suas casas.

Paul Krugman, Nobel de Economia, lembra que, assim como a maioria dos trabalhadores pobres, os funcionários do varejo têm sofrido perdas graves, nos Estados Unidos — uma nação cada vez mais desigual. Apesar da crise, a economia é, hoje, muito maior do que há quarenta anos. Porém, os salários nas empresas varejistas (algumas delas, gigantes globais como McDonald’s e WalMart) representam, hoje, 30% menos do que em 1973 — quando já não eram grande coisa. O salário mínimo nacional nos EUA é de U$7,25 por hora (em alguns estados é um pouco maior), e os atendentes de fast food recebem, se tanto, apenas alguns centavos a mais. O Instituto de Políticas Econômicas dos EUA concluiu que, se o mínimo aumentasse para U$10,10, beneficiaria diretamente 30 milhões de trabalhadores.

Apesar da crença de que salários mais altos resultariam num aumento do preço dos produtos ou na inviabilidade financeira das cadeias de restaurantes, Krugman mostra, por meio de pesquisas, que isso não é verdade. Para ele, é necessário que, além da elevação do mínimo, existam e sejam ampliados programas de assistência médica e alimentar (nos EUA, existem os food stamps, que são algo com um vale refeição oferecido pelo governo aos mais pobres).

Mas afirmar a inviabilidade do aumento do salário dos funcionários, sob o pretexto de que os alimentos ficariam mais caros é, no mínimo, muito mesquinho. Isso fica explícito quando se compara o que ganham o caixa de um McDonald’s e o presidente da empresa. Um atendente tem de trabalhar quase quatro meses para alcançar o que James Skinner, o útimo CEO da rede cujos dados estão disponíveis, ganhava em uma hora. Segundo a Fast Food Forward, movimento de trabalhadores de fast food novaiorquinos, a média de salário de um presidente destes restaurantes é de U$25 mil por dia. E toda esta indústria recebe, aproximadamente, 200 bilhões de dólares a cada ano.

É por causa desta desigualdade que, normalmente, um funcionário não poderia parar para fazer greve por um dia — isso significaria 50 dólares a menos em sua renda. Por isso, grupos ativistas como a Fast Food Forward e Fight For 15, auxiliados por sindicatos, fundações e organizações de base, financiaram a paralisação.

O McDonald’s, que costuma reprimir e penalizar trabalhadores que se organizam, acredita cinicamente que eles têm melhores maneiras de aproveitar os poucos dólares que ganham. Em um site de recursos humanos dirigido aos funcionários, sugeriu-se que cortassem sua comida em pedaços, para que rendesse mais. E se estivessem com problemas financeiros, a dica era vender alguns de seus bens em sites especializados. Além disso, alertava-se: reclamar demais pode ser perigoso por causar grande aumento do hormônio do stress — a recomendação era que cantassem, para esquecer dos problemas.

Seria interessante se o movimento reivindicatório dos EUA chegasse ao Brasil. Em São Paulo, em maio do ano passado, o McDonald’s assinou um acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Bares, Lanchonetes e Restaurantes de São Paulo (Sinthoresp), regularizando as jornadas de trabalho e salários fixos de seus funcionários. Antes disso, os funcionários tinham horários de trabalho irregulares e eram obrigados a ficar à disposição da empresa. Nesta época, o piso de um trabalhador de 44 horas semanais era quatro vezes menor que o de seu colega nos EUA: R$ 769,26 — cerca de 4 reais por hora (ou U$1,72, considerando o dólar a R$2,34). A exploração, como se vê, também é devidamente exportada.
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Trabalho escravo está na moda

Por Tiago Muniz Cavalcanti, no sítio Repórter Brasil:

Se o assunto é a transformação da realidade social, a dissimulação é a tônica dentre os detentores do poder econômico. O discurso é o mesmo e já não comove: prega-se o respeito ao meio ambiente, à concorrência leal e às leis trabalhistas. A sustentabilidade do desenvolvimento sob os aspectos ambiental, econômico e humano tornou-se lugar-comum de uso proveitoso, sem o qual não se atinge a desejável respeitabilidade da opinião pública. São palavras ao vento com interesses econômicos acaçapados.

É assim na indústria da moda. Grandes grifes hasteiam a bandeira da responsabilidade social, do respeito, do comportamento ético e do compromisso com a verdade. Criam códigos de conduta que contemplam missões, valores e princípios dignos de um Estado Democrático de Direito e, com isso, vinculam sua imagem à probidade, ao decoro e aos direitos humanos. Contam com público fiel à marca e ao estilo de vida que lhe corresponde.

Mascara-se, no entanto, uma realidade cruel e pungente: uma produção barata e degradante. Pulveriza-se intensamente a cadeia produtiva: contrata-se e subcontrata-se, dissipando-se os riscos da atividade. Negocia-se a prestação dos serviços sob o rótulo de relações estritamente comerciais. Paga-se pouco, muito pouco: o limite necessário para garantir o lucro máximo.

A consequência não é outra, senão uma tragédia social. Milhares de costureiros, brasileiros e imigrantes, homens e mulheres, socialmente vulneráveis, submetidos a condições de trabalho ofensivas à dignidade. Espremidas em um pequeno imóvel localizado na zona central da cidade de São Paulo, as famílias residem em habitações coletivas e trabalham diuturnamente em manifesta degradação, expostas a riscos iminentes de incêndio e eletrocussão.

À geração de riquezas econômicas não corresponde correlata inserção social da pessoa trabalhadora, função primária da labuta humana. Trata-se de trabalho escravo na cadeia das grifes de grande renome e indubitável solidez econômica. Uma escravidão estrutural, pautada na degradação humana. Uma escravidão perspicaz, cuja vítima desconhece seu algoz. Uma escravidão social pós-moderna, onde os grilhões não estão visíveis aos olhos da sociedade. Uma escravidão impune.

Trabalho escravo contemporâneo
Não raro, os escravagistas pós-modernos, que ditam as regras de um mercado nefasto, saem ilesos nas ações judiciais que lhes são movidas. Mais das vezes, o Judiciário afasta a responsabilidade jurídica daqueles que contribuem diretamente para o ilícito, seja por desconhecer o conceito contemporâneo de trabalho escravo, seja por aceitar as escusas defensivas das grandes grifes, que possuem notória capacidade de mobilização político-jurídica em prol dos seus interesses e invariavelmente alegam desconhecimento do fato. Seja, ainda, por pura ideologia.

Foi o que ocorreu em recente decisão do TRT da 2ª Região (São Paulo/SP) que, em sede de mandado de segurança, utilizado como via de recorribilidade interlocutória, já prejulgou o caso posto e afastou a responsabilidade da grande grife. Os fundamentos não são novos: os trabalhadores resgatados possuíam “empresa regularmente constituída”; inexistência “de qualquer forma de intimidação visando restringir a liberdade de locomoção”; e, mais grave, nas condições a que estavam submetidas as vítimas, “vive grande parte da população brasileira”. Como se vê, a decisão mostra-se conservadora sob os aspectos jurídico e social.

A primazia da realidade cedeu à roupagem do formalismo e ao tecnicismo da teoria geral dos contratos mercantis. Desconsiderou-se a robustez das provas colhidas na diligência promovida pelos órgãos públicos fiscalizadores, que não deixava margem a dúvidas quanto ao comando e logística traçados pela grife, beneficiária direta da mão de obra das vítimas que produziam exclusivamente para a marca.

Dignidade humana
Olvidou-se o emérito julgador que o bem jurídico tutelado pelo trabalho escravo se transmudou na sua acepção contemporânea. Atualmente, não mais se exige a presença de instrumentos restritivos da liberdade, como práticas usuais de outrora, mas condições aviltantes à dignidade da pessoa trabalhadora provenientes da disparidade socioeconômica entre vítima e escravocrata moderno. A dignidade humana passou a ser, portanto, o bem jurídico protegido pelo crime de redução à condição análoga à de escravo, podendo ser atingida – inclusive, e não apenas – pela restrição da liberdade de ir e vir.

O último fundamento da decisão talvez seja o mais preocupante, pois traz consigo um preconceito ínsito. Um preconceito de classe. Afastar a característica degradante pelo simples fato de que grande parte da população brasileira também vive em condições precárias, inseguras e compartilhando cômodos revela o pensamento excludente que pauta grande parte da elite brasileira. Trocando em miúdos, é dar aos pobres a pobreza; aos miseráveis, a miséria.

É mais aceitável absolver do que condenar. É mais fácil não enxergar o elo existente entre as regras impostas de cima para baixo e as condições precárias de trabalho. É mais confortável virar as costas para o necessário processo de aprimoramento contínuo de uma cadeia marcada pela escravidão pós-moderna.

É inegável que a tomadora final dos serviços prestados lá embaixo, em condições subumanas, se omitiu no seu dever social, jurídico e cívico de conhecer os métodos materiais e humanos utilizados para a confecção dos produtos que encomenda. Não se preocupou em aferir a real capacidade produtiva daqueles que lhe prestam serviços e não teve interesse, sequer, em verificar como seu produto foi fabricado. Beneficiou-se diretamente da força de trabalho de toda a cadeia produtiva, mas deliberadamente fechou os olhos para as condições da produção, pondo-se em condição de ignorância. Trata-se de uma cegueira absolutamente proposital em face daquilo que ocorre ao seu redor.

A situação exige reflexão. Demanda colaboração da sociedade civil organizada, dos órgãos públicos responsáveis pela luta contra a escravidão e, especialmente, do Judiciário. Impõe-se que os magistrados assumam um papel político proativo, tomando para si o dever de contribuir para a transformação da realidade social. É mister, em arremate, desvelar a omissão culposa da elite da moda e arrebentar os grilhões camuflados que acorrentam milhares de trabalhadores brasileiros.

* Tiago Muniz Cavalcanti é procurador do Trabalho em São Paulo e membro da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conaet) do Ministério Público do Trabalho
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Direitos dos trabalhadores são atacados

Por Artur Henrique, na revista Teoria e Debate:

A luta de classes está cada vez mais presente no dia a dia dos trabalhadores e trabalhadoras ao redor do mundo, apesar de alguns se esquecerem dessa realidade.

O capitalismo globalizado e suas grandes corporações estão pondo em risco a própria democracia, em nome da tal “competitividade”. Ao atacar direitos dos trabalhadores em vários países do mundo, estão alimentando a fome, a miséria, a desigualdade e os conflitos sociais. Não é por menos que temos assistido ao aumento da violência, da criminalização dos movimentos sociais e dos protestos.

Exemplos desses ataques não faltam. Começo pela pressão que empresários e alguns governos vêm fazendo na Organização Internacional do Trabalho (OIT) no sentido de flexibilizar o direito de greve e aprovar novas “recomendações” de que em situações de crise (capitalista, financeira, de modelo, neoliberais etc.) as empresas e governos possam fazer ajustes, leia-se cortes de salários e benefícios sem a necessidade de negociação com os sindicatos.

O caso mais gritante, fruto da crise financeira de 2008, se dá na Europa. Desemprego de 25%, entre a juventude quase 50%, eliminando a perspectiva de futuro para milhares de jovens.

Em Portugal, por exemplo, o secretário de Administração Pública, responsável pelo Orçamento do Estado (OE), abriu a possibilidade de renegociar o famoso artigo 33 da Lei do Orçamento: “Corte de 2,5% a 12% nos salários de servidores públicos que ganham mais que є 600 por mês”. Nas diretrizes do OE pode-se ler claramente: “(...) o objetivo da revisão da tabela remuneratória não é tornar os cortes definitivos, mas torná-la mais 'competitiva'”.

O Estado de Bem-Estar Social está sendo desmontado, junto com as bases que criaram a OIT: no pós-guerra, como instrumento de fortalecimento do diálogo social entre trabalhadores, empresários e governos, num esforço de reconstrução das relações entre Estado e sociedade.

As teses, convenções e resoluções da OIT apontavam para a necessidade de que os direitos dos trabalhadores deveriam ser considerados como direitos humanos.

Entre as convenções fundamentais estão a 87, que trata da liberdade sindical, e a 98, que garante a negociação coletiva. A primeira deixa claro que são os próprios trabalhadores que devem decidir como querem se organizar e se financiar, sem interferência do Estado, de governos ou de partidos políticos; a segunda trata do direito a negociação e a contratação coletiva, como forma de regular as relações de trabalho.

Contra essas convenções internacionais insurgem-se empresas como a Nissan, que se opõe à sindicalização de trabalhadores, ou mesmo governos estaduais nos EUA e Canadá que lançam a “campanha”: você tem o direito de trabalhar nas férias, grávida, quantas horas por dia você quiser sem um sindicato para “impedir”.

Inclusive naqueles países que ratificaram essas convenções presenciamos práticas em que a regulamentação dessas leis impede sua implementação, como na maioria dos países da América Central e América do Sul.

Isso tudo sem falar dos crimes, assassinatos e ações antissindicais que aumentam cada dia mais em países como Colômbia, Guatemala e Paraguai, só para ficar nos exemplos mais recentes.

Mesmo no Brasil, basta uma rápida passagem pelos corredores do Congresso Nacional para assistir ao verdadeiro ataque aos direitos dos trabalhadores, patrocinado por empresários e sua “pauta legislativa”: aumento da terceirização, lei de greve para servidores públicos – em vez de regulamentação da Convenção 151 da OIT –, Simples Trabalhista e tantas outras.

Apesar de muitos avanços conquistados pela classe trabalhadora nos últimos anos em vários países do mundo, em especial na América Latina, está mais do que na hora de impedir essa irresponsabilidade social da ganância, da usura, do lucro a qualquer preço, da retirada de direitos, da flexibilização em nome da “competitividade”, antes que seja tarde demais e a barbárie se instale de vez.
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A pressão pela CPI do helicóptero do pó

Por Rogério Hilário, no sítio da CUT Minas Gerais:

A Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais e mais 15 sindicatos lançaram e apresentaram à imprensa, nesta quinta-feira (5), na Assembleia Legislativa, um manifesto que cobra dos deputados estaduais a instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Helicóptero. O manifesto foi assinado pela CUT/MG e as entidades sindicais e mais assinaturas serão coletadas no movimento sindical, movimentos sociais e populares.


A central, sindicatos e movimentos sociais vão procurar os deputados estaduais para que 26 deles assinem um requerimento da CPI. Uma barraca foi instalada na Praça Sete, região central de Belo Horizonte, para coletar em torno de 100 mil assinaturas em um abaixo-assinado que pede que a Assembleia Legislativa esclareça para o público como um funcionário contratado pela casa se envolveu com o tráfico de drogas e por que se permitiu o uso de verba pública para abastecer o helicóptero da empresa do deputado Gustavo Perrella prestar um serviço particular. A aeronave, apreendida pela Polícia Federal no Espírito Santo, transportava quase meia tonelada de cocaína.

“Queremos cobrar uma postura da Assembleia, uma resposta mais objetiva e transparente. Houve uma sucessão de escândalos e nada aconteceu nesta casa. Os deputados não se manifestaram. Já fizemos a proposta de requerimento e vamos colher assinaturas dos deputados. Vamos fazer este debate antes que nada seja feito. Não temos prazo para terminar a coleta de assinaturas da população em um abaixo-assinado pela instauração da CPI. Uma barraca já foi instalada na Praça Sete. Começamos agora e queremos fortalecer o movimento. Quanto ao manifesto, vamos buscar o apoio de mais sindicatos, movimentos sociais, entidades como a OAB. O que aconteceu foi muito grave. O piloto foi contratado e demitido, mas não foi ouvido pelos deputados. Um deputado é proprietário de um veículo em que foram apreendidos quase meia tonelada de cocaína e usou verba pública em frete particular. A empresa é a mesma envolvida na fraude da merenda escolar. Houve malversação de dinheiro público e uma CPI faria uma apuração rigorosa”, disse a presidenta da CUT/MG e coordenadora-geral do Sind-UTE/MG, Beatriz Cerqueira.

“Houve quebra de decoro parlamentar, no mínimo. É inadmissível que os deputados continuem em silêncio. Há omissão nesta Casa. A Comissão de Ética não faz nada. Só existe morosidade, letargia. Não é só a Comissão de Ética que deveria estar atuando no caso. O que aconteceu é só a ponta do iceberg. É preciso uma apuração mais aprofundada do que uma simples Comissão de Ética. Por isso vamos mobilizar e conscientizar os deputados que que eles podem ser desmoralizados se não apurarem tudo. O caso envolve crime organizado, tráfico estadual. Acreditamos que em 30 dias podemos coletar 100 mil assinaturas no abaixo-assinado. A CUT/MG, os movimentos sociais e os sindicatos vão se revezar na barraca da Praça Sete e dialogar com a população, que está revoltada. Vamos mostrar aos parlamentares que o povo não está dormindo. Eles precisam tomar uma atitude. Sabem que no ano que vem tem eleição. Para nós o deputado e seu pai, o senador Zezé Perrella, deveriam ser cassados”, afirmou Denilson Martins, presidente do Sindpol.
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"McGreve" nas redes fast-food dos EUA

Por Eduardo Graça, na revista CartaCapital:

Sem uniformes, apoiados por uma legião de professores, estudantes universitários, manifestantes herdeiros do Ocupem Wall Street, grupos de defesa de imigrantes não-documentados, lideranças sindicais e um massa de trabalhadores “low-budget”, que recebem, dependendo do estado, entre 7 e 8 dólares por hora de trabalho, milhares de funcionários de empresas conhecidas dos brasileiros, como McDonald’s, Burger King, Wendy’s, Walgreens, Macy’s e Sears, tomaram as ruas de uma centena de cidades americanas na quinta-feira 5 exigindo o aumento do salário mínimo para 15 dólares por hora.

Era uma denúncia direta tanto do aumento da desigualdade social na maior economia do planeta quanto da resistência dos republicanos, maioria na Casa dos Representantes, equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, de sequer iniciar discussão sobre o tema, alarmados com a possibilidade da diminuição do ritmo da recuperação econômica do país.

Nas manifestações de peso em cidades tão diversas como Nova York, Chicago, Los Angeles, Boston, Detroit, Oakland, Charleston, Providence, Pittsburgh e Saint Louis, celebrou-se o discurso do presidente Barack Obama no dia anterior, em Washington, de defesa de um aumento imediato no salário-base federal de 1.250 dólares ao mês, mas pediu-se bem mais.

Na Praça Foley, no Centro Cívico de Manhattan, depois de sucessivos piquetes em frente aos restaurantes de fast-food localizados na vizinha Broadway, centenas de manifestantes enfrentaram o frio do outono nova-yorkino, animados por uma banda de rhythm & blues. O escritor e comediante de stand-up Ted Alexandro, de 44 anos, conhecido na cidade por conta de seus programas no canal de tevê Comedy Center, carregava um cartaz de protesto em que todos os Ms aparecem desenhados como se fossem o símbolo do Mc Donald’s.

“Para ajudar a pagar minha universidade, trabalhei em uma franquia do Burger King. Mas, com o aumento da desigualdade social nos EUA, a média de idade do trabalhador de lanchonetes nos EUA, hoje, é de 29 anos, bem menos jovens do que na minha época. Como é que uma pessoa vai sustentar sua família ganhando pouco mais de 1.000 dólares por mês? É impossível. A luta aqui, hoje, é, sim, dos funcionários de fast-food, mas você também vê esta gama de organizações na praça por conta da necessidade de se negociar logo um aumento do salário mínimo. Nós estamos conscientemente saindo às ruas, um dia depois do discurso do presidente Obama, para pressionar Washington”, disse, em meio a gritos de ordem que resumiam o pensamento do fim de tarde: “Os bancos foram resgatados, mas nós é que pagamos a conta”.

Além do minuto de silêncio por conta da morte do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, o outro instante em que os discursos na Foley se diversificaram em relação à primeira, e surpreendente, paralisação dos “assalariados por baixo” nova-yorkinos, em agosto, se deu com a celebração de apoio ao evento político de quarta-feira organizado pelo governo federal em Anacostia, um dos bairros mais pobres da periferia da capital americana. Na ocasião, em um discurso inflamado, Barack Obama afirmou que combater a desigualdade social é o “desafio que definirá nossa era” e que uma década de aumento com velocidade jamais vista na maior economia do planeta da disparidade entre ricos e pobres, “é uma ameaça real ao sonho americano”.

As agendas da Casa Branca e do movimento de trabalhadores não-sindicalizados se coincidiram por conta da necessidade de o governo recuperar o momento político depois de quase dois meses enredado no fiasco do lançamento do Obamacare, o projeto de reforma do combalido sistema de saúde do país. O governo ensaia um apoio formal à proposta dos senadores democratas, de elevação do mínimo para 10,10 dólares por hora, ainda bem abaixo do que pediam ontem as ruas dos maiores centros urbanos do país.

Na quarta-feira, Obama mencionou como principais injustiçados no mercado de trabalho americano, além dos enfermeiros (outro grupo presente em peso nas três passeatas de quinta-feira na Grande Nova York) e dos funcionários de shoppings e grandes lojas de departamento, os trabalhadores das redes de fast-food, historicamente afastados dos sindicatos por conta de característica específica do ramo: o gerenciamento dos negócios feitos por franquias, dissociadas umas das outras.

A primeira vez em que trabalhadores do setor cruzaram os braços nos EUA cerca de 200 funcionários de redes de fast-food deixaram de trabalhar por um dia em novembro de 2012, mobilizados por grupos locais como o Fast Food Forward (FFF) e o Fight for 15, hoje apoiados por centrais sindicais poderosas, como a União Nacional dos Professores, . “O que queremos, no fim, é um salário-base de 15 dólares/hora e o direito de nos sindicalizarmos”, dizia, em alto e bom som, microfone na mão, o dia todo, um dos principais organizadores da greve, Kendall Fells, principal líder do FFF.

A discrepância dos dois lados da pirâmide da indústria alimentícia nos EUA é denunciada pelos ativistas sem qualquer titubeio: enquanto CEOs de McDonald’s, KFC, Taco Bell, Pizza Hut e Red Olive aparecem na lista da revista “Fortune” recebendo salários de até 14 milhões de dólares por ano, pesquisa do Economy Police Institute revela que seus funcionários recebem 788 vezes menos. Mas o caldeirão só transbordou, reconhecem os organizadores da greve, por conta da recessão americana e do aumento do desemprego, que levou a idade média dos funcionários do setor, como apontada por Ted Alexandro, de 25 para 29 anos em meia década. Trinta e um por cento dos funcionários tem pelo menos um diploma universitário e mais de 25% da força de trabalho sustenta pelo menos uma criança com o salário recebido. É fato que nos últimos 14 anos nenhum setor da economia americana gerou mais postos de emprego. No entanto, a quase totalidade é de remuneração baixíssima.

Enquanto o lucro das empresas do setor foi estimado em 7,4 bilhões de dólares em 2013, os organizadores da greve dizem que quase 60% dos trabalhadores dependem do vale-alimentação do governo federal para abastecerem as geladeiras. Alem do mais, frisou um dos donos da Zingerman’s Deli, em Ann Arbor, Michigan, Paul Saignaw, em entrevista à “The Nation”, em frase poderosa: “É, no mínimo, uma vergonha termos funcionários de lanchonetes e restaurantes passando fome”. Os benefícios trabalhistas praticamente inexistem. De acordo com o National Employment Law Project, os custos para o contribuinte americano com os tratamentos de saúde apenas de funcionários do McDonald’s e seus dependentes chega a 1,2 bilhão de dólares.

Um dos maiores grupos lobistas de Washington, a National Restaurants Association, alertou esta semana que o virtual aumento do pagamento mínimo para 15 dólares por hora acarretará necessariamente no corte de empregados e em maior automação de serviços. Lisa McCombs, porta-voz do McDonald’s, disse, em e-mail distribuído à imprensa, que o grupo empresarial não considera os eventos desta semana “greves, e sim manifestações avulsas, que contaram com a adesão de pouquíssimas das 700 mil pessoas que trabalham para o Mc Donald’s”. Um Ronald McDonald vestido como o frio e ganancioso Grinch, o personagem criado por Dr.Seuss que quer ‘roubar’ o Natal, e os piquetes nas portas de restaurantes da rede em todo o país mostraram, no entanto, um incremento claro dos protestos em relação às paralisações-relâmpagos de novembro do ano passado e agosto último.

De acordo com a Wider Opportunities for Women, um indivíduo precisa ganhar hoje 10,20 dólares por hora nos EUA para se conseguir sobreviver em uma localidade de custo baixo. A média nacional é de 14,17 dólares. Ainda é uma incógnita se as greves conseguirão melhorar as condições dos trabalhadores que servem bilhões de hambúrgueres por dia nos EUA, mas uma vitória o neo-sindicalismo americano já pode celebrar: colocou na pauta do dia o aumento do salário mínimo na mesma semana em que o governo celebra o anúncio do menor índice de desemprego em cinco anos e da criação de 200 mil novos postos de emprego na economia americana nos últimos quatro meses.
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Queda do PIB e o tripé neoliberal

Por Adilson Araújo, no sítio da CTB:

O PIB recuou 0,5% no terceiro trimestre deste ano. Embora o fato esteja sendo explorado de forma enviesa pelas forças conservadoras, que cobram mais do mesmo (pressionando por doses adicionais de arrocho fiscal), não há como fugir à constatação de que se trata de um desempenho frustrante para os que lutam pelo desenvolvimento nacional, muito aquém das possibilidades e das necessidades nacionais.


O Brasil deve fechar o ano com um crescimento pouco acima de 2%. Com isto, a economia continua a descrever o que alguns economistas classificam de voo de galinha. Apesar do baixo nível de desemprego, o cenário não é confortável, muito menos quando se leva em conta o crescimento do déficit em conta corrente e a persistente instabilidade cambial.

Em que pese o cenário ainda marcado pela crise crônica da economia internacional, bem como da ordem capitalista liderada pelos EUA, o comportamento medíocre da economia é um testemunho eloquente dos efeitos perniciosos da política econômica de viés neoliberal, que foi no essencial mantida por Lula e por Dilma, apesar de mudanças positivas como a valorização do salário mínimo, o Bolsa Família e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O famoso tripé – composto de juros altos (consagrados pelo Copom na última reunião do ano, em 27-11), superávit primário, obtido à custa de dolorosos cortes nos gastos públicos, e câmbio flutuante - tem se revelado um veneno para a economia nacional, constituindo hoje provavelmente o maior obstáculo ao desenvolvimento nacional e ao atendimento das demandas do nosso povo por saúde, educação, transporte público de qualidade e valorização de trabalho.

Não restam dúvidas de que a queda do PIB no terceiro trimestre deste ano tem tudo a ver com a política econômica, que objetivamente reduz a demanda interna, o consumo e também os investimentos, e reduz o ritmo de expansão das atividades. Para piorar a situação o governo promoveu desonerações indiscriminadas que não reverteram em investimentos produtivos e esvaziaram os caixas dos governos, diminuindo a arrecadação de impostos e impondo novos limites aos gastos públicos.

Conforme a CTB tem reiterado em suas resoluções, notas e documentos, é imperioso mudar a política econômica (reduzindo juros, controlando o câmbio e extinguindo o superávit primário) para que o Brasil possa avançar no rumo de um novo projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho, soberania e democracia.

* Adilson Araújo é presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
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As novas demandas do sindicalismo [3]

Por Altamiro Borges

Na fase atual, o sindicalismo ainda procura jogar um papel mais protagonista na mobilização, conscientização e organização dos trabalhadores. A vitória de Dilma Rousseff em outubro de 2010 não alterou substancialmente a correlação de forças no país. A presidenta dá continuidade, com alguns ajustes, ao ciclo político inaugurado por Lula. As forças neoliberais perderam influência no terreno partidário-eleitoral, com a desintegração do DEM e a crise do PSDB, mas ainda tem poderosos instrumentos de pressão na sociedade – principalmente através do capital financeiro e da mídia privada, hoje o principal partido da direita nativa.


Os avanços políticos e sociais conquistados nos últimos dez anos foram significativos, mas insuficientes. Os protestos de rua deflagrados a partir de junho evidenciam que a sociedade quer mais – ela deseja mudanças estruturais no país. As manifestações juvenis exigiram mais saúde, educação, mobilidade urbana e mais democracia, contra o poder corruptor dos ricos. Os setores de direita, inclusive de cunho fascista, tentaram capturar os protestos de rua e manipular a sua pauta. Não conseguiram total êxito, mas não desistiram do seu projeto.

Já o sindicalismo não fugiu das ruas e também tentou emplacar suas justas demandas. Dois protestos unitários foram organizados pelas centrais sindicais na luta pela pauta trabalhista – redução da jornada de trabalho sem perda salarial, fim do fator previdenciário, contra o projeto que amplia a nefasta terceirização, entre outros itens. Já em setembro, importantes greves foram deflagradas – como a paralisação nacional dos bancários e a mobilização dos petroleiros contra os leilões do pré-sal.

Os rumos do Brasil estão em disputa – o que deverá se acirrar ainda mais em 2014, ano de novas eleições presidenciais. Neste contexto, o sindicalismo tem importante papel a desempenhar. As ruas demonstraram que é urgente avançar nas mudanças – superando os entraves neoliberais e viabilizando as reformas estruturais. Ao mesmo tempo, é preciso evitar qualquer risco de retrocesso político. No terreno propriamente trabalhista, os perigos também são grandes. Sob o argumento da crise capitalista mundial, as entidades patronais persistem na defesa de medidas contrárias aos anseios dos trabalhadores. Vários projetos de lei em debate no Congresso Nacional visam retirar direitos trabalhistas, com o que amplia a terceirização.

Neste processo de retomada da sua organização e da capacidade de mobilização, após a avalanche do neoliberalismo, o movimento sindical tem inúmeros desafios pela frente. Entre outros, ele precisa intensificar e aperfeiçoar a sua relação com a juventude, que possui novas demandas, anseios e linguagens. O mundo do trabalho passa por intensas alterações. Os jovens ocupam cada vez mais espaços nas empresas. Eles desconhecem a história das conquistas trabalhistas, não possuem cultura sindical e muitos são formados numa visão individualista, tecnicista. A forma de se comunicar com a juventude exige mudanças de comportamento, mais criatividade e audácia na atuação sindical.

Outros dois grandes desafios da atualidade são os da formação e da comunicação. O processo de renovação das lideranças é muito lento no Brasil, o que decorre, entre outros fatores, dos retrocessos dos tempos neoliberais. É urgente investir na formação para reciclar os dirigentes com certa experiência e para formar novos líderes. Para avançar nas lutas é necessário aumentar o time de lutadores organizados e formados. A luta de ideias na sociedade hoje é bem mais complexa e difícil. As empresas adotam técnicas de gerenciamento que visam cooptar os trabalhadores, estimular a concorrência no seio da própria classe e afastá-los dos sindicatos. Já a mídia privada estimula o individualismo e consumismo, que também dificulta a ação organizada dos trabalhadores.

Além de priorizar a formação, os sindicatos necessitam apostar a comunicação, investindo mais no setor, apropriando-se das novas ferramentas (como a internet) e aprimorando sua linguagem. Sem formação e comunicação dificilmente o sindicalismo conseguirá superar as dificuldades atuais para mobilizar, conscientizar e organizar a classe dos trabalhadores.

Por último, entre os desafios da atualidade, cabe destacar a importância da unidade. O Brasil possui mais de 13 mil sindicatos e nove centrais sindicais – cinco delas legalizadas. As batalhas de cada categoria por seus direitos cumprem importante papel, mas são insuficientes para promover mudanças mais profundas no país e para garantir maiores conquistas para o conjunto da classe. É urgente superar a fragmentação e a atomização das nossas lutas. É preciso, ainda, superar as divisões no nosso campo. Só a unidade de classe dos trabalhadores, respeitando sua pluralidade e diversidade, é que garantirá os avanços necessários no enfrentamento da barbárie capitalista e na construção dos caminhos para a emancipação, para o socialismo!

* Texto elaborado para o congresso do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema).
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Leia também:
- A crise capitalista e os trabalhadores [1]

- A crise capitalista e os trabalhadores [2]

- A crise capitalista e os trabalhadores [3]

- Ruas exigem avanços no Brasil [1]

- Ruas exigem avanços no Brasil [2]

- Ruas exigem avanços no Brasil [3]

- As novas demandas do sindicalismo [1]

- As novas demandas do sindicalismo [2]
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As novas demandas do sindicalismo [2]

Por Altamiro Borges

O falso “caçador de marajás” até foi deposto pelo gigantesco movimento da juventude nas ruas pelo impeachment. Em seu lugar, porém, as elites conseguiram emplacar outro Fernando. A partir de FHC, o país passa a ser um importante laboratório mundial do famigerado neoliberalismo, com seu projeto de desmonte do trabalho, da nação e do Estado. Os três pilares básicos do direito ao trabalho (contratação, remuneração e jornada) foram destruídos no seu triste reinado. Foram impostos os contratos precários e temporários de trabalho, a jornada flexível (com o banco de horas) e a remuneração variável (através da Participação nos Lucros e Resultados).


Além dos graves retrocessos nos direitos trabalhistas, a política macroeconômica recessiva dos tucanos – com juros estratosféricos, arrocho fiscal e libertinagem cambial – também resultou na explosão do desemprego e no brutal arrocho dos salários. Ao mesmo tempo, as empresas promoveram uma ostensiva reestruturação produtiva, com a introdução de novos maquinários (automação microeletrônica) e de novas técnicas de gerenciamento, o que também causou recordes de demissões.

Todas estas mudanças tiveram profundo impacto nas lutas dos trabalhadores. O sindicalismo ingressou numa fase de defensiva prolongada e crônica. As assembleias se esvaziaram, as greves minguaram e os índices de sindicalização despencaram. Para agravar ainda mais este cenário, o movimento sindical se dividiu, com a formação de várias centrais. Até ocorreram ações de resistência, principalmente contra a privatização das estatais e a extinção da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mas elas foram insuficientes para conter a avalanche neoliberal. Se a ditadura militar prendeu, torturou e matou, o neoliberalismo implantado por FHC devastou o mundo do trabalho e acuou o sindicalismo. Esta devastação cobra seu alto preço até hoje!

A quarta fase desta rica história recente tem início com a vitória de Lula nas eleições de outubro de 2002. Oriundo das lutas sindicais, o novo presidente inaugura um novo ciclo político no país. Aos trancos e barrancos, com erros e acertos, avanços e recuos, o novo governo passa a enfrentar alguns dogmas do neoliberalismo.

Na política externa, o Brasil adota uma ação mais afirmativa e altiva. Supera o “alinhamento automático” com os EUA imposto pelo servil FHC; inviabiliza o tratado neocolonial da Área de Livre Comércio das Américas (Alca); anula a entrega da base militar de Alcântara (MA) para os ianques; aposta nas relações diplomáticas e comerciais com as nações emergentes dos Brics; e impulsiona a integração latino-americana.

Na relação com os movimentos sociais, o governo Lula adota um comportamento mais democrático, de diálogo, diferente da postura autoritária de FHC que acionava as tropas do Exército contra as greves. No terreno econômico, até hoje ainda não foi superado o tripé neoliberal dos juros elevados, arrocho fiscal e libertinagem financeira. Mesmo assim, as duas gestões de Lula adotaram políticas de estímulo ao mercado interno de consumo e investiram em políticas sociais mais inclusivas.

Estas ações governamentais, mesmo que limitadas e tímidas, resultaram na geração de empregos e no aumento de renda dos assalariados. O tecido social que havia sido esgarçado no reinado dos tucanos volta, aos poucos, a ser reconstituído, o que permite que a luta dos trabalhadores saia da defensiva. Neste processo contraditório e complexo, o sindicalismo tem ocupado um papel relevante. Através da pressão e da negociação, ele foi decisivo para a conquista da política de valorização do salário mínimo, medida adotada pelo governo Lula que impulsiona a geração de empregos. Aproveitando-se das brechas democráticas, o sindicalismo também conquistou o reconhecimento legal das centrais – fato inédito na nossa longa história republicana.

Esta nova fase ainda não supera os estragos causados pelo neoliberalismo e pela reestrutura produtiva do capital, mas abre novas perspectivas para as lutas populares. O sindicalismo ainda tateia para descobrir os melhores caminhos. Diante da nova realidade política, marcada por um governo oriundo das suas lutas, ele tendeu para os extremos em certos momentos. Alguns setores adotaram uma postura passiva, acrítica, sob a justificativa de que era preciso defender o governo diante dos ataques da oposição de direita. Outros partiram para posições voluntaristas, radicalizando discursos e ações contra o governo Lula. Aos poucos, o sindicalismo vai aplicando uma política mais calibrada e equilibrada, baseada em três princípios: preservação da sua sagrada autonomia sindical; aposta na pressão permanente; e exercício da inteligência política para evitar retrocessos e garantir avanços.

* Texto elaborado para o congresso do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema).
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Leia também:
- A crise capitalista e os trabalhadores [1]

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- As novas demandas do sindicalismo [1]
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As novas demandas do sindicalismo [1]

Por Altamiro Borges

Com a explosão dos protestos de rua em junho, alguns estudiosos e jornalistas – vários deles inimigos declarados da luta organizada dos trabalhadores – decretaram o fim do sindicalismo. Argumentaram que a revolta foi protagonizada por jovens sem qualquer vínculo orgânico com os movimentos sociais tradicionais. A mídia patronal explorou ao máximo as cenas de vandalismo em que bandos de provocadores – inclusive policiais infiltrados - rasgaram as bandeiras dos partidos de esquerda e das centrais sindicais e agrediram militantes populares.


Numa manobra descarada, a direita midiática e partidária tentou pegar carona nas gigantescas manifestações de rua que agitaram o país para impor a sua pauta conservadora. A negação da política – e da ação coletiva, expressa historicamente pela organização classista – é uma das formas que as elites utilizam para destruir as liberdades democráticas e para derrotar a luta dos trabalhadores. Foi esta a tática seguida por Adolf Hitler e Benito Mussolini para impor a devastação nazifascista na Europa.

Foi este também o discurso usado pelas elites para justificar o golpe militar de 1964. O objetivo era derrotar a “república sindicalista” de João Goulart, presidente democraticamente eleito, para impor a brutal ditadura do capital que arrochou salários, retirou direitos trabalhistas, interveio em sindicatos e prendeu, torturou e assassinou inúmeros sindicalistas. Há muito que o patronato tenta destruir o sindicalismo – inclusive demonizando sua imagem – para poder explorar ainda mais os trabalhadores. Esta é a lógica do capitalismo. A jornada de junho apenas confirmou esta velha tática patronal, que muitos serviçais difundem descaradamente na mídia “privada”.

Para entender a postura do movimento sindical diante da onda de protestos no país é preciso conhecer a sua história. Ela desmente a falácia do “gigante despertou”, que tenta negar a luta secular e heroica dos trabalhadores. Grosso modo, esta história teve quatro fases no período recente. A primeira relembra o período sombrio da ditadura; a segunda mostra a ascensão do sindicalismo nos anos 1980; a terceira aborda a fase regressiva e destrutiva do neoliberalismo; e a quarta abrange a complexa ação sindical no governo Lula, o primeiro oriundo das lutas operárias. Cada fase tem as suas contradições, com avanços e recuos, acertos e erros.

No período do regime militar, instalado com o golpe de 1964 e radicalizado a partir de 1968, o sindicalismo comeu o pão que o diabo amassou. Apenas nos primeiros meses do golpe, 814 sindicatos sofreram intervenção da ditadura, com a imposição de juntas governativas ligadas aos patrões. Milhares de líderes sindicais foram presos e cassados; muitos deles foram torturados e assassinados nos porões das torturas; alguns ainda figuram nos registros como “desaparecidos”.

Para impor a lei do arrocho salarial – que proibia reajustes acima da inflação – e o fim da estabilidade no emprego, os generais baixaram um decreto proibindo terminantemente as greves e os sindicatos passaram a ser vigiados por agentes da Polícia Federal. Para disputar as eleições nos sindicatos, os ativistas precisavam apresentar “atestado de bom antecedente”, fornecido pela ditadura. As finanças das entidades eram rigorosamente controladas pelos agentes do Ministério do Trabalho, que proibiam o uso dos recursos na promoção de lutas e na formação sindical.

Durante quase uma década, os sindicatos viraram cemitérios, sem assembleias, reuniões ou atividades de luta por direitos. Eles foram transformados em repartições públicas, em entidades meramente assistenciais e médicas. A ação sindical neste período representava um ato de heroísmo e coragem e os mártires deste período merecem todo respeito e admiração. Em setembro passado, a Comissão da Verdade, criada pelo governo Dilma Rousseff, reconheceu os brutais crimes da ditadura perpetrados contra centenas de lideranças classistas.

A feroz ditadura, porém, não conseguiu conter a luta dos trabalhadores. Por fora dos sindicatos, várias ações foram organizadas pelo fim do regime militar – através das comunidades eclesiais de base da Igreja, do movimento contra a carestia ou da campanha pela anistia dos presos políticos. Mesmo por dentro das entidades sob a tutela dos militares, muitas lideranças se reciclaram – a exemplo do operário Luiz Inácio Lula da Silva. Aos poucos, o sindicalismo nativo foi se reerguendo.

Em maio de 1978, a greve dos metalúrgicos da Scania, em São Bernardo do Campo, pegou de surpresa a ditadura, os empresários, a mídia e o próprio sindicato. Desgastados pela explosão da inflação e pelo crescimento da luta pela democracia, os generais não tiveram como reprimir os grevistas do ABC paulista. A histórica paralisação abriu as comportas da revolta operária. Em pouco tempo, o sindicalismo brasileiro virou símbolo de combatividade no mundo, ganhando prestígio internacional.

O Brasil passou a bater recordes seguidos do número de greves – de 1979 até 1984. Em 1981, apesar da proibição dos generais, mais de 5 mil ativistas sindicais se reuniram na Praia Grande, no litoral paulista, na 1ª Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (Conclat). As pesquisas de opinião passaram a apontar os sindicatos como a segunda instituição mais respeitada pelo povo brasileiro. Várias lideranças perceberam que a luta econômica era insuficiente – combatia os efeitos, não as causas da exploração capitalista – e passaram a dar maior atenção à luta política, por mudanças nas leis e pela conquista de espaços de poder.

Lula se projetou exatamente neste período de ouro, tornando-se a principal referência das batalhas sindicais. Esta vigorosa ascensão da luta dos trabalhadores, porém, não conseguiu conter o tsunami neoliberal e a reestruturação produtiva do capital, que já causavam estragos no mundo inteiro. Com a vitória de Fernando Collor de Mello nas eleições de 1989, o Brasil ingressou na órbita da globalização neoliberal, com o seu receituário destrutivo e regressivo.

* Texto elaborado para o congresso do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema).

*****

Leia também:

- A crise capitalista e os trabalhadores [1]

- A crise capitalista e os trabalhadores [2]

- A crise capitalista e os trabalhadores [3]

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Ato das centrais contra alta dos juros

Do sítio da CTB:

Em reunião nesta sexta-feira (22) na capital paulista, representantes das centrais sindicais brasileiras definiram o ato que ocorre na terça-feira (26) em frente ao Banco Central, em Brasília. “A concentração começa às 10h e o ato político está marcado para começar às 11h”, declara Paschoal Carneiro, secretário de Previdência, Aposentados e Pensionistas da CTB.


Foi definido o slogan Menos Juros, Mais Salários, denunciando a política desenvolvida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, com sucessivas altas dos juros, o que acarreta perdas irreparáveis para a classe trabalhadora, prejudica a produção e favorece o setor financeiro, que não gera empregos. “Todas as centrais confirmaram presença e terão direito a dois oradores e cada central poderá escolher um parlamentar para discursar também”, explica Paschoal.

A expectativa dos organizadores do ato é da presença de pelo menos 5 mil pessoas em Brasília no dia 26 para mostrar a força da classe trabalhadora unida para mudar a economia do país rumo ao desenvolvimento independente do mercado internacional e para isso contam com a mobilização das estaduais das centrais, assim como dos sindicatos, porque “interessa a todos os trabalhadores reduzir os juros e aumentar os salários”, define o dirigente da CTB.

A taxa Selic está em 9,5% atualmente e pode ultrapassar os dois dígitos em breve a continuar nesse ritmo. Por isso, a mobilização das centrais sindicais em mais esse ato unificado. A CTB empreende todos os esforços para enviar milhares de militantes nos eventos mais importantes para empoderar a classe trabalhadora na luta contra os interesses do capital (saiba mais aqui). A CTB sempre na luta com os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil.
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O desejo de vingança de Joaquim Barbosa

http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br/
Por Vagner Freitas, no sítio da CUT:

Depois de oito anos de execração pública, decisões arbitrárias, autoritárias e sem base legal, o julgamento da Ação Penal 470 terminou com o mais deprimente espetáculo de violação de direitos constitucionais: a prisão ilegal, em pleno feriado de Proclamação da República, dos companheiros José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares.


Condenados - sem nenhuma prova - a regime semiaberto foram colocados em regime fechado durante quatro dias, por ordem da autoridade máxima do Poder Judiciário, Joaquim Barbosa. O ministro não teve o menor pudor em deixar de cumprir sua obrigação, que é preservar o Estado de Direito, o cumprimento das regras democráticas e da Carta Magna do País. Expediu os mandados de prisão contra os companheiros sem encaminhar, como lhe cumpria fazer, a carta de sentença de cada um deles, e foi para o Rio de Janeiro comemorar o feito com a sua torcida. Uma ilegalidade que deixou o juiz da Vara das Execuções Criminais de Brasília sem saber o que fazer. Resultado: encaminhou todos para Papuda, em Brasília, enquanto Barbosa se divertia no Rio.

Entre tantas ilegalidades, a prisão de Genoino, um cidadão com um currículo e uma biografia exemplares e que está extremamente doente, precisando de cuidados médicos constantes, é uma crueldade que deixa claro o ressentimento, o desejo de vingança que move Joaquim Barbosa.

Nem Barbosa, nem tampouco a mídia conservadora do País esperavam uma reação tão forte e sistemática da sociedade contra a desumanidade que representa a prisão, sem direitos a cuidados específicos, de uma pessoa com a história de vida e de luta de Genoino que neste momento vive sua segunda tortura – a primeira foi no Araguaia.

Eu, como presidente da CUT e representante de mais de 23 milhões de trabalhadores, conclamo a parcela sensata e honesta da sociedade a exigir Justiça e para que prevaleça o Estado de Direito. Genoino precisa ser imediatamente solto ou cumprir prisão domiciliar. Esta é uma questão humanitária. O estado de saúde dele é gravíssimo e todos sabem disso. O parecer do IML comprovou. Se alguém ainda duvidava dos laudos dos médicos que operaram o deputado em junho e o do IML, depois de hoje, não há mais do que duvidar. Genoino passou mal de novo e precisou ser internado.

Já Joaquim Barbosa, a própria história o julgará. Como já o fazem vários e vários juristas sérios do mundo inteiro. No momento, ele está escrevendo a história de um magistrado que atropelou a lei que jurou defender e demonstra, com fartura de provas, estar psíquica e intelectualmente despreparado para o cargo que ocupa. Ele colocou seus interesses pessoais, rancores e desejos de vingança acima da Constituição. A decisão do ministro coloca em risco a credibilidade do Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente da corte foi irresponsável e agrediu o bom senso nacional.

A sociedade brasileira não quer impunidade. Nós não queremos impunidade. Prova disso é que nunca houve tanta liberdade de ação da Polícia Federal e dos órgãos de controle como nos últimos dez anos. Mas, isso não significa que uma única pessoa possa rasgar a Constituição e tomar decisões descabidas, autoritárias e ilegais, como se estivesse acima da Lei, da Ordem Jurídica, do poder supremo do País.

Para acabar com a impunidade, temos de acabar com a esse tipo de comportamento intempestivo, emotivo, violento, agressivo e sem ética que desestabiliza as instituições e põe em risco a democracia brasileira.

Essa manipulação da Justiça, que se tornou marca de Joaquim Barbosa, ao prender José Genoino e deixar tantos outros sequer sem julgamento, ao contrário do que imaginava a mídia conservadora, não vai melhorar a imagem que o povo tem do Judiciário e aprofunda o mal-estar causado pela sensação de impunidade. A demora em julgar o mensalão mineiro, que chegou no STF antes da AP 470, é uma prova disso.

Tudo nesse caso é exceção. Tudo nessas prisões explicita o caráter político, de perseguição que marca, desde o início, o julgamento da AP 470.

Por tudo isso, exigimos a anulação da sentença e a imediata revisão do processo. Está mais do que claro que não existe provas de crime. O julgamento foi político e transcorreu como uma novela que mais parece um queijo suíço – cheio de buracos – para ser explorada pela mídia conservadora que há muito queria criminalizar o PT, a CUT e os movimentos sociais.

Acima de tudo foi claramente armado para desconstruir os avanços sociais do governo Lula. Os conservadores não suportam ver ou saber que o pobre tem oportunidade de ascender socialmente, frequentar a universidade, viajar de avião, ter máquina de lavar e carro zero.

E como não conseguiram vencer nas urnas a nossa proposta de desenvolvimento social com distribuição de renda, valorização do trabalho e igualdade de direitos para homens e mulheres, apelaram para a manipulação da Lei e o desrespeito à democracia. Não é assim que vão nos derrubar.

Queremos Justiça e não vingança e ódio. Vamos lutar para garantir a lisura, a legalidade do processo e que a lei seja para todos. Jamais aceitaremos essa punição dupla: aos companheiros e também a nós. Somos solidários aos companheiros José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Sabemos que eles são inocentes. Temos consciência de que eles são, junto com a militância, os construtores da luta por um Brasil melhor e mais justo.

Não vamos baixar a cabeça. Ninguém vai punir a militância nem diminuir nossa capacidade de luta e resistência contra decisões ilegais e arbitrárias que visam impedir que o nosso projeto de transformação do Brasil, iniciado e construído na luta diária há 30 anos, junto com os companheiros condenados na AP 470, continue avançando e mudando a cara do País.

No próximo dia 26, a Executiva da CUT vai a Brasília visitar os companheiros Dirceu, Genoino e Delúbio e prestar solidariedade. E no dia 9 de dezembro, data da entrega do 2º Prêmio CUT - Democracia e Liberdade Sempre - 2013, cujo tema é “Nada vai nos calar” -, vamos fazer um ato de desagravo, uma homenagem aos companheiros.
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Greve na EBC e a comunicação pública

Do sítio Vermelho:

Trabalhadores da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em greve desde o último dia 7, realizam, na tarde desta quinta-feira (21), em frente ao Palácio do Planalto, ato em defesa da comunicação pública, Eles cobram posição do governo federal em relação ao movimento paredista e defendem a valorização da principal empresa do sistema público de comunicação do país, a EBC.


O ato defende, além da pauta apresentada durante as negociações do Acordo Coletivo, o direito à greve e a valorização dos empregados e servidores públicos. A manifestação foi convocada pelos grevistas, pelos sindicatos dos jornalistas e dos radialistas do Distrito Federal e pela Comissão de Empregados da EBC, eleita pelos mais de 2000 empregados da empresa.

A greve dos trabalhadores foi deflagrada devido ao impasse na negociação do Acordo Coletivo de Trabalho. Ontem (20), durante a segunda reunião de conciliação realizada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), a EBC não aceitou a proposta feita pelo vice-presidente do TST, ministro Antônio José de Barros Levenhagen, de compensação, por parte dos trabalhadores, dos dias parados devido à greve, que conta com ampla adesão de empregados do quadro.

Também não aceitou conceder 10 dias de licença paternidade nem mesmo manter a proposta, feita anteriormente, de garantir aumento comparável à inflação dos alimentos no valor do ticket alimentação.

Já os grevistas aceitaram a proposta de receber 0,5% em 2013 e mais 0,75% de ganho real em novembro de 2014, embora reivindicassem aumento real expressivo.

A abertura das categorias poderia ter levado ao fim das negociações, mas a EBC manteve-se intransigente em relação ao pagamento dos dias parados. A postura dos representantes da empresa foi criticada pelos trabalhadores e também pelo procurador José Neto, que participou da audiência.

Ele chegou a afirmar que o pagamento poderia significar retirada de direitos e também a tentativa de desestimular a realização de outras paralisações. Diante da situação, os trabalhadores votaram a favor da manutenção da greve, em assembleias realizadas simultaneamente em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.

Criada em 2007, a EBC é responsável pelo funcionamento da Agência Brasil, do Portal EBC, de oito emissoras de rádio AM/FM/OM (Nacional e MEC), da Radioagência Nacional, da TV Brasil e da TV Brasil Internacional. Opera, ainda, a TV NBR e o programa A Voz do Brasil, dentre outros serviços.
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Retrato do trabalho precário no Brasil

Por Antônio David, no jornal Brasil de Fato:

“O precariado é composto por aquele setor da classe trabalhadora permanentemente pressionado pela intensificação da exploração econômica e pela ameaça da exclusão social”. Essa caracterização é do sociólogo Ruy Braga, especialista em sociologia do trabalho e autor do livro A política do precariado. Do populismo à hegemonia lulista (Boitempo, 2012). Professor da USP, com pós-doutorado pela Universidade da Califórnia, Ruy Braga concedeu entrevista exclusiva ao Brasil de Fato.


Nela, o sociólogo fala das condições de trabalho do precariado brasileiro no setor de telemarketing, área que ele vem pesquisando em detalhes. Face às estratégias de recrutamento das empresas, que procuram subordinar os trabalhadores ao despotismo das gerências, Braga alerta: “o feitiço está virando contra o feiticeiro e uma experiência coletivamente compartilhada de discriminação racial ou por orientação sexual, além das lições retiradas da relação com o despotismo gerencial, empurram os teleoperadores na direção da auto-organização nos locais de trabalho e dos sindicatos que atuam no setor”.

Seu último trabalho de fôlego é o livro A Política do Precariado. Gostaria de pedir para que você caracterizasse o precariado brasileiro.
Trata-se, antes de tudo, de uma tentativa de atualização da categoria de superpopulação relativa desenvolvida por Marx no capítulo 23 do Livro I de O Capital à luz das características próprias à reprodução das relações capitalistas de produção em países da semi-periferia do sistema mundial. O precariado é o proletariado precarizado, ou seja, um grupo formado por trabalhadores que, pelo fato de não possuírem qualificações especiais, entram e saem muito rapidamente do mercado de trabalho.

Além disso, devemos acrescentar os trabalhadores jovens à procura do primeiro emprego, indivíduos que estão na informalidade e desejam alcançar o emprego formal, e trabalhadores submetidos ao manejo predatório do trabalho. O precariado é composto por aquele setor da classe trabalhadora permanentemente pressionado pela intensifi cação da exploração econômica e pela ameaça da exclusão social. Eu retirei do conceito de proletariado precarizado os setores qualificados da classe trabalhadora, os grupos pauperizados e o chamado lumpemproletariado por entender que aquilo que caracteriza a reprodução contraditória das relações de produção capitalistas no Brasil é menos a existência de uma massa de indivíduos pauperizados e rejeitados pelo mercado de trabalho por invalidez, velhice ou que praticam ações ilícitas para sobreviver, e mais a ampliação dessa massa formada por trabalhadores jovens, desqualificados ou semiqualifi cados, subrremunerados e inseridos em condições degradantes de trabalho.

O que diferencia o precariado do subproletariado, sobre o qual o cientista político André Singer escreveu no livro Os Sentidos do Lulismo? Que ocupações seriam típicas de cada fração?

O professor André Singer caracteriza o subproletariado como um amálgama das frações pauperizada e estagnada da superpopulação relativa, em especial aqueles que dependem do programa Bolsa Família e que se concentram nos bolsões de miséria no interior do país ou aqueles inseridos em condições tão degradantes e sub-remuneradas que se reproduzem em condições subnormais, como os trabalhadores domésticos, por exemplo.

Como disse, retirei a massa pauperizada e o lumpemproletariado do conceito de precariado e concentrei-me nas frações “flutuante”, isto é, os que entram e saem muito rapidamente do mercado de trabalho atraídos e repelidos pelas empresas conforme os ciclos econômicos, além da população “latente”, ou seja, aqueles trabalhadores jovens à procura de um primeiro emprego e os que estão transitando da informalidade para a formalidade. Assim como André Singer, também incorporo a fração “estagnada”, no entanto, enfatizo sua passagem para a população flutuante. Para simplificar, enquanto André destaca a empregada doméstica, eu destaco a filha da empregada doméstica que terminou o ensino secundário e foi contratada pela indústria do call center.

Neste sentido, gostaria de colocar algumas questões referentes à pesquisa que você fez nos últimos anos, sobre o trabalho no setor de telemarketing. Qual é o tamanho desse setor?
A indústria brasileira do call center cresce desde meados dos anos de 1990, em grande medida, por conta do avanço do ciclo das terceirizações empresariais associado ao processo de privatizações da era FHC. Já no início dos anos 2000, o setor do telemarketing já havia se transformado na principal porta de entrada no mercado formal de trabalho do jovem trabalhador à procura do primeiro emprego.

Uma característica interessante desse setor, desde meados da década de 2000, é que hoje a região onde o telemarketing mais se expande é a região nordeste do país. Estimativas realizadas pelos profissionais da própria indústria afirmam que, muito provavelmente, se somarmos os call centers terceirizados e próprios, o Brasil deve fechar o ano com quase 1 milhão e 700 mil trabalhadores nesse setor. Isto faz dos teleoperadores o segundo maior grupo ocupacional do país, perdendo apenas para os trabalhadores domésticos.

Ao analisar o setor, você diferencia “profissão” de “emprego de empreitada”. No que consiste a diferença?
Na realidade, uma profissão supõe certas características em termos de qualificação, prestígio, estabilidade e remuneração, que, em linhas gerais, estão ausentes no telemarketing. Uma “profissão” implica a existência, em algum grau, de uma “carreira”, isto é, de possibilidades reais de progresso ocupacional. O telemarketing é uma atividade que, por suas características estruturais, bloqueia ou dificulta enormemente a progressão ocupacional, assim como se trata de um setor que paga muito mal e não exige qualificações especiais. Como as taxas de rotatividade são muito elevadas na indústria do call center, entendo ser mais correto falar em uma atividade realizada por meio da “empreitada”, ou seja, intermitente, terceirizada e precária.

Em seu livro, você mostra que as empresas do setor de telemarketing adotam estratégias de recrutamento de trabalhadores considerados “problemáticos ou diferenciados”, “mais sensíveis e pacientes” e com “certa inclinação a subordinar-se ao despotismo”. Qual é o perfil dos trabalhadores inseridos nesse setor e quais são as estratégias que as empresas utilizam para recrutá-los?
A indústria do call center há tempos tem recrutado preferencialmente jovens, não brancos, mulheres e gays. Trata-se de uma estratégia cuja finalidade é promover um comportamento mais dócil no tocante ao ajuste do trabalhador ao regime de mobilização permanente do trabalho apoiado em altas taxas de rotatividade, na estratégia da terceirização, no controle despótico do trabalho e na pressão das metas sempre mais difíceis de serem alcançadas. Quando o grupo de trabalho é formado majoritariamente por jovens arrimos de família, por exemplo, ou por aqueles que historicamente ocupam os postos mais discriminados ou sub-remunerados do mercado de trabalho brasileiro, como gays e mulheres negras, a expectativa das empresas é que estes trabalhadores comportem-se de maneira mais dócil, subordinando- se ao despotismo das gerências.

Trata-se de uma situação instrumentalizada pela indústria do call center e cuja característica menos visível, porém mais “enraizada” na subjetividade operária, é a reprodução de um poder simbólico fortemente associado ao reforço da condição de subalternidade oriunda da discriminação racial, sexual ou da orientação sexual. No entanto, esta situação tem sido revertida desde 2008, ao menos, quando greves passaram a eclodir com muita frequência na indústria de call center protagonizadas por mulheres negras e por grupos discriminados. De certa maneira, o feitiço está virando contra o feiticeiro e uma experiência coletivamente compartilhada de discriminação racial ou por orientação sexual, além das lições retiradas da relação com o despotismo gerencial, empurram os teleoperadores na direção da auto-organização nos locais de trabalho e dos sindicatos que atuam no setor.

Então, como se dá o assédio moral no telemarkentig?
O problema do assédio moral está diretamente associado ao problema do manejo degradante da força de trabalho. Como o setor trabalha por metas e estas tendem a se tornar cada vez mais duras é muito comum que coordenadores de operação ou supervisores descontrolemse com os teleoperadores, cobrando-os aos berros. Além disso, existe um assédio mais dissimulado que se esconde por trás de brincadeiras, como o nariz de palhaço, o martelinho de plásticos ou a camiseta de mico, cujos alvos preferenciais são aqueles que não alcançaram as metas. Isso sem mencionar a humilhação do tempo exíguo do intervalo e as negativas pra ir ao banheiro etc.

Ao estudar o setor, você conclui que parte dos riscos recai sobre os trabalhadores. Por que e como?
Por força do despotismo empresarial que vigora no setor, os ajustes anticíclicos à flutuações recaem sempre sobre os trabalhadores que são sumariamente demitidos e percebem sua remuneração variável cair. Ou seja, como não há praticamente nenhum obstáculo sério à demissão dos teleoperadores, é o trabalho que assume a maior parte dos riscos do negócio...

Nesse mesmo artigo, você afirma haver uma “tendência de despolitização geral do mundo do trabalho”. Gostaria que você explicasse no que consiste essa tendência.
Esta tendência é produto da consolidação de um tipo de regime fabril que se apoia sobre a desconstrução das formas de solidariedade classistas tipicamente fordistas. Quando o desmanche do grupo operário fordista efetivou-se por meio das terceirizações, do aumento da concorrência entre os próprios trabalhadores, das reestruturações da base técnica das companhias, da informatização domeio ambiente fabril, das privatizações, da crise do sindicalismo militante, do aumento do desemprego (anos de 1990) etc. Durante os anos FHC, a formação de um novo proletariado pós-fordista acantonado no setor de serviços e composto por jovens, mulheres, não brancos etc., representou uma descontinuidade política em relação à classe trabalhadora do período do nacional-desenvolvimentismo.

No entanto, não devemos exagerar neste argumento, pois, este grupo pós-fordista está se politizando rapidamente e já alcançou um patamar respeitável em termos de conquistas sindicais expressas pelo número de greves que ocorrem no país desde 2008. (A íntegra desta entrevista encontra-se em: www.brasildefato.com.br)
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