Um comentário do Conversa Afiada me deixou aborrecido. Vamos a ele:
Tais Morais: Zé Dirceu era agente duplo?
27/novembro/2008 19:29
Diário de um ex-agente sustenta que Dirceu teria delatado companheiros de luta armada
José Dirceu, o poderoso ex-ministro da Casa Civil de Lula, teria sido um agente duplo durante a ditadura militar? A questão acaba de ser colocada em pauta pelo livro “Sem vestígios: revelações de um agente secreto da ditadura militar”, da jornalista Tais Morais, publicado pela Geração Editorial. A autora já havia publicado, pela mesma editora, em 2005, “Operação Araguaia”, em co-autoria com o também jornalista Eumano Silva.
Em reportagem publicada hoje no Valor Econômico, Maria Inês Nassif revela detalhes sobre a origem da obra recém-lançada, produzida a partir do diário de um ex-agente do Centro de Informações do Exército, identificado como “Carioca”. Os originais do diário foram entregues à autora do livro após a morte do ex-agente, conforme instruções deixadas por ele próprio.
“Sem vestígios..” narra execuções bárbaras, como a de David Capistrano da Costa, dirigente do Partido Comunista Brasileiro, em um aparelho da repressão em Petrópolis (RJ). Expõe a afirmação de que Dirceu teria sido um agente duplo, responsável pelo desmantelamento do Molipo - Movimento de Libertação Popular (afirma também que dos 28 integrantes desse grupo, que fizeram curso de guerrilha em Cuba, apenas Dirceu e Ana Corbisier sobreviveram).
Diz o livro: “Segundo as notas de Carioca, depoimentos de alguns militares e as memórias do coronel Lício [Augusto Maciel] – naqueles idos, major – Daniel [codinome de José Dirceu] teria sido o agente duplo e, antes de morrer, Jeová [de Assis Gomes, militante do grupo armado] informara esse nome como o de quem havia traído o Molipo”. Ouvido pelo Valor, Dirceu diz que a afirmação contra ele é uma “infâmia” do coronel Lício, que teria “se especializado em difamar tanto a memória dos mortos como os que sobreviveram”. Veja a íntegra da reportagem, se você for assinante do Valor.
Fiz lá o meu comentário, em 28/11/2008, às 1:44:
Impossível dar crédito ao diário de um ex-torturador e narrado por uma autora que teve seu outro livro, sobre a Guerrilha do Araguaia, sofrido críticas por quem lá esteve. Luzia Reis Ribeiro foi guerrilheira no Araguaia e contesta o que os autores do livro Operação Araguaia, Eumano Silva e Tais Moraes, contam. Segundo ela, o livro se baseia fundamentalmente na versão oficial dos militares, em depoimentos arrancados sob tortura. Diz inclusive sobre a parcialidade do livro:
“Na verdade, cheguei à conclusão que os autores mostraram uma versão unilateral. A versão de um grupo de militares que querem apresentar à opinião pública, o PCdoB como o fracassado, o grande vilão da história. Querem também, inacreditavelmente, através dos “depoimentos em cartório”, manipulados pelos militares, responsabilizar os sobreviventes, como delatores, sob a desculpa de serem ideologicamente fracos.”
Portanto, usar um mero depoimento de militar ligado a tortura como evidência de “traição” parece apenas um jogo de cena para continuar a demonização de José Dirceu.
Sugiro a leitura do depoimento de Luzia em:
http://www.diariosdaditadura.com.br/tcc_mat_ver.asp?cod_col=81
Comentário adicional:
Ainda não vi resposta de Dirceu a mais nova acusação, mas achei interessante a quantidade de comentários de leitores do Conversa Afiada que protestaram contra esta aleivosia . Ainda me recuso a colocar Paulo Henrique Amorim do outro lado, mas está na hora de ampliarmos a discussão política para sairmos desse jogo que só benefecia os reacionários.