Pílulas de um pouco do que abunda

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  • sexta-feira, 14 de novembro de 2008
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  • Já afirmei aqui e repito que para este escrevinhador que vos fala o blog é mero canal para o desabafo de suas preocupações existenciais. Uma solução catártica para com as muitas raivas do dia-a-dia, normalmente vinculadas à canalhice abundante. Não tenho nada para vender ou promover. Nenhum projeto para compartilhar. E da minha vida pessoal nada há de relevante que mereça atenção. Apenas desejo me livrar dessa sensação de ser o único a se sentir sacaneado. E tem sido ótimo. O resultado em comentários e na leitura é melhor do que podia imaginar, purgando as dores ao descobrir alguns iguais nas mesmas aflições. Daí estranhei minha própria reação ao julgamento do habeas corpus de Daniel Dantas na quinta retrasada. Desenhei uma fotopotoca com a canalha do STF e calei. A vontade era a de esmurrar. Sair berrando pelas ruas, imaginando encontrar algum parceiro igualmente insano. Nenhuma palavra, nenhum desenho teria efeito. Manifestou-se em meus pensamentos um total pessimismo para com a importância da comunicação e com minha limitada capacidade de participação na república. Mas passou, passou... Continuo achando a democracia mauricinha uma enorme farsa, mas agora ao menos consigo voltar a desafogar esta amargura.

    Ao longo dos últimos dias a mídia maurícia seguiu um roteirinho básico de desqualificação do delegado Protógenes e do juiz De Sanctis. O primeiro é criticado pela “edição” do texto do inquérito da operação Satiagraha, por ter vazado informações e ter chamado a Abin para participar. Do segundo, ainda não entendi a bronca. Gilmar Mendes e Cezar Peluso tentaram explicar. Do último, entendi que foi um desrespeito à suprema corte ao ter insistido em prisão quando havia decisão anterior. Ainda aguardo melhor entender, mas infelizmente não será pela mídia. Imagino a dificuldade de reproduzir ao longo de muitos dias o mesmo reduzido enredo. Tarefa complicada para o proletariado da imprensa. O resultado deveria ser estudado pelos nossos acadêmicos ou futuros historiadores deste imbróglio. Na última quarta a Folha demonstrou esta complicação técnica com a falta de assunto ao dar destaque para a “suspeita” escolha da suíte 555 do Hotel São Paulo Inn. Reportagem de Ana Flor descreve onde ficava tal local, quem freqüentava, quem era o arquiteto do hotel e para ilustrar uma foto do filme “O iluminado”. Para o jornal, a semelhança de 666 e 555 faz uma tese do interesse dos seus leitores. Coitados.

    Surpreendentemente, só hoje li algo de novo na mídia que vale a pena sobre o assunto Satiagraha. No Valor, reportagem de Caio Junqueira esboça os desafios para o Juiz Fausto De Sanctis nesta próxima semana, quando haverá o julgamento no TRF do pedido de suspeição feito pela defesa de Daniel Dantas. O tribunal encontra-se em processo eleitoral, sendo disputado por dois grupos, onde o juiz mantém independência. Segundo o texto, há inúmeras nuances políticas onde De Sanctis enfrenta dificuldades, lembrando o caso da juíza Márcia Cunha, aqui já comentado, que foi afastada por ter dado decisão contrária ao grupo Opportunity quando em sua disputa pelo controle da Brasil Telecom. O texto lembra que nesta semana a sentença por corrupção contra Daniel Dantas, Hugo Chicaroni e Humberto Braz deve ser proferida, o que explica as críticas recentes contra De Sanctis.

    De fato, a Kelly tem razão. O Valor Econômico passou a ser o jornal onde é possível existir alguma informação sem a panfletagem escancarada, da mais obtusa apuração dos fatos, nos comentários mais óbvios. O artigo do professor Wanderley Guilherme dos Santos sobre as expectativas de Obama é um primor de fina ironia. Crítica ferina, técnica, a um leque amplo que vai da direita a esquerda. Algo a ser lido e estudado.

    E falando de democracia, o Mox faz um preciso, minimalista e provocador comentário sobre frase onde digo que a candidata Cynthia McKinney tem em Cuba um exemplo de democracia. Ela o disse em discurso ao defender o fim do embargo à ilha, justificando que os EUA têm o que aprender com os cubanos. A palavra democracia foi minha, talvez tenha incorrido em erro de algum manual de bom jornalismo. Como não o sou, não tenha o propósito de ser e menos ainda de ver tal prática sendo usada em nossa mídia, apenas justifico que fui passional em concluir com meus pensamentos. Acho que a democracia de lá dá banho na tão decantada do norte. Os motivos são muitos e rendem uma boa polêmica, infelizmente relegada ao plano dos anátemas usuais. Mas achei divertido ser observado por alguém que respeito, que pertence a uma geração bem mais nova que a minha, que está em polêmica acirrada sobre os caminhos do pós-modernismo.
     
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