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As cinzas de quarta-feira: Drops Pós-Carnavalescos.

O Vasco está na final da Taça Guanabara. Não importa se a vitória contra o Fluminense foi nos pênaltis, não importa quem irá disputar conosco a decisão. Se tudo correr bem, no domingo o carnaval continua...

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Não agüento mais ouvir de algumas pessoas comentários do gênero: "com tanta miséria no Brasil, o nosso governo vai enviar este dinheiro todo para o Haiti, ao invés de ajudar os pobres e desabrigados daqui". No entanto, as mesmas figuras que fazem este tipo de comentário são aquelas que habitualmente se manifestam contra os programas assistenciais do governo Lula - que elas consideram “um absurdo “- e que costumam chamar o bolsa-família de "bolsa-esmola". Além de reclamar - é claro - de seu "caráter eleitoreiro"...

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Em tempos idos, a minha vida era um livro aberto; hoje ela é um notebook com um disco rígido de 1 TB, 4 GB de memória RAM, um processador de 4 GHz e todos os programas instalados!

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Sem nenhuma conotação bairrista: somente a força econômica e o gigantesco mercado consumidor representado por São Paulo justificam que a Rede Globo transmita por duas noites o desfile das escolas de samba paulistas, que não passa – apesar de, reconheço, ter evoluído bastante nos últimos anos – de uma pálida imitação do desfile das escolas cariocas. Espetáculo por espetáculo, a apresentação das escolas do grupo de acesso do Rio de Janeiro consegue ser infinitamente superior à do grupo principal de São Paulo.

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É impressionante como a grande imprensa “esqueceu-se” de que José Roberto Arruda era um dos nomes mais cotados para ser o vice na chapa de José Serra: atualmente, quase ninguém fala mais nisto, num patético esforço para desvincular o candidato tucano do mensaleiro do DEM. Mas quem quiser refrescar a memória é só dar uma olhada nesta entrevista do Arruda à revista Veja há seis meses atrás e perceber como a publicação da “Famiglia” Civita enchia a bola do atual presidiário-mor de Brasília...

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Vi há pouco, na Lapa, um trio fantasiado de maneira impagável: o rapaz estava vestido de Lula e as moças, que andavam abraçadas com ele, de Dilma e D. Marisa, respectivamente. “Lula” carregava uma placa no pescoço com o nome da fantasia tripla: “Ménage à Trois Presidencial – Eu quero é phoder”!

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Para não perder o hábito de contar histórias, mesmo durante o carnaval, aí vai uma das minhas favoritas: em 1912, o Barão do Rio Branco – um dos mais populares homens públicos da República Velha – morreu às vésperas do carnaval. As autoridades então decidiram adiar os festejos, jogando-os para o meio do ano, em respeito à memória do maior nome da nossa diplomacia (Abrindo parênteses: quantos políticos de hoje mereceriam o adiamento do carnaval por causa de suas mortes? Pelo contrário: se FHC ou Sarney morressem às vésperas do outrora chamado “tríduo momesco”, os festejos seriam prolongados por, no mínimo, mais dez dias!). Mas se as festas “oficiais” foram realmente adiadas, nos bairros populares do Rio de Janeiro, o povão não perdeu a oportunidade de brincar o carnaval duas vezes e saiu às ruas cantando a seguinte quadrinha: “Com a morte do Barão / Tivemos dois carnavá / Ai que bom, ai que gostoso! / Se morresse o marechá” (numa referência ao então presidente da república, o Marechal Hermes da Fonseca). Com certeza, o velho Juca Paranhos, boêmio inveterado e grande apreciador do carnaval, deve ter gostado imensamente desta “homenagem”, lá no além-túmulo. E é por isto que eu costumo dizer aos meus alunos de Política Externa Brasileira que o Barão deu uma enorme contribuição à cultura pátria: deve-se a ele a invenção da micareta, o carnaval fora de época!

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Trilha Sonora do Dia: "Todo Carnaval Tem Seu Fim", do Los Hermanos.

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Registros das Viagens de um Magistral "Poetinha" ao Lado de Lá do Atlântico.

Em novembro de 2008, nos primeiros meses de existência do deste blog, escrevi um post sobre um episódio extremamente marcante da trajetória de Vinicius de Moraes. Durante uma apresentação em Portugal no dia da decretação do AI-5, o poeta - angustiado com as notícias que recebia do Brasil - declamou os versos de “Pátria Minha”, enquanto Baden Powell o acompanhava ao violão, dedilhando o Hino Nacional Brasileiro. Nos meses seguintes, com o acirramento do regime ditatorial, aquele instrumento de arbítrio acabaria interrompendo a carreira de Vinicius como diplomata. Naquele dia 13 de dezembro, porém, após o concerto em Lisboa, o "poetinha" viveu outro momento memorável, ao enfrentar o protesto de estudantes salazaristas que o esperavam à saída do teatro. Ao invés de seguir os conselhos que lhe deram para se retirar pelos fundos e evitar a multidão, Vinicius preferiu enfrentar os manifestantes de peito aberto. Parando diante deles, abriu um exemplar de sua antologia e começou a declamar a "Poética I". Diante disto, um dos jovens tirou a capa do seu traje estudantil e a colocou no chão para que ele pudesse passar sobre ela, na tradicional e secular homenagem acadêmica prestada nas universidades portuguesas, sendo imediatamente imitado pelos demais.

Alguns dias depois, em 19 de dezembro, às vésperas da partida do poeta para Roma, a cantora Amália Rodrigues organizou em sua casa um de seus famosos e habituais saraus, desta vez tendo como convidado de honra o seu amigo brasileiro. Além de Vinicius e Amália, este encontro contou com a presença de grandes nomes da literatura e da música portuguesas como David Mourão-Ferreira, Natália Correia e José Carlos Ary dos Santos. Assim, essa noite memorável transcorreu entre poemas, canções e histórias cantadas e contadas pelos presentes, ao som das guitarras portuguesas e do violão e animada por generosas doses de bebida e amizade. Na ocasião, o diretor da gravadora de Amália, ao saber do sarau que iria acontecer na casa de sua artista, para lá deslocou um engenheiro de som que, através de microfones ocultos, conseguiu registrar toda aquela reunião. Alguns meses depois, tais gravações foram lançadas em Portugal na forma de um álbum duplo, com o poeta David Mourão-Ferreira assumindo a função de narrador do que ocorreu nessa noite, em um registro feito posteriormente em estúdio. Em 2009, finalmente, este disco foi lançado no Brasil, em uma primorosa edição – como é de hábito – da gravadora Biscoito Fino: é um CD belíssimo intitulado “Amália/Vinicius”. Nele, poemas declamados, fados e sambas misturam-se harmonicamente, compondo uma rica amostra do que há de singular e original na cultura luso-brasileira.

Em 1969, de volta a Portugal, Vinicius participou de um recital na Livraria Quadrante, em Lisboa, onde declamou diversos de seus poemas. Este evento foi gravado e lançado em forma de disco pela gravadora Festa, de Irineu Garcia, naquele mesmo ano, com o título de “Vinicius em Portugal”. Desde a saída de cena desta gravadora no início dos anos 70, tal disco nunca mais foi relançado tornando-se uma raridade disputada por colecionadores. Há alguns anos atrás, porém, por iniciativa da sobrinha de Irineu, a artista plástica Gracita Garcia Bueno, o acervo da Festa começou a ser gradualmente relançado e finalmente, em 2007, “Vinicius em Portugal” voltou às lojas em forma de CD. Dentre os poemas gravados neste belo álbum, destaco “Sob o Trópico de Câncer”, composto pelo poeta entre 1960 e 1969 e o maravilhoso “O Desespero da Piedade”, que compartilho abaixo.

Enfim, são dois grandes CDs que registram as passagens de um dos nossos maiores poetas e compositores populares por Portugal, lá do outro lado - como escreveu Vinicius e cantou Amália - deste “mar que existe entre nós dois/para nos unir e separar".

Clique no Player e ouça “O Desespero da Piedade”, do disco “Vinicius em Portugal”:

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A Pequena África no Rio de Janeiro.

“Pequena África” era o nome que se dava – até as primeiras décadas do século XX - à região formada pelos bairros da Zona Portuária do Rio de Janeiro – Saúde, Gamboa, Santo Cristo – indo até a antiga Praça XI (demolida para dar lugar à Avenida Presidente Vargas) e que era ocupada, já na segunda metade do século XIX, por um grande contingente de negros libertos, escravos de ganho e remanescentes do antigos Quilombos da Pedra do Sal. Carlos Lessa, em seu “O Rio de todos os Brasis” (Editora Record, 2000), ao escrever a respeito da “anatomia social” do Rio de Janeiro do século XIX afirma que apesar dos homens livres e pobres competirem entre si na esfera da produção, sua cidadania precária e incompleta levava-os, "ao mesmo tempo, com suas famílias a desenvolverem sistemas de organização, co-gestão e solidariedade nas zonas de moradia. A Pequena África no Rio de Janeiro é um excelente exemplo de organização solidária a partir de um território próprio da pobreza”. Para este território negro no coração da corte, vieram também inúmeros libertos oriundos da Bahia - então em acentuado processo de decadência econômica, dentre os quais as famosas “tias”, que estão nas origens do samba, e D. Obá II, ex-combatente da Guerra do Paraguai, que se tornou uma espécie de Rei da Pequena África. Ele chegou a liderar uma série de manifestações pró-Imperador, nos primórdios da República, o que ressalta a popularidade que a monarquia possuía entre as camadas mais pobres. Nesta parte da velha Cidade de São Sebastião proliferaram os terreiros de candomblé, descritos por João do Rio em “As Religiões do Rio” e constituiu-se o caldo de cultura que possibilitou o surgimento do samba e de tantas outras manifestações culturais com forte presença da matriz africana. Bem, toda esta introdução é para dizer que, no último sábado, ao dar uma aula sobre a História do Rio de Janeiro, em um curso de atualização para professores de História, comentei sobre um trabalho fundamental a respeito desta temática, o livro “Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro”, do Roberto Moura. Tendo sido editada pela coleção “Biblioteca Carioca”, da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, em meados da década de 1990, tal obra encontra-se esgotada há um bom tempo e não é muito fácil conseguí-la, mesmo nos melhores sebos. Dois dias depois, recebi um e-mail de uma das alunas do curso – valeu, Viviane! – passando-me um link onde o livro do Roberto Moura pode ser baixado gratuitamente. Para quem não conhece esta obra fantástica é uma ótima oportunidade para se ter acesso à ela.

Clique aqui, para fazer o download do livro.
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Caetano Veloso: o mala-mor da MPB - Parte II

Vamos, então, para a segunda parte de meus humildes argumentos (afinal, quem sou eu para criticar tão iluminada e brilhante figura?):

1- Como se pode notar, por tudo o que descrevi no post anterior, a vaidade de Caetano é tão grande que não lhe permite aceitar críticas: aqueles que não o compreendem são tachados de “caretas”, “medíocres”, “conservadores” ou “elitistas”. Um exemplo claro disto foi o que aconteceu no final da década de 1970, quando, em uma entrevista que deu ao “Diário de São Paulo, Caetano respondeu de forma extremamente violenta a alguns críticos musicais que lhe cobravam um maior engajamento e um posicionamento político mais claro, depois de ele dar algumas declarações de que “não sabia nada do que se passava no Brasil e no mundo”. Citando nominalmente José Ramos Tinhorão, Maria Helena Dutra, Tárik de Souza e Maurício Kubrusly, ele dizia que os cadernos de cultura dos jornais e revistas brasileiros eram dominados por uma esquerda medíocre e repressora que obedecia a dois senhores: o dono da empresa e o chefe do partido. Tal entrevista levou o cartunista Henfil a escrever uma dura crítica a Caetano chamando-o de covarde e dedo-duro por denunciar seus críticos como membros do Partido Comunista, em um país onde ser comunista dava cadeia, torturas e até a morte. Mais recentemente, na entrevista citada no post anterior e publicada no jornal “Expresso”, de Lisboa, Caetano respondeu às criticas recebidas por ter sido matéria de capa da revista “Caras” da seguinte forma: “Pode-se gostar ou não, mas acho pior, sendo realmente uma celebridade, fingir que não o sou, que sou chique. Há uma altura em que não se pode aparecer na Caras para se poder ficar numa área superior, como se se pertencesse a uma elite de bom gosto que não se mistura com a vulgaridade dos novos-ricos (...) Por isso, sou a favor do capitalismo, da vulgaridade, sou contra Adorno, que é igual à direita, que quer restaurar a aura das grandes famílias, das grandes posições de responsabilidade cultural detidas por um grupo fechado e excelente” . Não é preciso dizer que todos esses pitis foram dados com grande cobertura midiática...
2- O culto à figura de Caetano é tão forte que se construiu uma memória coletiva sobre ele que é pontilhada por inúmeros esquecimentos. A sua imagem pública é a de uma figura progressista, que foi perseguida pelo regime militar, que possui posições políticas identificadas com uma esquerda “moderna” e que sempre levantou bandeiras de vanguarda. Desta forma, há a lembrança do Caetano exilado em Londres por conta da ditadura, mas esquece-se daquele que - como citei há pouco - dizia, ainda durante os anos de chumbo, que não queria saber de política e que acusava seus críticos de “comunistas”; esquece-se do Caetano que, logo após a eleição de Fernando Collor, declarou ter grandes simpatias pelo novo presidente e por seu discurso “modernizador” ou daquele que, reiteradas vezes, declarou todo o seu apreço por Antonio Carlos Magalhães. Isto sem falar, em tempos mais recentes, do Caetano que foi alçado pelo PhDeus Fernando Henrique Cardoso – de quem se declara um grande admirador – à condição de um dos maiores intelectuais do país. No entanto, insistir em lembrar estes episódios pode fazer com que aquele que tenha esta ousadia receba a pecha de estar agindo como um “patrulheiro ideológico” ou a acusação de não ter a sensibilidade necessária para compreender as inquietações de um artista em permanente mutação (ou seria uma “obra em progresso”?).

E por estas e (muitas) outras que não tenho mais paciência para Caê e suas egotrips. E, para finalizar, não posso deixar de reproduzir as palavras do historiador português Romero Magalhães que, ao ser indagado sobre os já citados comentários do gênio de Santo Amaro da Purificação a respeito da colonização portuguesa no Brasil, respondeu: “Ele se deixou embarcar em qualquer coisa que passou à frente. Além do mais, eu prefiro o Caetano a cantar do que a falar sobre coisas de que não sabe”.
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Caetano Veloso: O mala-mor da MPB - Parte I

Não se discute que Caetano Veloso tem o seu nome profundamente marcado na história da Música Popular Brasileira. Na verdade, não é exagero dizer que isto já ocorre desde o final da década de 1960, quando Caetano – juntamente com Gilberto Gil, Gal Costa, Os Mutantes, Torquato Neto e vários outros – esteve à frente de um movimento artístico que teve importância crucial para a nossa cultura: o Tropicalismo. Além disto, nas décadas de 1970 e 1980, ele compôs algumas grandes canções como “Cajuína”, “Muito Romântico”, “O Quereres”, “Língua”, “Como dois e dois” e várias outras que marcaram uma geração. Porém, por conta disto, muita gente alçou Caetano à condição de gênio inquestionável, quase um semideus, e qualquer crítica à sua obra e mesmo à posições pessoais suas - que nada têm a ver com música - passa a ser vista como uma espécie de heresia. Tal postura – que é compartilhada por boa parte dos jornalistas e críticos da grande imprensa – se mostrou bastante clara para mim quando há alguns dias atrás, após ter colocado neste blog uma postagem sobre o que eu chamava de “Música Chata Brasileira”, recebi vários comentários – tanto no próprio post, quanto por e-mail – cujo teor, no geral, era mais ou o menos seguinte: “Quem você acha que é para criticar o Caetano?”. Por conta disto – e também porque desde os primórdios deste blog coloquei em meu perfil que acho esse baiano um chato -, resolvi expor as razões pelas quais não consigo mais ter muita paciência para aturar o Caetano (por questões musicais e extra-musicais). Como os argumentos são muitos, vou dividir este texto em duas postagens para facilitar a leitura.

Sendo assim, vamos aos argumentos:

1-Do ponto de vista musical e poético, desde a década de 1990, a obra de Caetano só pode ser considerada mediana. Apesar de ter produzido algumas boas canções como “Fora de Ordem” e “Haiti”, grande parte do que ele compôs a partir desta época pode ser classificado como fraco ou razoável. Não é a toa que algumas das melhores coisas que ele gravou neste período são regravações de canções de outros compositores ou mesmo de antigas músicas suas (como é o caso de “Como dois e dois”). Na verdade, se analisarmos com mais cuidado, podemos notar que, já na década de 1980, ao lado de grandes composições como “Podres Poderes” e as já citadas “Língua” e “O Quereres”, Caetano andou cometendo coisas como “Comeu” ou “Eclipse Oculto”...
2-Caetano insiste o tempo todo em querer ser “moderno” e “antenado”, procurando passar a idéia de que está sempre na vanguarda e atento a novas tendências. Para mim, isto se aplica à sua obra do final da década de 1960, quando com os demais tropicalistas incorporou à música brasileira elementos da cultura pop internacional, ao mesmo tempo em que reconhecia o valor da produção musical da Jovem Guarda e de compositores considerados kitsch, que estavam fora do mainstream da MPB. Porém, a partir de então, parece-me que ele criou um personagem que acaba sendo um pastiche do que ele representou na época do tropicalismo, um pálido clone de si mesmo. Agora, ao buscar ser moderno ele parece se mover muito mais por um fascínio em estar na mídia – e na moda – e por questões mercadológicas, do que por preocupações estéticas autênticas. Neste sentido, ele busca aparecer como um artista de vanguarda e popular ao mesmo tempo, ao gravar canções de compositores considerados bregas, ao fazer shows como os que ele fazia com a banda Black Rio, no final da década de 1970, ou ao elogiar e cantar em suas apresentações alguns hits do Funk carioca, como faz atualmente. Dentro da mesma lógica, inserem-se as suas constantes aparições na revista "Caras", o sonho de consumo das celebridades vazias;
3-O personagem Caetano considera-se uma espécie de “gênio da raça”, um intelectual que entende de tudo e que pode opinar sobre todos os assuntos. Esta auto-imagem é corroborada por inúmeros de seus admiradores que não cansam de incensá-lo e de aplaudir tudo o que ele faz e diz. Dentre estes, não podemos esquecer o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (outro detentor de um grande ego) que, ao comparar Caetano e Chico, chamou o ex-tropicalista de “gênio”, classificando Chico como “elitista” e “ultrapassado” (será que isto aconteceu porque Chico era um crítico de seu governo, enquanto Caetano o elogiava?). Por conta disto, Caetano dirige um filme soporífero como “Cinema Falado” (1986) - e nenhum crítico tem a coragem de dizer claramente que aquilo é cinema da pior qualidade - ou dá declarações como as que ele deu ao jornal português “Expresso” há alguns anos atrás, em que afirma textualmente que “a colonização portuguesa do Brasil foi a pior coisa que você pode imaginar. Foi o oposto dos EUA, para onde alguns ingleses foram para criar um país melhor”. Afirmando isto, o “gênio” baiano reproduz o mais rasteiro senso comum, esquecendo toda a produção historiográfica brasileira sobre o tema - desde pelo menos Caio Prado Júnior, há mais de sete décadas –, que nos mostra que a questão essencial não é “quem” colonizou, mas sim “como” e “por que” se colonizou.

Continua no próximo post.
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A Luta Inglória de FHC

Há alguns anos, ainda durante a nada saudosa “Era FHC”, o Prof. Francisco Carlos Teixeira da Silva, da UFRJ (grande mestre, grande figura!), deu uma entrevista ao jornal “O Globo” em que afirmava que a constatação de que um presidente entrou, definitivamente, para o imaginário popular se dá quando ele vira enredo de Escola de Samba. Mais adiante, ele comentou que Fernando Henrique, com certeza, jamais seria enredo de Escola alguma. Lembrei-me disto, ao ler no jornal que a Portela estuda a possibilidade de transformar o livro “Lula, o Filho do Brasil”, de Denise Paraná, em seu enredo para 2010. Lembrei-me, também, que em seu primeiro ano como Presidente (2003), a Beija-Flor de Nilópolis já homenageou Lula no enredo “O Povo Conta a sua História – Saco Vazio Não Para em Pé – A Mão que faz a Guerra faz a Paz”. Na ocasião, o enredo não só fazia referência ao programa “Fome Zero”, carro-chefe do primeiro mandato, como no último carro alegórico havia uma imagem do presidente. Além disto, no início do desfile, Neguinho da Beija-Flor incorporou ao já tradicional grito-de-guerra, “Olha a Beija-Flor aí, gente”, o slogan “A esperança venceu o medo”, mote da campanha de Lula. É por estas (e por muitas outras) que FHC, volta e meia, é acometido por ataques de inveja aguda em relação ao seu sucessor, como aconteceu nesta última semana. Deve ser difícil para alguém com o seu ego – que é mais inflado ainda devido aos puxa-saquismos dos baba-ovos da mídia - perceber que nunca vai alcançar a popularidade – no Brasil e no exterior – atingida pelo ex-operário que se tornou presidente. Será que o outrora “Príncipe dos Sociólogos” não consegue perceber que é muito difícil competir com um símbolo? E mais, que quem é representado por este símbolo é, nada mais, nada menos, do que o povo brasileiro, “entidade” que ele, FHC, só conhece bem das teses acadêmicas e das buchadas de bode que comeu em atos populistas de campanha? É dura a vida de um ex-presidente que já teria caído no ostracismo há muito tempo, se não fossem os áulicos da grande imprensa e o saudosismo das viúvas da Daslu.
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No Carnaval de 1969, um hino à liberdade ecoou na avenida...

Há quarenta anos, no carnaval de 1969 (dois meses após a decretação do tristemente célebre AI-5), o Império Serrano entrava na avenida com o enredo “Heróis da Liberdade”, embalado pelo belíssimo samba de Silas de Oliveira, Mano Décio e Manuel Ferreira. Em uma letra que exaltava as lutas pela liberdade ao longo da História brasileira - Inconfidência Mineira, Independência, Abolição - aparecem referências explícitas às manifestações contra o regime militar ocorridas no ano anterior: "Ao longe soldados e tambores/Alunos e professores/Acompanhados de clarim/Cantavam assim:/Já raiou a liberdade/A liberdade já raiou/Esta brisa que a juventude afaga/Esta chama que o ódio não apaga pelo Universo/É a evolução em sua legítima razão". Cantados pelos passistas na avenida, estes versos de Silas de Oliveira - que foram considerados por Carlos Drummond de Andrade uns dos mais bonitos da língua portuguesa - pareciam um desafio aos militares, com o agravante de que naquele coro de milhares de vozes a palavra "evolução" soava como "revolução". Chamado pelas "autoridades constituídas" para "prestar esclarecimentos" sobre o teor do seu samba, Silas - como bom malandro que era - negou qualquer conotação política em sua letra. Mas naquele carnaval, o primeiro depois do início do período mais feroz da ditadura, "Heróis da Liberdade" constituiu-se em um verdadeiro hino contra o obscurantismo e a repressão.

Heróis da Liberdade

(Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola e Manuel Ferreira)

Ô ô ô ô
Liberdade, Senhor,
Passava a noite, vinha dia
O sangue do negro corria
Dia a dia
De lamento em lamento
De agonia em agonia
Ele pedia
O fim da tirania
Lá em Vila Rica
Junto ao Largo da Bica
Local da opressão
A fiel maçonaria
Com sabedoria
Deu sua decisão lá, rá, rá
Com flores e alegria veio a abolição
A Independência laureando o seu brasão
Ao longe soldados e tambores
Alunos e professores
Acompanhados de clarim
Cantavam assim:
Já raiou a liberdade
A liberdade já raiou
Esta brisa que a juventude afaga
Esta chama que o ódio não apaga pelo Universo
É a evolução em sua legítima razão
Samba, oh samba
Tem a sua primazia
De gozar da felicidade
Samba, meu samba
Presta esta homenagem
Aos "Heróis da Liberdade"
Ô ô ô

Ouça aqui "Heróis da Liberdade" na bela interpretação de Roberto Ribeiro:





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Sacis de todo o Brasil, unamo-nos!

(Ilustração: José Luiz Ohi/Reprodução: SOSACI)

No “Manifesto Antropofágico” (1928), Oswald de Andrade afirmava: “Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente”. Disto, não discordo: a antropofagia é a marca da identidade nacional brasileira. Se quisermos teorizar mais, podemos recorrer à Boaventura de Souza Santos: a nossa cultura é uma “Cultura de Fronteira” caracterizada pelo acentrismo, pelo cosmopolitismo, pela dramatização e a carnavalização das formas e pela carga barroca. Portanto temos horror à xenofobia. Mas ser cosmopolita não significa aceitar o colonialismo cultural imposto pela globalização totalitária. De novo o “Manifesto Antropofágico”: “Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar. (...) Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: – É mentira muitas vezes repetida (...) A nossa independência ainda não foi proclamada. Frase típica de D. João VI: – Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte. Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama”. Por que toda esta digressão? Hoje no mundo anglo-saxão comemora-se o “Halloween”. O Problema é que nas colônias do Império do Norte isto também começou a ser feito. Os cursinhos de inglês iniciaram esta moda há alguns anos atrás. Depois as escolas regulares também começaram a fazê-lo. Hoje até as escolas públicas dos morros e das periferias aderiram à onda: nossas crianças pobres se vestem de bruxas como as americanas e dizem “Travessuras ou Gosturas?”. Mas não comem como as americanas (Salve, Carlos Lyra!). Por isto, meus aplausos aos Deputados Aldo Rebelo e Ângela Guadagnin que, em 2005, apresentaram o projeto de lei que institui o dia 31 de outubro como o “Dia do Saci”, em todo o Brasil (em alguns estados, como São Paulo, isto já está vigindo através de leis estaduais). “Tupi or not tupi, that is the question. Contra todas as catequeses”. O que temos de sangue celta está diluído no sangue misturado de nossos ancestrais portugueses (juntamente com o de judeus, árabes, germânicos, romanos, gregos, fenícios e os que mais passaram pela Península Ibérica)que, por sua vez, aqui em Pindorama também se misturaram com ameríndios, africanos, japoneses,alemães e tantos outros que se diluíram nesta imensa "nova civilização , mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma", como a definiu o mestre Darcy Ribeiro. Portanto, basta de "Halloween"! Viva o Dia do Saci!

Manifesto Sacizista

Elaborado pela SOSACI(Sociedade dos Observadores de Saci)

Um espectro ronda a indústria da cultura. Como já ocorrera durante a I Guerra Mundial – quando os chamados “povos civilizados” se matavam entre si nos campos da Europa, como lembra Monteiro Lobato em seu “Inquérito”, escrito em 1917 –, o espectro do Saci voltou para dar nó na crina das potências que invadem os outros países com uma “indústria cultural” predadora e orquestrada.

O Saci é reconhecido como uma força da resistência cultural a essa invasão. Na figura simpática e travessa do insigne perneta, esbarram hoje, impotentes, os x-men, os pokemon, os raloins e os jogos de guerra, como esbarravam ontem patos assexuados e ratos com orelhas de canguru.

É tempo, pois, do Saci expor abertamente seus objetivos, lançando um manifesto e denunciando o verdadeiro espectro: o espectro do imperialismo cultural. Para tanto, outros expoentes do imaginário cultural brasileiro – como o Boitatá, a Iara, o Curupira e o Mapinguari – reuniram-se e redigiram o presente manifesto.

A cultura popular é um elemento essencial à identidade de um povo. As tentativas insidiosas de apagar do imaginário do povo brasileiro sua cultura, seus mitos, suas lendas, representam a tentativa de destruir a identidade do nosso país. A história de todas as culturas até hoje existentes é a história de opressores e oprimidos. Hoje, como ontem, o Saci apóia, em qualquer lugar e em qualquer tempo, qualquer iniciativa no sentido de contestar a arrogância, a prepotência e a destruição de que é portadora a indústria cultural do império.

O Saci não se reivindica como símbolo único e incontestável da cultura popular brasileira. O Saci trabalha pela união e pelo entendimento das várias iniciativas culturais que devolvam ao nosso povo a valorização de sua identidade cultural. O Saci não dissimula suas opiniões e seus objetivos e proclama, abertamente, que estes só podem ser alcançados por um amplo movimento de resistência cultural, denunciando os malefícios da indústria cultural imperialista. Que ela trema à idéia de uma resistência cultural popular. Nesta, o Saci nada tem a perder a não ser seus grilhões. E tem um mundo a ganhar.

Sacis de todo o Brasil, unamo-nos!
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