“Pequena África” era o nome que se dava – até as primeiras décadas do século XX - à região formada pelos bairros da Zona Portuária do Rio de Janeiro – Saúde, Gamboa, Santo Cristo – indo até a antiga Praça XI (demolida para dar lugar à Avenida Presidente Vargas) e que era ocupada, já na segunda metade do século XIX, por um grande contingente de negros libertos, escravos de ganho e remanescentes do antigos Quilombos da Pedra do Sal. Carlos Lessa, em seu “O Rio de todos os Brasis” (Editora Record, 2000), ao escrever a respeito da “anatomia social” do Rio de Janeiro do século XIX afirma que apesar dos homens livres e pobres competirem entre si na esfera da produção, sua cidadania precária e incompleta levava-os, "ao mesmo tempo, com suas famílias a desenvolverem sistemas de organização, co-gestão e solidariedade nas zonas de moradia. A Pequena África no Rio de Janeiro é um excelente exemplo de organização solidária a partir de um território próprio da pobreza”. Para este território negro no coração da corte, vieram também inúmeros libertos oriundos da Bahia - então em acentuado processo de decadência econômica, dentre os quais as famosas “tias”, que estão nas origens do samba, e D. Obá II, ex-combatente da Guerra do Paraguai, que se tornou uma espécie de Rei da Pequena África. Ele chegou a liderar uma série de manifestações pró-Imperador, nos primórdios da República, o que ressalta a popularidade que a monarquia possuía entre as camadas mais pobres. Nesta parte da velha Cidade de São Sebastião proliferaram os terreiros de candomblé, descritos por João do Rio em “As Religiões do Rio” e constituiu-se o caldo de cultura que possibilitou o surgimento do samba e de tantas outras manifestações culturais com forte presença da matriz africana. Bem, toda esta introdução é para dizer que, no último sábado, ao dar uma aula sobre a História do Rio de Janeiro, em um curso de atualização para professores de História, comentei sobre um trabalho fundamental a respeito desta temática, o livro “Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro”, do Roberto Moura. Tendo sido editada pela coleção “Biblioteca Carioca”, da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, em meados da década de 1990, tal obra encontra-se esgotada há um bom tempo e não é muito fácil conseguí-la, mesmo nos melhores sebos. Dois dias depois, recebi um e-mail de uma das alunas do curso – valeu, Viviane! – passando-me um link onde o livro do Roberto Moura pode ser baixado gratuitamente. Para quem não conhece esta obra fantástica é uma ótima oportunidade para se ter acesso à ela.
Clique aqui, para fazer o download do livro.
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