A revista científica Nature, uma das mais importantes do mundo, deposita grandes esperanças na pesquisa brasileira, por causa das seguintes evidências sólidas:
- O governo Lula, elogiado pela revista, aprovou medidas que garantem o financiamento da pesquisa depois de primeiro de janeiro de 2011, data na qual sai do Planalto. A próxima década da ciência brasileira está com melhores horizontes.
- Novos centros de excelência estão sendo criados.
- Há a proposta de incentivar o financiamento da pesquisa brasileira por empresas multinacionais.
- O investimento no Ministério da Ciência e Tecnologia duplicou no governo Lula.
- Os resultados brasileiros são surpreendentes se comparados aos dos outros países da América Latina, mas também se comparados aos dos outros BRICs, Rússia, Índia e China. Em 2008 o Brasil era responsável por 43% das publicações científicas da América Latina, em 2008 por 55%. E o Brasil investe muito mais em cada pesquisador do que os outros membros do grupo dos BRICs.
- Com tudo isso, a previsão para a ciência brasileira publicada pela revista, e não contestada, é de crescimento orgânico nos próximos anos.
Essa é a visão da Nature, a qual não foi adequadamente repercutida no Brasil. Uma visão contrária, do professor Marcelo Hermes, da UnB, está ganhando mais espaço. Ele acha que o Brasil não será capaz de fazer pesquisa de ponta, daqui a quinze anos, "porque toda a geração [atual] se aposentou e os atuais não foram formados adequadamente".
Temos, então, duas visões sobre o futuro da pesquisa brasileira. Uma, da Nature, deposita fortes esperanças, e o faz baseada em bases sólidas. Outra, do professor Hermes, é pessimista, e se apoia na afirmação vaga de que os futuros doutores serão piores do que ele e os outros doutores da sua geração.
Eu prefiro acreditar na Nature, e não só porque sou um desses novos doutores. O faço porque prefiro formar uma opinião a partir de bases sólidas do que a partir de uma vaga generalização. Se queremos supor, de maneira sóbria, como será a pesquisa brasileira no futuro próximo, precisamos nos apoiar em bases sólidas, como os dados sobre o aumento de publicações, e a proliferação de centros de excelência. Se há boas bases para prever que os cientistas brasileiros do futuro próximo publicarão mais, como imaginar que o Brasil não será capaz de fazer pesquisa de ponta daqui a quinze anos?
A única maneira de imaginar isso é imaginar que só a geração atual publica, sendo a próxima geração incapaz disso. Mas essa é uma generalização sem bases sólidas.
Uma das evidências apresentadas pelo professor Hermes seria o fato -- a ser checado -- de que praticamente não há reprovação na pós-graduação. Mas isso, ainda que verdadeiro, não seria conclusivo, pois a não reprovação poderia ser indício, justamente, de que o trabalho está ok.
No entanto, ainda que aceitássemos que qualquer instituição que não reprova é por si só ruim, o que precisa ser visto de perto, é de se notar duas coisas. Primeiro, que as seleções para programas de pós-graduação são difíceis, rigorosas e concorridas. Assim, é explicável que haja pouca reprovação, pois quem entra é capaz. Segundo, nem todos os selecionados chegam à etapa final, da defesa da tese, não chegando nunca à etapa que, para o professor Hermes, é a de aprovação por assim dizer automática. Mas seria de se perguntar ao professor Hermes porque esses que ficam pelo caminho não submetem à banca uma receita de bolo em forma de tese, já que tudo é sempre aprovado, segundo ele. Eu diria que eles não fazem isso porque há cuidados e controles rigorosos quanto ao que é uma boa tese. Mas, é claro, essa é apenas a opinião do "doutor Mobral" que vos escreve.