Por que defender liberdade para os dissidentes cubanos?

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  • terça-feira, 16 de março de 2010
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  • Já que é um dos assuntos do momento, vamos falar sobre o caso dos presos políticos de Cuba. Minha posição é parecida com a do NPTO. Acho que Lula deve pedir liberdade para os presos políticos cubanos. Acho que nós com simpatias de esquerda perdemos, visto que não convencemos Lula disso. Acho importante insistir com Lula sobre o ponto.

    Por quê? Por três motivos.

    Primeiro, porque é isso o que nós fazemos: defendemos o direito das pessoas de pensar e de se organizar livremente. A limitação desse direito sempre ofende, seja nos trópicos, seja onde for.


    Terceiro, e mais importante, porque o argumento mais em voga entre o pessoal que se diz de esquerda e defende a posição do governo cubano é algo do tipo "nós só precisamos fazer o que é certo se os críticos também fizerem", e este argumento é fraco. Esse tipo de argumento está por trás de todas as respostas que simplesmente justapõem a repressão avalizada pelos críticos de Cuba à repressão cubana. Isso é simples de se fazer, e posso até dar mais material não usado. Tipo, indo para outra querela atual, EUA versus Irã: "Que moral têm os EUA para falar contra o regime repressivo do Irã, visto que todo o sistema econômico dos EUA está em total simbiose com o sistema econômico da China, sendo que a China é muito mais autoritária e truculenta do que o Irã?"

    O problema desse tipo de argumento é que ele erra o alvo. Ao invés de falar do que estava em discussão, no caso o tratamendo de Cuba aos dissidentes, o argumento ataca o interlocutor. Além da lógica, tal tipo de resposta abre espaço pra vários problemas, dentre os quais a possibilidade da desconsideração daquilo que preocupava inicialmente, no caso a liberdade e a igualdade. Pois imagine o seguinte diálogo:
    Embaixador A: Vocês Bs precisam libertar os dissidentes!
    Embaixador B: Só se vocês As reconhecerem que sustentam a repressão aos Bs em Tal-Lugar.
    Embaixador A: Tem razão. Mas não queremos fazer tal coisa. Então façamos o seguinte: cada um reprime os seus, e não se fala mais nisso!
    A meu ver, tal efeito seria a derrota da liberdade e da igualdade de pessoas concretas. E é por tais prerrogativas dessas pessoas reais que nós lutamos, certo?

    É claro que, muitas vezes, argumentamos da maneira falaciosa indicada acima: quando alguém nos acusa de cometer uma barbaridade, respondemos que o interlocutor faz o mesmo. Essa é uma maneira muito comum de argumentar, mas, apesar do autoengano, sabemos muito bem, em tais ocasiões, que estamos agindo mal.

    Esse tipo de argumento tem uma variação em circulação, a qual pode (1) comparar o relativamente bom tratamento dado aos dissidentes cubanos nas prisões ao tratamento absolutamente brutal dado aos "suspeitos de terrorismo" nos calabouços egípcios patrocinados pelos EUA e pela Inglaterra, e (2) alegar que os opositores em geral só podem se queixar caso o outro lado se aprume. Novamente, aqui se erra o alvo, pois não é isso o que se discute. Mas também há outro problema: talvez o crítico não seja um burocrata do governo federal dos EUA ou do reino da Inglaterra. Nesse caso a generalização precipitada colocaria no mesmo saco os defensores das práticas dos EUA/Inglaterra e os defensores dos direitos humanos da Anistia Internacional, o que seria falacioso.

    No fundo, se bem entendo, o ponto do NPTO é que temos que defender que se faça o que é certo em boas bases. Acho, também, que essa é uma das coisas boas que as esquerdas em geral podem dar ao debate público sobre esse e outros assuntos, mantendo os princípios, isto é defendendo a igualdade e a liberdade das pessoas que fazem parte deste mundo, não importando origem, etnia, credo, cor ou gênero. Esta seria uma contribuição bem melhor do que a dos caras engraçados e bem-pagos que vociferam contra Cuba em fóruns e jornais, não não estão de fato preocupados com a repressão política por exemplo em Honduras. Nós estamos, e devemos estar.

     
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