Vivendo em Tempos Interessantes: Saudações ao Futuro que Chega.

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  • quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
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  • Tarsila do Amaral - "Carnaval em Madureira" - 1924

    Eric Hobsbawm, o grande historiador britânico, vem reiterando incessantemente nos últimos anos que o grande programa político destes nossos dias deve ser a retomada e a defesa dos valores iluministas, como um contraponto necessário ao irracionalismo e a barbárie. Posso dizer que a adesão – mas sem perder o espírito crítico e uma boa dose de iconoclastia – a este programa tem marcado o “Abobrinhas Psicodélicas” neste pouco mais de um ano de existência. Neste tempo, passei a ter uma noção efetiva do que representa hoje a grande rede e da capacidade daquilo que vem sendo chamado de “blogosfera”, de intervir e de influenciar o real. Sem ufanismos ou otimismos exagerados, percebo hoje que a “guerrilha virtual” levada a cabo por milhares de pessoas em todo o Brasil tem conseguido causar alguns pequenos estragos na, até agora, intransponível barreira midiática. É lógico que ainda estamos longe da quebra do monopólio da informação, mas – pela primeira vez – vemos os senhores da mídia acusando os golpes que vem sofrendo das fundas cibernéticas dos inúmeros “Davis” da internet. Neste sentido, os blogueiros estão entre os primeiros que perceberam, consciente ou inconscientemente, o fenômeno que foi traduzido em palavras pelo teólogo e deputado democrata-cristão alemão Heiner Geibler: “Antigamente, nas revoluções, as estações de trem eram ocupadas. Hoje, ocupamos conceitos”. Assim, o que começou meio que na brincadeira – um espaço para exorcizar fantasmas e também para publicar textos que fugissem dos padrões mais rígidos dos artigos acadêmicos que habitualmente escrevo – acabou se tornando um gostoso vício e, por que não, uma pequena trincheira onde eu exponho e debato idéias. E neste relativamente curto período de existência do blog, encontrei diversos companheiros e companheiras de caminhada que participaram – concordando ou discordando – das discussões aqui travadas e que, principalmente, mostraram que apesar de aparentemente estarmos nadando contra a corrente, ainda há espaço para a construção de utopias coletivas. Sem sombra de dúvidas, vivemos em tempos interessantes. E para nós que vivemos no sempre tão propalado “País do Futuro”, eles se mostram mais interessantes ainda, porque parece que, finalmente, o futuro chegou e, ao passarmos da contemplação para a ação, estamos participando de uma pequena revolução silenciosa – à brasileira – que tem atordoado os setores que secularmente foram os fiadores e intermediários da nossa miséria e da nossa dependência. Assim, é com esperança e com ânimo renovado para continuar a "combater o bom combate" que desejo a todos (as) um ótimo 2010 e que deixo aqui dois poemas que traduzem bem o espírito deste blog. O primeiro é da poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen e foi escrito dois dias após a Revolução dos Cravos, em abril de 1974; o segundo, é de um grande poeta brasileiro, já citado aqui outras vezes, Eduardo Alves da Costa:

    Revolução
    (Sophia de Mello Breyner Andresen)
    Como casa limpa
    Como chão varrido
    Como porta aberta

    Como puro ínicio
    Como tempo novo
    Sem mancha nem vício

    Como a voz do mar
    Interior de um povo

    Como página em branco
    Onde o poema emerge

    Como arquitectura
    Do homem que ergue
    Sua habitação

    27 de Abril de 1974

    Não Te Esqueças do Mundo
    (Eduardo Alves da Costa)

    Ainda que o divino te chame pelo nome
    e te ofereça a sua intimidade,
    não te esqueças do mundo.
    Porque é aqui, entre dores e esperanças
    que teus irmãos caminham,
    atados aos esquecimento.
    E se tu, que recebeste a benção da recordação,
    não te importares mais com eles,
    quem os receberá na região dos sonhos,
    para lhes traduzir o sentido das visões
    que os tornam tão próximos dos Deuses?

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    Trilha Sonora do Dia: "Bom Tempo", de Chico Buarque, cantada por Mônica Salmaso.

     
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