O estrebuchar da velha mídia

O Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo, repete argumentos recentes da mídia em papel, que pretende com seu poder de oligopólio acabar com o acesso gratuito na internet ao seu conteúdo noticioso. Para ler, só pagando. Como? Ainda estão definindo. Mas, o diretor já avisa em artigo o que desejam. Cita exemplo da indústria cinematográfica, de Lost, que amarga perda de audiência. Algumas observações são necessárias:

1) Lost é péssimo exemplo. Foi a internet que muito ajudou a divulgar a audiência da série. É assunto hoje já velho: o quanto a pirataria, de fato, impede o negócio dessa indústria. Lost já está com seu prazo de validade esgotado, com ou sem pirataria.

2) No dia que a indústria da informação na internet fechar todas as portas, quem comentar as notícias pagas, quem se atrever a romper o cerco e fazer reportagem, ganha o mercado. O que falta é um outro modelo de negócios, algo que a mídia não quer fazer.

3) A tentativa de salvar a velha indústria do papel, que tem que migrar e ganhar dinheiro na internet, começa a ficar patética com ajudas como a do juiz Richard Posner, de Chicago, potencial candidato a Suprema Corte americana. Ele, simplesmente, quer proibir qualquer link para material com copyright. É um visionário, um homem à frente de seu tempo...

4) E se blogs e redes sociais copiam material de jornais, o contrário já acontece, sem nenhum crédito. O que fazer se a mídia tradicional perde em agilidade e qualidade para muitos blogs?
Clique para ver...

Nossa direita e suas vergonhas

A Veja tem um blogueiro pago para brindar seu “seleto” público com este tipo de opinião:

O cerco está se fechando sobre o governo provisório de Honduras. Parece difícil que resista à pressão. Se Barack Obama não exercesse a presidência dos EUA com uma espécie de vergonha da história gloriosa do seu país, teria a coragem de não incentivar o circo.

Reinado Azevedo, hoje

Imagino a que tipo de história gloriosa o blogueiro se refere, saudoso. São muitas, destaco três, entre extensa lista:


Momento glorioso 1) Guerra do Vietnã, onde as forças armadas americanas viajaram léguas para defender, segundo elas, a “democracia”. Usaram, para convencer a população civil, produtos como o napalm e o agente laranja, deixando um rastro de milhões de vítimas inocentes.


Momento glorioso 2) Em 2003, mais uma vez os americanos viajaram léguas para impor sua “democracia”, agora ao povo iraquiano. Diziam que procuravam armas químicas, mas todos sabiam que estavam de olho no petróleo do país.


Momento glorioso 3) Depois da guerra hispano-americana, os EUA foram tomar posse de seu butim nas Filipinas. Em 1906, o general Leonard Wood comanda o que ficou conhecido como o Massacre Moro, quando pelo menos nove centenas de filipinos, incluindo mulheres e crianças, foram encurralados numa cratera vulcânica na ilha de Jolo e metralhados e bombardeados durante dias. Tal corajosa façanha mereceu cumprimetos do presidente Theodore Roosevelt: “Congratulo a si e aos oficiais e homens sob o seu comando pelo brilhante feito de armas que o senhor e eles sustentaram tão bem a honra da bandeira americana”.
Clique para ver...

FH era chavista?

Depois de ampla rejeição à quartelada em Honduras, onde até os EUA, eternos patrocinadores de golpes de estado pelo planeta, pedem o retorno do presidente eleito, nossa mídia faz acrobacias sobre o assunto. E sobra sempre para o Chávez. O Hayle Gadelha tem uma ótima observação para a barafunda de raciocínio de nossa direita:

Hoje li a seguinte nota na coluna do Ancelmo, no Globo: "Não se pode apoiar golpe contra a democracia. A única saída em Honduras é devolver imediatamente Manuel Zelaya ao cargo. Mas a situação no país deixa o alerta no ar. É que a crise toda começou quando Zelaya, inspirado em Hugo Chávez, quis prorrogar seu mandato contra todas as instituições legislativas e judiciárias" (com grifo meu). Fiz algumas reflexões: 1) Apesar de Ancelmo ter dito com todas as letras que não se pode apoiar golpe contra a democracia, ele acaba mostrando que também foi contaminado pela justificativa do golpe, que seria a inspiração em Hugo Chávez na oposição às instituições legislativas e judiciárias. 2) Quando o Congresso venezuelano aprovou a prorrogação do mandato presidencial, disseram que que ele era "controlado completamente por seguidores de Hugo Chávez". Nesse caso não vale a instituição legislativa? Que inspiração é essa? 3) Fernando Henrique, quando obteve a prorrogação do seu mandato através do Congresso, inspirou-se (por antecipação) em Hugo Chávez? 4) Zelaya, é verdade, opôs-se às instituições legislativas e judiciárias (onde não tinha maioria) e pretendia ouvir diretamente a população, através de voto livre. Está errado ele? Ou faltou inspiração? 5) Que inspiração teria sido mais cara - a da prorrogação através do Congresso à Fernando Henrique ou em consulta à população como pretendia Zelaya? 6) Por último, quem inspirou o golpe militar hondurenho?
Clique para ver...

As hipocrisias serrosferatusianas de cada dia


O Ricardo Kotscho é um ótimo observador, lembra de uma reportagem esquecida pela mídia ao ouvir a declaração de José Serra em encontro do PPS ao lado de Roberto Freire, presidente da legenda dos neoliberais ex-comunistas. Disse o governador avampirado:

“O PT usa o governo como se fosse propriedade privada. Quando o PT foi para o governo, incorporou esse patrimonialismo do partido. Em São Paulo, não existe esse loteamento governamental, ao contrário do federal”.

Kotscho, jornalista de boa memória, fotografou a hipocrisia do candidato de dentes afiados:

Não existe? Serra esqueceu-se que estava ao lado do presidente do PPS, Roberto Freire, suplente do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), atualmente ganhando a vida como membro de dois conselhos municipais em São Paulo, embora seja do Recife e more em Brasília.

Ex-candidato a presidente da República, hoje Freire não se elege nem síndico em sua cidade, mas fatura R$ 12 mil por mes para participar de uma reunião mensal e assinar as atas da Emurb (Empresa Municipal de Urbanismo) e da SP-Turismo.

Quem lhe arrumou esta boquinha foi o próprio governador José Serra, em 2005, quando era prefeito de São Paulo. Mantida pelo seu sucessor Gilberto Kassab, a sinecura abriga hoje 58 conselheiros, que custam R$ 4 milhões por ano à Prefeitura.

Quem fez a denúncia, em janeiro deste ano, foi o repórter Fabio Leite, do Jornal da Tarde. Mas, ao contrário do que acontece no plano federal, não mereceu nenhuma repercussão na chamada grande imprensa. Em seu texto, Leite escreveu que esta “bondade administrativa visa acolher aliados e engordar os salários dos secretários municipais”.

Até hoje esta informação não foi desmentida nem se tem notícia de que Roberto Freire, fiel à sua cruzada de paladino da moralidade alheia, tenha aberto mão da bem remunerada boquinha.

Clique para ver...

Trocando Chico Buarque por Tiririca

CREA- RS. Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Rio Grande do Sul . Entidade autárquica de fiscalização do exercício e das atividades profissionais e blá blá blá. Fiscaliza, regula e tal. Tudo bem, nada contra entidades que fiscalizam e regulam. Todo mundo é a favor delas - menos no jornalismo, porque o PIG é contrário, então todo mundo também é, até porque parece censura limitar o exercício do jornalismo a jornalistas, embora ninguém ache censura limitar o exercício do Direito a advogados, por exemplo. Mas isso é outro papo.

No momento, o assunto é o CREA- RS. Como o CREA-RS interfere na vida da maioria dos profissionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, Técnicos Agrícolas e afins? Ele fiscaliza, regula e... Cobra! No sentido financeiro mesmo. O CREA cobra anuidade e cobra por cada atividade que o profissional fizer. O cara emite um laudo, paga uma ART. Faz uma planta, paga uma ART. E, em troca, ganha o quê do CREA? Supostamente, garantias profissionais. Mas, na prática, assim de modo visível, uma revistinha.

Isso mesmo. Uma revista mensal. Antes, era um jornal. Nos últimos anos, passou a ser uma revista bonita, bem editada. De vez em quando, até com um ou outro artigo interessante. E sempre com uma charge colorida, com o traço refinado e a aquarela elegante do Santiago. Santiago desenha para a entidade desde 1986, primeiro no jornal, depois na revista.


Isso até este mês. Porque, no mês que vem, o humor elegante e multipremiado do Santiago será substituído por uma tosqueira inqualificável! Um chargista que, para dizer o mínimo, possui recursos técnicos e cognitivos muito escassos: Marco Aurélio.

Quer dizer, além de obrigar seus associados compulsórios a pagarem para trabalhar (nada contra, já disse), o CREA-RS os obrigará a verem coisas como estas (não tenho a menor idéia do que este desenho signifique. Por favor, não me expliquem).




O motivo? Ao que parece, o presidente do CREA-RS, Eng. Civil Luiz Alcides Capoani, acredita que assim sua entidade terá mais espaço na Zero Hora. A vantagem de se ter mais espaço no dito jornal, não se sabe...

Quem quiser manifestar sua opinião, sobretudo os leitores do Conselho em Revista - profissionais com “o CREA em dia” - podem fazê-lo por meio da ouvidoria do conselho ou pelo e-mail revista@crea-rs.org.br.
Clique para ver...

Não ao golpe de estado em Honduras


O presidente Manuel Zelaya de Honduras foi afastado hoje de seu cargo em um golpe de estado. O motivo alegado foi a sua proposta de um plebiscito no país sobre mudanças na constituição, que permitiriam a reeleição presidencial. Quer dizer, a proposta, que tem amplo apoio popular, foi impedida de ser levada democraticamente à nação, e o presidente punido, levado para fora do seu país. É apenas mais um golpe de estado durante governo democrático americano.

Zelaya fez o caminho certo, acreditou nos valores democráticos, que seus inimigos fingiam acreditar. Se estivesse do outro lado, compraria deputados, o judiciário, teria a mídia em seu bolso, e teria mudado a lei apenas com o Congresso, tal como feito no Brasil por Fernando Henrique Cardoso.

Segue texto de Laerte Braga:

Golpe é inaceitável – como fica o Brasil?

Laerte Braga


O golpe de estado em Honduras é inaceitável em todos os sentidos. A diplomacia brasileira e o presidente Lula, mais que ninguém, têm que tomar posição dura e clara, inclusive não reconhecimento da barbárie militar, rompendo relações com aquele país até que seja restabelecida a vontade popular.

Não é hora de notas de condenação. É hora de atitudes concretas e efetivas. Não existe conversa de acordo nesses momentos. Existe um presidente eleito seqüestrado por militares encapuzados – típico dos golpistas em qualquer lugar do mundo, inclusive aqui no Brasil – momentos antes do início de uma consulta popular.
Os fóruns internacionais clássicos, Nações Unidas e OEA – Organização dos Estados Americanos – têm a obrigação de reagir e impedir que se consuma um atentado ao processo democrático em Honduras.

Está evidente a intervenção do embaixador dos EUA no processo golpista, denunciada desde quarta-feira quando um general, desses com medalhas de bom comportamento e por saber comer de boca fechada e com garfo e faca, se opôs a uma decisão presidencial, com largo apoio popular, insurgindo-se em nome dos interesses de elites nacionais subordinadas, lógico, como as daqui, aos grandes grupos econômicos e bancos no perverso modelo de globalização segundo a ótica exclusiva dos donos do mundo.

A posição do governo brasileiro não pode limitar-se a uma condenação oficial do golpe. O tamanho, o peso, a importância do Brasil o tornam parte ativa do processo político latino-americano e não se pode permitir que essa região volte a ser palco de golpes de estado desfechado por elites e militares quando têm seus interesses contrariados.

Elites, em qualquer lugar do mundo, são apátridas. Regem-se por lucros e escoram-se na hipocrisia – demonstrada agora – da farsa democrática.

Não têm escrúpulos quando seus “negócios” são contrariados e quase sempre têm os militares como parceiros. Militares se arrogam o privilégio do patriotismo doentio e fanático que na verdade disfarça características de forças da barbárie a serviço dos grandes grupos.

É recente e Lula tem que se lembrar, a defesa que o ex-comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno fez de empresas estrangeiras que atuam ali, criticando índios, trabalhadores sem terra com o pretexto que estavam sendo manipulados por organizações internacionais. Como se a VALE, que patrocina o general, hoje na reserva, em conferências Brasil afora defendendo o “patriotismo” e a Amazônia, fosse nacional.

O discurso é igual em qualquer lugar do mundo entre golpistas.

Não há o que contemporizar. É restabelecer a vontade popular e pronto. Isolar Honduras enquanto estiver submetida a militares golpistas e elites pútridas – como as nossas –. Não há que se falar em congresso e corte suprema, basta tomarmos como exemplo o nosso congresso, a nossa corte suprema. Lembrarmo-nos de Gilmar Mendes. De José Sarney.

E nem há que se falar em “gorilas”. Os gorilas não merecem. São generais golpistas a soldo de empresas, bancos e latifúndios. Consideram o país, nesse arremedo de patriotismo canalha, como propriedade privada.

A ação diplomática, até para evitar que a moda volte a imperar, são várias as tentativas contra os governos de Chávez e Evo Morales. Se prestarmos atenção a cada proposta ou cada decisão do presidente do Paraguai que contraria essas elites aparece alguma figura a dizer-se estuprada ou forçada a sexo com o presidente. Lula deve lembrar-se da campanha de 1989 contra Collor quando foi vítima da mesma prática de chantagem e mentira.

Nem é hora de acreditar na grande mídia – aliás hora nenhuma pode-se acreditar –. Os próprios militares golpistas mostram isso quando cortam os sinais de tevê e rádio das emissoras oficiais e mantêm os sinais da emissoras privadas. São cúmplices.
Há um golpe e repressão brutal e violenta como em todos os golpes.

Não é um golpe só contra o povo hondurenho. É contra todos os povos da América Latina. E a despeito do show do presidente dos EUA, com interferência do embaixador norte-americano em Tegucigalpa. Escorados na representação diplomática dos EUA.
O desafio do governo Lula é mostrar agora que essa época de golpes é coisa do passado e tem que ser sepultada.

Não cabe a militares e nem a banqueiros, empresários e latifundiários decidir os destinos de um povo. Cabe ao próprio povo. E era isso que Zelaya pretendia com o referendo. Ouvir o povo sobre as reformas na constituição de Honduras.

E nem cabe analisar o governo de Zelaya. Essa é uma prerrogativa do povo hondurenho.
É isso que deve ser considerado, nada mais. Esse tem que ser o norte da diplomacia brasileira, do governo brasileiro, do contrário num futuro próximo podemos ser novamente vítimas de “trogloditas” como disse Chávez.

E não vale culpar o presidente do Irã, ou a revolução islâmica e popular naquele país. Os velhos pretextos de golpistas.
“Ou é democracia ou não é”, como dizia Sobral Pinto. “Não existe democracia a brasileira, ou a francesa, democracia não é como peru”.

E quem enche a boca para falar em democracia são eles.

Lula tem o dever de bater de frente com essa corja que mantém intocados privilégios de elites e dos EUA. O chanceler Celso Amorim é um dos maiores da nossa História exatamente por ter a percepção da importância do processo político em curso na América Latina. Tem consciência que o seqüestro do presidente, dos embaixadores de países como a Venezuela, Cuba e Nicarágua por militares/bandidos em Honduras é um crime sem tamanho.

Não se pode deixar esse tipo de criminoso impune de forma alguma. Não importa que Obama seja só um show e que os EUA continuem o mesmo.

O golpe é inaceitável e o Brasil tem o dever, por seu governo, de não aceitar esse tipo de prática dos que se acham donos da vontade popular.


Clique para ver...

A sociedade como sacrifício

Basta passar os olhos pelo noticiário ou observar a vida cotidiana para notar que algo desafina no plano das instituições. A insatisfação com elas é difusa. O mal-estar dentro delas, indisfarçável. Elas nos desagradam, aborrecem-nos ou não nos inspiram confiança, seja na política (partidos, casas legislativas), na educação (escolas, universidades) e na segurança pública (polícia, presídios), seja na economia (empresas, mercados) e na vida associativa primária, na família.

Precisamos de sociologia para discutir o ponto. Não dá para achar que as instituições falham porque são defeituosas, mal dirigidas ou mal organizadas.

Nossa época está atravessada por três processos que se superpõem, potencializando a globalização, a conectividade geral e o ritmo veloz que imperam por toda parte. As sociedades modernas estão sendo gradativamente reconfiguradas, antes de tudo, pela individualização: os indivíduos se “soltam” dos grupos, que sobre eles exercem cada vez menos poder e controle. Soltando-se dos grupos, soltam-se também das instituições. A individualidade se tornou um valor inestimável, tanto no sentido da privacidade, quanto no sentido da “autonomia moral”, do pensar e decidir com a própria cabeça. E muitos destes indivíduos individualizados se tornam individualistas, egoístas, indiferentes aos demais.

Individualização, individualidade e individualismo tornaram-se assim condições estruturais. Combinados com os demais traços da época, explicam muitos dos dilemas associativos atuais, que refletem um quadro de “dessolidarização”. As instituições não funcionam bem porque não conseguem incluir, congregar e coordenar os indivíduos, que delas escapam ou a elas se tornam indiferentes. Os indivíduos necessitam delas, mas são levados a viver como se seguissem uma carreira-solo, alheios a vínculos e compromissos coletivos.

Nem sequer na dimensão privada da vida as coisas estão ajustadas. O alto índice de divórcios, os crimes passionais hediondos e os novos formatos de família e relacionamento revelam que certos equilíbrios foram perdidos, mas também sugerem a presença de um maior desejo de liberdade. Conservadores e tradicionalistas, com maior ou menor dose de ingenuidade, acreditam que tudo se deve à degradação dos costumes, que se recuperariam caso a ordem e o rigor moral voltassem a prevalecer no seio das famílias. Para eles, o desejo de liberdade é subversivo e precisa ser contido.

Devemos pensar com cuidado. A vida coletiva não se esgotou, nem as pessoas e os grupos andam às tontas pelo mundo. Todos sabem que uns precisam dos outros e que todos precisam de limites e coordenação, mas a tendência prevalecente indica que o poder das instâncias coletivas se reduziu. Ele continua a existir, evidentemente, mas não porque o coletivo forneça direção e identidade para seus integrantes ou aumente a potência deles como sujeitos, e sim porque lhes possibilita reforçar demandas e posições.

Ao perderem o hábito de valorizar o coletivo, as pessoas tendem a se ver mais como “vítimas” do que como beneficiárias da vida em sociedade. Elas estão de fato sobrecarregadas de pressões e de problemas, e não têm muito com quem dividir isso. Sequer o trabalho e o emprego – esses trunfos categóricos do gênero humano – conseguem hoje organizar as pessoas. É compreensível que sintam o coletivo como um fardo, que se deve suportar com abnegação ou asco.

A vontade de ser livre e independente, de pensar com autonomia e criar as próprias regras, introjetou-se na consciência social. Ganhou impulso com as transformações que vêm atingindo as sociedades contemporâneas. Animada e embaralhada pela possibilidade que se tem hoje de se fazer tudo, ou quase, acabou por dissolver a percepção do social.

Mas a vida coletiva continua a existir e, nessa medida, continua a exigir que se aceitem regras e se coopere. Isso implica ao menos duas coisas.

Numa dinâmica tradicional, ou estruturalmente autoritária, implica o sacrifício do indivíduo e de seus desejos, o silêncio e o bloqueio de sua mobilidade. O grupo prevalece unilateralmente sobre as pessoas, monitorando-as sem apelação. É um sacrifício imperceptível, mas nem por isso menos real, já que o indivíduo sequer imagina a possibilidade de escapar à regra e sofre as limitações como um “fato natural”.

Numa dinâmica social moderna, diferenciada e democratizada, como a nossa, implica o sacrifício do individualismo, a capacidade de compreender o todo, assumir as próprias responsabilidades e contribuir para a organização justa do coletivo. Os indivíduos prevalecem sobre os grupos, porque podem fazer escolhas sem consultá-los ou pedir licença. É um sacrifício complexo, consciente e responsável, que exige altas doses de reflexividade, espírito cooperativo e disposição para o diálogo, sob pena de projetar a comunidade para o caos ou a impotência.

Aceitar a presença de minorias ideológicas ou corporativas, por exemplo, exige o sacrifício da vontade de potência das maiorias, silenciosas ou não, do mesmo modo que a liberdade de ação das minorias exige, da parte delas, o respeito às regras básicas de convivência e aos direitos dos indivíduos. O reconhecimento do direito de uns pressupõe o igual reconhecimento do direito de outros.

Encontrar um ponto de equilíbrio entre essas dimensões – o coletivo e o individual, as regras e a liberdade – é um desafio permanente, que se mostra tanto mais complicado quanto mais as sociedades se diferenciam e se individualizam. Em sociedades desse tipo, não se pode vencer categoricamente, com a marginalização dos dissidentes, e nenhuma conquista pode ser obtida à base da força ou da violência (física ou verbal). A argumentação persuasiva, a tolerância e a ação política inteligente são os únicos recursos dos sujeitos políticos. Nelas, a ordem silenciosa e o ruído caótico bloqueiam a democracia e funcionam como empecilhos igualmente perversos para a mudança. [Publicado em O Estado de S. Paulo, 27/06/2009, p. A2]

Clique para ver...

Michael Jackson

E morreu o Michael Jackson. O mais esquisito personagem do mundo pop. Um Elvis de sua época - tanto pela mudança de ícone da música jovem para uma caricatura degradada de si mesmo quanto pela forma como morreram. Aliás, uma das muitas esquisitices de "Wacko Jacko" foi casar-se com a filha de Elvis. Em novembro de 2003, Jackson foi preso por um curto período, acusado de molestar sexualmente várias crianças. A charge abaixo é sobre a liberação do cantor e foi publicada n'O Pasquim 21 e no Jornal do Comércio.


Nunca fui fã do cantor, mas tenho boas lembranças dele por causa dos Jackson Five. Principalmente o desenho animado, que era muito legal! Michael era o personagem preferido. O garotinho esperto que conversava com os ratinhos e com a cobra. O caçula, com o qual os espectadores se identificavam.

Clique para ver...

Poesia numa manhã de inverno.

Camille Pissarro - "Café au Lait", 1881.

Espere, Baby
(Chacal)

espere baby não desespere
não me venha com propostas tão fora de propósito
não acene com planos mirabolantes mas tão distantes

espere baby não desespere
vamos tomar mais um e falar sobre o mistério da lua vaga
dylan na vitrola dedo nas teclas
canto invento enquanto o vento marasma

espere baby não desespere
temos um quarto uma eletrola uma cartola
vamos puxar um coelho um baralho e um castelo de cartas
vamos viver o tempo esquecido do mago merlin
vamos montar o espelho partido da vida como ela é

espere baby não desespere
a lagoa há de secar
e nós não ficaremos mais a ver navios
e nós não ficaremos mais a roer o fio da vida
e nós não ficaremos mais a temer a asa negra do fim

espere baby não desespere
porque nesse dia soprará o vento da ventura
porque nesse dia chegará a roda da fortuna
porque nesse dia se ouvirá o canto do amor
e meu dedo não mais ferirá o silêncio da noite
com estampidos perdidos.
Clique para ver...

Rufam os tambores da mídia


O editorial do jornal O Globo de 24/06/2009 parece saído de amareladas folhas do nosso passado, em estilo e nos seus propósitos. Ele condensa um arrazoado de valores conservadores contra o atual governo no que toca sua tentativa, ainda tímida, de tentar um contraponto às “verdades “do oligopólio midiático. É uma lição sobre o que pensa um setor que contraria princípios básicos da democracia. Uma demonstração de arbítrio e intolerância, com sérias ameaças. Leiam e reflitam. Segue a “obra” com meus comentários:

Para cooptar
O Globo - 24/06/2009

No primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o pendor dirigista e intervencionista de grupos que o acompanham levou o governo a tentar uma operação legislativa para limitar o trabalho da imprensa. Vem daí o projeto de lei de criação do Conselho Federal de Jornalismo, um organismo paraestatal destinado a tolher redações. A reação foi grande, o Congresso criticou, e Lula, com acerto, voltou atrás.


Mentira! No primeiro mandato de Lula os barões da mídia correram com seus chapéus na esperança dos habituais empréstimos via BNDES para seus falidos negócios. A torneira fechou, começaram a campanha contra o governo. O Conselho não era proposta do governo, mas dos jornalistas, representados por seus sindicatos e sua federação nacional. Nunca foi objetivo tolher redações, mas assegurar um jornalismo ético, sem desvios de interesses. As empresas teriam assento na entidade, poderiam fazer valer seus votos. A publicidade tem órgão que regula suas atividades, o Conar, ninguém imagina que ele possa tolher as agências. Inclusive, as Organizações Globo a ele recorrem com frequência. Advogados, médicos, engenheiros também têm seus organismos de regulamentação. A reação partiu apenas do próprio oligopólio da mídia que, em feroz campanha em seus veículos, derrubou a proposta em poucos dias, garantindo o jornalismo que conhecemos, marcado pela venalidade.

É do mesmo período a tentativa de controle da produção audiovisual por meio da Ancinav, outra iniciativa frustrada deste grupo.


Mais mentira. A mídia foi porta-voz de uma histérica e desmedida reação contra uma proposta que favorecia a pequena produção artística. O fez por seus interesses cruzados com o velho monopólio do setor cultural, que não desejava colocar em risco seu modelo de negócios. Ganharam as Organizações Globo, linha de frente do combate, temerosa de perda de receita em um novo cenário que favoreceria a cultura brasileira.

Não por coincidência, eram propostas ao estilo bolivariano, projeto autoritário de subjugação da sociedade, de inspiração cubana, exportado por Hugo Chávez para Equador, Bolívia, Paraguai e com influência até na Argentina. Não deu certo no Brasil porque suas instituições democráticas são das mais consolidadas na América Latina.


Neste ponto, o editorial parece ter sido redigido pelo professor Hariovaldo Almeida Prado, tamanho o clichê. Seu autor, certamente, não acha que foi autoritarismo o golpe praticado contra Chávez e seus milhões de votos, com a ajuda da mídia venezuelana e muito provavelmente da CIA.

No segundo mandato, o governo Lula optou por uma estratégia mais sutil, da qual constam uma grande ampliação do leque dos beneficiários das verbas publicitárias do Executivo — a rigor, iniciada já no primeiro mandato —, e uma postura mais agressiva, exemplificada pelo blog da Petrobras, lançado em meio a discursos ornados por chavões, mas cujo objetivo era mesmo atemorizar a imprensa profissional. Mas errou na dose ao quebrar a relação de sigilo entre repórter e fonte. Teve de recuar. Não há nada de ilegal no blog da empresa. Havia um retrocesso no terreno da ética, depois corrigido. Também não parece existir ilegalidade na política de distribuição de verbas publicitárias, com prioridade para veículos da imprensa regional. Os números provam o alcance da estratégia: a Secretaria de Comunicação distribuiu, no ano passado, propaganda oficial entre 5.297 veículos. Em 2003, foram 499. Não é ilegal, mas se trata de indiscutível desvio de verba pública para pequenas empresas de comunicação que tendem a ficar dependentes da propaganda oficial —, ao contrário da imprensa profissional de grandes centros. A coluna do presidente, oferecida a jornais populares, é outra evidência do projeto de cooptação de parte da mídia.


É muito descaramento. As pequenas empresas podem ficar dependentes! É como dar comida aos pobres, eles viciam! Mandem os anúncios para as grandes, elas vivem de outros expedientes, não terão azia e má digestão. Por favor, leiam o excelente texto de Franklin Martins que desnuda este argumento do oligopólio da mídia.

Assim como a montagem de uma rede sindical de comunicações no ABC paulista, sustentada por verbas publicitárias oficiais, visa também a influenciar eleitores. Não há justificativa técnica para a inserção de anúncios neste tipo de veículo.


O absurdo é colossal. O argumento é que permitir a democratização da informação leva ao perigo de influenciar eleitores! Como assim? A grande mídia não influencia? Ou terá em seguida outro discurso sobre sua isenção? Desfaçatez tem limites. Aqui já é crime.

Operações como essas são conhecidas. Getúlio Vargas manejou recursos do Banco do Brasil com o mesmo objetivo. A História mostra que o desfecho é sempre uma conta com vários zeros endereçada ao Tesouro Nacional.


O final é primoroso, como se o velho jornal direitista em algum momento de sua história tenha se preocupado com as contas do Tesouro Nacional, logo ele que tanto se beneficiou com verbas de governos amigos. O que parece é existir uma emblemática ameaça. Lembra, no fundo, que Getúlio enfrentou uma pesada batalha da mídia que resultou em seu suicídio. Está claro o recado. Cabe a nós e ao governo dar a devida atenção ao barulho dos tambores. Eles querem briga.

Fonte da imagem: www.genesullivan.com
Clique para ver...

A beleza da "morna" e o mar de Cabo Verde.

Cabo Verde é um pequeno país insular, formado por 10 ilhas, no meio do Oceano Atlântico, a mais de 600 km da costa do Senegal. Quando os portugueses ali chegaram, na segunda metade do século XV, essas ilhas eram desabitadas e não havia nenhum sinal de ocupação humana anterior. Assim, para colonizá-las, tiveram que buscar inúmeros escravos no litoral africano e desde os primórdios desenvolveu-se ali uma sociedade extremamente miscigenada. Nos séculos seguintes, as ilhas passaram a ser utilizadas como entrepostos comerciais e tornaram-se ponto de parada obrigatória para os navios que vinham do Brasil ou da costa da África. Certa feita, o escritor cabo-verdiano Germano de Almeida, assim definiu o seu povo e o seu país:

O cabo-verdiano orgulha-se de sua terra, sobretudo do nosso mar, do nosso céu, de nossa seca. E talvez de nossa pobreza. Esse não é um mérito nosso. Aqueles que conhecem a condição cabo-verdiana saberão que Cabo Verde existe por teimosia dos portugueses. Há uma lenda que diz que Deus criou Cabo Verde por acaso. Já tinha criado o mundo, sacudiu as mãos, em que ainda havia uns restos de terra, e surgiram as ilhas. Ele já não tinha mais nada para pôr lá, mas disse: “Ninguém vai viver nessas terras. Não há problema”. Mas os portugueses resolveram colonizar Cabo Verde. E para isso tiveram que levar tudo, gente, cultura, animais.

Esta sociedade mestiça - onde o português é a língua oficial , mas a maior parte da população fala o “crioulo” cabo-verdiano, que possui variantes locais em cada ilha do arquipélago – é o berço da morna, um ritmo que possui parentesco com o brasileiríssimo lundu e cujas origens remontam ao século XVIII. Com elementos que combinam a dolência presente no fado e em outros ritmos portugueses, com o balanço dos sons africanos e uma certa influência da música brasileira, a morna possui um lirismo e um romantismo exacerbados e exalta temas caros ao imaginário social do país: a dor da partida (intensificada nas últimas décadas pelos grandes fluxos migratórios cabo-verdianos), o amor à terra, a saudade, os amores perdidos, o mar e o céu das ilhas.

Foi há mais ou menos dez anos que ouvi a morna pela primeira vez, com a canção “Sodade”, cantada por Cesária Évora. Foi amor à primeira vista. A beleza da melodia, a delicadeza harmônica, a sonoridade dos versos em crioulo e a maravilhosa voz de Cesária – que me trouxe evocações de divas negras do Jazz, como Sarah Vaughan e Ella Fitzgerald, da voz de Amália Rodrigues a cantar o fado, do balanço de grandes damas do nosso samba como D. Ivone Lara, Clementina de Jesus e Elizeth Cardoso – me seduziram profundamente. Desde então, nutro uma profunda vontade de conhecer o mar de Cabo Verde e de flanar pelas ruas da velha Cidade de Praia e ao ouvir a morna, pelo menos espiritualmente, sinto-me transportado para lá.

Ouça no Player abaixo a morna "Sodade", cantada por Cesária Évora:



Clique para ver...

Para não dizer que não falei sobre o dito canudo


Confesso cansado dessa discussão sobre o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo. Acho triste que uma entidade de classe como a Fenaj tivesse apenas esta defesa como pauta de reivindicações. É patético o chororô de jornalistas e estudantes carpindo pelo finado canudo. Faltaram a aulas sobre trabalho, valor e lucro. Daí, acabo de ler o texto definitivo sobre o fim de tamanho fetiche: o jornalista e professor Wladymir Ungaretti lembra saudoso do tempo em que jornalistas eram intelectuais e de esquerda.
Clique para ver...

O golpe contra o Irã está em marcha


Notícia da AFP, em inglês:

US lawmakers target Iran gasoline imports

Spurred on by post-election turmoil in Iran, a key committee in the US House of Representatives voted Tuesday to target the Islamic republic's gasoline imports and its domestic energy sector.

The House Appropriations Committee approved by voice vote a measure prohibiting the US Export-Import Bank from helping companies that export gasoline to Iran or support its production at home.
"While students are murdered in the streets of Tehran, we should not use taxpayer money to bolster the Iranian economy," said Republican Representative Mark Kirk, a leading author of the provision.

Because of a lack of domestic refining capacity, oil-rich Iran is dependent on gasoline imports to meet about 40 percent of domestic consumption.

Iran gets most of its gasoline imports from the Swiss firm Vitol, the Swiss/Dutch firm Trafigura, France's Total, the Swiss firm Glencore and British Petroleum, as well as the Indian firm Reliance.

In 2007 and 2008, the US Export-Import Bank approved two separate loan guarantees totaling 900 million dollars to expand the largest refinery owned by Reliance, which provides roughly one-third of Iran?s daily import of gasoline, Kirk's office said.
Kirks' measure was an amendment attached to the annual spending bill to cover the expenses of the US State Department and other US foreign operations, which must clear the House and Senate before being signed into law.

Even before protestors took to the streets of Tehran after the contested Iranian presidential election, lawmakers had targeted the Islamic republic's imports of refined petroleum products and foreign investments in its energy sector to break its defiance of global pressure over its suspect nuclear program.


É o cerco econômico, primeira etapa de um roteiro conhecido contra um país onde os EUA têm interesses. John Perkins era um especialista neste assunto, assim atuou para a NSA, um dos braços do sistema de defesa (ou ataque) do império americano. Hoje, dá sua versão de como a coisa funciona. Vale a pena ver a parte 1 e a parte 2 destes vídeos.

A leitora do blog Maria Luiza manda matéria da Counterpunch que, entre várias informações importantes, lembra que a grande fraude é contestar um resultado que já estava previsto por institutos de pesquisas.

Tudo parece refilmagem. Apenas os atores são outros, ainda mais canastrões.
Clique para ver...

Yeda Crusiu fora, já!



Conversa entre um coletador de assinaturas pela criação da CPI da Corrupção, domingo no Brick da Redenção, e uma senhora.

Mas porque vocês estão fazendo isso com a governadora? Ela não colocou a casa em ordem? Foi quando alguém que me acompanhava para assinar a lista, ouviu e perguntou para a senhora: que casa tia? Só se for a dela!
Clique para ver...

Esquerda e Direita: Dez Reflexões em torno de um Velho Debate.

Ao ler o post “A Esquerda morreu, diz a Direita que não é Direita”, no Blog da Lola, resolvi escrever algumas reflexões pontuais sobre o assunto, fazendo o contraponto a uma série de questões levantadas, tanto no texto, quanto nos comentários postados sobre ele. Inicialmente, iria colocá-las, como comentário, na própria postagem da Lola, mas como ficaram um pouco longas, preferi publicá-las aqui.

1-No Brasil, é extremamente difícil encontrar alguém que se defina como de “direita”, devido a uma certa carga negativa que acompanha o termo e, por conta disto, até os mais ferrenhos direitistas se definem como de “Centro”. Um bom exemplo disto foi a articulação das forças conservadoras na Assembléia Constituinte que elaborou a constituição de 1988 que se autodenominou como “Centrão”. Parte disto deve-se ao fato de que, devido à ditadura militar, a direita ganhou a luta política no Brasil, mas perdeu a luta ideológica, já que boa parte da memória sobre o período foi construída a partir da perspectiva das forças de esquerda. Assim, carregar o rótulo de “direitista” passou a ser algo absolutamente incômodo para qualquer pessoa, nos meios políticos ou acadêmicos. É sintomático, também, que o novo nome do PDS - partido de sustentação do regime militar, em seus últimos anos – seja Partido Progressista, termo este geralmente associado às forças de esquerda;
2-Se em nosso país, tal fenômeno se manifestou com bastante força, não podemos dizer que ele é uma exclusividade brasileira. Norberto Bobbio, em seu “Direita e Esquerda – Razões e Significados de uma Distinção Política”, procura mostrar como a palavra “Esquerda” tem, “para quem a enuncia, um significado axiológico positivo”. Para exemplificar isto, ele cita um dos principais teóricos liberais contemporâneos, Isaiah Berlin, que considera que o liberalismo é de esquerda por se poder ao excessivo poder da autoridade baseada na força da tradição, que seria a principal característica das direitas, ao mesmo tempo que sustenta que o regime que existiu na URSS até o início da década de 1990 tornou imprestável a distinção entre direita e esquerda, por ter usurpado a palavra “Esquerda”;
3-No entanto, parece-me que, nos últimos anos, tal pudor vem se diluindo e uma nova direita, com um discurso mais moderno, começa a sair do armário, ao mesmo tempo em que ocorre uma forte campanha para desqualificar as esquerdas, associando-as ao atraso e à posturas arcaicas. Esta nova direita se identifica por um ethos particular, que se traduz em uma certa “visão aristocrática” de mundo – uma consciência de perceber-se como diferente da “plebe” – e na crença em uma série de valores que se contrapõe ao que ela define como sendo uma visão “esquerdista” – maior intervencionismo do Estado, políticas distributivistas (qualificadas como "assistencialistas”), recomposição e reestruturação da máquina estatal, políticas de ação afirmativa - tais como: individualismo, empreendedorismo, discurso “meritocrata” e Estado mínimo. Neste sentido, esta direita moderna incorpora em seu discurso questões como meio-ambiente, gênero, direitos humanos, opção sexual e etc..., situando-as dentro da tradição liberal-iluminista de defesa das liberdades individuais e retomando-as do campo da esquerda que as levantaram como bandeiras nas últimas décadas;
4-Há um certo segmento da sociedade – notadamente dentre as camadas médias – que mesmo sem se auto-definir como “direita”, pelas questões levantadas mais acima, assume como seus esse ethos e esses valores, em parte ou totalmente, embora normalmente levante as bandeiras da “neutralidade” e do “apoliticismo”. Este é o perfil de boa parte dos leitores da “Veja” e de “O Globo” que, não tendo grandes sofisticações intelectuais, vêem colunistas como o Jabor e o Mainardi – que repetem o supra-sumo do senso comum conservador – como seus grandes porta-vozes. O sucesso de cronistas do gênero entre esses setores, deve-se ao fato deles traduzirem de forma minimamente elaborada os anseios e a visão de mundo de seu público leitor;
5-Se esta direita moderna – consciente ou não – possui pontos que a diferenciam da direita tradicional, seja a cristã ou a de tendências autoritárias, ela também possui algumas semelhanças com suas congêneres mais extremadas, dentre as quais destaco a presença de um forte discurso em defesa da moralidade pública – nem sempre condizente com sua prática cotidiana -, associando desvios éticos à esquerda que teria por prática o “aparelhamento do Estado”. No Brasil, isto tem aparecido de forma bastante intensa no discurso neoudenista que veio à tona desde que Lula assumiu a presidência;
6-Outro aspecto deste renascimento da direita é a intensidade do revisionismo histórico – que serviu de mote para um excelente debate no Blog do Idelber - que vem sendo levado a cabo nos últimos anos, tanto pelos grandes grupos de comunicação, quanto por alguns círculos acadêmicos. Um bom exemplo disto é uma certa produção intelectual que tem chegado às livrarias nesta última década que, propondo uma releitura do golpe de 1964 e do regime instaurado a partir dele, chega a culpabilizar a esquerda, mesmo que de forma indireta, pela intensa repressão do período. Outro caso bem recente foi a referência da “Folha de São Paulo” ao regime militar brasileiro como “ditabranda”, em uma ofensa grave à memória daqueles que morrerem ou foram perseguidos durante os anos do autoritarismo. Tal revisionismo não se limita somente a dar uma nova interpretação a fatos ou processos históricos, mas chega ao paroxismo de distorcê-los ou mesmo falseá-los, para justificar suas teses (Alguém se lembra do artigo do Ali Kamel dizendo que “O Globo” não era contra a Campanha das Diretas?);
7-Por outro lado, dentro do campo da esquerda há setores tão retrógrados quanto aqueles que estão no extremo oposto do espectro político. Há uma certa esquerda que continua a analisar a conjuntura do Brasil em 2009, como se estivesse analisando a da Rússia de 1917 e que ainda insiste em levantar bandeiras que não cabem mais no mundo contemporâneo. Mantendo uma visão binária do mundo e da sociedade brasileira, esta esquerda adota uma postura com fortes elementos de fundamentalismo religioso, construindo uma espécie de Religião sem Deus, ou melhor, uma religião que tem a História (pobrezinha da Clio!) como uma espécie de Deus Ex Machina. Nesta perspectiva, qualquer líder político imbecil que apareça, em qualquer parte do mundo, com um discurso “revolucionário e antiimperialista” é saudado como o novo messias que liderará as massas rumo ao socialismo;
8-Norberto Bobbio afirma que o valor central para a direita é a liberdade, entendendo-se o mercado como o espaço, por excelência, dessa liberdade; já o valor essencial para esquerda é a igualdade e o espaço dessa igualdade é, indubitavelmente, o do Estado. Neste sentido, uma esquerda moderna terá que promover a síntese desses dois valores, adequando-os aos ditames de um mundo em acelerada transformação.
9-Creio que no Brasil de hoje, estamos a viver uma experiência bastante interessante e que pode servir de modelo para os demais países periféricos. O governo Lula, com todos os seus defeitos e limitações, está inaugurando um novo paradigma de Estado e de inserção internacional do país, o chamado "Estado Logístico" - definido por alguns autores como o Prof. Amado Cervo (UnB) - que combina, em sua ideologia subjacente, um elemento externo, o liberalismo, e outro interno, o desenvolvimentismo. A adoção de tal paradigma ajuda a explicar a manutenção da estabilidade econômica, bem como uma certa “imunidade” que o nosso país tem tido diante da crise mundial, além, é claro, de reforçar o papel do Brasil como ator global.
10-Last but not least: o governo Lula não rompeu com a ordem estabelecida, manteve e aperfeiçoou as linhas gerais da política macroeconômica, aumentou a visibilidade internacional do Brasil, tem índices de corrupção – apesar da grande imprensa afirmar o contrário – menores que os do governo FHC, ajudou a consolidar o Sistema Financeiro brasileiro e contribuiu enormemente para a internacionalização das grandes empresas nacionais. Enfim, é um governo que aceitou as regras do jogo e o joga dentro da lógica do Estado Logístico. Logo a enorme resistência de certos setores a ele só pode ser explicada por três palavrinhas: preconceito de classe. Afinal a imagem do Lula não reflete a imagem que estes setores tem de si e que gostariam que fosse a imagem do Brasil. O problema é que para azar deles existe no Brasil uma entidade incômoda – cuja imagem o Lula reflete bem – chamada povo. Aquela mesma entidade que já foi chamada ao longo da história de plebe, ralé, patuléia, arraia-míuda, gentalha...

São estas as minhas (não tão) breves reflexões. Não são idéias fechadas e nem acabadas. Se alguém quiser debatê-las, estou na área.
Clique para ver...

Era isso, faltava o Gabeira


Vendo as fotos das manifestações pró-Moussavi, com mulheres em elegantes véus, cartazes bem impressos em inglês, em país onde seu povo majoritariamente mal sabe ler em farsi, imaginava já ter visto algo parecido. Hoje, caiu a ficha. Fernando Gabeira escreve artigo na Folha para lembrar que está ali, junto aos protestos contra as eleições no Irã. Nada mais Gabeira, mais Morumbi-Leblon, acreditar que a teocracia iraniana é o mal do momento. A saudita, sócia dos EUA, um mal necessário.

Mas quem entende de políticos brasileiros, suas marketagens, é o Hayle Gadelha, jornalista e publicitário, que já fez muitas campanhas eleitorais, sabe como a coisa funciona e mata a mosca em seu blog:

Gabeira escreve hoje na Folha um artigo (“Pra lá de Teerã”) criticando o Brasil por “não-crítica” ao Irã. Tudo bem, está no papel e no direito dele. Quer embarcar na gritaria geral contra Ahmadinejad, aproveitando a onda onde surfa o seu eleitorado. Com isso, ele marca sua posição anti-Lula e tenta limpar a barra depois do caso das passagens. O engraçado está em sua frase, quase no final, combatendo a política externa brasileira. Diz ele que “alinhar-se aos setores mais conservadores (...) é qualquer coisa pra lá de Teerã”. Logo ele que fala! Na sua campanha para Prefeito do Rio aliou-se ao que há de mais conservador, indo do lacerdismo de César Maia ao polêmico Prefeito Zito, de Caxias. É o caso de se perguntar: que barato é esse, Gabeira?

Foto de Ana Branco, reproduzida do Blog do Gadelha
Clique para ver...

PAC gaudério


Para quem acha que o governo está paralisado, aí vai uma prova da pujança e do empreendedorismo de nossa governança. Nas fotos, detalhes de uma importantíssima obra, fruto dos Programas Estruturantes: a reforma do muro da Secretaria da Agricultura. Em meio à imundície e à buraqueira das ruas do bairro Menino Deus, jogado às traças pela administração municipal, emerge esta obra imponente, orçada em vultosos 43 mil reais. Sem ironia, 43 mil para dar uma tapeada no reboco, lixar uma grade e passar uma tinta, é, definitivamente, um grande investimento. Por certo, uma das obras capazes de mudar o perfil do Estado...

Clique para ver...

Haja coração

Se nossa mídia surtou com a criação do Blog da Petrobras, com a proposta de criação de um conselho de jornalismo, imagine quando chegar ao Brasil o MediaBugs. É o projeto de Scott Rosenberg, um dos fundadores do salon.com, que acaba de ganhar o segundo lugar no Knight News Challenge 2009, da Fundação Knight, que elege e financia projetos de comunicação na área de inovação tecnológica.

O MediaBugs pretende ser um registro de erros da imprensa. Leitores reclamam, as empresas de comunicação são chamadas a responder, tal como em sites de defesa do consumidor. Tudo é apurado, registrado e tornado público, inclusive com um ranking de veículos que mais pisaram na bola.

É..., o futuro reserva muitas emoções para o jornalismo.

Fonte: Tiago Dória
Clique para ver...

Estava me programando para falar do Irã...


... mas o Kayser disse tudo.
Clique para ver...

Patrus e Pimentel rejeitam chapa em MG sem o PT na cabeça

2010: Adversários internos no PT, ambos refutam negociações com Hélio Costa, do PMDB
Do Valor Econômico, de 16/06/2009.
Pré-candidatos a governador de Minas Gerais pelo PT, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel adotaram o mesmo discurso ao defenderem a candidatura própria do partido em Minas Gerais. A alternativa a um nome próprio é o apoio ao candidato virtual do PMDB, o ministro das Comunicações, Hélio Costa.
“Sou um ator político, um militante, não um analista do cenário. Me dedico a fazer as coisas acontecerem. Estou empenhado em viabilizar a minha candidatura dentro do PT. A primeira etapa é garantir a unidade dentro do PT, depois dentro do campo das forças progressistas e depois dentro de um universo de uma aliança mais ampla”, afirmou Patrus Ananias, ao ser indagado sobre uma aliança com PMDB, durante evento promovido pela empreiteira Odebrecht e pela siderúrgica Vallourec & Sumitomo em Jeceaba, cidade a 120 km de Belo Horizonte.
“Há os que querem uma aliança a qualquer custo. Eu digo que a discussão da aliança deve ser feita a seu devido tempo”, disse Fernando Pimentel, em entrevista por telefone. Pimentel negou que haja pressão da direção nacional do partido para que o PT coloque em segundo plano as eleições para os governos estaduais, em detrimento da candidatura presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e da eleição para o Senado. “Tudo o que existe é uma determinação para que a discussão das candidaturas estaduais seja feita após a escolha da nova direção do PT. Apenas isso”, afirmou.
Em recente reunião do diretório nacional, o PT mandou suspender todos os processos de escolha interna de candidatos a governador que estavam em curso neste ano. A decisão afetou com mais força Minas Gerais e o Rio Grande do Sul, onde há disputa pela vaga.
Primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, o ministro das Comunicações já fez afirmações públicas de que só deverá ser candidato a governador em um contexto de aliança ampla, mas não é categórico em dizer que a coligação será com o PT. Mantém o diálogo com o governador mineiro Aécio Neves (PSDB), de cuja candidatura presidencial duvida, e com a ala do PT defensora da candidatura de Patrus Ananias.
Isto tem feito com que Patrus avance posições dentro do próprio PT nacional. Bastante próximo a Pimentel, o ex-ministro e ex-presidente nacional do partido, José Dirceu, encontrou-se com Patrus na posse do novo presidente salvadorenho, Mauricio Funes, em San Salvador. Ficaram de ter um novo encontro em breve. “Ele percebeu que o entendimento do PT com o PMDB em Minas está muito mais próximo do que se imagina”, disse o ministro. Pimentel têm procurado diminuir a distância com o PMDB, conversando com deputados estaduais do partido. Também deve encontrar-se com Dirceu, dentro de alguns dias, em Belo Horizonte ou São Paulo.
Clique para ver...

Uma bobagem que me ocorreu...

Clique para ver...

Vende-se


Esta é a capa do Los Angeles Times da última sexta-feira. Venderam a capa para a HBO. É a crise dos jornais nos EUA. Mais, só comercializando a mãe. Como os nossos adoram as novidades de fora, a capa é só o que lhes resta para vender.
Clique para ver...

Irã

Clique para ver...

O dia em que os jornais brasileiros acabaram

Gay Talese, o jornalista e escritor americano, é um grande polemista. Acerta e erra, mas sempre com boas reflexões, um ótimo papo. É o que li no Observatório da Imprensa, de entrevista a Veja.

Faz ótimas observações sobre jornalistas e suas fontes:

"Os repórteres que estavam em Washington em 2002 não tinham o ceticismo, o estranhamento necessário. Foram educados nas mesmas escolas que o pessoal do governo. Eles vão às mesmas festas que o pessoal do governo. Seus filhos frequentam as mesmas escolas. Todos nadam na mesma piscina, pertencem ao mesmo clube de golfe, vão aos mesmos coquetéis. São repórteres prontos para acreditar no governo. É assim hoje, e era assim em 2002. Os repórteres estavam prontos para acreditar no governo sem pedir provas, evidências, nada. Por pouco, não acusaram Saddam Hussein de ter patrocinado os atentados de 2001. Eram como um bando de pombos para os quais o governo jogava milho. Os repórteres de hoje cobrem a guerra dentro dos tanques das tropas americanas. É ridículo. Um repórter deve prestar contas ao seu jornal, e não ao coronel que está protegendo a sua vida.


Mas faz uma análise parcial sobre a internet:

"Com as novas tecnologias, e sobretudo com a criação da internet, o público hoje é informado de modo mais estreito, mais direcionado. Na internet, os jovens se informam de modo muito objetivo, no mau sentido. Eles têm uma pergunta na cabeça, vão ao Google, pedem a resposta, e pronto.

(...) Quem lê um jornal impresso lê sobre tudo isso e depois, ao virar a página, lê sobre a mulher do Silvio Berlusconi, depois sobre as chinesas que perderam seus filhos naquele terremoto, depois sobre o desastre do Air France que saiu do Rio para Paris. Enfim, lê histórias que não procurou e, por isso, acaba adquirindo um sentido mais amplo do mundo.

(...) A internet é o fast-food da informação. É feita para quem quer atalho, poupar tempo, conclusões rápidas, prontas e empacotadas.

De fato, é uma grande transformação. E Talese, como tantos, ainda não entendeu o que muda. Antes, um único produto, o nosso jornal escolhido, era lido no café da manhã, em seu cardápio de assuntos selecionados por editores. Hoje, temos uma ampla variedade de fontes, até para as mesmas notícias. Podemos checar a informação, procurar por outras versões. Não temos mais aquela tranquilidade do folhear linear, enquanto a torrada esquentava. A página virou, paciência. Informação agora chega por leitores de feeds, ou em nossa rede social escolhida. Um conhecido no Twitter, ou nem tanto, nos avisa de uma leitura com um link que nos leva a portais noticiosos, blogs, seus comentários. Não é verdade que a internet dificultou acharmos assuntos não procurados. Talvez existam até mesmo mais recursos para tal. Não é raro para algum navegante pela web iniciar uma leitura e viajar por várias, até chegar a algo inesperado. Certamente não é como na calmaria do folhear do antigo diário em papel. Perdemos aqui, ganhamos ali, mudou. Mas a alteração fundamental é que o futuro não mais garante a fidelidade de leitores a um único produto. Perderam os barões da mídia, donos de nosso único “filtro”, expressão recente de Ricardo Gandur, diretor do Estado de S.Paulo.

E para o Brasil há uma data que ficará marcada como emblema da mudança, do fim dos jornais em papel, talvez só percebida para historiadores no futuro: o dia 1º de junho de 2009. Foi quando a Petrobras publicou um anúncio de meia página no jornal O Globo para contestar uma reportagem publicada no jornal um dia antes. Custou quase meio milhão de reais. Poucos dias depois, criou um blog para se defender de várias reportagens publicadas na mídia sobre a empresa, em nítida campanha política. Uma delas, rebatida, acusava a empresa de contratar uma assessoria de comunicação. Custo do contrato? Quase o mesmo que o anúncio publicado em um único dia, apenas para os leitores do Globo.

Entenderão um dia.
Clique para ver...

Os Equívocos da Política Externa de FHC.


No final de 2007, a leitura do artigo "End of Dreams, Return of History”, escrito pelo pensador neoconservador norte-americano Robert Kagan e publicado na Policy Review (nº 144), levou-me a fazer inúmeras reflexões sobre a inserção internacional do Brasil e sobre alguns equívocos que haviam sido cometidos pelos formuladores da política externa brasileira, ao longo da década de 1990. Pouco tempo depois, o artigo foi ampliado e transformado em livro sob o título de “The Return of History and the End of Dreams”, que acabou sendo o foco de uma excelente matéria do Maurício Dias publicada na “Carta Capital”, em novembro de 2008, que transcrevo ao final desta postagem. Nela, o Cientista Político Wanderley Guilherme dos Santos comenta o livro e faz algumas afirmações bem próximas do que eu havia pensado um ano antes, quando li o artigo. Hoje, ao ler a tradução recém-lançada do livro de Kagan (O Retorno da História e o Fim dos Sonhos, Ed. Rocco, 2009), sinto as minhas convicções iniciais reforçadas: o esvaziamento do Estado brasileiro, a aceitação incondicional da agenda internacional imposta pelos países centrais, na década de 1990, e a adesão acrítica do Brasil ao processo de globalização levada a cabo pelos governos Collor/Itamar e FHC, reduziram bastante as possibilidades de uma inserção mais ativa do Brasil no sistema internacional e de um aumento da projeção mundial do país (Abrindo um breve parêntese, é importante lembrar que Collor e FHC, promoveram um esvaziamento deliberado das funções do Itamaraty, visto que boa parte de nossos diplomatas transformaram esse órgão em um foco de resistência do nacional-desenvolvimentismo). Ao analisar o papel que alguns Estados – que são bem menores (em quase todos os aspectos) que um certo país de grande extensão territorial, situado na América do Sul - desempenham hoje nas relações internacionais, as observações de Kagan – que não falam diretamente sobre o nosso país - nos ajudam a refletir sobre a desproporção existente entre o peso econômico, territorial e populacional do Brasil e o nosso real poder político. Nos últimos anos, com a ascensão de Lula à presidência, o governo brasileiro tem procurado corrigir esta desproporção, buscando recuperar o tempo perdido. No entanto, o estrago feito durante os anos de predominância do paradigma neoliberal é grande e deverá levar algum tempo para ser superado.

Um Erro Histórico de FHC.

Maurício Dias - Carta Capital, nº 522, 19/11/2008

O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos acabou a leitura do livro The Return of History and the End of Dreams (New York, Alfred Knopf, 2008), de Robert Kagan, com uma avassaladora certeza em relação à passagem do tucano Fernando Henrique Cardoso pelo poder (1994 e 2002):“Ele abdicou de parte da soberania brasileira ao assinar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Foi um tremendo equívoco histórico do governo dele.”Robert Kagan é um personagem que transita no coração do poder nos EUA. Scholar neoconservador, um neocon, é respeitado estrategista internacional. Diretor do Projeto Liderança Americana, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, trabalhou no Departamento de Estado de 1984 a 1988 e foi assessor para política externa de John McCain, no Senado.Para Wanderley Guilherme, Kagan lança uma das perguntas fundamentais da política internacional contemporânea: “Pode uma nação se considerar uma grande potência no mundo moderno se não é também um membro do clube nuclear?”“Se o Brasil espera manter sua capacidade de decidir autonomamente o que pode se apresentar como uma ameaça física à sua soberania, que é um ingrediente do próprio conceito de poder de Kagan, precisa refletir sobre essa pergunta. Ela é feita por um dos possíveis estrategistas dos Estados Unidos, independentemente do resultado das eleições presidenciais”, considera Wanderley Guilherme.E, como ele diz, a resposta à pergunta não significa lançar o Brasil “à aventura de produzir artefatos nucleares”. Situação que, certamente, não interessa ao País, nem econômica nem politicamente.Wanderley lembra que a adesão ao tratado ocorreu sem maior discussão com o Congresso e “no limite, sem submeter tamanha abdicação de parte da soberania (a de definir autonomamente o que é uma ameaça ao País) a um plebiscito ou referendo”.Ele explica: “A não adesão nunca significou que o Brasil desejava produzir artefatos nucleares, mas, sim, que não abdicava do direito de decidir, em algum momento, se era de seu interesse nacional produzi-los. O Paquistão e a Coréia do Norte são ouvidos e as cautelosas políticas de todas as nações árabes, em relação a Israel, se devem simplesmente ao fato de que tais nações consideraram de seu interesse de sobrevivência, não a estúpida deflagração de uma suicida corrida armamentista, mas a aquisição de argumentos contra intenções estranhas de desafios aos interesses desses países”.Wanderley Guilherme lembra que “não é insensato pensar” que, caso o Brasil não tivesse assinado o tratado, as referências na Europa e nos Estados Unidos aos direitos brasileiros sobre a Amazônia “não teriam a petulância e sem-cerimônia” que possuem.Além da Amazônia, há, agora, o pré-sal. Confirmadas as expectativas, a soberania brasileira sobre faixas oceânicas é outro tópico com elevado potencial de conflito. Os EUA talvez pensem o mesmo se considerarmos a surpreendente reativação da IV Frota.“Caso alguma ameaça real se concretize, o Brasil ficará diante da alternativa de não ter como se defender ou violar um tratado que livremente assinou. Em certo sentido, esse foi o mais desastroso legado do governo Fernando Henrique Cardoso”, afirma Wanderley Guilherme.A solução para remediar essa herança de FHC é difícil, complicada, exige coragem. A saída é denunciar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, como fez a Coréia do Norte.Esse episódio, por sinal, foi relembrado pelo embaixador Samuel Pinheiro, secretário-geral do Itamaraty. Em 2006, durante o 4º Encontro Nacional de Assuntos Estratégicos, ele disse que “é possível que o Brasil venha a sair do tratado”. Estimulado por um militar presente ao encontro, Samuel Pinheiro lembrou que a Coréia do Norte denunciou o tratado e retirou-se.O Brasil e a Índia eram dois emergentes poderosos que não assinaram o tratado. O Itamaraty o considerava, e ainda considera, discriminatório. Mas, em 1998, FHC entregou os pontos.”
Clique para ver...

Desaparecido...

Clique para ver...

Já viu processo por causa de apelido?


"- Alô, eu poderia falar com o Fotonaldo?

- Quem tá falando?

- Ana Lúcia, do Jornal Já

- Olha, ele saiu. Tá em pauta.

- Ok, obrigada.

Piada?"


Leia na íntegra em: Jornal JÁ( Por Ana Lúcia Mohr)
Clique para ver...

Capítulo II: A censura da SME-RJ a Theodor de Bry.

Em matéria publicada em “O Dia”, em 11/06/2009 (que, por sinal, tem um título bastante tendencioso: “MEC defende livro com tortura que o Rio recolhe”), a Secretária Municipal de Educação do RJ, Cláudia Costin, mudou um pouco as declarações dadas no dia anterior, na Rádio CBN – que comentei em meu último post – e reconheceu que os livros didáticos adotados na rede municipal não são escolhidos pelo MEC, como havia afirmado. Tal escolha, como já dissemos, é feita pelos próprios professores da rede, a partir de uma lista encaminhada pelo MEC, com um conjunto de publicações didáticas avaliadas por especialistas de diversas universidades brasileiras. Mais adiante, a referida matéria também confirma que o livro censurado será substituído por uma apostila elaborada pela SME, que será utilizada até o fim do ano. Porém, algumas questões ficam no ar: 1- Será que a secretária manterá a idéia anunciada anteriormente de produzir um material didático próprio da secretaria, a partir do próximo ano? 2- Se a resposta for afirmativa, surge uma outra pergunta: o que leva um município a arcar com o ônus de produzir material didático próprio (apostilas), se existe uma grande quantidade de livros de qualidade na lista do PNLD, que são distribuídos gratuitamente? Bem, se a SME-RJ, de fato, optar por produzir livros apostilados, a pulga que está atrás da orelha deste humilde escriba virará um enorme elefante. Principalmente se tais apostilas forem feitas pelo Sistema Uno ou pelo Sistema Positivo – clientes do Sr. Paulo Renato de Souza, como bem assinalou o bravo colega do Cloaca News no comentário que fez em meu post anterior – ou pela Editora Abril, com a qual a nobre Secretária tem “vínculos sentimentais”, já que foi vice-presidente da Fundação Victor Civita...
Clique para ver...

Um estranho modo de editar

O jornalista Ricardo Gandur, diretor de conteúdo do Grupo Estado de S. Paulo, diz no Observatório da Imprensa que a sociedade não pode prescindir de edição. Buscar informação de forma direta, na fonte, é um perigo se não existir um “filtro”. Explica: “É o mesmo que desinstitucionalizar a imprensa”.

Gandur e outros acreditam na “instituição imprensa” como um valor da sociedade. Não acreditam que esta sociedade esteja manifestando claramente que há algo condenável nessa instituição: a sua patente parcialidade. Um jornal estrangeiro, o El País, colabora com um bom argumento ao noticiar a criação do Blog da Petrobras e a repercussão por aqui. Segundo o espanhol, nossos jornalões “se adiantaram ao trabalho de uma CPI, apurando possíveis irregularidades da empresa”. Ou seja, o adiantar o trabalho da CPI é pautá-la com factóides. Como é o mecanismo? Luiz Nassif é bem objetivo: “Conta-se uma inverdade, cria-se a marola, depois pouco importa se o fato relatado era mentiroso”.

Um exemplo foi o falso grampo no STF, gritado pela revista Veja. Outro, do momento, antecipando a CPI da petrobras, as matérias para denunciar a operação contábil da estatal, acusada de dar calote no tesouro. O assunto foi berrado por dias, mas respondido com precisão no Fatos e Dados: é recurso normal de engenharia fiscal, está dentro da lei, e é utilizado por várias empresas.

Os jornais e seus patronos na oposição ao atual governo não sabiam? Claro que sabiam, é o que diz matéria de César Felício no Valor de hoje:

Estopim para a criação de uma CPI no Senado, a manobra contábil da Petrobras, que deixou de recolher três meses de contribuições, reforçando seu caixa em R$ 4 bilhões este ano, pode ter sido seguida pela maioria dos grandes contribuintes do País. Um estudo preparado pelo economista José Roberto Afonso, consultor do PSDB, com base em dados coletados no gabinete do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que tem acesso ao Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), detalha a queda na arrecadação tributária federal no primeiro quadrimestre deste ano, que é desproporcional à redução do PIB . Enquanto o Produto Interno Bruto teve uma redução de 1,8% no primeiro trimestre de 2009, em comparação com o mesmo período no ano passado, as receitas federais tiveram uma redução de 7,2% de janeiro a abril, percentual que sobe a 8,7%, caso se retirem as receitas previdenciárias. Em termos absolutos, houve uma perda de R$ 11 bilhões.

(…) Os dados mostram que, mesmo depois da Petrobras encerrar a sua compensação tributária e voltar a recolher as contribuições em abril, a arrecadação federal acelerou a queda: de retração de 4,4% em março para 8,8% em abril, quando comparada com igual mês no ano anterior, o que pode ser um indicativo de que os mecanismos de compensação tributária foram seguidos por outras grandes empresas.


Quer dizer, o PSDB e a imprensa sabiam que várias empresas se protegiam nas mesmas decisões. É o "filtro" de Gandur ajudando com a criação de um factóide para a CPI. E se essa CPI precisa da ajuda da imprensa para “antecipar” seus trabalhos, que tal ir buscar uma reportagem do saudoso Aloysio Biondi, na Folha de S.Paulo, em 6 de fevereiro de 1996:

Um estranho modo de governar

Aloysio Biondi

A equipe FHC vem utilizando com extrema agilidade a "carta branca" que ela própria se deu. Em operação realizada na Bolsa de Valores de São Paulo, o BNDES entregou a seis bancos e corretoras 600 milhões de ações da Petrobrás _sem necessidade de os compradores desembolsarem um tostão. O preço combinado por 0,55% do capital de uma das maiores empresas do mundo foi de R$ 60 milhões, mas para pagamento somente daqui a um ano, com juros de 10% ao ano (extremamente simpáticos), mais a Taxa de Juros de Longo Prazo. Além disso, o BNDES "inovou", mudando totalmente as regras do mercado, e autorizou os "compradores" a revenderem as ações (contratos "a termo") a qualquer momento, sem necessidade de os novos compradores pagarem o débito antes de vencido aquele prazo. Isto é, antes de 12 meses não entrará um tostão nos cofres do BNDES, que, segundo um diretor do banco estatal, aceitou essa condição, "que interessa aos investidores, porque não tem necessidade imediata de fazer caixa". Um argumento estranhável, já que o governo FHC está-se desfazendo de estatais e de ações em poder do BNDES exatamente para levantar recursos e, indiretamente, cobrir o falado "rombo" do setor público. Teoricamente, qualquer interessado poderia ter comprado as ações, pois a venda foi feita por meio de leilão em Bolsa. Mas o respectivo edital comunicando sua realização foi publicado somente dois dias antes do leilão.

Cartas marcadas

Toda a operação foi planejada e articulada por seis bancos e corretoras, que passaram a dispor de 0,55% do capital da Petrobrás, sem pagar nada, à espera da alta dos preços das ações. Graças à concordância do BNDES, vão embolsar lucros que deveriam ser do banco estatal, isto é, da coletividade. O BNDES aceitou até cartas de fiança (de outros bancos) em substituição ao ’’depósito de garantia’’ (margem) de 20%, habituais no mercado.

Manipulação

A operação foi acertada com a direção do BNDES há três meses, mas o leilão somente se realizaria quando as ações da Petrobrás chegassem a R$ 100 (o lote de mil ações) na Bolsa, o que aconteceu nos últimos dias de janeiro. Vale dizer, durante 90 dias somente a direção do BNDES e um punhado de instituições financeiras, seus clientes preferenciais e diretores sabiam que as cotações seriam "puxadas" para chegar aos R$ 100.

Privatização

Reunião do Conselho Nacional de Desestatização, no final de janeiro. Discute-se o roteiro de privatização da Rede Ferroviária Federal. O presidente da empresa aponta que o preço estabelecido para a venda está muito baixo, pois foi calculado há dois anos por uma empresa multinacional de consultoria. O representante do BNDES não contesta, mas alega que "essa revisão atrasaria o leilão em pelo menos três meses", e a rejeita. Um patrimônio de bilhões de reais vai ser vendido a preços reconhecidamente subavaliados?

Autoritarismo

Brechas nas leis do Ministério da Fazenda e do Banco Central alimentam a remessa de dólares e sonegação de impostos. Com essas acusações, a Procuradoria Geral da República e a Receita Federal pediram mudanças na legislação, em outubro. O Banco Central se opôs, e acabou ganhando a disputa. Agora, em entrevista, o diretor da área externa do Banco Central, Gustavo Franco, diz que, por meio de telefonemas a banqueiros, proibiu que eles fizessem aquelas operações. No governo FHC, o Brasil não precisa de leis, como ocorre em qualquer sociedade democrática. Autoritarismo confesso.

Caixa preta

O Ministério Público Federal quer processar o ministro da Fazenda e os diretores do Banco Central por causa do socorro a bancos "quebrados". O ponto básico da acusação é totalmente jurídico: houve desrespeito à lei, que proíbe essa utilização de recursos públicos. Em sua defesa, Malan, Loyolla e equipe dizem que fizeram tudo dentro da lei, isto é, autorizados por um "voto" (de resolução) do Conselho Monetário Nacional. O Ministério Público diz que o que vale é a lei.


Reproduzido de www.aloysiobiondi.com.br.

Clique para ver...
 
Copyright (c) 2013 Blogger templates by Bloggermint
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...