Cabo Verde é um pequeno país insular, formado por 10 ilhas, no meio do Oceano Atlântico, a mais de 600 km da costa do Senegal. Quando os portugueses ali chegaram, na segunda metade do século XV, essas ilhas eram desabitadas e não havia nenhum sinal de ocupação humana anterior. Assim, para colonizá-las, tiveram que buscar inúmeros escravos no litoral africano e desde os primórdios desenvolveu-se ali uma sociedade extremamente miscigenada. Nos séculos seguintes, as ilhas passaram a ser utilizadas como entrepostos comerciais e tornaram-se ponto de parada obrigatória para os navios que vinham do Brasil ou da costa da África. Certa feita, o escritor cabo-verdiano Germano de Almeida, assim definiu o seu povo e o seu país:
O cabo-verdiano orgulha-se de sua terra, sobretudo do nosso mar, do nosso céu, de nossa seca. E talvez de nossa pobreza. Esse não é um mérito nosso. Aqueles que conhecem a condição cabo-verdiana saberão que Cabo Verde existe por teimosia dos portugueses. Há uma lenda que diz que Deus criou Cabo Verde por acaso. Já tinha criado o mundo, sacudiu as mãos, em que ainda havia uns restos de terra, e surgiram as ilhas. Ele já não tinha mais nada para pôr lá, mas disse: “Ninguém vai viver nessas terras. Não há problema”. Mas os portugueses resolveram colonizar Cabo Verde. E para isso tiveram que levar tudo, gente, cultura, animais.
Esta sociedade mestiça - onde o português é a língua oficial , mas a maior parte da população fala o “crioulo” cabo-verdiano, que possui variantes locais em cada ilha do arquipélago – é o berço da morna, um ritmo que possui parentesco com o brasileiríssimo lundu e cujas origens remontam ao século XVIII. Com elementos que combinam a dolência presente no fado e em outros ritmos portugueses, com o balanço dos sons africanos e uma certa influência da música brasileira, a morna possui um lirismo e um romantismo exacerbados e exalta temas caros ao imaginário social do país: a dor da partida (intensificada nas últimas décadas pelos grandes fluxos migratórios cabo-verdianos), o amor à terra, a saudade, os amores perdidos, o mar e o céu das ilhas.
Foi há mais ou menos dez anos que ouvi a morna pela primeira vez, com a canção “Sodade”, cantada por Cesária Évora. Foi amor à primeira vista. A beleza da melodia, a delicadeza harmônica, a sonoridade dos versos em crioulo e a maravilhosa voz de Cesária – que me trouxe evocações de divas negras do Jazz, como Sarah Vaughan e Ella Fitzgerald, da voz de Amália Rodrigues a cantar o fado, do balanço de grandes damas do nosso samba como D. Ivone Lara, Clementina de Jesus e Elizeth Cardoso – me seduziram profundamente. Desde então, nutro uma profunda vontade de conhecer o mar de Cabo Verde e de flanar pelas ruas da velha Cidade de Praia e ao ouvir a morna, pelo menos espiritualmente, sinto-me transportado para lá.
Ouça no Player abaixo a morna "Sodade", cantada por Cesária Évora:
O cabo-verdiano orgulha-se de sua terra, sobretudo do nosso mar, do nosso céu, de nossa seca. E talvez de nossa pobreza. Esse não é um mérito nosso. Aqueles que conhecem a condição cabo-verdiana saberão que Cabo Verde existe por teimosia dos portugueses. Há uma lenda que diz que Deus criou Cabo Verde por acaso. Já tinha criado o mundo, sacudiu as mãos, em que ainda havia uns restos de terra, e surgiram as ilhas. Ele já não tinha mais nada para pôr lá, mas disse: “Ninguém vai viver nessas terras. Não há problema”. Mas os portugueses resolveram colonizar Cabo Verde. E para isso tiveram que levar tudo, gente, cultura, animais.
Esta sociedade mestiça - onde o português é a língua oficial , mas a maior parte da população fala o “crioulo” cabo-verdiano, que possui variantes locais em cada ilha do arquipélago – é o berço da morna, um ritmo que possui parentesco com o brasileiríssimo lundu e cujas origens remontam ao século XVIII. Com elementos que combinam a dolência presente no fado e em outros ritmos portugueses, com o balanço dos sons africanos e uma certa influência da música brasileira, a morna possui um lirismo e um romantismo exacerbados e exalta temas caros ao imaginário social do país: a dor da partida (intensificada nas últimas décadas pelos grandes fluxos migratórios cabo-verdianos), o amor à terra, a saudade, os amores perdidos, o mar e o céu das ilhas.
Foi há mais ou menos dez anos que ouvi a morna pela primeira vez, com a canção “Sodade”, cantada por Cesária Évora. Foi amor à primeira vista. A beleza da melodia, a delicadeza harmônica, a sonoridade dos versos em crioulo e a maravilhosa voz de Cesária – que me trouxe evocações de divas negras do Jazz, como Sarah Vaughan e Ella Fitzgerald, da voz de Amália Rodrigues a cantar o fado, do balanço de grandes damas do nosso samba como D. Ivone Lara, Clementina de Jesus e Elizeth Cardoso – me seduziram profundamente. Desde então, nutro uma profunda vontade de conhecer o mar de Cabo Verde e de flanar pelas ruas da velha Cidade de Praia e ao ouvir a morna, pelo menos espiritualmente, sinto-me transportado para lá.
Ouça no Player abaixo a morna "Sodade", cantada por Cesária Évora: