Não, eu não gostei do Tropa de Elite 2. Nem poderia gostar. Em toda sua pretensão de nos iluminar sobre a conjuntura atual do Rio, o filme não passa de um pastiche de filme hollywoodiano, obedecendo, inclusive, às suas premissas mais elementares: (I) O elogio permanente à violência, demonstrada como forma máxima da expressão humana; (II) A castração das personagens, assexuadas até quando se insinuam (aqui, nem isso), reles autômatos sem libido; (III) A invisibilização da questão social, o Trabalho inexiste, tampouco qualquer menção à sua exploração. Está tudo lá, a violência é o ápice da expressão, quem domina a técnica para emprega-la mais e melhor é justamente para quem os holofotes se voltam, não existe troca de libido - ou possibilidade de -, tampouco - e principalmente - não existe questão social: Onde é que estão os fundamentos econômicos de tudo aquilo? A favela é demonstrada como um amontoado de pequenos empreendedores explorados pelos aneis burocráticos do Estado - pior do isso, a favela é narrada como se sempre estivesse ali o que, por tabela, sempre estará. Sem embargo, uma naturalização imperdoável.
A favela hollywoodizada
Megan Fox, Buñuel
Na foto de cima, a atriz Megan Fox em um ensaio fotográfico para a revista Interview. Na foto de baixo, cena do filme Ensaio de um crime, do cineasta surrealista Luis Buñuel.
Pouco a Pouco, de Jean Rouch
Em Ayorou, juntamente com Lam e Illo, Damouré dirige uma empresa de importação e exportação chamada Pouco a Pouco. Ao decidir erguer um edifício, ele parte para Paris a fim de verificar “como se vive numa casa de vários andares”. Na cidade, ele descobre as curiosas maneiras de viver e pensar da tribo dos parisienses, as quais descreve em postais enviados regularmente a seus companheiros, até que estes, duvidando de sua sanidade, enviam Lam à sua busca. Em Paris, Damouré e Lam compram um conversível Bugatti e conhecem Safi, Ariane e o mendigo Philippe. O grupo decide voltar à África, para construir a nova casa. As duas mulheres e Philippe não se adaptam à nova vida e resolvem partir. Damouré, Lam e Illo retiram-se para uma cabana às margens do rio e meditam sobre a sociedade moderna.
Filmes baseados em videogames clássicos
Só dez por cento é mentira.
A poesia está guardada nas palavras - é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre
as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.
Dica de Leitura para Entender Melhor "Lula, O Filho do Brasil".
Para entender melhor o movimento sindical no ABC paulista durante esse período – e conseqüentemente ter uma compreensão mais ampla da trajetória pessoal e política do futuro Presidente da República – recomendo a leitura do excelente artigo “Depois daquele limo: os termos do divórcio entre revolução e sindicalismo operário (1964-1978)", de Antonio Luigi Negro, publicado no livro Tempo Negro, Temperatura Sufocante: Estado e Sociedade no Brasil do AI-5, organizado por Oswaldo Munteal Filho, Adriano de Freixo e Jacqueline Freitas (Contraponto Editora/Editora da PUC-Rio, 2008). Professor da UFBA e um dos grandes especialistas brasileiros na obra de Edward P. Thompson, Negro tem estado à frente de algumas das mais interessantes pesquisas sobre o movimento sindical brasileiro na segunda metade do século XX, individualmente ou em colaboração com outros pesquisadores, como Alexandre Fortes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Neste artigo, ele recupera e analisa o processo de ascensão do “sindicalismo autêntico” – definido por Paulo Vidal como “antiempresarial e anticomunista” – no ABC paulista, nas décadas de 1960 e 1970. Porém, ironicamente, foi deste sindicalismo - que era estranhado e mesmo hostilizado pela esquerda e que pregava que “partidos só atrapalhavam a autenticidade e a independência dos sindicatos”- que emergiu a liderança daquele que se tornaria o principal fundador e o nome central de um partido que se transformou em referência para a esquerda latino-americana e mundial. Para aqueles que querem conhecer esta história e que buscam entender a complexidade e as peculiaridades de um personagem como Lula, a leitura do artigo de Antonio Luigi Negro é imprescindível.
Ecos da Ibéria.
Embora sem estar na trilha sonora do filme, foi esta a canção – tão ouvida em minha infância – que me veio à cabeça ao término da exibição de “Fados”, de Carlos Saura. Surgido na primeira metade do século XIX, o Fado se origina daquele caldo de cultura da Lisboa oitocentista, onde as influências mouras mesclavam-se com a tradição das modinhas e dos lunduns, trazidos do Brasil pelos portugueses retornados, e com as cantigas rurais dos camponeses que migravam para a grande cidade. Tendo se tornado o gênero musical português por excelência, ao longo do século XX, ele acabou sendo um pouco deixado de lado nos anos seguintes à Revolução dos Cravos (1974). Porém, desde a década passada, o Fado tem sido redescoberto e reinventado – em um processo análogo ao que aconteceu com o samba carioca – por jovens artistas como Mariza, Mísia e Mafalda Arnauth. Esta música dolente e melancólica é a “personagem” principal do filme de Saura, que passeia com grande delicadeza e sensibilidade por suas inúmeras variações e pelas marcas deixadas por ela no mundo de língua portuguesa. Mesclando a beleza das canções com a plasticidade dos números de dança – que o cineasta espanhol sabe dirigir como ninguém – “Fados” possui alguns momentos sublimes como a cena em que Carlos do Carmo canta “Um Homem na Cidade”, de Alfredo Marceneiro, enquanto cenas cotidianas de Lisboa vão sendo projetadas (assista aqui) ou aquela em que o áudio de "Grândola, Vila Morena" é substituído sutilmente por Chico Buarque cantando o seu “Fado Tropical” – com o mesmo Carlos do Carmo interpretando as partes declamadas - tendo ao fundo as emocionantes imagens da Revolução dos Cravos. Isto sem falar nas várias participações da maravilhosa Mariza – o grande nome da nova geração de fadistas -, dentre as quais destaco a interpretação da deliciosa canção de levada moçambicana, “Transparente” (confira aqui), que também conta com a participação especialíssima da guitarra do veterano Rui Veloso, um dos grandes nomes do rock/blues português. A única cena do filme da qual eu realmente não gostei – até o Caetano cantando em falsete “Estranha Forma de Vida”, da Amália Rodrigues, ficou interessante – e que considero perfeitamente dispensável é aquela em que Toni Garrido canta a modinha “Menina você que tem”. Ao tentar criar um clima de sensualidade, a única coisa que o cantor brasileiro conseguiu foi uma interpretação over e extremamente canastrona. Mas, apesar disto, “Fados” é um grande filme e mantém o padrão de qualidade da obra de Carlos Saura que continua a ser, indiscutivelmente, um dos melhores tradutores da cultura ibérica.
Apagões, Patriotas, Gênios da Raça e Outras Generalidades.
E o senador Flávio Arns, hein? Saiu do PT no auge da crise do Senado alegando que o partido tinha perdido o seu compromisso com a ética. E qual foi o seu destino? O PSDB! Como será que o nobre senador está se sentindo ao lado de paladinos da ética como Eduardo Azeredo, Expedito Júnior, Cássio Cunha Lima, Artur Virgílio, Tasso Jereissati e tantos outros? Faz o seguinte, Senador: tente inventar outra desculpa como justificativa para a sua saída, que a gente vê se acredita!
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“Lula tem phala e sabedoria carnavalesca nas artérias, tem dado entrevistas maravilhosas, onde inverte, carnavaliza totalmente o senso comum do rebanho. Por exemplo, quando convoca os jornalistas da Folha de S. Paulo a desobedecer seus editores e ouvir, transmitindo ao vivo a phala do povo. A interpretação da editoria é a do jornal e não a da liberdade do jornalista. Aí , quando liberta o jornalista da submissão ao dono do jornal, é acusado de ser contra a liberdade de expressão. Brilha Maquiavel, quando aceita aliança com Judas, como Dionísios que casa-se com a própria responsável por seu assassinato como Minotauro, Ariadne. É realmente um transformador do Tabu em Totem e de uma eloquência amor-humor tão bela quanto a do próprio Caetano”.
“Eu abro meu voto para a linha que vem de Getúlio, de Brizola, de Lula: Dilma, apesar de achar que está marcando em não enxergar, nisto se parece com Caetano, a importância do Ministério da Cultura no Governo Lula. Nos 5 dedos da mão em que aponta suas metas, precisa saber mais das coisas, e incluir o binômio Cultura & Educação".
"Quanto a Marina Silva, quando eu soube que se diz criacionista, portanto contra a descriminalização do aborto e da pesquisa com células-tronco, pobre de mim, chumbado por um enfarte grave, sonhando com um coração novo, deixei de sequer imaginar votar nela”
Quem quiser ler o artigo na íntegra é só clicar aqui.
Assim, entre o "sou vanguarda porque tá na moda" Caetano Veloso e o "além de qualquer vanguarda" José Celso Martinez Corrêa, definitivamente fico com o segundo!
E agora eu vou deixar o “gênio da raça” um pouco de lado – pelo menos até ele soltar alguma “pérola” nova - , pois esse papo já tá qualquer coisa...
"FHC: O Filho da P..." - A Nova Superprodução do Cinema Nacional.
Ficha Técnica:
Título Original: “FHC, The Son of B…”
Gênero: Drama/Terror/Policial
Produção: Brasil/EUA
Ano: 2010
Direção: Arnaldo Jabor
Distribuição: Globo Filmes e FMI Pictures
Direção de Arte: Nizan Guanaes
Efeitos Especiais: Hans Doner
Roteiro: Ali Kamel e Diogo Mainardi
Inspiração Espiritual: Roberto Marinho (psicografado por Ana Maria Braga)
Trilha Sonora: Caetano Veloso (incluindo a música-tema: “Você não vale nada, mas eu gosto de você”, na voz e no violão deste grande compositor e intelectual baiano)
Figurinos: Merval Pereira
Moça do Cafezinho: Miriam Leitão
Elenco: FHC (o próprio), Daniel Dantas, Gilmar Mendes, Geraldo Brindeiro, Ronivon Santiago, Ricardo Sérgio, José “Nosferatu” Serra, Herr Jürgen Bornhausen, Carlos Augusto Montenegro, Ronaldo “little jet” Sardenberg, Celso “no shoes” Lafer, Eduardo Jorge.
Participações Especiais: Miriam Dutra e Regina Duarte
Sacanas Sem Lei, Brazilian Nuggets y Otras Cositas Más.
Clássicos da Literatura, do Cinema e da Música.
Nesta pungente história, o professor de Estudos Sociais Eugene Simonet não espera que sua turma daquele ano seja diferente das anteriores. Por isso, ele sugere o mesmo trabalho de sempre no primeiro dia de aula, sem maiores expectativas quanto aos resultados: os alunos têm de pensar num jeito de mudar o mundo e colocar isto em prática.
Porém, um dos alunos, Trevor, resolve levar o trabalho a sério. Com 11 anos de idade e praticamente abandonado pelo pai, ele mora em um bairro pobre de Las Vegas com a mãe, Arlene, uma garçonete que durante dia trabalha em um cassino e, à noite, em uma boate de strip-tease. A partir da idéia de seu professor, Trevor cria a “corrente do bem”, que é baseada em três premissas: fazer por alguém algo que este não pode fazer por si mesmo; fazer isso para três pessoas; e cada pessoa ajudada fazer isso por outras três. Assim, a corrente cresceria em progressão geométrica: de três para nove, daí para 27 e assim sucessivamente.
Com um desfecho extremamente sensível, esta obra-prima do cinema americano consegue mexer profundamente com os corações mais empedernidos.
Pensem, por favor
É o que a comédia consegue provocar. Elroy Fletcher (Danny Glover) é dono de uma decadente locadora de blockbusters. Vive pressionado pela prefeitura para mudar ou adaptar seu prédio a novas posturas. Sem dinheiro, faz uma viagem para pensar e deixa seu negócio nas mãos do atolado empregado Mike (Mos Def) e inadvertidamente na de seu amigo mecânico Jerry (Jack Black). A primeira e decisiva trapalhada de Jerry é desmagnetizar todo o arquivo de fitas VHS. Em pânico, a dupla resolve refilmar cada fita, conforme sua demanda. São os melhores momentos, onde títulos notórios do cinemão americano são recriados nos mais toscos e criativos recursos. Um exemplo: descobrem que na antiquada câmera há um botão para a imagem ficar em negativo, o que poderia sugerir a filmagem à noite. Mas como os atores ficavam irreconhecíveis, xerocam seus rostos em negativo para serem usados como máscaras. O resultado é hilário.
O negócio bomba quando a comunidade local descobre a nova arte da dupla. E de meros espectadores passam para participantes ativos nas produções, como técnicos e atores. Uma ótima metáfora com a nova geração YouTube, onde alguns toscos filmes são hoje mais vistos do que muitas produções da indústria. Quando sabemos que no Brasil mais de 60% dos jovens entre 15 e 29 anos nunca foram ao cinema e 92% dos municípios não têm sequer uma sala para exibição, o filme da indústria americana tem muito mais a dizer além das piadas.
Só entende quem namora
Bobagens. Vi o filme antes de ler as críticas e o achei um dos trabalhos mais maduros de Allen. Divertido e ao mesmo tempo incômodo. Impossível vê-lo sem haver um dedo de identidade com algum momento dos personagens. Ali estão nossas dúvidas, procuras, obsessões, mesmo em um universo tão pequeno. E Barcelona não é apenas um merchandise de cidade, algo comum hoje nessa indústria. Há muito sentido para tal no roteiro. Todos os personagens de alguma maneira estão envolvidos em dar expressão criativa para suas questões. Vicky (Rebecca Hall) estuda a cultura catalã, Cristina (Scarlett Johansson) fotografa. São envolvidas em trama amorosa com Juan Antonio (Javier Bardem), pintor que aparentemente roubou o estilo de sua grande amada também pintora, Maria Elena (Penélope Cruz). Nada distante da vivência de lugar onde um arquiteto fez uma das obras mais inusitadas do planeta, muito além de paredes e tetos, um dos mais autênticos berros pela expressão.
É típica comédia de costumes, com encontros e desencontros, ótimos diálogos. Questionamentos sobre o desejo pelo outro. A tentação. A resignação. Os mais fortes sentimentos em um turismo acidental. Todos vivem intensas emoções, e terminam como começaram. Não há respostas fáceis. Difícil um crítico ser preciso sem ter vivido escolhas pela vivência de uma paixão arrebatadora, ou reconfortante amor previsível, com conseqüentes culpas, ou pela neurose do amor mal ou bem vivido, e perdido. É o que fica da dificuldade de nossos ingênuos críticos. Não é possível entender sem vivenciar as enormes dificuldades de realizar o desejo, algo muito além das fantasias.
Daí gostei mais da crítica despretensiosa de Cotardo Calligaris, na Folha, com sua manha psicanalítica:
“O amor e a paixão não nos fazem necessariamente felizes, mas são uma festa e uma alegria porque deles podemos esperar ao menos isto: que eles nos tornem um pouco outros, que eles nos mudem. Agora, nem sempre funciona...”