Dica de Leitura para Entender Melhor "Lula, O Filho do Brasil".

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  • quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
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  • Algumas das melhores cenas de “Lula, O Filho do Brasil” acontecem na segunda parte do filme – inclusive a mais bem-feita de todas, a da lendária assembléia no Estádio da Vila Euclides - quando um então despolitizado Lula começa a sua militância no movimento sindical. Nesse momento aparece o personagem "Feitosa”, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, que acaba se tornando uma espécie de “padrinho” de Lula em sua militância sindical e que nesta cinebiografia é retratado de forma um tanto quanto caricata. Na verdade, “Feitosa” é o nome dado no filme a Paulo Vidal, presidente do SMSBD entre 1969 e 1975 - depois sucedido por Lula - e que foi um dos principais nomes do chamado "Sindicalismo Autêntico", que se consolidou nos anos seguintes ao golpe de 1964 e à implantação do regime ditatorial .

    Para entender melhor o movimento sindical no ABC paulista durante esse período – e conseqüentemente ter uma compreensão mais ampla da trajetória pessoal e política do futuro Presidente da República – recomendo a leitura do excelente artigo “Depois daquele limo: os termos do divórcio entre revolução e sindicalismo operário (1964-1978)", de Antonio Luigi Negro, publicado no livro Tempo Negro, Temperatura Sufocante: Estado e Sociedade no Brasil do AI-5, organizado por Oswaldo Munteal Filho, Adriano de Freixo e Jacqueline Freitas (Contraponto Editora/Editora da PUC-Rio, 2008). Professor da UFBA e um dos grandes especialistas brasileiros na obra de Edward P. Thompson, Negro tem estado à frente de algumas das mais interessantes pesquisas sobre o movimento sindical brasileiro na segunda metade do século XX, individualmente ou em colaboração com outros pesquisadores, como Alexandre Fortes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Neste artigo, ele recupera e analisa o processo de ascensão do “sindicalismo autêntico” – definido por Paulo Vidal como “antiempresarial e anticomunista” – no ABC paulista, nas décadas de 1960 e 1970. Porém, ironicamente, foi deste sindicalismo - que era estranhado e mesmo hostilizado pela esquerda e que pregava que “partidos só atrapalhavam a autenticidade e a independência dos sindicatos”- que emergiu a liderança daquele que se tornaria o principal fundador e o nome central de um partido que se transformou em referência para a esquerda latino-americana e mundial. Para aqueles que querem conhecer esta história e que buscam entender a complexidade e as peculiaridades de um personagem como Lula, a leitura do artigo de Antonio Luigi Negro é imprescindível.
     
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