"Auto-Retrato", Francis Bacon, 1971.
Auto-Retrato
Está incompleto. Ainda se vê metade do rosto. Sabemos
como se acentua junto dos olhos a mesma sombra.
Os lábios fecham-se; à sua volta, um halo apenas: continuam
afastadas as pregas da cor, o rumor trazido pela luz. Há um contorno
que pode tornar-se nítido. É tudo o que se procura. Depois esperamos
que venha a respiração ao encontro dessa superfície
até se encontrar um nome. É o meu.
Se quiserem podem esquecê-lo agora.
(Fernando Guimarães, In: Poesia Completa - Vol. 1. Porto, Edições Afrontamento, 1994)