Pimentel foi traído por Aécio?

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  • quarta-feira, 25 de agosto de 2010
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  • Guilherme Evelin, do Blog Boca de Urna da Revista Época


    Quem corre o risco de terminar as eleições como um dos grandes derrotados nas urnas, por uma dessas ironias da política, é justamente um dos grandes amigos da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, favorita para conquistar o Palácio do Planalto. O amigo é o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (foto ao lado), que aparecia, no começo da campanha eleitoral, como cotadíssimo para ser um dos homens fortes de um eventual governo Dilma. Os dois têm uma ligação histórica, que remonta ao final da década de 60, quando ambos foram militantes do Colina, grupo da luta armada contra a ditadura militar.

    No começo da campanha eleitoral, Pimentel foi escalado para ser um coordenadores da campanha presidencial do PT, onde ele atuaria como uma espécie de porta-voz de Dilma. Uma série de erros cometidos, desde então, diminuíram a sua influência, com possíveis consequencias no papel que ele poderá vir a exercer em um governo Dilma. O primeiro foi o envolvimento na trapalhada da montagem de um “setor de inteligência” da campanha de Dilma, com o objetivo de montar dossiês contra os adversários e fazer contra-espionagem. Pimentel foi o responsável pela indicação do jornalista Luiz Lanzetta, que estava à frente das negociações com um grupo de arapongas para a criação do tal “setor de inteligência”, desmontado depois de descoberto.

    O segundo erro de Pimentel foi insistir, até o último momento, na sua candidatura ao governo de Minas Gerais, apostando que a aliança do PT com o PMDB em torno da candidatura do ex-ministro Hélio Costa não iria adiante. Pimentel esticou a corda e acabou irritando o presidente Lula, grande avalista da coligação dos dois partidos. Ao dar prioridade a Minas Gerais, Pimentel perdeu espaço também para o ex-ministro e deputado Antonio Palocci, que virou o principal interlocutor de Dilma na coordenação de campanha.

    Muitos petistas mineiros avaliam, porém, que o grande erro de Pimentel pode ter sido ter confiado em demasia na relação construída com o tucano Aécio Neves (foto ao lado), quando um era prefeito de Belo Horizonte e o outro governava Minas Gerais e ambos propagavam um discurso de união de PT e PSDB e de superação das rivalidades entre os dois partidos. Em nome da conciliação de petistas e tucanos, Pimentel fez o PT abrir mão, em 2008, de uma candidatura própria à prefeitura de Belo Horizonte e abraçar a candidatura de Márcio Lacerda, o atual prefeito, filiado ao PSB e ex-secretário de Aécio. Com esse gesto, Pimentel angariou a antipatia de uma larga fatia do PT mineiro, que o acusa de entregar de mão beijada a prefeitura para adversários históricos.

    Ao se lançar candidato ao Senado, Pimentel estava esperando, talvez, um gesto de retribuição de Aécio – como um acordo branco que facilitasse a sua eleição para uma das duas vagas em disputa. O gesto não veio. Além de se lançar na disputa, Aécio patrocinou também a candidatura ao Senado do ex-presidente Itamar Franco, pelo PPS. Esta semana, uma pesquisa do Ibope mostrou que Pimentel dificilmente conseguirá se eleger senador. A pouco mais de um mês das eleições, a pesquisa dá a Aécio 69% das intenções de voto, a Itamar 43%, e a Pimentel 19%.

    Uma derrota na eleição para o Senado poderá minar a influência de Pimentel em um governo de Dilma, a despeito da amizade que os une. Eleito senador, Pimentel poderia mais facilmente assumir um ministério de primeira linha. Derrotado, sua nomeação será vista como uma compensação política, e o mais provável será um cargo de escalão médio.

    Em Minas, diz-se que Aécio não quis facilitar a eleição de Pimentel por temer o fortalecimento de um possível adversário no futuro. No PT, os adversários internos de Pimentel se regozijam com as suas dificuldades. Nos bastidores, o ex-prefeito reclama de um certo abandono pela campanha nacional e da atitude de Aécio. Nas avaliações feitas por Pimentel, se Aécio tivesse facilitado sua eleição, a vida do candidato do PSDB ao governo de Minas, Antonio Anastasia, que disputa a reeleição, também poderia estar mais fácil, porque haveria retribuição por parte de seus seguidores.

    Segundo a última pesquisa Ibope, embora tenha encurtado a distância em relação a Hélio Costa, Anastasia ainda aparece 11 pontos atrás do oponente.Na semana passada, em Brasília, um jantar organizado pelo deputado Fábio Ramalho (PV-MG) tentou articular uma manobra capaz, em tese, de facilitar tanto a vida de Pimentel quanto a Anastasia: a transformação de Itamar em candidato a vice-governador na chapa de Anastasia, com a sua retirada do páreo do Senado. Pareceu, a essa altura do campeonato, uma tentativa um tanto desesperada de remendar os cacos da relação “Pimentécio” para que ela não termine nas urnas como um abraço de afogados.
     
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