Darwin respondeu a Kripke, avant la lettre (Domingo cabeça)

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  • domingo, 7 de fevereiro de 2010
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  • O filósofo estadunidense Saul Kripke é famoso por ter afirmado que, necessariamente, água é H2O.

    Isso quer dizer que, se algo é água, tem essa fórmula.

    Isso é falso por vários motivos, dentre os quais que chamamos de "água" compostos químicos com várias fórmulas distintas de H2O, e que em diversas épocas não era certo chamar compostos de H2O sólido ou gasoso de "água", pois não se tinha a visão atual sobre os diferentes estados de agregação da matéria.

    Para muitos seguidores de Kripke, da visão de Kripke surge uma boa teoria sobre as espécies naturais. O ponto kripkeano seria que cada espécie tem uma essência, assim como necessariamente água é H2O.

    Mas isso é falso por motivos já apresentados por Charles Darwin logo no início do capítulo 2 dA Origem das Espécies, intitulado "Variação sob a Natureza":
    Dessas observações se verá que olho para o termo espécie como um dado arbitrariamente com a finalidade da conveniência a um conjunto de indivíduos intimamente parecidos uns com os outros, e que ele não difere essencialmente do termo variedade, o qual é dado para formas menos distintas e mais flutuantes. O termo variedade, por sua vez, em comparação com meras diferenças individuais, também é aplicado arbitrariamente, e com a mera finalidade da conveniência.
    [...] espécies são apenas variedades fortemente marcadas e permanentes.
    No início do capítulo 3:
    É imaterial para nós se uma multidão de formas duvidosas é chamado de espécie ou subespécie ou variedade [...].
    No capítulo 9 Darwin escreve, sempre na minha tradução:
    É de todo importante lembrar que os naturalistas não têm uma regra de ouro pela qual distinguir espécies e variedades; eles admitem alguma pequena variabilidade a cada espécie, mas quando eles se encontram com alguma quantia de diferença de algum modo maior entre quaisquer duas formas, eles as classificam como espécies, a menos que eles estejam habilitados a conectá-las uma a outra por gradações intermediárias próximas.
    Darwin está deixando claro que se fala de espécies por mera conveniência, e que o critério para o estabelecimento de uma espécie é o que o naturalista sabe, não alguma coisa em si tal como é inobservada.

    Talvez a teoria de Kripke funcione para alguns minerais. Mas não funciona para a água, como vimos acima.
     
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