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Philographics: Filosofia Minimalista








em Ilustrações por Margarete MS 





O designer Genis Carreras explica filosofia através de formas básicas e cores.




































































































Genis Carreras
Galeria



















Artigo da autoria de Margarete MS.Eu tenho um coração um
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A redistribuição de renda promove o bem-estar

«.... lei da diminuição da utilidade marginal. Segundo essa "lei", a utilidade marginal (a utilidade da última quantidade consumida) diminui com o consumo adicional. (Alfred Marshall ilustrava isso com o charmoso exemplo de uma criança comendo frutas.)
O enormemente influente livro Economia do bem-estar, de Arthur Cecil Pigou, publicado em 1920, derivou um argumento muito simples para, pelo menos, alguma distribuição de riqueza a partir dessas premissas "neoclássicas". Se a lei da diminuição da utilidade marginal fosse correta, então a utilidade marginal do dinheiro também deveria diminuir. E, mesmo se essas utilidades marginais variam consideravelmente de pessoa para pessoa, é ainda plausível que a utilidade marginal de, digamos, mil dólares para alguém que está a ponto de passar fome ou de tornar-se um mendigo morador de rua seja maior do que a utilidade marginal de mil dólares para, digamos, Bill Gates. Conclusão: a utilidade total (frequentemente identificada com "a felicidade total", pelos escritores utilitaristas) da população como um todo seria aumentada tomando mil dólares de Bill Gates em taxas e dando mil dólares para os destituídos; mais geralmente, tudo o mais permanecendo igual, a redistribuição de renda promove o bem-estar
O que segue acima é um trecho (pp. 77-78) de um livro do filósofo Hilary Putnam que deveria ser chamado - se fosse o caso de se inventar um título novo, como acreditou o editor da tradução - de Filosofia e economia

Trata-se de um livro sobre valores. Um dos assuntos principais é a teoria econômica de Amartya Sen.

Amartya Sen foi agraciado com o Prêmio Nobel em 1998. Trata-se de uma premiação merecida. Tal como a de Putnam agora mesmo, em 2011. Ele foi agraciado com o Prêmio Schock, o qual é o equivalente do Prêmio Nobel para a filosofia.

O que o trecho acima mostra é simples. Para quem tem 100 reais, 1 real é um mero aumento de 1% no seu patrimônio. Mas para quem tem 10 reais, trata-se de um aumento de 10%. Isso mostra claramente que um mesmo valor monetário tem valores diferentes em diferentes bolsos, sendo mais valioso no bolso que tem menos dinheiro. Sendo assim, a melhor coisa a se fazer para aumentar o bem-estar social é transferir, via impostos, o dinheiro que está nos bolsos de quem tem mais dinheiro para os bolsos de quem tem menos dinheiro.

É o que o Brasil vem fazendo. É o que explica nosso enorme sucesso no presente.
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Uma leitura filosófico-carnavalesca

Aproveitei o carnaval para colocar em dia a leitura da obra do filósofo Abelardo Barbosa. Trata-se de um marco da onto-teo-logia ocidental, em uma obra cujo destaque é o conceito autoevidente de trumbicação, o qual levou O Filósofo a proferir, enquanto ria da estultície dos seus críticos: «Eu vim pra confundir, não pra explicar».

Discípulo de Heráclito, São Abelardo Barbosa reconhecia que havia críticas pertinentes à obra de seu mestre. Contudo, afirmava com convicção que «O mundo está em dicotomia convergente, mas vai mudar».

Ainda seguindo a tradição pré-socrática de investigar o cosmos e a natureza, deixou um aforismo no qual nos ensina que «A melhor lua pra se plantar mandioca é a lua-de-mel».

O ponto alto do volume Santo Anselmo / Abelardo Barbosa da coleção Os pensadores é o argumento ontológico, no qual, após demonstrar que «Honoris causa é a mesma coisa do que hors-concours», São Abelardo Barbosa nos mostra, através de premissas que são axiomas necessários, analíticos e a priori, a inexistência de Deus. O argumento pode ser esboçado nas seguintes linhas:

  1. Quem não se comunica, se trumbica (Premissa 1)
  2. Deus não se comunica (Premissa 2)
  3. Logo----- (Conclusão)
O argumento ontológico de Abelardo Barbosa causou escândalo por todo o medievo, levando à proibição papal do ensino do conceito de truo-imbicare nas Escolas durante cinco séculos. No entanto, sua obra foi resgatada pelos apólogos da modernidade do início do século XX, tendo sido a influência marcante no argumento ontológico de Alfred Jarry. 

(Os ditos de Abelardo Barbosa citados acima foram retirados daqui.)
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Na Hungria, filósofos sob ataque da direita antidemocrática

Veja aqui.
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A gravidade da mentira, pela filósofa Gloria Origgi

 As pessoas capazes de ler em francês não devem deixar de ler a postagem Pourquoi est-il si grave de mentir?, da filósofa Gloria Origgi (foto ao lado), no seu blog Miscellanea.

Partindo dos casos Assange e Iraque, Gloria Origgi dá uma aula sobre a gravidade da mentira.

É uma demonstração exemplar do poder da epistemologia por uma filósofa e erudita que não se perde em detalhes que ofuscam escolásticos, e expressa na linguagem dos blogs o que os filósofos têm a dizer.

É um exemplo máximo do que pode e deve ser pensado e dito em uma aula de filosofia.
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Dos filósofos materialistas da Índia antiga

Na Índia antiga também havia filósofos que propunham lokayata, isto é o materialismo, como Carvaca e seus seguidores, os carvacas. Eis um resuminho das ideias do nosso amigo Carvaca:
No aparecimento de Shri Shankar havia a influência do pensamento de inumeráveis filósofos materialistas, além do domínio islâmico. Alguns, a exemplo de Carvaca, que foi contemporâneo de Buddha, afirmava a sua doutrina do Lokayata. Esta filosofia dizia que tudo que existe é somente este mundo (loka), e que não há nada mais além dele. Carvaca dizia que a vida depois da morte era uma grande mentira, e que isso era pregado por ignorantes, apegados a letra morta dos textos do que ele dizia “doutrinas ultrapassadas dos Vedas”. Além do mais, para Carvaca a alma não existia; tudo o que existe são os elementos água, ar, fogo e terra. O que existe na vida é o prazer e a dor, e tudo o mais não passa de tosca ilusão – maya -, fruto da ilusão dos ignorantes. A filosofia hedonista de Carvaca defendia que somente o prazer deveria ser buscado e nada mais.


Entre os ensinamentos de Carvaca nós, também, encontramos:


- O prazer não está misturado a dor;


- A sabedoria da vida está em gozar o prazer e evitar o sofrimento;


- O sábio busca o prazer e abandona a dor, assim como uma pessoa ao comer o peixe separa as espinhas da carne;


- Uma pessoa não deixa de cozinhar porque alguém pode lhe roubar a comida, nem deixa de plantar o arroz porque há serpentes no campo (uma alusão que mesmo que soframos o prazer é o que vale);


- Os tímidos são cegos do prazer visual, e são ignorantes tal como bestas selvagens;


- A única finalidade do homem na terra é o gozo dos sentidos.
As obras de Carvaca foram destruídas. Coisas da intolerância religiosa, nenhuma novidade. Sobraram comentários sobre. Se encontra estudos recentes sobre sua obra ou sua doutrinha, como artigos no Journal of Indian philosophy1, 2, 3.
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Relendo

 A memória, a história, o esquecimento, de Paul Ricoeur.

Trata-se de uma reflexão de fôlego e de profundidade sobre os entrelaçamentos e desdobramentos filosóficos dos temas do título.

A obra, publicada originalmente quando Ricoeur tinha 87 anos de idade, é de um vigor intelectual impressionante.

Eu diria que um dos seus temas centrais é a memória justa -- um tema otimamente explorado pelo jovem Nietzsche. Nem tudo podemos lembrar, mas nem tudo devemos esquecer. Do que devemos lembrar?
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Histeria e fotografia


«Visualmente era um mundo novo, criado não só por artistas mas também pela máquina fotográfica. A câmera era verdadeiramente objetiva, pois nenhum observador humano intervinha entre o objeto e o registro. Ao lado das impressões criadas pela pintura, devemos inserir as imagens reproduzíveis captadas pelas lentes. No final dos acima mencionados doze anos [1874-1886], Jean-Martin Charcot, mestre da neurologia, tornou-se fascinado pelas representações pictóricas da histeria, antigas e novas. Ele e seus estudantes tornaram visual a doença. Os histéricos tinham de ter alguma aflição que pudesse ser fotografada.»

Foto de Jean-Martin Charcot, ataques epiléticos induzidos por histeria, 1878, via theslideprojector.com.
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Como manter desempregado um doutor desempregado

É muito simples manter desempregado um doutor desempregado.

Primeiro, exija que ele publique.

Depois, impeça que ele publique. Você pode fazer isso criando uma regra como esta:
«Segundo as diretrizes da Capes só serão aceitos trabalhos de docentes ou discentes inscritos em Programas dedicados a Pesquisa em Filosofia.»
A regra diz que se você é um doutor formado e diplomado, mas não tem emprego, então seu trabalho não é bom para ser publicado, não importando seu conteúdo.

As consequências da regra são interessantes, embora perversas.

Primeiro, o estudante que demora para se pós-graduar é premiado, pois seu trabalho vale alguma coisa para publicação enquanto ele está matriculado em um programa de pesquisa. Depois, magicamente, não vale nada.

Segundo, o doutor desempregado é prejudicado em concursos, pois é impedido de publicar, embora publicações contem pontos. Aliás, me pergunto: é legítimo considerar publicações em concursos, dada a regra acima? Se é para manter a pontuação por publicações, e eu acho que é preciso manter, a regra acima tem que cair.

Terceiro, a vida dos programas de pesquisa fica artificialmente facilitada, pois a reserva de mercado faz com que os professores e alunos publiquem mais do que os outros, o que lhes dá mais pontuação Lattes, e daí mais recursos orçamentários, e mais vantagens nas carreiras.

Quarto, o dinheiro investido em um doutor que está desempregado é desperdiçado, pois seu trabalho é impedido de vir a público.

Quinto, os programas de pesquisa se tornam máquinas nas quais quem sai fica na mesma situação que estava antes, pois os resultados da pesquisa são imediatamente ignorados.

É claro que uma regra como esta não é do interesse público. Seria importante que aqueles que se beneficiam com a mesma refletissem sobre o assunto.

Mais sobre o assunto aqui.
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Manifesto pró-Dilma dos professores e pesquisadores de filosofia

Manifesto
Professores e Pesquisadores de Filosofia apoiam Dilma Rousseff para a Presidência da República

Professores e pesquisadores de Filosofia, abaixo assinados, manifestamos nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Seguem-se nossas razões.  
Os valores de nossa Constituição exigem compromisso e responsabilidade por parte dos representantes políticos e dos intelectuais  
Nesta semana completam-se vinte e dois anos de promulgação da Constituição Federal. Embora marcada por contradições de uma sociedade que recém começava a acordar da longa noite do arbítrio, ela logrou afirmar valores que animam sonhos generosos com o futuro de nosso país. Entre os objetivos da República Federativa do Brasil estão “construir uma sociedade livre, justa e solidária”, “garantir o desenvolvimento nacional”, “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”.

A vitalidade de nossa República depende do efetivo compromisso com tais objetivos, para além da mera adesão verbal. Por parte de nossos representantes, ele deve traduzir-se em projetos claros e ações efetivas, sujeitos à responsabilização política pelos cidadãos. Dos intelectuais, espera-se o exame racionalmente responsável desses projetos e ações.

Os oito anos de governo Lula constituíram um formidável movimento na direção desses objetivos. Reconheça-se o papel do governo anterior na conquista de relativa estabilidade econômica. Ao atual governo, porém, deve-se tributar o feito inédito de conciliar crescimento da economia, controle da inflação e significativo desenvolvimento social. Nesses oito anos, a pobreza foi reduzida em mais de 40%; mais de 30 milhões de brasileiros ascenderam à classe média; a desigualdade de renda sofreu uma queda palpável. Não se tratou de um efeito natural e inevitável da estabilidade econômica. Trata-se do resultado de políticas públicas resolutamente implementadas pelo atual governo – as quais não se limitam ao Bolsa Família, mas têm nesse programa seu carro-chefe.

Tais políticas assinalam o compromisso do governo Lula com a realização dos objetivos de nossa República. Como ministra, Dilma Rousseff exerceu um papel central no sucesso dessa gestão. Cremos que sua chegada à Presidência representará a continuidade, aprofundamento e aperfeiçoamento do combate à pobreza e à desigualdade que marcou os últimos oito anos.

Há razões para duvidar que um eventual governo José Serra ofereça os mesmos prospectos. É notório o desprezo com que os programas sociais do atual governo – em particular o Bolsa Família – foram inicialmente recebidos pelos atores da coligação que sustenta o candidato. Frente ao sucesso de tais programas, José Serra vem agora verbalizar sua adesão a eles, quando não arroga para si sua primeira concepção. Não tendo ainda, passado o primeiro turno, apresentado um programa de governo, ele nos lança toda sorte de promessas – algumas das quais em franco contraste com sua gestão como governador de São Paulo – sem esclarecer como concretizá-las. O caráter errático de sua campanha justifica ceticismo quanto à consistência de seus compromissos. Seu discurso pautado por conveniências eleitorais indica aversão à responsabilidade que se espera de nossos representantes. Ironicamente, os intelectuais associados ao seu projeto político costumam tachar o governo Lula e a candidatura Dilma de populistas.
 
O compromisso com a inclusão social é um compromisso com a democracia  
A despeito da súbita conversão da oposição às políticas sociais do atual governo, ainda ecoam entre nós os chavões disseminados por ela sobre os programas de transferência de renda implementados nos últimos anos: eles consistiriam em mera esmola assistencialista desprovida de mecanismos que possibilitem a autonomia de seus beneficiários; mais grave, constituiriam instrumento de controle populista sobre as massas pobres, visando à perpetuação no poder do PT e de seus aliados. Tais chavões repousam sobre um equívoco de direito e de fato.

A história da democracia, desde seus primeiros momentos na pólis ateniense, é a história da progressiva incorporação à comunidade política dos que outrora se viam destituídos de voz nos processos decisórios coletivos. Que tal incorporação se mostre efetiva pressupõe que os cidadãos disponham das condições materiais básicas para seu reconhecimento como tais. A cidadania exige o que Kant caracterizou como independência: o cidadão deve ser “seu próprio senhor (sui iuris)”, por conseguinte possuir “alguma propriedade (e qualquer habilidade, ofício, arte ou ciência pode contar como propriedade) que lhe possibilite o sustento”. Nossa Constituição vai ao encontro dessa exigência ao reservar um capítulo aos direitos sociais.

Os programas de transferência de renda implementados pelo governo não apenas ajudaram a proteger o país da crise econômica mundial – por induzirem o crescimento do mercado interno –, mas fortaleceram nossa democracia ao criar bases concretas para a cidadania de milhões de brasileiros. Se atentarmos ao seu formato institucional, veremos que eles proporcionam condições para a progressiva autonomia de seus beneficiários, ao invés de prendê-los em um círculo de dependência. Que mulheres e homens beneficiados por tais programas confiram seus votos às forças que lutaram por implementá-los não deve surpreender ninguém – trata-se, afinal, da lógica mesma da governança democrática. Senhoras e senhores de seu destino, porém, sua relação com tais forças será propriamente política, não mais a subserviência em que os confinavam as oligarquias.

As liberdades públicas devem ser protegidas, em particular de seus paladinos de ocasião 
 
Nos últimos oito anos – mas especialmente neste ano eleitoral – assistiu-se à reiterada acusação, por parte de alguns intelectuais e da grande imprensa, de que o presidente Lula e seu governo atentam contra as liberdades públicas. É verdade que não há governo cujos quadros estejam inteiramente imunes às tentações do abuso de poder; é justamente esse fato que informa o desenvolvimento dos sistemas de freios e contrapesos do moderno Estado de Direito. Todavia, à parte episódios singulares – seguidos das sanções e reparos cabíveis –, um olhar sóbrio sobre o nosso país não terá dificuldade em ver que o governo tem zelado pelas garantias fundamentais previstas na Constituição e respeitado a independência das instituições encarregadas de protegê-las, como o Ministério Público, a Procuradoria Geral da República e o Supremo Tribunal Federal.

Diante disso, foi com desgosto e preocupação que vimos personalidades e intelectuais ilustres de nosso país assinarem, há duas semanas, um autointitulado “Manifesto em Defesa da Democracia”, em que acusam o governo de tramas para “solapar o regime democrático”. À conveniência da candidatura oposicionista, inventam uma nova regra de conduta presidencial: o Presidente da República deve abster-se, em qualquer contexto, de fazer política ou apoiar candidaturas. Ironicamente, observada tal regra seria impossível a reeleição para o executivo federal – instituto criado durante o governo anterior, não sem sombra de casuísmo, em circunstâncias que não mereceram o alarme da maioria de seus signatários.

Grandes veículos de comunicação sistematicamente alardeiam que o governo Lula e a candidatura Dilma representam uma ameaça à liberdade de imprensa, enquanto se notabilizam por uma cobertura militante e nem sempre responsável da atual campanha presidencial. As críticas do Presidente à grande imprensa não exigem adesão, mas tampouco atentam contra o regime democrático, em que o Presidente goza dos mesmos direitos de todo cidadão, na forma da lei. Propostas de aperfeiçoamento dos marcos legais do setor devem ser examinadas com racionalidade, a exemplo do que tem acontecido em países como a França e a Inglaterra.

Se durante a campanha do primeiro turno houve um episódio a ameaçar a liberdade de imprensa no Brasil, terá sido o estranho requerimento da Dra. Sandra Cureau, vice-procuradora-geral Eleitoral, à revista Carta Capital. De efeito intimidativo e duvidoso lastro legal, o episódio não recebeu atenção dos grandes veículos de comunicação do país, tampouco ensejou a mobilização cívica daqueles que, poucos dias antes, publicavam um manifesto contra supostas ameaças do Presidente à democracia brasileira. O zelo pelas liberdades públicas não admite dois pesos e duas medidas. Quando a evocação das garantias fundamentais se vê aliciada pelo vale-tudo eleitoral, a Constituição é rebaixada à mera retórica.

Estamos convictos de que Dilma Rousseff, se eleita, saberá proteger as liberdades públicas. Comprometidos com a defesa dessas liberdades, recomendamos o voto nela.

Em defesa do Estado laico e do respeito à diversidade de orientações espirituais, contra a instrumentalização política do discurso religioso 
 
A Constituição Federal é suficientemente clara na afirmação do caráter laico do Estado brasileiro. É garantida aos cidadãos brasileiros a liberdade de crença e consciência, não se admitindo que identidades religiosas se imponham como condição do exercício de direitos e do respeito à dignidade fundamental de cada um. Isso não significa que a religiosidade deva ser excluída da cena pública; exige, porém, intransigência com os que pregam o ódio e a intolerância em nome de uma orientação espiritual particular.

É, pois, com preocupação que testemunhamos a instrumentalização do discurso religioso na presente corrida presidencial. Em particular, deploramos a guarida de templos ao proselitismo a favor ou contra esta ou aquela candidatura – em clara afronta à legislação eleitoral. Dilma Rousseff, em particular, tem sido alvo de campanha difamatória baseada em ilações sobre suas convicções espirituais e na deliberada distorção das posições do atual governo sobre o aborto e a liberdade de manifestação religiosa. Conclamamos ambos os candidatos ora em disputa a não cederem às intimidações dos intolerantes. Temos confiança de que um eventual governo Dilma Rousseff preservará o caráter laico do Estado brasileiro e conduzirá adequadamente a discussão de temas que, embora sensíveis a religiosidades particulares, são de notório interesse público.

O compromisso com a expansão e qualificação da universidade é condição da construção de um país próspero, justo e com desenvolvimento sustentável 
 
É incontroverso que a prosperidade de um país se deixa medir pela qualidade e pelo grau de universalização da educação de suas crianças e de seus jovens. O Brasil tem muito por fazer nesse sentido, uma tarefa de gerações. O atual governo tem dado passos na direção certa. Programas de transferência de renda condicionam benefícios a famílias à manutenção de suas crianças na escola, diminuindo a evasão no ensino fundamental. A criação e ampliação de escolas técnicas e institutos federais têm proporcionado o aumento de vagas públicas no ensino médio. Programas como o PRODOCENCIA e o PARFOR atendem à capacitação de professores em ambos os níveis.

Em poucas áreas da governança o contraste entre a administração atual e a anterior é tão flagrante quanto nas políticas para o ensino superior e a pesquisa científica e tecnológica associadas. Durante os oito anos do governo anterior, não se criou uma nova universidade federal sequer; os equipamentos das universidades federais viram-se em vergonhosa penúria; as verbas de pesquisa estiveram constantemente à mercê de contingenciamentos; o arrocho salarial, aliado à falta de perspectivas e reconhecimento, favoreceu a aposentaria precoce de inúmeros docentes, sem a realização de concursos públicos para a reposição satisfatória de professores. O consórcio partidário que cerca a candidatura José Serra – o mesmo que deu guarida ao governo anterior – deve explicar por que e como não reeditará essa situação.

O atual governo tem agido não apenas para a recuperação do ensino superior e da pesquisa universitária, após anos de sucateamento, como tem implementado políticas para sua expansão e qualificação – com resultados já reconhecidos pela comunidade científica internacional. O PROUNI – atacado por um dos partidos da coligação de José Serra – possibilitou o acesso à universidade para mais de 700.000 brasileiros de baixa renda. Através do REUNI, as universidades federais têm assistido a um grande crescimento na infraestrutura e na contratação, mediante concurso público, de docentes qualificados. Programas de fomento, levados a cabo pelo CNPq e pela CAPES, têm proporcionado um sensível aumento da pesquisa em ciência e tecnologia, premissa central para o desenvolvimento do país. Foram criadas 14 novas universidades federais, testemunhando-se a interiorização do ensino superior no Brasil, levando o conhecimento às regiões mais pobres, menos desenvolvidas e mais necessitadas de apoio do Estado.

Ademais, deve-se frisar que não há possibilidade de desenvolvimento sustentável e preservação de nossa biodiversidade – temas cujo protagonismo na atual campanha deve-se à contribuição de Marina Silva – sem investimentos pesados em ciência e tecnologia. Não se pode esperar que a iniciativa privada satisfaça inteiramente essa demanda. O papel do Estado como indutor da pesquisa científica é indispensável, exigindo um compromisso que se traduza em políticas públicas concretas. A ausência de projetos claros e consistentes da candidatura oposicionista, a par do lamentável retrospecto do governo anterior nessa área, motiva receios quanto ao futuro do ensino superior e do conhecimento científico no Brasil – e, com eles, da proteção de nosso meio-ambiente – no caso da vitória de José Serra. A perspectiva de continuidade e aperfeiçoamento das políticas do governo Lula para o ensino e a pesquisa universitários motiva nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff.

Por essas razões, apoiamos a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Para o povo brasileiro continuar em sua jornada de reencontro consigo mesmo. Para o Brasil continuar mudando! 
 
06 de outubro de 2010
O manifesto reproduzido acima se encontra aqui, e a lista dos que o subscrevem está aqui.
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Darcy Ribeiro sobre os filósofos

Esses meus colegas têm um irresistível pendor barbarológico e um apego a toda conduta desviante e bizarra. Dedicam seu parco talento a quanto tema bizarro lhes caia em mãos, negando-se sempre, aparvalhados, a usar suas forças para entender a nós mesmos ....
-- no prefácio de O povo brasileiro, leitura apropriada para um 11 de setembro
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Discursos ímpios, um livrinho que vale a pena

Há tantos programas religiosos na TV e no rádio, e tantos canais e rádios religiosas, que esse exagero midiático já passa por algo normal. Mas, na boa, não é. Esta midiatização altamente capitalizada e quiçá altamente capitalizante da religião no nosso país precisa ser pensada, e para isso precisa ser ao menos notada.

Não se trata de ser contra ou a favor da religião, mas sim de pensar o uso de recursos públicos como as ondas de rádio. E também pensar a educação e formação dos jovens.

Uma boa formação precisa ser plural, mostrando aos jovens as várias possibilidades de vida, e deixando claro que as escolhas cabem apenas a eles, visto que eles e apenas eles serão responsáveis pelos próprios destinos. É por isso que precisamos de mais exposição e discussão de posições contrárias, como a religiosidade sem credo, a la Karen Armstrong, e também o ateísmo.

Claro, o que tô dizendo pode causar ahnãos, visto que muitos dos nossos ateus de internet são uns chatos, e uns bocós igrejeiros e intolerantes. Concordo, pois eu mesmo me entedio com o que leio por aí. Mas não é disso que tô falando. Na real, não tô nem falando a favor do ateísmo, visto que simpatizo com a religiosidade dançante da Karen Armstrong. Tô falando apenas que é grave ter canais de TV apresentando shows de rock cristão, mas não fornecer aos jovens outras visões que podem estar de acordo com suas razões ou inclinações. É grave porque é deformante. E é deformante não porque o rock cristão é interessante, mas porque deforma a percepção da normalidade.

É por isso que curto materiais que trazem diversidade, e esclarecimento, ainda que sejam materiais modestos, como o livro Discursos ímpios, do Marquês de Sade.

É claro, mal dá para comparar um livrinho com os ataques midiáticos e cheios de capital que citei antes. As diferenças são gritantes. Um chega ao aparelho de TV de cada um, outro está em livrarias, e precisa ser lido, além de entendido. Sei de tudo isso. Mas quero dizer, apenas, que em meio ao nada de pluralidade e à bocozice, eis algo interessante.

Os Discursos ímpios em questão são uma excelente seleção de textos filosóficos de Sade sobre a religião. A característica fundamental é a argumentação detalhada de temas como a religiosidade cívica, o papel da religião na geração de guerras e violência, e os fundamentos de certos dogmas cristãos, incluindo a imortalidade da alma. Em cada ponto, Sade apresenta argumentos claros e articulados, convidando ao debate e à reflexão.

O livro traz seis textinhos bem bacanas. Dos Cadernos pessoais sai uma reflexão sobre a moralidade como algo independente da religiosidade. Da Filosofia na alcova sai uma comparação das vantagens cívicas do paganismo em relação ao cristianismo. O Diálogo entre um padre e um moribundo, escrito em 1782, mas publicado apenas em 1926, defende que se apoie as bases da felicidade apenas no que é compreensível à razão e pode ser observado pelos sentidos. A Nova Justine apresenta um argumento contra a imortalidade da alma, e a favor da imortalidade do corpo. A História de Juliette traz um argumento contra a existência do inferno, o qual se apoia na falta de menções claras ao mesmo na Bíblia, e também na coerência da doutrina cristã.

Em todos os textos da seleção, o que temos é filosofia da religião a partir de um ponto de vista ateu. Como os textos são claros e acessíveis, qualquer pessoa minimamente educada e interessada pode lê-los. É um bom presente pros adolescentes da família que se interessam um pouquinho por livros.
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Uma maneira simples e divertida de tornar a matemática incognoscível

1. Estabeleça que um sujeito Ful sabe que p apenas se está em alguma relação causal com as entidades referidas em p.

2. Nos lembre que a matemática diz respeito a entidades abstratas.

3. Nos lembre, também, de que entidades abstratas não causam coisa alguma.

4. Conclua que a matemática é incognoscível.
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Uma maneira simples e divertida de tornar a matemática uma ciência a posteriori

1. Defina 'crença a priori' como crença que não pode ser revogada por evidências empíricas.

2. Seja quineano: mostre que mesmo as crenças matemáticas podem ser falseadas por evidências empíricas!

3. Conclua que a matemática não é a priori.
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Como ser responsável?

Alguém chegou neste blog a partir da busca como ser responsável?

Resposta: faça algo com intenção. Se você faz x com a intenção de fazer x, então você é responsável por x. Se você é responsável, ou não, por todas ou ao menos algumas das consequências de x, depende do x.

PS - É ululantemente óbvio que o buscador em questão veio pro lugar errado, pois tudo o que posso fazer é apresentar o esqueminha acima. Sou o último dos últimos das pessoas capazes de ensinar alguém, no duro, a ser responsável.
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A queixa-crime de Vieira contra Träsel, e a liberdade de expressão

O jornalista Felipe Vieira, da TV Band do Rio Grande do Sul, está processando o jornalista Marcelo Träsel, da Famecos/PUC, por "abuso da liberdade de expressão". Isso porque Träsel disse que "jornalista processar jornalista é coisa de maricas". Felipe Vieira, através do seu advogado Norberto Flach, considera tal opinião e outras de Träsel "injuriosas e difamatórias", motivo pelo qual apresentou queixa-crime ao Tribunal de Justiça do RS. A queixa-crime diz que Träsel está "extravazando - em muito - os limites da liberdade de expressão".

Francamente, parece que Felipe Vieira e seu advogado Norberto Flach não sabem muito bem o que é liberdade de expressão. Pois, se soubessem, não diriam que a frase "jornalista processar jornalista é coisa de maricas" configura "extravaza[mento] - em muito - da liberdade de expressão".

Pois vejamos. Do ponto de vista clássico, liberal, a liberdade de expressão é uma garantia que abrange todos os atos de fala e pensamento que não prejudicam o livre e amplo desenvolvimento da individualidade de alguém.

Agora, perguntemos: no que o livre e amplo desenvolvimento da individualidade de alguém, seja a de Felipe Vieira, seja a de qualquer outra pessoa, é afetada pela frase "jornalista processar jornalista é coisa de maricas"? Obviamente, em nada. Eis porque nesse caso não há "extravaza[mento] - em muito - da liberdade de expressão".

É claro, Felipe Vieira pode ter se sentido ofendido pela frase "jornalista processar jornalista é coisa de maricas", e ter decidido processar o jornalista Marcelo Träsel por conta disso. É um direito dele. Mas isso é outra coisa, bem diferente da questão da liberdade de expressão. Se for uma ofensa - e eu não sei se é ou não, pois não sei o que Träsel quis dizer - ele tem o direito de pedir reparação. No entanto, se ele quiser reparação só porque Träsel disse o que disse, quem está lesando a prerrogativa da liberdade de expressão é ele, Felipe Vieira. Pois, nesse caso, é ele quem está tentando silenciar uma opinião, apesar da mesma não impedir o livre e amplo desenvolvimento da individualidade de ninguém.

Se esse é o caso, ou não, eu não sei. Só sei que Träsel não cometeu um "extravaza[mento] - em muito - da liberdade de expressão".
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A autônoma subjetividade moderna

De certo modo, falar de um direito universal à vida não parece muita inovação. A mudança parece ser uma questão de forma. A maneira anterior de expressar o tema era que existe uma lei natural contra tirar vidas inocentes. Ambas as formulações parecem proibir as mesmas coisas. A diferença, porém, não está no que é proibido, mas no lugar do sujeito. A lei é aquilo a que devo obedecer. Ela pode me assegurar alguns benefícios, no caso a imunidade de que também minha vida deve ser respeitada; mas, fundamentalmente, estou sob a lei. Em contraste, um direito subjetivo é alguma coisa em relação à qual o possuidor pode e deve agir para colocá-la em vigor. Atribuir a alguém uma imunidade, antes dada pela lei natural, na forma de um direito natural é dar-lhe um papel no estabelecimento e aplicação dessa imunidade. Agora, sua participação é necessária e seus graus de liberdade são correspondentemente maiores. No limite extremo destes, pode-se até renunciar a um direito, derrotando assim a imunidade. Eis porque Locke, a fim de excluir essa possibilidade no caso de seus três direitos básicos, teve de introduzir a noção de “inalienabilidade”. Nada semelhante a isso era necessário na formulação da lei natural anterior, porque essa linguagem, por sua própria natureza, exclui o poder de renúncia.
– Charles Taylor, As fontes do self: a construção da identidade moderna, 2. ed., trad. A. U. Sobral e D. De A. Azevedo, São Paulo: Loyola, 2005 [1989], p. 25.
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Knol, uma Wikipédia respirável

Vamos dizer claramente: o grupo de malas e burocratas com o título de "editores" estão tornando a Wikipédia em língua portuguesa um ambiente sufocante. Simplesmente não há como focar na partilha de conhecimento, pois o bullying com normas que mudam o tempo todo e estão criptografadas em siglas faz o grosso das "discussões", e os "editores" fazem e refazem classificações e articulações dos artigos de acordo com estranhas orientações de "estilo", as quais não raro redundam em imprecisão. Quando você reclama, a resposta é um monte de siglas e normas da Comunidade, com C maiúsculo - ou seja, o bullying antes mencionado. Se você vai atrás das tais normas, o que encontra é apenas alguma página cheia de altercações constrangedoras entre "editores", e muita confusão onde o "editor" que te abusa afirma que há uma diretiva sólida da Comunidade.

Em vista disso, o que falta é uma Wikipédia sem os "editores". Isso existe, e se chama Knol. O serviço é mantido pelo Google. Lá você pode escrever publicar artigos, os quais poderão ser avaliados pelos seus leitores. Os artigos melhor avaliados ganham mais destaque nas suas respectivas categorias.

No Knol, você escolhe se os outros poderão editar seus textos, ou não. Isso reforça a responsabilidade do autor.

É claro, o Knol não é o espaço para você publicar aquilo que poderia ir para periódicos indexados, ou livros, pois os termos de uso podem te trazer problemas no futuro, dados os direitos que os colaboradores cedem ao Google:
Ao enviar, postar ou exibir um conteúdo como Autor, Co-autor, Colaborador, Comentarista, Examinador ou Usuário no Serviço, ou por meio dele, você concede ao Google o direito e a licença exclusivos, perpétuos, mundiais e livres de royalties para (i) usar, copiar, distribuir, transmitir, modificar, criar trabalhos derivados baseados em, executar publicamente (incluindo mas não limitado à transmissão digital de áudio) e exibir publicamente o conteúdo por meio dos serviços do Google, (ii) permitir que outros usuários acessem e usem o conteúdo por meio dos serviços do Google e (iii) permitir que o Google exiba anúncios com o conteúdo em seus sites. Além disso, você concede ao Google uma licença exclusiva, perpétua, mundial e livre de royalties para utilizar seu nome, aparência, imagem, voz e informações biográficas (e, onde aplicável, suas marcas registradas, marcas comerciais, nomes comerciais, logotipos e outros identificadores comerciais) associados ao conteúdo e ao uso do conteúdo pelo Google por meio dos seus serviços do Google.
Ou seja, você cede ao Google, para sempre, o direito de comercializar como quiser seu texto. Eis porque você só usará o Knol apenas como meio de informar o público em geral sobre um ponto, e como vitrine para seus textos mais aprofundados, como você faria com qualquer outro material que fosse publicar sob uma licença Creative Commons, a qual é a licença default do Knol. E você pode publicar anúncios nos seus knols. Tudo isso me parece aceitável, pois o Google, os produtores de conhecimento e a comunidade ganham com isso.

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Uma carta de Descartes roubada no século 19 foi recuperada

Uma carta do filósofo René Descartes que havia sido roubada nos anos 1840s pelo matemático italiano Guglielmo Libri foi recuperada, e devolvida à França. A carta, datada de 27 de maio de 1641, dá indicações para que alguns textos não sejam incluídos na edição final das Meditações de filosofia primeira. A motivação para a publicação dos mesmos era responder a um suposto crítico, Pierre Petit. Mas, quando Descartes descobre que Petit fez as críticas de boa-fé, decide retirar a parafernália em resposta às suas supostas críticas da versão final das Meditações.

O conteúdo da carta, o qual era desconhecido até o momento, é importante por nos dar detalhes sobre a publicação de uma das maiores obras de filosofia de todos os tempos. E também por confirmar a teoria que o texto das Meditações está todo voltado ao diálogo com os filósofos da época, buscando responder às suas críticas, e fazê-los mudar de ideia. Esse tipo de leitura "externa" das Meditações tem sido defendido pelo comentador John Carriero. A carta confirma sua hipótese de leitura, a qual já contava com outras bases de sustentação bem sólidas.

A notícia me emocionou. Meu mestrado foi sobre Descartes, autor pelo qual tenho muito carinho e respeito, embora eu não concorde com quase nada do que ele pensa. A notícia também me trouxe satisfação, pois eu sempre defendi a ideia básica de John Carriero.


PS - Esta carta dá uma boa camiseta!
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Liberdade (Madrugada do Cão)

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