Cartazes da Guerra Civil Espanhola.

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  • domingo, 7 de junho de 2009
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  • Em 1936, as esquerdas espanholas uniram-se na Frente Popular e venceram as eleições gerais naquele país, tendo como suas principais bandeiras a realização da reforma agrária e a modernização da velha Espanha. Esta vitória fez com que os setores mais conservadores da sociedade espanhola – que incluíam os “tierratenientes” (latifundiários), o clero católico, a incipiente burguesia e militares direitistas – começassem a conspirar contra o governo republicano de esquerda, culminando com o levante das tropas sediadas no Marrocos, comandadas pelo general Francisco Franco, em julho de 1936. Entrando na Espanha, via Gibraltar, as tropas franquistas deram início a uma guerra civil que se transformou em um dos mais importantes acontecimentos do século XX e que acabou sendo uma prévia dos horrores da Segunda Guerra Mundial. A neutralidade/omissão das potências liberais (França, Inglaterra e EUA) no conflito e o apoio decisivo da Itália e da Alemanha – que usou a Guerra Civil Espanhola como “laboratório” para testes de armamentos e táticas de guerra – aos franquistas, levaram à derrota do governo republicano, em 1939, e à implantação de uma longa ditadura de características fascistas, que se prolongaria até a morte de Franco, em 1975. Naquele momento, os únicos auxílios obtidos pela esquerda espanhola foram o discreto apoio da URSS – mais envolvida com suas questões internas – e a ajuda dos voluntários das Brigadas Internacionais, que reuniram militantes antifascistas do mundo inteiro (incluindo brasileiros como Apolônio de Carvalho e José Gay da Cunha) para o combate contra os fascistas na Espanha. Este conflito, que deixou mais de 500.000 mortos, também serviu de inspiração para que surgissem grandes obras artísticas e literárias, em apoio aos republicanos espanhóis ou denunciando os horrores da guerra, das quais a mais famosa é, sem dúvida, o gigantesco painel “Guernica”, pintado por Pablo Picasso, em 1937, que retrata a dor e o sofrimento gerados pelos bombardeios alemãs sobre aquela pequena cidade basca. Já no campo da Literatura, romancistas e poetas de todo o mundo produziram inúmeras belas e tocantes obras sobre o conflito. Em prosa, um dos textos mais conhecidos sobre a Guerra Civil Espanhola é o romance “Por quem os sinos dobram”, do norte-americano Ernest Hemingway, que lutou como combatente das Brigadas Internacionais; dentre os livros de memórias destaca-se “Lutando na Espanha”, do escritor inglês George Orwell, outro ex-brigadista. Porém, foi através da poesia que a luta pela liberdade em terras espanholas acabou sendo mais bem retratada. No Brasil, os poemas No vosso e em meu coração, de Manuel Bandeira e Notícias de Espanha , de Carlos Drummond de Andrade, são bons exemplos do engajamento de intelectuais de todo o mundo na luta antifascista, que mobilizava as forças libertárias e progressistas de diversos países nas décadas de 30 e 40 do século passado. Recentemente, a Guerra Civil Espanhola também rendeu uma pequena e tocante obra-prima do cinema: o pungente “Terra e Liberdade” (1995), do diretor britânico Ken Loach. Porém, no calor da própria luta, também se produzia arte. E esta arte tomava as ruas nos cartazes produzidos pelo governo republicano ou por sindicatos e organizações anti-fascistas que também estavam na luta contra as tropas franquistas. Influenciados pelas vanguardas artísticas da época, em especial pelo construtivismo soviético, alguns nomes extremamente importantes do cenário artístico espanhol e europeu como Bardasano, Monleón e Huertas participaram ativamente desta produção cartazista. Até o dia 02 de agosto, 95 destes cartazes estarão em exposição no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, em dobradinha com a mostra de fotografias de Pierre Verger, “Andalucía, 1935”. Muitos deles, setenta anos após o fim da Guerra Civil, ainda aparecem como extremamente contemporâneos, com alguns chegando a lembrar as grafitagens mais engajadas presentes em qualquer grande cidade, neste início do século XXI. No entanto, outros nos dão uma sensação – ao mesmo tempo estranha e dolorida - de pertencerem a um outro mundo que já não existe mais (e que, de certa forma, também não nos diz mais respeito) e de retratarem as ruínas das utopias que foram sendo enterradas pela sucessão de tragédias que marcaram o século XX. Ao olhar, melancolicamente, as fotografias sorridentes de alguns combatentes que aparecem em alguns dos cartazes, sem poder – é claro – prever a derrota de seus sonhos pouco tempo depois, não pude deixar de me lembrar dos versos de “Apologia y peticíon”, do poeta Jaime Gil de Biedma, lindamente adaptados e musicados pelo guitarrista Paco Ibañez (com o nome de “Triste Historia”), no primeiro disco que gravou após o seu retorno à Espanha, depois de alguns anos de exílio (“A Flor de Tiempo”, 1978):

    ¿Y qué decir de nuestra madre España,
    este país de todos los demonios
    en donde el mal gobierno, la pobreza
    no son, sin más, pobreza y mal gobierno,
    sino un estado místico del hombre,
    la absolución final de nuestra historia?

    De todas las historias de la Historia
    la más triste sin duda es la de España
    porque termina mal. Como si el hombre,
    harto ya de luchar con sus demonios,
    decidiese encargarles el gobierno
    y la administración de su pobreza.

    Nuestra famosa inmemorial pobreza
    cuyo origen se pierde en las historias
    que dicen que no es culpa del gobierno,
    sino terrible maldición de España,
    triste precio pagado a los demonios
    con hambre y con trabajo de sus hombres.

    A menudo he pensado en esos hombres,
    a menudo he pensado en la pobreza
    de este país de todos los demonios.
    Y a menudo he pensado en otra historia
    distinta y menos simple, en otra España
    en donde sí que importa un mal gobierno.

    Quiero creer que nuestro mal gobierno
    es un vulgar negocio de los hombres
    y no una metafísica, que España
    puede y debe salir de la pobreza,
    que es tiempo aún para cambiar su historia
    antes que se la lleven los demonios.

    Quiero creer que no hay tales demonios.
    Son hombres los que pagan al gobierno,
    los empresarios de la falsa historia.
    Son ellos quienes han vendido al hombre,
    los que le han vertido a la pobreza
    y secuestrado la salud de España.

    Pido que España expulse a esos demonios.
    Que la pobreza suba hasta el gobierno.
    Que sea el hombre el dueño de su historia.
     
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