Três reflexões sobre as eleições: Preconceito, conservadorismo e mídia

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  • segunda-feira, 3 de novembro de 2008
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  • A idéia de colocar a culpa no suposto preconceito da elite paulistana à candidata Marta Suplicy não é boa explicação, pois não é verossímil. É claro que existem segmentos que podem trazer algum preconceito, mas nada que possa ser generalizado para a cidade de São Paulo. Afinal, a população paulistana quase a levou para o segundo turno na eleição para o Estado de São Paulo em 1998, elegeu Marta prefeita em 2000, e nas eleições de 2004 e 2008 levou sua candidatura para o segundo turno. Além do mais, como bem disse o Blog do Alon, que outra grande capital no país elegeu (i) uma assistente social vinda do interior da Paraíba (Erundina em 1988); (ii) um descendente de libaneses (Maluf); (ii) um negro vindo do Rio de Janeiro (Pitta); e (iv) uma mulher que se tornou famosa por apresentar um programa de orientação sexual na televisão numa época em isso era um escândalo (Marta). De fato, é uma explicação bastante simplória, e que escamoteia os erros que o PT e a campanha martista tiveram ao longo da eleição paulistana.

    Uma outra explicação pouco feliz diz respeito ao suposto conservadorismo paulistano que impediria a vitória de uma candidata do campo de esquerda. As vitórias de Marta e Erundina desmentem ou, pelo menos, estão na contramão dessa versão. Além disso, como assinalou um leitor atento da blogosfera, José Márcio Tavares, numa mensagem que recebi por meio de e-mail, o Rio de Janeiro é considerado de esquerda e São Paulo de direita, mas a última vez que o Rio teve um candidato de esquerda no segundo turno foi na eleição de 1992, com Benedita da Silva (PT). Qual dessas cidades é mais conservadora mesmo? É uma observação pertinente, algo para refletir.

    É importante assinalar que a questão da mídia permanece em aberto, e esta extremamente desfavorável à candidata petista. Na verdade, a grande mídia em geral, e a paulista em particular, travam batalhas constantes contra o campo mais à esquerda. No episódio que envolveu a suposta invasão da privacidade do candidato Kassab, a mídia teve uma reação desproporcional. Isso porque a mídia nunca teve zelo com a privacidade dos políticos ligados ao campo mais popular (e duvido que passará a ter). Segundo, é bom fazer uma comparação entre a escorregada da campanha martista e as escorregadas do candidato do PV à prefeitura do Rio de Janeiro, Fernando Gabeira (este apoiado pela mídia). Gabeira mostrou desprezo para com a população do subúrbio quando disse que a vereadora tinha uma visão suburbana. Ele não atacou apenas a vereadora eleita, mas os eleitores e moradores das regiões pobres do Rio. Em outra ocasião, o candidato também atacou ao mesmo tempo três símbolos do carioca: a feijoada, o samba e o carnaval. O Biscoito Fino e a Massa fez uma ótima análise sobre a candidatura verde trazendo esses elementos. E por fim, Gabeira deixou transparecer o preconceito com as regiões pobres mais uma vez, ao dizer que o prefeito não deveria ficar apenas no Rio, mas também na Zona Oeste (ou seja, o Rio para o Gabeira é apenas a Zona Sul, o resto é subúrbio).

    No episódio de Marta, ela não aparece, nem houve sinais de que participou de alguma maneira da decisão de veicular o comercial de sua campanha. É óbvio que a responsabilidade é da candidata, porém é diferente quando isso vem do próprio candidato. Gabeira, por sua vez, é o principal ator dos seus escorregões, pois saíram de sua boca as palavras que mostraram preconceito ou desprezo com segmentos que são a maioria do eleitorado carioca, ou seja, a população do subúrbio e os amantes do samba, da feijoada e do carnaval. Porém, a mídia deu super exposição ao escorregão da campanha petista, taxando-a de preconceituosa, mas minimizou aqueles do Gabeira. Imaginem se Gabeira fosse candidato pelo PT? Ou se fosse Marta que tivesse professado aquelas palavras? No fim, Gabeira foi vendido pela mídia como o candidato moderno, de uma nova forma de fazer política (isto é, o PSDB, DEM e PPS, a centro-direita), e Marta como a preconceituosa. Mais uma vez, dois pesos e duas medidas, a tão propalada indignação seletiva. Dizem que o Gabeira saiu da eleição com uma vitória moral, enquanto Marta saiu menor que entrou na campanha. Pode ser verdade, mas o papel que desempenhou a mídia na construção (Gabeira) e destruição (Marta) da imagem do candidato foi fundamental.

     
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