Aldir Blanc.

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  • domingo, 2 de novembro de 2008
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  • Aldir Blanc, 62 anos, médico psiquiatra, cronista, compositor, carioca do Estácio, vascaíno. Múltiplas definições para uma personalidade única. Como se não bastasse ter composto algumas das melhores letras da música brasileira dos últimos 40 anos – “O Bêbado e a Equilibrista”, “O Mestre-Sala dos Mares”, “Querelas do Brasil”, “Saudades da Guanabara” – disse recentemente uma frase definitiva: “Prefiro ir para a segunda divisão com o Roberto Dinamite, do que ficar na primeira com o Eurico”. Seus sambas-crônicas bem humorados são verdadeiras aulas sobre como se escrever uma letra simples e sem firulas, mas ao mesmo tempo irretocável. Além disto, sabe como ninguém escolher os seus parceiros musicais: João Bosco, Guinga, Maurício Tapajós, Moacyr Luz e tantos outros. Enfim, um craque! Destaco abaixo duas das suas letras que estão entre as que mais gosto: a primeira – “Catavento e Girassol” – por motivos, não nego, essencialmente sentimentais; a segunda – “A nível de” – por ser uma genial e engraçadíssima crônica de costumes.

    Catavento e Girassol
    (Guinga - Aldir Blanc)

    Meu catavento tem dentro o que há do lado de fora do teu girassol
    Entre o escancaro e o contido, eu te pedi sustenido e você riu bemol
    Você só pensa no espaço, eu exigi duração
    Eu sou um gato de subúrbio, você é litorânea

    Quando eu respeito os sinais vejo você de patins vindo na contramão
    Mas quando ataco de macho, você se faz de capacho e não quer confusão
    Nenhum dos dois se entrega, nós não ouvimos conselho
    Eu sou você que se vai no sumidouro do espelho

    Eu sou do Engenho de Dentro e você vive no vento do Arpoador
    Eu tenho um jeito arredio e você é expansiva, o inseto e a flor
    Um torce pra Mia Farrow, o outro é Woody Allen
    Quando assovio uma seresta você dança havaiana

    Eu vou de tênis e jeans, encontro você demais, escarpin soireé
    Quando o pau quebra na esquina, cê ataca de fina e me ofende em inglês
    É fuck you, bate bronha e ninguém mete o bedelho
    Você sou eu que me vou no sumidouro do espelho

    A paz é feita num motel de alma lavada e passada
    Pra descobrir logo depois que não serviu pra nada
    Nos dias de carnaval aumentam os desenganos
    Você vai pra Paraty e eu pro Cacique de Ramos

    Meu catavento tem dentro o vento escancarado do Arpoador
    Teu girassol tem de fora o escondido do Engenho de Dentro da flor
    Eu sinto muita saudade, você é contemporânea
    Eu penso em tudo quanto faço, você é tão espontânea

    Sei que um depende do outro só pra ser diferente, pra se completar
    Sei que um se afasta do outro, no sufoco, somente pra se aproximar
    Cê tem um jeito verde de ser e eu sou meio vermelho
    Mas os dois juntos se vão no sumidouro do espelho

    A nível de
    (João Bosco e Aldir Blanc)

    Vanderley e Odilon
    são muito unidos
    e vão pro Maracanã
    todo domingo
    criticando o casamento
    e o papo mostra
    que o casamento anda uma bosta...
    Yolanda e Adelina
    são muito unidas
    e se fazem companhia
    todo domingo
    que os maridos vão pro jogo.
    Yolanda aposta
    que assim a nível de Proposta
    o casamento anda uma bosta
    e a Adelina não discorda.
    Estruturou-se um troca-troca
    e os quatro: hum-hum... oqué... tá bom... é...
    Só que Odilon, não pegando bem a coisa,
    agarrou o Vanderley e a Yolanda ó na Adelina.
    Vanderley e Odilon
    bem mais unidos
    empataram capital
    e estão montando
    restaurante natural
    cuja proposta
    é cada um come o que gosta.
    Yolanda e Adelina
    bem mais unidas
    acham viver um barato
    e pra provar
    tão fazendo artesanato
    e pela amostra
    Yolanda aposta na resposta.
    E Adelina não discorda
    que pinta e borda com o que gosta.
    É positiva essa proposta
    de quatro: hum-hum... oquéi... tá bom... é...
    Só que Odilon
    ensopapa o Vanderley com ciúme
    e Adelina dá na cara de Yoyô...
    Vanderley e Odilon
    Yolanda e Adelina
    cada um faz o que gosta
    e o relacionamento... continua a mesma bosta!
     
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