O PT tem fama de ser sectário, refratário a alianças. A fama construída ao longo da história do partido tem custado caro. Nas eleições municipais de 2004, o partido fez alianças de ganhos duvidosos com praticamente todos os partidos, inclusive DEM e PSDB. Só faltou mesmo o PSTU e o PSOL. O partido errou feio em sua estratégia eleitoral naquele ano, priorizando candidaturas de competição duvidosa – Porto Alegre e São Paulo – e deixando de lado candidaturas com chances reais de vitória – Fortaleza e Campo Grande. Nesta última o partido perdeu uma eleição praticamente ganha, pois não entrou nas prioridades do comando do partido. Há outros exemplos que poderíamos citar, mas não acrescenta muito à análise.
Novamente estamos em uma eleição municipal. E o partido não pode cometer o erro de condicionar a estratégia eleitoral deste ano com 2010. Primeiro, a eleição municipal não é termômetro para a eleição de 2010. Os vencedores serão aqueles candidatos que tratarem dos problemas de sua população, e não ficarem discutindo questões que extrapolam a administração local. Segundo, o cenário de 2010 não está dado, e não será a eleição municipal que definirá o cenário da disputa eleitoral de 2010.
Na eleição municipal de Belo Horizonte, os protagonistas (Aécio e Pimentel) querem fazer da futuridade o principal ativo em disputa. O jogo do governador mineiro tem endereço certo, mas o mesmo não pode ser dito para o PT. Mas o prefeito de BH, Fernando Pimentel, transforma o jogo de cena de Aécio numa disputa antecipada por uma candidatura a governador em 2010. E isso explica a inflexibilidade de Pimentel. O ministro Hélio Costa disse recentemente que é mais fácil negociar com Aécio, numa clara crítica à postura do prefeito.
Uma prova da maior flexibilidade do governador mineiro é que ele filiou ao PSB Ana Lúcia Gazzola, com ligações com Patrus e Luiz Dulci e outros petistas do antigo quadro do PSB na capital। O governador já sinalizou que aceitaria a troca, mas o Pimentel não aceita. Ou seja, sua disputa é outra. Ao excluir parcela do PT mineiro, o PMDB e outros aliados da negociação política em torno da aliança, a linha divisionista do bloco de apoio do governo federal pode começar a sofrer defecções. Como bem disse o ministro Hélio Costa, cabe ao prefeito consertar o estrago, mas ele se mostra reticente.
Um quadro eleitoral de Belo Horizonte teria Pimentel, Patrus, Aécio, Azeredo, João Leite e Virgílio Guimarães entre os nomes de maior densidade eleitoral na capital. Como os quatros primeiros estão fora do páreo, se deixasse o PSB decidir sozinho, provavelmente o partido sairia com João Leite com um vice do PT. Porém, desde quando Garotinho passou pelo PSB (1998), o partido em Belo Horizonte e Minas não tem nada a ver com aquele que elegeu Patrus. É apenas mais uma perna do PSDB mineiro para aglutinar as diferenças políticas. E como tal, de oposição ao governo municipal. Tem sido assim desde aquela época.
Do outro lado, Pimentel e o PT construíram uma ampla aliança: PT, PMDB, PRB, PTB, PV, PR, PC do B, etc. Tal política de alianças foi iniciada com Patrus Ananias e ampliada em muito com Célio de Castro. O DEM não tem votos na capital, o PSDB e PSB reduziram suas bancadas na Câmara nas últimas eleições. Ou seja, a base de sustentação do Pimentel contempla todos os partidos, menos PSDB e PSB. Não é que os dois partidos de oposição no município que aparecem como protagonistas. A justificativa é que a aliança se daria com um partido neutro e da base de sustentação do governo federal e estadual. Se esse fosse o critério de fato, a cabeça da chapa deveria caber ao PMDB, pois está na base de sustentação dos governos federal, estadual e municipal. E justamente o PMDB é excluído da negociação.
A manobra divisionista pode atingir Aécio indiretamente, na medida que afasta um pouco o PMDB mineiro de seu projeto político. Mas nada que não possa ser consertado futuramente. Talvez por isso que o governador mineiro seja mais flexível. Para ele interessa vender a idéia de união das forças políticas mineiras, em contraponto ao estilo mais centralizador de seu oponente dentro do partido, José Serra. Mas se os descontes lançarem uma candidatura à revelia, a cisão torna-se evidente. O copo estará meio cheio e meio vazio. Como sempre esteve.
Em qualquer aliança política deve existir algum denominador comum. Isso não tem nada a ver com ideologia partidária. Na Bahia, o PT e PSDB aproximaram-se para combater o carlismo. Faz todo o sentido. Podem manter suas diferenças ou conveniências. Qual seria esse denominador comum em Belo Horizonte? Não existe nenhum. Bom relacionamento administrativo como uns apontam não faz sentido. Porque o PSDB não aderiu ao bloco governista na Câmara Municipal? A parceira entre governo estadual e municipal só viabilizou porque era do interesse de ambos. A lógica é a mesma que Lula faz com os outros governadores do PSDB: Serra, Cássio Cunha Lima, Theotônio Vilela e Yeda Cruisius. As aparentes diferenças não existem, a não ser o estilo mais conciliador de Aécio Neves.
Dizer que o PT não tem candidato forte é mera saída política, porque ninguém vai tentar me convencer que o Márcio Lacerda é um candidato forte। Como ninguém tem candidato forte, um nome de baixa rejeição e que tem votos em Belo Horizonte como de André Quintão (PT), considerando a força do tamanho da aliança, pode desbancar qualquer candidato adversário. Na verdade, o único risco real seria João Leite (PSB), mas esse enfrenta forte rejeição.
A verdade é que o PSB e o PSDB não têm votos para levar a prefeitura, mas pode ganhá-la de bandeja। Simplesmente porque não terão competição। E com a ajuda do PT. Se o desejo é formar uma aliança mineira entre PT e PSDB, deveria primeiro rediscutir o apoio aos governos municipal e estadual. E isso, nenhum dos dois partidos querem. Se irão manter-se distante no plano estadual, e também municipal, a união atende apenas projetos políticos muito personalistas. Seria melhor para o PT fazer a aliança diretamente com o PSDB, entregando espaços políticos, mas conservando outros espaços. Corre-se o risco de ficar na berlinda. É claro que o Lacerda deverá manter alguns petistas ligados ao Pimentel, pelo menos até quando não há confronto no projeto político do Aécio e PSDB. Se no futuro o confronto não puder ser evitado, não tenho dúvidas de que lado o prefeito ficará. Não é com o PT, certamente.
Pimentel faz uma aposta de alto risco para alavancar sua candidatura ao governo do Estado. E pode destruir as relações do PT com outros partidos no Estado (PMDB, PR, PRB, PV e PTB). Em vez de buscar a unificação das forças para 2010 em Minas Gerais, o prefeito aposta na linha divisionista. Pode acabar tornando novamente o PMDB competitivo para o governo estadual e facilitar as pretensões do PSDB de manter-se no governo. Em 2010, Pimentel terá duas difíceis missões. A primeira é unificar o PT em torno de seu nome, que pode preteri-lo em favor de Patrus Ananias. A segunda será reconciliar com aliados de outros partidos insatisfeitos, pois o PSDB não estará do seu lado, a despeito do chamado bom relacionamento com Aécio.