Três reflexões sobre as eleições: Preconceito, conservadorismo e mídia
A idéia de colocar a culpa no suposto preconceito da elite paulistana à candidata Marta Suplicy não é boa explicação, pois não é verossímil. É claro que existem segmentos que podem trazer algum preconceito, mas nada que possa ser generalizado para a cidade de São Paulo. Afinal, a população paulistana quase a levou para o segundo turno na eleição para o Estado de São Paulo em 1998, elegeu Marta prefeita em 2000, e nas eleições de 2004 e 2008 levou sua candidatura para o segundo turno. Além do mais, como bem disse o Blog do Alon, que outra grande capital no país elegeu (i) uma assistente social vinda do interior da Paraíba (Erundina em 1988); (ii) um descendente de libaneses (Maluf); (ii) um negro vindo do Rio de Janeiro (Pitta); e (iv) uma mulher que se tornou famosa por apresentar um programa de orientação sexual na televisão numa época em isso era um escândalo (Marta). De fato, é uma explicação bastante simplória, e que escamoteia os erros que o PT e a campanha martista tiveram ao longo da eleição paulistana.
Uma outra explicação pouco feliz diz respeito ao suposto conservadorismo paulistano que impediria a vitória de uma candidata do campo de esquerda. As vitórias de Marta e Erundina desmentem ou, pelo menos, estão na contramão dessa versão. Além disso, como assinalou um leitor atento da blogosfera, José Márcio Tavares, numa mensagem que recebi por meio de e-mail, o Rio de Janeiro é considerado de esquerda e São Paulo de direita, mas a última vez que o Rio teve um candidato de esquerda no segundo turno foi na eleição de 1992, com Benedita da Silva (PT). Qual dessas cidades é mais conservadora mesmo? É uma observação pertinente, algo para refletir.
É importante assinalar que a questão da mídia permanece em aberto, e esta extremamente desfavorável à candidata petista. Na verdade, a grande mídia em geral, e a paulista em particular, travam batalhas constantes contra o campo mais à esquerda. No episódio que envolveu a suposta invasão da privacidade do candidato Kassab, a mídia teve uma reação desproporcional. Isso porque a mídia nunca teve zelo com a privacidade dos políticos ligados ao campo mais popular (e duvido que passará a ter). Segundo, é bom fazer uma comparação entre a escorregada da campanha martista e as escorregadas do candidato do PV à prefeitura do Rio de Janeiro, Fernando Gabeira (este apoiado pela mídia). Gabeira mostrou desprezo para com a população do subúrbio quando disse que a vereadora tinha uma visão suburbana. Ele não atacou apenas a vereadora eleita, mas os eleitores e moradores das regiões pobres do Rio. Em outra ocasião, o candidato também atacou ao mesmo tempo três símbolos do carioca: a feijoada, o samba e o carnaval. O Biscoito Fino e a Massa fez uma ótima análise sobre a candidatura verde trazendo esses elementos. E por fim, Gabeira deixou transparecer o preconceito com as regiões pobres mais uma vez, ao dizer que o prefeito não deveria ficar apenas no Rio, mas também na Zona Oeste (ou seja, o Rio para o Gabeira é apenas a Zona Sul, o resto é subúrbio).
No episódio de Marta, ela não aparece, nem houve sinais de que participou de alguma maneira da decisão de veicular o comercial de sua campanha. É óbvio que a responsabilidade é da candidata, porém é diferente quando isso vem do próprio candidato. Gabeira, por sua vez, é o principal ator dos seus escorregões, pois saíram de sua boca as palavras que mostraram preconceito ou desprezo com segmentos que são a maioria do eleitorado carioca, ou seja, a população do subúrbio e os amantes do samba, da feijoada e do carnaval. Porém, a mídia deu super exposição ao escorregão da campanha petista, taxando-a de preconceituosa, mas minimizou aqueles do Gabeira. Imaginem se Gabeira fosse candidato pelo PT? Ou se fosse Marta que tivesse professado aquelas palavras? No fim, Gabeira foi vendido pela mídia como o candidato moderno, de uma nova forma de fazer política (isto é, o PSDB, DEM e PPS, a centro-direita), e Marta como a preconceituosa. Mais uma vez, dois pesos e duas medidas, a tão propalada indignação seletiva. Dizem que o Gabeira saiu da eleição com uma vitória moral, enquanto Marta saiu menor que entrou na campanha. Pode ser verdade, mas o papel que desempenhou a mídia na construção (Gabeira) e destruição (Marta) da imagem do candidato foi fundamental.
Uma outra explicação pouco feliz diz respeito ao suposto conservadorismo paulistano que impediria a vitória de uma candidata do campo de esquerda. As vitórias de Marta e Erundina desmentem ou, pelo menos, estão na contramão dessa versão. Além disso, como assinalou um leitor atento da blogosfera, José Márcio Tavares, numa mensagem que recebi por meio de e-mail, o Rio de Janeiro é considerado de esquerda e São Paulo de direita, mas a última vez que o Rio teve um candidato de esquerda no segundo turno foi na eleição de 1992, com Benedita da Silva (PT). Qual dessas cidades é mais conservadora mesmo? É uma observação pertinente, algo para refletir.
É importante assinalar que a questão da mídia permanece em aberto, e esta extremamente desfavorável à candidata petista. Na verdade, a grande mídia em geral, e a paulista em particular, travam batalhas constantes contra o campo mais à esquerda. No episódio que envolveu a suposta invasão da privacidade do candidato Kassab, a mídia teve uma reação desproporcional. Isso porque a mídia nunca teve zelo com a privacidade dos políticos ligados ao campo mais popular (e duvido que passará a ter). Segundo, é bom fazer uma comparação entre a escorregada da campanha martista e as escorregadas do candidato do PV à prefeitura do Rio de Janeiro, Fernando Gabeira (este apoiado pela mídia). Gabeira mostrou desprezo para com a população do subúrbio quando disse que a vereadora tinha uma visão suburbana. Ele não atacou apenas a vereadora eleita, mas os eleitores e moradores das regiões pobres do Rio. Em outra ocasião, o candidato também atacou ao mesmo tempo três símbolos do carioca: a feijoada, o samba e o carnaval. O Biscoito Fino e a Massa fez uma ótima análise sobre a candidatura verde trazendo esses elementos. E por fim, Gabeira deixou transparecer o preconceito com as regiões pobres mais uma vez, ao dizer que o prefeito não deveria ficar apenas no Rio, mas também na Zona Oeste (ou seja, o Rio para o Gabeira é apenas a Zona Sul, o resto é subúrbio).
No episódio de Marta, ela não aparece, nem houve sinais de que participou de alguma maneira da decisão de veicular o comercial de sua campanha. É óbvio que a responsabilidade é da candidata, porém é diferente quando isso vem do próprio candidato. Gabeira, por sua vez, é o principal ator dos seus escorregões, pois saíram de sua boca as palavras que mostraram preconceito ou desprezo com segmentos que são a maioria do eleitorado carioca, ou seja, a população do subúrbio e os amantes do samba, da feijoada e do carnaval. Porém, a mídia deu super exposição ao escorregão da campanha petista, taxando-a de preconceituosa, mas minimizou aqueles do Gabeira. Imaginem se Gabeira fosse candidato pelo PT? Ou se fosse Marta que tivesse professado aquelas palavras? No fim, Gabeira foi vendido pela mídia como o candidato moderno, de uma nova forma de fazer política (isto é, o PSDB, DEM e PPS, a centro-direita), e Marta como a preconceituosa. Mais uma vez, dois pesos e duas medidas, a tão propalada indignação seletiva. Dizem que o Gabeira saiu da eleição com uma vitória moral, enquanto Marta saiu menor que entrou na campanha. Pode ser verdade, mas o papel que desempenhou a mídia na construção (Gabeira) e destruição (Marta) da imagem do candidato foi fundamental.
Aldir Blanc.
Aldir Blanc, 62 anos, médico psiquiatra, cronista, compositor, carioca do Estácio, vascaíno. Múltiplas definições para uma personalidade única. Como se não bastasse ter composto algumas das melhores letras da música brasileira dos últimos 40 anos – “O Bêbado e a Equilibrista”, “O Mestre-Sala dos Mares”, “Querelas do Brasil”, “Saudades da Guanabara” – disse recentemente uma frase definitiva: “Prefiro ir para a segunda divisão com o Roberto Dinamite, do que ficar na primeira com o Eurico”. Seus sambas-crônicas bem humorados são verdadeiras aulas sobre como se escrever uma letra simples e sem firulas, mas ao mesmo tempo irretocável. Além disto, sabe como ninguém escolher os seus parceiros musicais: João Bosco, Guinga, Maurício Tapajós, Moacyr Luz e tantos outros. Enfim, um craque! Destaco abaixo duas das suas letras que estão entre as que mais gosto: a primeira – “Catavento e Girassol” – por motivos, não nego, essencialmente sentimentais; a segunda – “A nível de” – por ser uma genial e engraçadíssima crônica de costumes.
Catavento e Girassol
(Guinga - Aldir Blanc)
Meu catavento tem dentro o que há do lado de fora do teu girassol
Entre o escancaro e o contido, eu te pedi sustenido e você riu bemol
Você só pensa no espaço, eu exigi duração
Eu sou um gato de subúrbio, você é litorânea
Quando eu respeito os sinais vejo você de patins vindo na contramão
Mas quando ataco de macho, você se faz de capacho e não quer confusão
Nenhum dos dois se entrega, nós não ouvimos conselho
Eu sou você que se vai no sumidouro do espelho
Eu sou do Engenho de Dentro e você vive no vento do Arpoador
Eu tenho um jeito arredio e você é expansiva, o inseto e a flor
Um torce pra Mia Farrow, o outro é Woody Allen
Quando assovio uma seresta você dança havaiana
Eu vou de tênis e jeans, encontro você demais, escarpin soireé
Quando o pau quebra na esquina, cê ataca de fina e me ofende em inglês
É fuck you, bate bronha e ninguém mete o bedelho
Você sou eu que me vou no sumidouro do espelho
A paz é feita num motel de alma lavada e passada
Pra descobrir logo depois que não serviu pra nada
Nos dias de carnaval aumentam os desenganos
Você vai pra Paraty e eu pro Cacique de Ramos
Meu catavento tem dentro o vento escancarado do Arpoador
Teu girassol tem de fora o escondido do Engenho de Dentro da flor
Eu sinto muita saudade, você é contemporânea
Eu penso em tudo quanto faço, você é tão espontânea
Sei que um depende do outro só pra ser diferente, pra se completar
Sei que um se afasta do outro, no sufoco, somente pra se aproximar
Cê tem um jeito verde de ser e eu sou meio vermelho
Mas os dois juntos se vão no sumidouro do espelho
A nível de
(João Bosco e Aldir Blanc)
Vanderley e Odilon
são muito unidos
e vão pro Maracanã
todo domingo
criticando o casamento
e o papo mostra
que o casamento anda uma bosta...
Yolanda e Adelina
são muito unidas
e se fazem companhia
todo domingo
que os maridos vão pro jogo.
Yolanda aposta
que assim a nível de Proposta
o casamento anda uma bosta
e a Adelina não discorda.
Estruturou-se um troca-troca
e os quatro: hum-hum... oqué... tá bom... é...
Só que Odilon, não pegando bem a coisa,
agarrou o Vanderley e a Yolanda ó na Adelina.
Vanderley e Odilon
bem mais unidos
empataram capital
e estão montando
restaurante natural
cuja proposta
é cada um come o que gosta.
Yolanda e Adelina
bem mais unidas
acham viver um barato
e pra provar
tão fazendo artesanato
e pela amostra
Yolanda aposta na resposta.
E Adelina não discorda
que pinta e borda com o que gosta.
É positiva essa proposta
de quatro: hum-hum... oquéi... tá bom... é...
Só que Odilon
ensopapa o Vanderley com ciúme
e Adelina dá na cara de Yoyô...
Vanderley e Odilon
Yolanda e Adelina
cada um faz o que gosta
e o relacionamento... continua a mesma bosta!
Catavento e Girassol
(Guinga - Aldir Blanc)
Meu catavento tem dentro o que há do lado de fora do teu girassol
Entre o escancaro e o contido, eu te pedi sustenido e você riu bemol
Você só pensa no espaço, eu exigi duração
Eu sou um gato de subúrbio, você é litorânea
Quando eu respeito os sinais vejo você de patins vindo na contramão
Mas quando ataco de macho, você se faz de capacho e não quer confusão
Nenhum dos dois se entrega, nós não ouvimos conselho
Eu sou você que se vai no sumidouro do espelho
Eu sou do Engenho de Dentro e você vive no vento do Arpoador
Eu tenho um jeito arredio e você é expansiva, o inseto e a flor
Um torce pra Mia Farrow, o outro é Woody Allen
Quando assovio uma seresta você dança havaiana
Eu vou de tênis e jeans, encontro você demais, escarpin soireé
Quando o pau quebra na esquina, cê ataca de fina e me ofende em inglês
É fuck you, bate bronha e ninguém mete o bedelho
Você sou eu que me vou no sumidouro do espelho
A paz é feita num motel de alma lavada e passada
Pra descobrir logo depois que não serviu pra nada
Nos dias de carnaval aumentam os desenganos
Você vai pra Paraty e eu pro Cacique de Ramos
Meu catavento tem dentro o vento escancarado do Arpoador
Teu girassol tem de fora o escondido do Engenho de Dentro da flor
Eu sinto muita saudade, você é contemporânea
Eu penso em tudo quanto faço, você é tão espontânea
Sei que um depende do outro só pra ser diferente, pra se completar
Sei que um se afasta do outro, no sufoco, somente pra se aproximar
Cê tem um jeito verde de ser e eu sou meio vermelho
Mas os dois juntos se vão no sumidouro do espelho
A nível de
(João Bosco e Aldir Blanc)
Vanderley e Odilon
são muito unidos
e vão pro Maracanã
todo domingo
criticando o casamento
e o papo mostra
que o casamento anda uma bosta...
Yolanda e Adelina
são muito unidas
e se fazem companhia
todo domingo
que os maridos vão pro jogo.
Yolanda aposta
que assim a nível de Proposta
o casamento anda uma bosta
e a Adelina não discorda.
Estruturou-se um troca-troca
e os quatro: hum-hum... oqué... tá bom... é...
Só que Odilon, não pegando bem a coisa,
agarrou o Vanderley e a Yolanda ó na Adelina.
Vanderley e Odilon
bem mais unidos
empataram capital
e estão montando
restaurante natural
cuja proposta
é cada um come o que gosta.
Yolanda e Adelina
bem mais unidas
acham viver um barato
e pra provar
tão fazendo artesanato
e pela amostra
Yolanda aposta na resposta.
E Adelina não discorda
que pinta e borda com o que gosta.
É positiva essa proposta
de quatro: hum-hum... oquéi... tá bom... é...
Só que Odilon
ensopapa o Vanderley com ciúme
e Adelina dá na cara de Yoyô...
Vanderley e Odilon
Yolanda e Adelina
cada um faz o que gosta
e o relacionamento... continua a mesma bosta!
O que houve de errado na campanha petista na eleição de São Paulo?
Uma primeira observação diz respeito à própria dinâmica eleitoral. Existem três tipos de campanhas eleitorais na ótica do candidato: (i) eleições perdidas, em que só um grave erro do adversário pode levá-lo à vitória (é o caso da candidatura petista em Curitiba); (ii) eleições possíveis de ganhar, mas deve contar com o erro do adversário e não errar na campanha, ou seja, o ganhador é aquele candidato que errar menos na formação de alianças e na campanha eleitoral; e (iii) eleições vencedoras, em que só um grave erro pode levar o candidato à derrota (Curitiba também é o melhor exemplo para o caso da candidatura de Beto Richa). Para complicar esse quebra-cabeça, existem ainda eleições que podemos chamar de continuidade (situação) e outras de mudança (oposição).
Tal cenário torna-se ainda mais complexo com o instituto da reeleição, que beneficia enormemente o candidato que tem a caneta na mão. Um ditado comum é que o candidato a um cargo executivo no Brasil é eleito para oito anos, mas com um referendo popular na metade do mandato quando a população tem a opção de repensar sua escolha, confirmando a escolha inicial ou escolhendo outro mandatário. Uma prova da força da reeleição para o candidato-mandatário é que todos eles conseguiram melhorar a imagem de suas administrações com as eleições. Mesmo as candidaturas perdedoras (é o caso de Serafim Almeida em Manaus), a avaliação do governo melhorou ao longo da campanha eleitoral. A construção de ampla aliança com grande tempo de televisão colaborou para melhorar a imagem de seus governos.
Como poderíamos classificar a eleição da capital paulistana? Sem dúvida nenhuma tratava de uma eleição possível de ganhar, mas com grandes dificuldades para um partido de oposição ao governo local. Uma dos complicadores é que também a eleição paulistana poderia ser enquadrada como de continuidade, muito embora a aprovação regular do governo local no início do período eleitoral.
No cenário da eleição paulistana, a candidatura da Marta não tinha o menor direito de errar. E ainda tinha que contar com o erro do adversário. A campanha de Marta começou bem, trabalhou com competência a redução da rejeição à candidata nas primeiras semanas de campanha. Foram os acertos de sua campanha que levaram a atingir 41% nas pesquisas em certo momento do primeiro turno, sendo que sua taxa de rejeição estava em 26%, contra 33% do prefeito naquela pesquisa. A pergunta a ser respondida é: o que mudou a partir desse pico eleitoral? De forma bastante simples, a campanha petista começou a errar sistematicamente, e a campanha de Kassab mostrou grande competência de exposição do candidato, exaltando suas realizações, minimizando suas fragilidades e reduzindo sua rejeição. Amparado por um grande tempo de televisão, Kassab melhorou significativamente a aprovação de sua administração, o que traduziu em votos para o candidato.
A campanha petista começou a errar bem antes da polêmica com relação às perguntas “é casado? Tem filhos?”. A campanha de Marta sabia que era muito difícil vencer no primeiro turno, e tal fato não mudou quando ela obteve uma taxa de intenção de votos recorde. Mas foi justamente a partir dessa época que a campanha de Marta perdeu seu eixo (que nunca mais foi encontrado). A constatação era de que Kassab era mais fácil de ser vencido que Alckmin no segundo turno. O problema era que ele estava em terceiro lugar e poderia ficar de fora do segundo turno. A campanha de Marta passou então a polarizar com Kassab, como forma de minar o candidato Alckmin. Esse movimento favoreceu enormemente o candidato Kassab destruindo a campanha alckmista. Ou seja, a forma que a campanha petista encontrou para minar o segundo colocado na época fortaleceu a candidatura anti-Marta de Gilberto Kassab. Marta e Kassab trouxeram realizações de suas gestões para estabelecer comparações, mas Alckmin só podia dizer que tinha sido bom governador e poderia ser bom prefeito. De fato, Alckmin tinha pouco a oferecer para o tipo de candidato que o eleitor paulistano buscava naquele momento.
O grande erro da campanha da candidata Marta foi abandonar uma estratégia eleitoral que a tinha levado ao maior patamar que obteve nas pesquisas, redução de sua taxa de rejeição e a conseqüente melhora em sua imagem. Além do mais, naquele instante ela pela primeira vez aparecia vencendo os adversários no segundo turno. A clara mudança na estratégia eleitoral com o intuito de enfrentar um candidato supostamente mais frágil no segundo turno (retrospectivamente já sabemos que a tese não era verdadeira) foi um erro colossal. A candidata petista precisava era chegar ao segundo com uma boa imagem pessoal e a campanha estava conseguindo esse resultado. A estratégia adotada não assumidamente naquele instante era de alto risco. Provou-se ao longo do resto da campanha que a polarização com Kassab elevou a avaliação de seu governo, e a conseqüente subida nas pesquisas, e aumentou consideravelmente a rejeição da petista, o que traduziu em queda em sua intenção de votos.
A campanha de Marta deixou de pautar as eleições, o que explica que problemas como trânsito sumiram da campanha, enquanto temas que incomodavam a candidata petista passassem ao centro do debate eleitoral. Um exemplo disso foi ressurgimento da questão das taxas e da saúde pública. É fato que o governo Serra-Kassab não tem muito o que mostrar com relação à saúde em São Paulo, mas têm uma avaliação melhor que da ex-prefeita. O curioso dessa história é que Marta teve que construir todo o sistema de saúde pública de São Paulo, que inexistia até então. Quando dizem que ela não fez nada, é bom lembrar que ela só municipalizou a saúde em São Paulo, não é pouca coisa, como bem lembrou o Blog do Bruno. Ou seja, a Marta tirou São Paulo do atraso e recomeçou do zero a implantação do Sistema Único de Saúde em São Paulo. A tarefa da prefeita Marta foi incomparavelmente superior a essa invenção privatista chamadas AMA (Assistência Médica Ambulatorial). São unidades de atendimento de baixo grau de complexidade administrados por terceiros. O atendimento continua ruim e precário. Não houve investimento em programas mais estruturantes como Saúde da Família ou Unidades Básicas de Saúde.
De fato, as duas últimas eleições em São Paulo foram dominados pelos paradigmas estabelecidos na gestão de Marta Suplicy. Assim como na saúde, na educação a eleição se dá em torno dos CEU de Marta, embora houve piora significativa na qualidade na gestão Serra-Kassab, principalmente com redução dos espaços para cultura e diversão dos jovens da periferia. No trânsito, a mídia simplesmente sumiu esse tema do debate, até mesmo porque foram abandonados os projetos que valorizavam o transporte público da época de Marta sem que nada fosse colocado no lugar. Mesmo o projeto Cidade Limpa, menina dos olhos do prefeito do DEM, teve início na gestão de Marta com a recuperação do centro, mas sendo aperfeiçoado e ampliado na gestão seguinte. O fato é que os paradigmas para a cidade de São Paulo continuam sendo dados pela ex-prefeita Marta Suplicy, mesmo sendo esta derrotada nas urnas. O inusitado nessa história é que o vencedor não traz idéias novas para São Paulo, mas apenas representa um projeto de menor radicalização (isto é, menor inclusão) daquilo que ele promete continuar ou aperfeiçoar, mas que não foi definido por ele, mas pela candidata derrotada.
A candidatura de Marta ao forçar uma polarização, com comparações, perdeu a chance de apresentar novas idéias e projetos para São Paulo. Ela trouxe o passado, que não era bom para ela, em vez de focar no futuro, muito mais promissor. Não adianta ficar batendo em ponta de faca. Ela perdeu em 2004, o jeito é aceitar e conviver com aquela derrota. Trazer o passado para melhorar a avaliação daquela gestão que supostamente teria sido injusta não faz qualquer sentido. O eleitor não quer ser considerado burro. Se descobrir que errou em 2004, ficará mais puto ainda com quem fez perceber esse erro. A comparação só fazia sentido se tivesse sido vitoriosa, mas não foi esse o caso. Agindo assim, a campanha perdeu o rumo e o resultado foram quedas continuadas nas intenções de votos e subida de sua rejeição. Até mesmo quando quis trazer para o debate o nepotismo do candidato e de seu suposto amante, fez isso de forma atrapalhada. Não soube explorar uma fragilidade do adversário com competência. Marta perdeu a oportunidade de melhorar sua imagem perante o eleitor paulistano, mesmo que isso não levasse a sair vitoriosa das urnas. O melhor é esquecer mais esse round, mas tirar as lições para batalhas futuras dos motivos que a levaram à derrota.
Tal cenário torna-se ainda mais complexo com o instituto da reeleição, que beneficia enormemente o candidato que tem a caneta na mão. Um ditado comum é que o candidato a um cargo executivo no Brasil é eleito para oito anos, mas com um referendo popular na metade do mandato quando a população tem a opção de repensar sua escolha, confirmando a escolha inicial ou escolhendo outro mandatário. Uma prova da força da reeleição para o candidato-mandatário é que todos eles conseguiram melhorar a imagem de suas administrações com as eleições. Mesmo as candidaturas perdedoras (é o caso de Serafim Almeida em Manaus), a avaliação do governo melhorou ao longo da campanha eleitoral. A construção de ampla aliança com grande tempo de televisão colaborou para melhorar a imagem de seus governos.
Como poderíamos classificar a eleição da capital paulistana? Sem dúvida nenhuma tratava de uma eleição possível de ganhar, mas com grandes dificuldades para um partido de oposição ao governo local. Uma dos complicadores é que também a eleição paulistana poderia ser enquadrada como de continuidade, muito embora a aprovação regular do governo local no início do período eleitoral.
No cenário da eleição paulistana, a candidatura da Marta não tinha o menor direito de errar. E ainda tinha que contar com o erro do adversário. A campanha de Marta começou bem, trabalhou com competência a redução da rejeição à candidata nas primeiras semanas de campanha. Foram os acertos de sua campanha que levaram a atingir 41% nas pesquisas em certo momento do primeiro turno, sendo que sua taxa de rejeição estava em 26%, contra 33% do prefeito naquela pesquisa. A pergunta a ser respondida é: o que mudou a partir desse pico eleitoral? De forma bastante simples, a campanha petista começou a errar sistematicamente, e a campanha de Kassab mostrou grande competência de exposição do candidato, exaltando suas realizações, minimizando suas fragilidades e reduzindo sua rejeição. Amparado por um grande tempo de televisão, Kassab melhorou significativamente a aprovação de sua administração, o que traduziu em votos para o candidato.
A campanha petista começou a errar bem antes da polêmica com relação às perguntas “é casado? Tem filhos?”. A campanha de Marta sabia que era muito difícil vencer no primeiro turno, e tal fato não mudou quando ela obteve uma taxa de intenção de votos recorde. Mas foi justamente a partir dessa época que a campanha de Marta perdeu seu eixo (que nunca mais foi encontrado). A constatação era de que Kassab era mais fácil de ser vencido que Alckmin no segundo turno. O problema era que ele estava em terceiro lugar e poderia ficar de fora do segundo turno. A campanha de Marta passou então a polarizar com Kassab, como forma de minar o candidato Alckmin. Esse movimento favoreceu enormemente o candidato Kassab destruindo a campanha alckmista. Ou seja, a forma que a campanha petista encontrou para minar o segundo colocado na época fortaleceu a candidatura anti-Marta de Gilberto Kassab. Marta e Kassab trouxeram realizações de suas gestões para estabelecer comparações, mas Alckmin só podia dizer que tinha sido bom governador e poderia ser bom prefeito. De fato, Alckmin tinha pouco a oferecer para o tipo de candidato que o eleitor paulistano buscava naquele momento.
O grande erro da campanha da candidata Marta foi abandonar uma estratégia eleitoral que a tinha levado ao maior patamar que obteve nas pesquisas, redução de sua taxa de rejeição e a conseqüente melhora em sua imagem. Além do mais, naquele instante ela pela primeira vez aparecia vencendo os adversários no segundo turno. A clara mudança na estratégia eleitoral com o intuito de enfrentar um candidato supostamente mais frágil no segundo turno (retrospectivamente já sabemos que a tese não era verdadeira) foi um erro colossal. A candidata petista precisava era chegar ao segundo com uma boa imagem pessoal e a campanha estava conseguindo esse resultado. A estratégia adotada não assumidamente naquele instante era de alto risco. Provou-se ao longo do resto da campanha que a polarização com Kassab elevou a avaliação de seu governo, e a conseqüente subida nas pesquisas, e aumentou consideravelmente a rejeição da petista, o que traduziu em queda em sua intenção de votos.
A campanha de Marta deixou de pautar as eleições, o que explica que problemas como trânsito sumiram da campanha, enquanto temas que incomodavam a candidata petista passassem ao centro do debate eleitoral. Um exemplo disso foi ressurgimento da questão das taxas e da saúde pública. É fato que o governo Serra-Kassab não tem muito o que mostrar com relação à saúde em São Paulo, mas têm uma avaliação melhor que da ex-prefeita. O curioso dessa história é que Marta teve que construir todo o sistema de saúde pública de São Paulo, que inexistia até então. Quando dizem que ela não fez nada, é bom lembrar que ela só municipalizou a saúde em São Paulo, não é pouca coisa, como bem lembrou o Blog do Bruno. Ou seja, a Marta tirou São Paulo do atraso e recomeçou do zero a implantação do Sistema Único de Saúde em São Paulo. A tarefa da prefeita Marta foi incomparavelmente superior a essa invenção privatista chamadas AMA (Assistência Médica Ambulatorial). São unidades de atendimento de baixo grau de complexidade administrados por terceiros. O atendimento continua ruim e precário. Não houve investimento em programas mais estruturantes como Saúde da Família ou Unidades Básicas de Saúde.
De fato, as duas últimas eleições em São Paulo foram dominados pelos paradigmas estabelecidos na gestão de Marta Suplicy. Assim como na saúde, na educação a eleição se dá em torno dos CEU de Marta, embora houve piora significativa na qualidade na gestão Serra-Kassab, principalmente com redução dos espaços para cultura e diversão dos jovens da periferia. No trânsito, a mídia simplesmente sumiu esse tema do debate, até mesmo porque foram abandonados os projetos que valorizavam o transporte público da época de Marta sem que nada fosse colocado no lugar. Mesmo o projeto Cidade Limpa, menina dos olhos do prefeito do DEM, teve início na gestão de Marta com a recuperação do centro, mas sendo aperfeiçoado e ampliado na gestão seguinte. O fato é que os paradigmas para a cidade de São Paulo continuam sendo dados pela ex-prefeita Marta Suplicy, mesmo sendo esta derrotada nas urnas. O inusitado nessa história é que o vencedor não traz idéias novas para São Paulo, mas apenas representa um projeto de menor radicalização (isto é, menor inclusão) daquilo que ele promete continuar ou aperfeiçoar, mas que não foi definido por ele, mas pela candidata derrotada.
A candidatura de Marta ao forçar uma polarização, com comparações, perdeu a chance de apresentar novas idéias e projetos para São Paulo. Ela trouxe o passado, que não era bom para ela, em vez de focar no futuro, muito mais promissor. Não adianta ficar batendo em ponta de faca. Ela perdeu em 2004, o jeito é aceitar e conviver com aquela derrota. Trazer o passado para melhorar a avaliação daquela gestão que supostamente teria sido injusta não faz qualquer sentido. O eleitor não quer ser considerado burro. Se descobrir que errou em 2004, ficará mais puto ainda com quem fez perceber esse erro. A comparação só fazia sentido se tivesse sido vitoriosa, mas não foi esse o caso. Agindo assim, a campanha perdeu o rumo e o resultado foram quedas continuadas nas intenções de votos e subida de sua rejeição. Até mesmo quando quis trazer para o debate o nepotismo do candidato e de seu suposto amante, fez isso de forma atrapalhada. Não soube explorar uma fragilidade do adversário com competência. Marta perdeu a oportunidade de melhorar sua imagem perante o eleitor paulistano, mesmo que isso não levasse a sair vitoriosa das urnas. O melhor é esquecer mais esse round, mas tirar as lições para batalhas futuras dos motivos que a levaram à derrota.
Quem ganhou e quem perdeu nessa eleição?
Os partidos da base governista do governo federal ganharam e os partidos de oposição perderam. Simples assim. Os números falam por si só. PT, PMDB, PSB, PC do B, PDT – aqueles partidos que formam o núcleo do governo – ampliaram significativamente o número de prefeituras e de votos obtidos na eleição. PV que, a despeito de ser governista, na eleição jogou dos dois lados, também saiu bem nessa eleição. Partidos como PP, PTB e PR – governistas de segundo time classificados como mensaleiros – ficaram do mesmo tamanho ou com pequeno acréscimo. Por outro lado, PSDB, DEM e PPS perderam significativa quantidade de prefeituras e de votos. Qualquer outra aritmética que objetive explicar uma possível vitória oposicionista é puro mel para passar na boca dos iludidos.
Uma análise para agradar os iludidos é sempre feita cheia de condicionantes. Uma vertente é tentar explicar a vitória do PMDB, principalmente nas capitais que disputou com o PT, como vitória oposicionista. Pela ampliação do número de prefeituras e por ter-se firmado capitais de grande densidade eleitoral – Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre – o partido é sem dúvida um grande vitorioso nessa eleição. Ou seja, o PMDB ampliou o número de prefeituras ao mesmo tempo em que obteve vitórias em prefeituras importantes. A maior delas, a do município do Rio de Janeiro, é bom lembrar, era um dos bastiões do DEM no país, partido que regrediu consideravelmente também no interior daquele estado.
Apesar da disputa com o PT em algumas localidades, o PMDB que sai vitorioso nessa eleição é majoritariamente governista. A grande exceção é o PMDB de Orestes Quércia em São Paulo, figura que a mídia fez questão de esconder na eleição paulistana para não prejudicar a candidatura de Kassab. Quando Quércia apóia candidatos do PT é um escândalo, cantado em verso e prosa em todos os grandes veículos de comunicação. Agora quando dá apoio aos adversários do PT, com o precioso tempo de televisão do PMDB, nesse momento não há qualquer problema. É importante frisar que o Quércia joga o PMDB nos dois lados (situação e oposição) como forma de valorizar ou encarecer o apoio do partido, mas é um mero negociante, não um oposicionista convicto. As circunstâncias em São Paulo o levaram para os braços do DEM e do PSDB, pois esses partidos tinham mais a dar em troca para seu projeto político em 2010. Todavia, trata-se de casuísmos da política local, mas jamais pode ser considerado como ferrenho opositor ao governo. Os outros líderes do partido que flertam com a oposição simplesmente saíram do cenário, ou seja, foram perdedores dentro de um partido que sai vitorioso.
O PT é outro dos grandes partidos que sai vitorioso sem dúvida. Mas o PT em 2004 elegeu nove prefeitos nas capitais e agora apenas seis. Em 2004 o PT elegeu prefeitos para as capitais de Belo Horizonte, Vitória, Recife, Aracaju, Fortaleza, Palmas, Macapá, Rio Branco e Porto Velho. Em 2008, Belo Horizonte, Macapá e Aracaju passaram para o comando de outros partidos – todos da base governista. Em Aracaju, o PC do B herdou a prefeitura do PT que assumiu o governo estadual na eleição passada. Ou seja, é também uma administração do PT, partido que elevou a importância política no Estado de Sergipe com a eleição de Marcelo Deda. Em Belo Horizonte, o partido também faz parte da coligação que elegeu o candidato do PSB, apesar de toda a confusão que gerou a aliança na cidade. Então, apenas Aracaju, um capital de pouca expressão, é que o partido realmente perdeu.
Por outro lado, o PT voltou a crescer nas cidades médias, sendo o partido que mais elegeu prefeitos no chamado G79, ou seja, o grupo de cidades com mais de 200 mil eleitores. Em Minas Gerais, das grandes cidades, apenas Juiz de Fora não terá prefeito petista ou terá a participação do partido. O PSDB do governador Aécio foi simplesmente expulso para os rincões. Em São Paulo, o partido praticamente dominou os municípios da região metropolitana, apesar da derrota simbólica ocorrida em Santo André – onde o abuso do poder econômico numa eleição nunca foi tão descarado. O mesmo ocorreu na região metropolitana de Porto Alegre – com exceção de Pelotas, que ficou com o PP, ou seja, da base governista -, em que o partido manteve os municípios que governava e ainda ampliou para alguns que jamais tinha passado por governos petistas. Em Santa Catarina, o partido obteve a prefeitura mais importante do interior do Estado, Joinville. No Rio de Janeiro, o partido também ampliou sua presença no interior do Rio de Janeiro. No país como um todo, o PT ampliou em 37% o número de prefeituras, sendo que nas cidades com população acima de 150 mil habitantes o crescimento ficou em 40,9%. São números que mostram como o partido saiu vitorioso. Dos grandes partidos, o PT foi simplesmente o que mais cresceu. Ademais, o partido teve o maior percentual de reeleição entre os partidos nacionais, ou seja, 56% dos prefeitos e prefeitas do partido reelegeram ou fizeram o sucessor.
Os partidos aliados do bloco mais esquerda (PC do B, PSB e PDT ) tiveram crescimento expressivo nessa eleição. O PC do B ampliou em 300% o número de prefeituras, passando de 10 cidades em 2004 para 41 nessa eleição. O PSB foi outro partido que obteve uma expressiva vitória, passando de 195 para 315. Por outro lado, os três partidos de oposição – PSDB, DEM e PPS perderam 549 prefeituras, com destaque para o último que perdeu 57% das prefeituras que administra atualmente. A oposição extremada do antigo partido comunista que está à direita do PSDB não rende votos, apenas serve para os interesses dos outros partidos de oposição. Aliás, o espaço político mais à direita do espectro político já foi ocupado pelo DEM, que a cada eleição se reduz, sobrando pouco espaço para um partido formado de ex-comunistas (PPS) convertidos de direitistas de plantão para ganhar a confiança desse eleitorado. A oposição, ao contrário do que sugere a eleição do DEM na capital paulista (frise-se, a prefeitura já estava com o partido), só manteve a posição nos rincões. PMDB e PT ampliaram significativamente a presença nas grandes cidades, empurrando os três partidos de oposição para as cidades menores. Em Minas Gerais, esse fato foi flagrante.
Quem quiser acreditar em versões de fortalecimento da oposição para as eleições de 2010 fique à vontade. Cada um vive com sua ilusão. Mas o fato é que o governo sai fortalecido, pois os partidos que compõem seu núcleo nunca tiveram tanta presença política como terá a partir de janeiro de 2009. É claro que o tabuleiro presidencial é mais complicado. Mas é melhor chegar nele mais fortalecido que o contrário. O resultado dessa eleição municipal manteve todos no páreo, mas o consórcio governista se tiver juízo vai aparar as arrestas da disputa eleitoral, acertar os ponteiros e sair unido em torno de um projeto de continuidade para a eleição de 2010. Afinal, para que partir para uma aventura em vez manter o time que está ganhando. Há bem menos semelhança do que parece entre a eleição de 2010 com a que houve em 2002. Naquela eleição, o governo federal era muito mal avaliado, tornando mais fácil o sucesso de uma candidatura de oposição. Para 2010, tudo indica que o governo ainda chegará muito bem avaliado, o que favorece um projeto de continuidade. Como bem lembrou Lula, ninguém ganhou falando mal do governo. Não tem por que ser diferente em 2010.
O PT é outro dos grandes partidos que sai vitorioso sem dúvida. Mas o PT em 2004 elegeu nove prefeitos nas capitais e agora apenas seis. Em 2004 o PT elegeu prefeitos para as capitais de Belo Horizonte, Vitória, Recife, Aracaju, Fortaleza, Palmas, Macapá, Rio Branco e Porto Velho. Em 2008, Belo Horizonte, Macapá e Aracaju passaram para o comando de outros partidos – todos da base governista. Em Aracaju, o PC do B herdou a prefeitura do PT que assumiu o governo estadual na eleição passada. Ou seja, é também uma administração do PT, partido que elevou a importância política no Estado de Sergipe com a eleição de Marcelo Deda. Em Belo Horizonte, o partido também faz parte da coligação que elegeu o candidato do PSB, apesar de toda a confusão que gerou a aliança na cidade. Então, apenas Aracaju, um capital de pouca expressão, é que o partido realmente perdeu.
Por outro lado, o PT voltou a crescer nas cidades médias, sendo o partido que mais elegeu prefeitos no chamado G79, ou seja, o grupo de cidades com mais de 200 mil eleitores. Em Minas Gerais, das grandes cidades, apenas Juiz de Fora não terá prefeito petista ou terá a participação do partido. O PSDB do governador Aécio foi simplesmente expulso para os rincões. Em São Paulo, o partido praticamente dominou os municípios da região metropolitana, apesar da derrota simbólica ocorrida em Santo André – onde o abuso do poder econômico numa eleição nunca foi tão descarado. O mesmo ocorreu na região metropolitana de Porto Alegre – com exceção de Pelotas, que ficou com o PP, ou seja, da base governista -, em que o partido manteve os municípios que governava e ainda ampliou para alguns que jamais tinha passado por governos petistas. Em Santa Catarina, o partido obteve a prefeitura mais importante do interior do Estado, Joinville. No Rio de Janeiro, o partido também ampliou sua presença no interior do Rio de Janeiro. No país como um todo, o PT ampliou em 37% o número de prefeituras, sendo que nas cidades com população acima de 150 mil habitantes o crescimento ficou em 40,9%. São números que mostram como o partido saiu vitorioso. Dos grandes partidos, o PT foi simplesmente o que mais cresceu. Ademais, o partido teve o maior percentual de reeleição entre os partidos nacionais, ou seja, 56% dos prefeitos e prefeitas do partido reelegeram ou fizeram o sucessor.
Os partidos aliados do bloco mais esquerda (PC do B, PSB e PDT ) tiveram crescimento expressivo nessa eleição. O PC do B ampliou em 300% o número de prefeituras, passando de 10 cidades em 2004 para 41 nessa eleição. O PSB foi outro partido que obteve uma expressiva vitória, passando de 195 para 315. Por outro lado, os três partidos de oposição – PSDB, DEM e PPS perderam 549 prefeituras, com destaque para o último que perdeu 57% das prefeituras que administra atualmente. A oposição extremada do antigo partido comunista que está à direita do PSDB não rende votos, apenas serve para os interesses dos outros partidos de oposição. Aliás, o espaço político mais à direita do espectro político já foi ocupado pelo DEM, que a cada eleição se reduz, sobrando pouco espaço para um partido formado de ex-comunistas (PPS) convertidos de direitistas de plantão para ganhar a confiança desse eleitorado. A oposição, ao contrário do que sugere a eleição do DEM na capital paulista (frise-se, a prefeitura já estava com o partido), só manteve a posição nos rincões. PMDB e PT ampliaram significativamente a presença nas grandes cidades, empurrando os três partidos de oposição para as cidades menores. Em Minas Gerais, esse fato foi flagrante.
Quem quiser acreditar em versões de fortalecimento da oposição para as eleições de 2010 fique à vontade. Cada um vive com sua ilusão. Mas o fato é que o governo sai fortalecido, pois os partidos que compõem seu núcleo nunca tiveram tanta presença política como terá a partir de janeiro de 2009. É claro que o tabuleiro presidencial é mais complicado. Mas é melhor chegar nele mais fortalecido que o contrário. O resultado dessa eleição municipal manteve todos no páreo, mas o consórcio governista se tiver juízo vai aparar as arrestas da disputa eleitoral, acertar os ponteiros e sair unido em torno de um projeto de continuidade para a eleição de 2010. Afinal, para que partir para uma aventura em vez manter o time que está ganhando. Há bem menos semelhança do que parece entre a eleição de 2010 com a que houve em 2002. Naquela eleição, o governo federal era muito mal avaliado, tornando mais fácil o sucesso de uma candidatura de oposição. Para 2010, tudo indica que o governo ainda chegará muito bem avaliado, o que favorece um projeto de continuidade. Como bem lembrou Lula, ninguém ganhou falando mal do governo. Não tem por que ser diferente em 2010.
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