Lula polariza com Marina para dividir o PSB e ofuscar Aécio
Pedro do Coutto
O ex-presidente Lula tem aproveitado a presença de jornalistas à sua volta, como é natural, para atacar a ex-senadora Marina Silva pelo elogio que fez ao governo Fernando Henrique e também rebater as críticas que vem recebendo da ex-ministra do Meio Ambiente na primeira metade de sua administração. Com esta atitude, Lula busca, e creio que consegue, polarizar o debate entre ele, pelo PT, e Marina, fomentando a divisão no PSB entre as correntes do governador Eduardo Campos e os anseios da Rede Sustentabilidade. Isso de um lado. De outro, age para ofuscar a candidatura de Aécio Neves, deslocando-o para um segundo plano do debate sucessório.
Duas excelentes reportagens focalizaram o lance do ex-presidente: a de Ranier Bragon, Taí Nalon, Mariana Scheiberg e Gustavo Patu, na Folha de São Paulo, e de Chico de Gois e Luiza Damé, no Globo. Lula sustentou que Marina Silva tomou lições erradas de economia e assinalou que os economistas sabem tudo quando estão na oposição. Mas no governo é diferente. E reforçou seu empenho em polarizar a disputa ao afirmar: agora estou ouvindo até uma candidata falar em tripé, referindo-se diretamente a Marina, pois foi ela quem falou na volta do tripé macroeconômico que, segundo sua visão, funcionou no período FHC, proporcionando estabilidade ao país.
Lula aproveitou a deixa para contestar, lembrando que Marina foi nomeada por ele ministra do Meio Ambiente em 2003 e, no seu ponto de vista, foi testemunha da situação de instabilidade com que ele se deparou no país no início do governo. Sob o ângulo político, Lula não poderia ter encontrado nada melhor do que a declaração de alguém que integrou sua equipe e os quadros do PT. Realmente falar em tripé macroeconômico é dose para dinossauro. O que significa isso exatamente?
É preciso traduzir. Pois partir do princípio da existência de um tripé macroeconômico para se fazer política é tacitamente aceitar a existência de um tripé simplesmente econômico, além de outro microeconômico para se traduzir fatos políticos. Falando claramente, como um dia escreveu o jornalista Carlos Castelo Branco no Jornal do Brasil: não devemos sufocar a política e a democracia com tantos adjetivos. Nada disso.
PARA GOVERNAR
Política é o único instrumento efetivo de se governar. E, ao mesmo tempo, uma ação firme e forte em torno de ideias simples e claras, como definiu De Gaulle, respondendo a críticas de Sartre, como também a única forma de agir coletivamente. Política é igualmente uma forma de se poder sentir a atmosfera predominante numa infinidade de momentos. É tão ampla a palavra (política) que não possui sinônimo em idioma algum. Mas voltando a resposta de De Gaulle, então presidente da França, em 68, vale a pena completá-la incluindo seu elegante arremate.
Sartre , disse De Gaulle, política é uma ação firme e forte em torno de ideias simples e claras. Algo extremamente complexo, mas suas formulações tem que ser sempre transparentes. Quem a torna opaca pode estar fazendo filosofia, mas não política. É o seu caso, Sartre. Que, ainda por cima diz que posso mandar prender você. Não, Sartre. Não se pode mandar prender Voltaire.
As ações políticas necessitam sobretudo ser claras, acessíveis ao entendimento coletivo. Porque o que é difícil de entender é excludente para a maioria da população. Mas ela reage pela sensação que a atmosfera proporciona. As próximas pesquisas do Datafolha e do Ibope devem registrar os efeitos da polarização colocada no palco (da política) pelo ex-presidente Lula. Aécio Neves e Eduardo Campos devem descer. Marina Silva subir nas intenções de voto para 2014. Mas até o teto da oposição.
fonte: Tribuna da Imprensa