Um mercado que cresce cara a cara com o freguês

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  • segunda-feira, 12 de novembro de 2012
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  • Da maquiagem ao suplemento alimentar, do best-seller do momento aos pacotes de viagem, a venda porta a porta cresce mesmo com a economia mais fraca e o avanço do varejo na internet. Um levantamento realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em 11 estados revelou que o tamanho desse mercado é quase o dobro do anteriormente estimado pela Associação Brasileira de Vendas Diretas (ABEVD), de R$ 27 bilhões. No ano passado, a venda direta movimentou R$ 50 bilhões e somou um exército de 4,2 milhões de revendedoras em todo país. Em 2012, o setor deve crescer o triplo do esperado para a economia brasileira.

    Com os dados atualizados, o Brasil passa a ocupar o posto de terceiro maior mercado mundial de venda direta, atrás apenas dos Estados Unidos e Japão e à frente de China e Coreia do Sul.

    O segmento viveu praticamente uma década com taxa de crescimento de dois dígitos. Neste ano, o crescimento deve ser mais tímido, de 5,4%, segundo projeção da ABEVD – ainda assim, bem mais que o avanço de 1,54% que o mercado projeta para o Produto Interno Bruto (PIB). “Não é um crescimento que nos orgulhe, mas em 2013 a expectativa é de que o setor volte a apresentar resultados como o que vimos nos últimos anos. É um mercado com muito potencial”, diz Silvio Zveibil, vice-diretor da entidade.
    A venda direta cresce embalada principalmente pelo aumento do consumo da classe C. A Hermes, empresa que há mais de 60 anos vende artigos para casa, confecções e calçados voltados principalmente para esse público, hoje comercializa até eletroportáteis via venda direta e é um dos principais revendedores de livros do país, com cerca de 200 títulos em catálogo.
    “A nova classe média foi a gasolina que acendeu a fogueira da economia nos últimos anos”, afirma Dilmar Oliveira, gerente de marketing da empresa. Segundo ele, as vendas da Hermes cresceram até agora 7% em relação ao ano passado, mas a expectativa é de uma reação mais forte até o fim do ano. Para fazer frente ao crescimento de mercado, a Hermes deve inaugurar em 2013 um novo centro de distribuição no Rio de Janeiro, com 100 mil metros quadrados.
    O mercado de venda direta ainda é bastante concentrado na indústria de perfumaria e cosméticos – que responde por 90% dos negócios – mas aos poucos começa a se diversificar. Hoje é possível comprar até pacotes de turismo e seguros por esse modelo.
    Criada em 2006, a Wow! vende pacotes de viagens e seguros por meio da venda direta e já tem 12,5 mil revendedores no país. A meta é alcançar 17 mil em 2014. “Conseguimos crescer 33% ao ano. A venda de seguros, de vida, de carro e imóvel, dentre outros, já responde por 42% dos negócios e o próximo ano representará mais de 50%”, diz Andres Postigo, presidente da empresa.
    No Brasil, atividade funciona como complemento de renda
    A venda porta a porta ganhou popularidade como uma atividade para complementar a renda da família ou bico em época de vacas magras. Ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, onde as vendas diretas são tratadas como negócio, aqui elas crescem como uma forma de ajudar o orçamento no fim do mês.
    Há um ano Valquiria da Silva Crispim, 32 anos, que trabalha com vendas de equipamento hospitalar, se tornou revendedora porta a porta de produtos de perfumaria e cosméticos da marca Eudora, do grupo Boticário. “Mesmo quando as contas estão mais apertadas, a maioria das mulheres sempre acha um jeito de comprar um batom”, diz ela.
    No começo, segundo ela, o trabalho não foi muito fácil, porque a marca Eudora ainda não era conhecida do público. “Hoje está melhor e acho que vou conseguir vender nesse Natal o dobro do que vendi no ano passado”, afirma. O rendimento mensal com as vendas gira em torno de R$ 300. As clientes em geral são vizinhas e colegas de trabalho. “Vendo muita maquiagem e hidratantes para a pele”, conta.
    O levantamento da Fun­­dação Getulio Vargas (FGV) sobre o setor apontou a exis­­­tência de mais de cem empresas de venda direta e quase 4,2 milhões de revendedores no Brasil. São 1,3 milhão de pessoas a mais do que a Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD) tinha conhecimento.
    O levantamento, que entrevistou por telefone 2.350 pessoas em 11 estados de todas as regiões do país, contabilizou também as empresas do setor que não estão credenciadas na associação. De acordo com a pesquisa, o lucro médio mensal por revendedor era de R$ 303,43 em 2010. A renda dos revendedores com a atividade – geralmente uma comissão de 30% sobre o valor do produto ao consumidor – totalizou R$ 10,6 bilhões no ano passado. De acordo com o estudo, 57% dos revendedores têm outra fonte de remuneração além da venda direta.
    Cristina Rios

     
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