Carlos Heitor Cony
Durante anos, habituamo-nos a admirar o PT em suas lutas pela justiça social e pela moralidade administrativa. Entre as suas especialidades, uma das mais notáveis era a de descobrir esqueletos em armários alheios.
Como tudo o que faz parte da miséria humana, sabíamos que também o PT tinha lá um baú de ossos não identificados, mas a luta maior pela justiça social impedia a opinião pública de investigar a origem macabra daqueles ossuários. E quando, além da metáfora, aparecia mesmo um esqueleto petista, como o dos prefeitos assassinados, o de Campinas e o de Santo André, abria-se a choradeira cívica e moral.
As vítimas eram apresentadas como mártires da causa, e quando era impossível dar conotação política ao fato, apelava-se para o crime comum. O PT criava a aura de incorruptível, rebanho de eleitos, trigo florescente em meio ao joio imprestável da política nacional.
Desde que o prefeito de Santo André apareceu morto, surgiram especulações sobre a corrupção instalada numa das prefeituras-modelo do PT paulista. Mas somente os corruptos, os ladrões do erário nacional, os vendidos aos interesses escusos ousavam formular suspeitas.
Não se trata de manchar a me- mória dos prefeitos assassina- dos, pelo contrário. Até que o sa- crifício deles, pelas causas que a- gora chegam a público, parecem atestar a probidade administrativa. Mas, com ou sem o conhecimento e apoio deles, armara-se naquelas prefeituras um esquema de corrupção que, ao tentar ser desfeito, custou-lhes a vida.
PS - Leitor de Campinas enviou-me xerox desta crônica de 10 de dezembro de 2003, sugerindo que a republicasse. Tendo criticado com violência os oito anos do gover- no de Fernando Henrique Cardoso, era natural que me julgassem um xiita do PT.
Esqueletos no armário
Posted on segunda-feira, 12 de novembro de 2012 by Editor in