Bolsonaro não é nosso guia

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  • terça-feira, 12 de abril de 2011
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  • O Guga Türck, do blog Alma da Geral, encontrou esta justaposição de imagens e legendas impressionante, no site ClicRBS, no dia 2011-04-05.

    O que vemos?

    Infelizmente, vemos homofobia.

    A justaposição da imagem do casal aparentemente homo sob a rúbrica policial com a imagem do casal hétero sob a rúbrica do namoro é impressionante. Um casal, o que parece homo, e se beija, tem as palavras "excesso" e "policial" na legenda.

    Beijar é um excesso?

    Outro casal, claramente hétero, só se toca de maneira pudica. A legenda é mais aprovadora, fala de espera e "busca" do "amor da sua vida". Sem polícia, sem excesso.

    Quem acharia que um beijo é um excesso policial? É claro, beijos são excessos, transbordes, hybris solta, mas de tesão, a mais saudável e mais necessária das energias. Mas beijar não é crime, graças a deus!

    Daí vem a ação policial, no dia 2011-04-10, feita sob medida para agradar o moralista. Ele vai sorrir no dia seguinte, quando seu jornal predileto for escorrido sob a soleira da sua porta, trazendo a foto dos amantes tratados como criminosos.

    Nessa data, a partir das 19h30, a polícia começou a revistar casais que se beijam, coisa que é suficiente para transformar a cidade de Porto Alegre no mico dos micos fundamentalistas, visto que, de capital do cosmopolita Fórum Social Mundial, se transformou em paróquia de um interior profundo, onde, ao estilo do Irã, a função da polícia é zelar pelos bons costumes, de acordo com o padrão de quem chama a polícia porque um cidadão tá beijando na rua.

    Quer dizer que há tanta polícia disponível em Porto Alegre que alguns soldados podem ser deslocados para fazer um trabalho que é lamentável mesmo nas notícias sobre o ultraconservador Irã?

    Olha o que o pessoal do grupo Somos conta:
    «É comum usarmos a expressão “pra inglês ver” quando nos referimos a uma situação ou atitude encenada, que cumpre algumas regras sociais mais ou menos ritualizadas e que concretamente não tem efeito. “Pra inglês ver” são aquelas ações ou falas que procuram mostrar que alguém faz o que é mandado/a fazer, mesmo que sua prática não resulte em grandes feitos. 
    Foi isso o que aconteceu ontem na rua Lima e Silva, por volta das 19h30min. Três caminhonetes da Brigada Militar estacionaram em frente ao Centro Comercial Nova Olaria, e mais de 10 policiais da Brigada mandaram que as pessoas que se aglomeravam ali em frente fossem para a “parede”: todos e todas foram revistados/as – as meninas por uma policial feminina – e as mochilas foram abertas e inspecionadas, inclusive os maços de cigarro, pois talvez ali se esconderiam as buchas de cocaína que os jovens supostamente cheiram nos parapeitos das janelas dos prédios.»
    Três veículos táticos foram deslocados para a inócua operação iraniano-policial de revistar gente que se beija.

    Três!

    Quantos veículos desses há, em pleno funcionamento, em Porto Alegre? Digamos que haja 60. Deve ser menos. Se for 60, 5% dos veículos táticos estavam cuidando de reprimir o beijo. Em Porto Alegre! Dá pena dos soldados da PM, pois têm que fazer a encenação toda só porque o comando quer agradar o jornalzinho.

    É claro, isto faz felizes o povo que chama a puliça pra lidar com beijo, pois eles veem a foto do casal na parede, tomando atraque. Agora eles acham que os bandalhos aprenderam a lição, e serão como eles. O jornal também fica feliz, pois o escândalo gera lucro, apesar de custar a vida, a saúde ou a propriedade de quem precisa de polícia, mas ficou sem porque os soldados tavam cuidando de beijo, não de crime.

    Não devemos nos guiar pelo que faria um Bolsonaro agradecer. É claro que deve haver polícia ao redor das pessoas que se beijam, mas para protegê-las de malucos homofóbicos e de eunucos psicopatas que nunca foram tocados por ninguém, mas querem morrer pra serem tocados após mortos por homens bem limpinhos. Se há um problema em tudo isso, é o problema da escandalização moralista, a qual sempre é um péssimo guia para a ação e o interesse público.

    PS - Um jornal responsável não chantagearia a polícia para fazer operações espetaculares, mas caras e inócuas, só porque isso dá lucro. Um jornal responsável, tal como um cidadão responsável, não transformaria em crime o que não é crime, pois o custo disso é vidas perdidas aonde não há mas é preciso haver, de fato, polícia. Todos sabemos que há carência de polícia para lidar com o crime de fato. Se, sabendo disso, forçamos a polícia a deixar o crime de lado, pra cuidar de nada, estamos simplesmente facilitando a vida de quem mata, agride, rouba, estupra. Simples assim.
     
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