Convencida de que o sargento César Rodrigues de Carvalho – que espionou o candidato petista ao governo gaúcho, Tarso Genro, além de outros políticos, jornalistas, advogados e delegados – atuou a mando de seus superiores no Governo Yeda Crusius (PSDB), a bancada do PT na Assembleia Legislativa pediu ontem ao Executivo que informe quem liberou a supersenha para o autor da violação. Apenas 20 pessoas teriam acesso à senha master, uma delas o sargento.
“É um Estado policialesco, autoritário”, criticou a deputada Stela Farias, uma das vítimas da espionagem feita pelo militar.
A oposição ao governo tucano quer saber também para que bolsos rumava o dinheiro arrecadado entre contraventores pelo sargento lotado na Casa Militar do Palácio Piratini.
“Sabemos que o dinheiro não ficava apenas com o sargento. Queremos saber com quem era dividido”, adiantou a deputada. Carvalho recolheria até R$ 40.000,00 mensais da contravenção.
Ela ainda observou que a bancada pedirá ao Ministério Público Estadual que transfira a custódia de Carvalho – preso em dependências da Brigada Militar – para a Polícia Federal, argumentando que ele é “uma peça-chave” e que sua integridade não pode correr riscos.
Para a deputada petista, a espionagem de adversários políticos através do Sistema de Consultas Integradas, instalado na sede do governo gaúcho, é antiga.
“É o método de um governo que se desmoralizou”, entende. Stela suspeita que Ricardo Lied, ex-chefe de gabinete de Yeda Crusius – flagrado em 2008 em grampo telefônico revelando a violação do sigilo de um ex-prefeito petista – seja parte do mesmo processo.
“Não podemos ser levianos, mas queremos puxar este fio e ver aonde vai levar”, comentou. Homem da confiança de Yeda, Lied, apesar da denúncia, foi mantido no cargo do qual se afastou apenas no mês passado.
Ex-presidente da CPI da Corrupção, que averiguou o sumiço de R$ 344 milhões dos cofres do Estado durante a gestão do PSDB, a deputada teve sua família ilegalmente investigada. O militar acessou até mesmo fotos e roteiros de seus três filhos, um deles de oito anos.
“O que uma criança representa de risco para o Estado?”, questiona Stela.
“Quando o promotor (Amilcar Macedo, responsável pelo processo) me contou isso, eu não acreditei. É um grande absurdo, uma coisa sem precedentes na história do Rio Grande”, reagiu.
No Legislativo gaúcho, o deputado Luis Augusto Lara (PTB) também teve seus dados violados. Lara tentou ser candidato ao governo do Estado, mas não teve respaldo. Seu partido foi parceiro disputado por várias siglas, mas acabou sem apoiar nenhuma delas.
“MUITO MAIS VÍTIMAS”
Inicialmente acusado de extorquir donos de bingo e bicheiros, o sargento César de Carvalho logo se tornou um personagem muito mais importante. Constatou-se que ele espionou, além de Tarso Genro, também vários diretórios do PT. Obteve ilegalmente dados sigilosos do senador Sérgio Zambiasi (PTB); do coordenador da campanha estadual do PT, ex-deputado Flávio Koutzii; do deputado federal Luis Carlos Busato (PTB) e do ex-vice-prefeito de Porto Alegre, Eliseu Santos, assassinado em fevereiro.
“Temos certeza de que muito mais gente foi vítima da mesma espionagem e outros nomes irão aparecer”, afirmou a deputada Stela Farias.
Nesta quinta-feira, Carvalho será ouvido no Foro de Canoas. Seu advogado, Adriano dos Santos Pereira, já adiantou que a intenção do cliente é de colaborar e que não assumirá responsabilidades que não são suas. Dois oficiais e dois civis vinculados ao Palácio Piratini estão sob investigação.
Foto: Bruno Alecanstro/Sul21