Eu penso que a greve de fome não pode ser utilizada como pretexto de direitos humanos para libertar pessoas. Imagina se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade. Temos que respeitar a determinação da justiça e do governo cubano, de deter as pessoas em função da legislação de Cuba, como quero que respeitem ao Brasil.
(Declaração de Lula à Agência de Notícias Associated Press)
Duas idéias aparecem como centrais nesta fala do Presidente da República:
1- Ele é contra a utilização da greve de fome como instrumento de luta política e/ou reivindicatória;
2- Ele invoca o princípio da não-ingerência nos assuntos internos de Cuba, como justificativa para a não-condenação de eventuais violações dos direitos humanos cometidas pelo governo dos irmãos Castro.
A primeira destas idéias pode ser questionada por muitos, visto que no passado o próprio Lula já recorreu a este instrumento de luta; porém esta é uma opinião bastante defensável e que deve ser respeitada, concorde-se com ela ou não. A segunda idéia, que também pode ser questionada, não deixa de se encaixar dentro daquilo que alguns historiadores da nossa Política Externa (como o ex-ministro Rubens Ricupero, por exemplo) definem como uma das “tradições” das nossas relações exteriores, consolidada durante a gestão do Barão do Rio Branco, no Itamaraty: a defesa do princípio da não-ingerência. No entanto, não são estas idéias centrais da fala de Lula que estão sendo bombardeadas pela grande imprensa, mas sim algo absolutamente secundário e que o presidente utilizou somente como exemplo, para ilustrar suas afirmações: uma suposta comparação entre os presos comuns do Brasil e os presos políticos de Cuba. Pode até ter sido um exemplo infeliz, mas fica claro que, em nenhum momento, Lula afirmou que os presos comuns daqui são iguais aos presos políticos de lá. Também é bastante óbvio que o que ele quis dizer foi que, concordemos com elas ou não, o Estado cubano tem o direito de fazer cumprir as suas leis no território sob sua soberania. No entanto, esta frase retirada de seu contexto tem sido utilizada pela grande imprensa (marrom) para criticar, de forma acintosa, o presidente da República (Em “O Globo” de hoje, só para exemplificar, existem três páginas dedicadas ao tema!). Esta é que é a tal da liberdade de imprensa defendida pelos oligopólios midiáticos...
1- Ele é contra a utilização da greve de fome como instrumento de luta política e/ou reivindicatória;
2- Ele invoca o princípio da não-ingerência nos assuntos internos de Cuba, como justificativa para a não-condenação de eventuais violações dos direitos humanos cometidas pelo governo dos irmãos Castro.
A primeira destas idéias pode ser questionada por muitos, visto que no passado o próprio Lula já recorreu a este instrumento de luta; porém esta é uma opinião bastante defensável e que deve ser respeitada, concorde-se com ela ou não. A segunda idéia, que também pode ser questionada, não deixa de se encaixar dentro daquilo que alguns historiadores da nossa Política Externa (como o ex-ministro Rubens Ricupero, por exemplo) definem como uma das “tradições” das nossas relações exteriores, consolidada durante a gestão do Barão do Rio Branco, no Itamaraty: a defesa do princípio da não-ingerência. No entanto, não são estas idéias centrais da fala de Lula que estão sendo bombardeadas pela grande imprensa, mas sim algo absolutamente secundário e que o presidente utilizou somente como exemplo, para ilustrar suas afirmações: uma suposta comparação entre os presos comuns do Brasil e os presos políticos de Cuba. Pode até ter sido um exemplo infeliz, mas fica claro que, em nenhum momento, Lula afirmou que os presos comuns daqui são iguais aos presos políticos de lá. Também é bastante óbvio que o que ele quis dizer foi que, concordemos com elas ou não, o Estado cubano tem o direito de fazer cumprir as suas leis no território sob sua soberania. No entanto, esta frase retirada de seu contexto tem sido utilizada pela grande imprensa (marrom) para criticar, de forma acintosa, o presidente da República (Em “O Globo” de hoje, só para exemplificar, existem três páginas dedicadas ao tema!). Esta é que é a tal da liberdade de imprensa defendida pelos oligopólios midiáticos...
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Ainda sobre esta questão, não sou nenhum entusiasta do regime castrista (apesar de admirar bastante o povo cubano e de reconhecer algumas das conquistas da revolução), porém, como já escrevi em posts anteriores, só um completo idiota não consegue perceber como a grande imprensa brasileira é bastante seletiva ao criticar a violação dos direitos humanos ao redor do mundo. Assim, se ela é pródiga em críticas à Cuba, à Venezuela e ao Irã, este discurso humanitário desaparece (ou diminui muito de intensidade) quanto se trata das violações cometidas pelos EUA, por Israel ou mesmo pela China. E é claro que as relações que o Brasil mantém com aqueles países são criticadas de forma bastante cínica pelos jornalões e revistas semanais de (des) informação: afinal de contas, não se pode perder a oportunidade de criticar o governo Lula e de ecoar os temores da nossa "classe-mérdia" que, 20 anos depois da queda do Muro de Berlim, ainda se caga de medo quando ouve a palavra “comunismo”. Assim, não dá para deixar de lembrar das palavras de um grande intelectual conservador francês, que por muitos anos foi editor do “Le Figaro”, Raymond Aron. Ao comentar a questão dos direitos humanos como base para a política exterior de um Estado, em uma entrevista concedida em 1980, Aron disse algumas palavras que podem soar cruéis a alguns ouvidos poliânicos, mas que refletem, na verdade, a dura realidade da política internacional:
Entrevistador: O senhor acha que se pode basear uma política nos direitos humanos?
Aron: É possível viver na obsessão de defender os direitos humanos. Se a questão é ter uma política externa, não, não se pode fazer uma política externa a partir da idéia do respeito aos direitos humanos. Se os Estados Unidos tivessem como princípio absoluto só reconhecer como aliados os regimes que respeitam os direitos do homem, pergunto-me quantos Estados, fora da Europa ocidental, poderiam ser aliados dos Estados Unidos.
Entrevistador: Isso supondo-se, aliás, que os próprios Estados Unidos os respeitem sempre...
Aron: Disse há pouco que não há país algum em que os direitos humanos sejam sempre respeitados, e em particular, todos os direitos humanos. Não é tão fácil definir e enumerar os direitos humanos, e não se sabe muito bem em nome de que se considera isto fundamental e aquilo secundário.
Os "capos" da máfia midiática com certeza concordam com esta fala. Mas, como bons fariseus que são, eles vão continuar a proferir seus hipócritas discursos humanitários, assumindo-se assim como as verdadeiras “sepulturas caiadas” a que JC se referia...
Entrevistador: O senhor acha que se pode basear uma política nos direitos humanos?
Aron: É possível viver na obsessão de defender os direitos humanos. Se a questão é ter uma política externa, não, não se pode fazer uma política externa a partir da idéia do respeito aos direitos humanos. Se os Estados Unidos tivessem como princípio absoluto só reconhecer como aliados os regimes que respeitam os direitos do homem, pergunto-me quantos Estados, fora da Europa ocidental, poderiam ser aliados dos Estados Unidos.
Entrevistador: Isso supondo-se, aliás, que os próprios Estados Unidos os respeitem sempre...
Aron: Disse há pouco que não há país algum em que os direitos humanos sejam sempre respeitados, e em particular, todos os direitos humanos. Não é tão fácil definir e enumerar os direitos humanos, e não se sabe muito bem em nome de que se considera isto fundamental e aquilo secundário.
Os "capos" da máfia midiática com certeza concordam com esta fala. Mas, como bons fariseus que são, eles vão continuar a proferir seus hipócritas discursos humanitários, assumindo-se assim como as verdadeiras “sepulturas caiadas” a que JC se referia...