Dois Pesos, Duas Medidas.

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  • domingo, 1 de novembro de 2009
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  • Situação 01: Em uma área conflagrada e ocupada por uma decadente potência estrangeira, uma organização nacionalista de extrema-direita, ligada a um dos lados em conflito, explode um grande hotel matando 91 pessoas. Alguns anos depois, o principal líder desta organização torna-se primeiro-ministro de seu país;

    Situação 02: Numa região em conflito, a ONU envia um mediador para tentar um acordo entre as partes. Este emissário é assassinado por membros de uma organização ultranacionalista vinculada a uma destas partes. Um dos envolvidos neste episódio, alguns anos depois, também se torna primeiro-ministro de seu país;

    Situação 03: Em um país dividido por uma longa guerra civil, milicianos ligados a um dos lados beligerantes atacam campos de refugiados estrangeiros e matam milhares de pessoas. A guarda destes campos estava a cargo de um outro Estado que no citado conflito apoiava o grupo que promoveu o massacre. O ministro da defesa deste Estado estrangeiro foi responsabilizado pela opinião pública internacional e por seus próprios compatriotas como sendo o grande responsável por este trágico acontecimento e, por conta disto, foi demitido do cargo que ocupava. Porém, alguns anos depois, ele acabou - como nos casos anteriores - se tornando primeiro-ministro de seu país.

    Se você classifica tais atos como crimes ou exemplos de terrorismo e considera um absurdo que criminosos e terroristas transformem-se nas principais lideranças políticas de seus países, aí vão duas perguntas: o que você diria se soubesse que os três personagens citados nas situações relatadas tornaram-se primeiros-ministros de um mesmo Estado? Como você definiria este Estado?

    Então vamos lá: na situação 01, a região conflagrada era a Palestina, o ano era 1946, a potência decadente era a Inglaterra, os lados em conflito eram os judeus e os árabes-palestinos, o hotel em questão era o Hotel King David, em Jerusalém, a organização era o Irgun Zvai Leumi e o seu líder que se tornaria primeiro-ministro de Israel era Menachem Begin; na situação 02, a região em conflito também era a Palestina, o ano era 1948, o mediador da ONU era o Conde Folke Bernardotte (da família real sueca), a organização ultranacionalista era a Gangue Stern e o seu membro que se tornaria primeiro-ministro (também de Israel) era Yitzhak Shamir; na situação 03 (que está retratada na imagem que ilustra este post), a guerra civil em questão era a do Líbano, o ano era 1982, os milicianos eram cristãos maronitas, os refugiados eram palestinos, os campos eram os de Sabra e Chatila, a potência estrangeira responsável por sua “guarda” era Israel e o ministro da defesa que foi responsabilizado pelo massacre era Ariel Sharon, que alguns depois se tornaria primeiro-ministro de... Israel!

    Levanto estas questões depois de saber que, devido ao anúncio de uma nova data para a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil, a comunidade judaica brasileira está se mobilizando - com uma repercussão extremamente favorável nos principais veículos de comunicação do país - para que, no dia da visita, os seus membros coloquem no peito a estrela amarela, com a qual os judeus eram marcados nos campos de concentração nazistas. O resgate deste símbolo deverá ser feito em protesto contra a presença do líder iraniano (que sabidamente defende teses revisionistas em relação ao holocausto), que eles classificam como “tirano, fundamentalista e militarista”. Ora, todos nós sabemos que Ahmadinejad não é flor que se cheire. Mas e os ilustres primeiros-ministros israelenses citados acima, como devemos classificá-los? Se o Brasil mantém relações com Israel que teve líderes como Begin, Shamir e Sharon, qual é o problema em manter relações com o Irã dos aiatolás? A política externa de um Estado não deve ser efetuada levando-se em conta os seus interesses nacionais? Se é interessante do ponto de vista econômico ou estratégico manter relações com o Irã, com Israel ou com quer que seja, por que o Brasil não deve fazê-lo?

    Continuando com a mesma linha de raciocínio: se os atos belicosos de Israel são justificados como sendo em "defesa de seus interesses", por que os do Irã são classificados como "perigosos" para a paz mundial (a notinha da coluna de Ancelmo Góis em "O Globo", no dia 26/10, que noticiou a mobilização da comunidade judaica contra a visita de Ahmadinejad intitulava-se, significativamente, "Paz no Mundo")? E por que será que para os judeus – e para a maior parte da mídia brasileira - “terroristas” e “criminosos” são sempre os outros? E mais: por que ao invés de discutir tais questões de maneira aberta e livre, boa parte das lideranças judaicas prefere cair no discurso fácil de acusar seus críticos de anti-semitas? Por que, com a cumplicidade dos meios de comunicação, estas mesmas lideranças confundem deliberadamente dois conceitos absolutamente distintos como “anti-semitismo” e “anti-sionismo”? Até quando os horrores do holocausto (sim, é um absurdo que o Ahmadinejad procure negar a sua existência!) servirão de pretexto e de desculpa para que Israel perpetre horrores semelhantes aos palestinos? Tantas perguntas, tão poucas respostas. E sempre, mas sempre mesmo, a comunidade judaica – e a “Veja” e “O Globo” e o “Estadão” e a “Folha” - usando dois pesos e duas medidas para analisar tais questões...
     
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