Vejo-os: durante a conversa, alguém, de repente, se distrai fica parado e pensativo, talvez por alguns segundos, mas é quanto basta para compreender que sua verdade está lá, naquele silêncio. Como alguém que, defronte de casa, esteja conversando com amigos e de repente se afasta, corre para casa para ver sabe Deus o quê e volta logo depois, com exatamente a mesma expressão de antes e ninguém sabe o que foi fazer, e se alguém lhe pergunta, responde “nada”, e, de outro lado, não se podia ver nada através da porta quando a abriu, o que havia lá dentro, via-se apenas um retângulo escuro.
Uma praça imensa, portanto, tendo ao redor uma infinidade de casas, esta é a vida; e, no centro, os homens que negociam entre si e nunca alguém consegue conhecer as outras casas; somente a sua, e mesmo esta, geralmente mal, porque permanecem muitos ângulos escuros e às vezes quartos inteiros que o dono não tem paciência ou coragem para explorar. E a verdade se encontra somente nas casas e não fora delas. De maneira que, do resto do gênero humano, nunca se sabe nada. O homem passa distraído no meio destes infinitos mistérios e isso finalmente não parece desagradar-lhe demasiadamente.
(BUZZATI, Dino. “A Solidão”. In: Naquele Exato Momento. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2004.)
Uma praça imensa, portanto, tendo ao redor uma infinidade de casas, esta é a vida; e, no centro, os homens que negociam entre si e nunca alguém consegue conhecer as outras casas; somente a sua, e mesmo esta, geralmente mal, porque permanecem muitos ângulos escuros e às vezes quartos inteiros que o dono não tem paciência ou coragem para explorar. E a verdade se encontra somente nas casas e não fora delas. De maneira que, do resto do gênero humano, nunca se sabe nada. O homem passa distraído no meio destes infinitos mistérios e isso finalmente não parece desagradar-lhe demasiadamente.
(BUZZATI, Dino. “A Solidão”. In: Naquele Exato Momento. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2004.)
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Tempos Adversos
Fui eu
Vem ver
Fui eu
Vem ver
Há vidros no chão
Há folhas no chão
Há livros no chão
Lutamos em vão
Claro que temos que andar
são os tempos adversos
Que puxam para trás
É claro que temos que ver a estrada
Que um dia a história acaba...
Quem foi?
Quem viu?
Quem foi?
Quem viu?
Os vidros no chão
São restos de nós
Os vidros no chão
Perdem a voz.
Claro que vamos andar
entre tempos adversos
que puxam para trás
é claro que temos que ver a estrada
Que um dia a história acaba...
...Que um dia a história acaba.
( Toranja, Álbum "Segundo", Universal Music Portugal, 2005)
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Ouça "Tempos Adversos", com o Toranja.