Elocubrações Teológicas.

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  • sábado, 19 de setembro de 2009
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  • "O Limbo dos Poetas e Heróis" - Ilustração de Gustav Doré para "A Divina Comédia", de Dante Alighieri.

    A minha lembrança mais remota da palavra “limbo” vem dos gibis do Thor: era para lá que Lóki, o traiçoeiro irmão adotivo do Deus do trovão era comumente banido, quando aprontava alguma. Mais tarde, lá pelos nove ou dez anos de idade, preparando-me para a primeira comunhão, lembro-me de ter perguntado à catequista para onde iam as almas daquelas pessoas boas que não haviam sido batizadas ou dos bebês que morriam pagãos: foi só então que conheci a definição católica para o limbo. Já na adolescência, naquele momento em que minha inocente mente juvenil começou a ser influenciada pelo comunismo ateu e apátrida (hoje percebo a lógica que houve nesta transição: simplesmente troquei a fé em um judeu barbudo pela fé em outro judeu barbudo!), comecei a achar que o limbo era o lugar mais interessante do edifício celestial. Afinal, como definiu Tomás de Aquino, no século XIII, o limbo seria um lugar de felicidade natural, porém sem a presença do Todo-Poderoso. Pareceu-me o lugar perfeito: lá não existiriam os sofrimentos do inferno (embora, convenhamos, de vez em quando um perversãozinha infernal é algo bem interessante!) e nem a angústia das pobres almas do purgatório que, por terem cometido pecados leves, ficam ali aguardando a misericórdia divina para subir aos ceús (uma sensação similar a que sinto, como torcedor do Vasco, na expectativa de subir para a série A!). Além disto, não seria aquele porre que deve ser o céu com anjos assexuados e todos os carolas que encheram a nossa paciência durante a sua passagem pela vida terrena. Assim, havia chegado a uma conclusão: se houvesse vida após a morte, o tal do limbo era o melhor lugar para se ir. Porém, em 2007, a festa acabou: após ouvir o parecer de uma comissão de doutos teólogos, o Papa Bento XVI afirmou que o limbo era uma mera hipótese teológica e decretou o seu fim. Ora, segundo a tradição medieval, as almas daqueles que viverem antes do advento do Cristo – como Platão e Socrátes – e que portanto não conheceram a sua palavra estavam neste interessante lugar (Em “A Divina Comédia”, Dante arrumou uma vaguinha no limbo até para infiéis muçulmanos como Averrois e Saladino). Por isto, com a sua extinção pelo Sumo Pontífice, algumas perguntas começaram a martelar na minha cabeça:
    a) para onde foram todas estas almas, que durante milênios curtiram a tranquilidade do Limbo?
    b) A monarquia celestial pagou-lhes alguma indenização por esta expropriação indevida ou elas simplesmente foram jogadas na rua da amargura?
    c) Será que Platão aceitou liderar o Movimento dos Sem-Limbo e decidiu combater esta decisão arbitrária do Primeiro-Ministro do Todo-Poderoso?
    Sem sombra de dúvidas, estão são questões fulcrais para o futuro da humanidade... Porém, nesta história toda, o que mais me chocou foi o fato de poucas vozes terem se levantado contra tal arbítrio. Uma das poucas foi a do crítico literário norte-americano Harold Bloom, que escreveu um artigo de protesto no “New York Times”, pois havia combinado com seu falecido amigo, o escritor Anthony Burgess, que este o esperaria no limbo com uma garrafa de brandy Fundador. Ou seja, o tal de Ratzinger, além de ser um reacionário de primeira, ainda toma decisões que atrapalham o reencontro de velhos companheiros!

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    E por falar em fé, volta e meia, zapeando em busca de alguma coisa que preste na televisão, dou uma parada no programa do Missionário R.R. Soares, da Igreja da Graça. E não hesito em dizer: o cara é um craque em vender seu peixe, um verdadeiro Sílvio Santos (com quem tem uma certa semelhança física) da fé! Voz mansa, jeito bonachão e conciliador, o missionário nem de longe lembra a postura agressiva de alguns de seus congêneres que, por conta disto, muitas vezes acabam espantando possíveis futuros fiéis. Enfim, R.R. Soares é um gênio do marketing religioso e deveria ser estudado como um “case” nas faculdades de Comunicação!

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    Trilha Sonora do dia: “Heavy Metal do Senhor”, do Zeca Baleiro.

     
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