"Julgamento": Um Belo Filme Português.

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  • sexta-feira, 3 de outubro de 2008
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  • Em 28 de maio de 1926, um golpe militar conservador pôs cabo à curta experiência republicana democrática portuguesa e deu início a uma das mais longas ditaduras da História Européia. Tal regime só terminaria 48 anos depois, em 25 de abril de 1974, com uma outra intervenção militar - só que desta de vez de tendências à esquerda - que colocaria Portugal novamente no caminho da Democracia. António de Oliveira Salazar, catedrático de Economia na Universidade de Coimbra e católico fervoroso, tornou-se o "homem-forte" do novo regime, primeiro como Ministro das Finanças e, a partir de 1932, como Presidente do Conselho de Ministros. O "Estado Novo" salazarista instituiu em 1945 a sua Polícia Política - a Polícia Internacional e de Defesa do Estado-PIDE (que em 1969, passaria a se denominar Direção Geral de Segurança - DGS, nome que manteve até a sua extinção em 1974, no dia seguinte à Revolução dos Cravos). Este órgão repressivo praticava diversas atrocidades contra os opositores do regime que caíam em suas mãos, utilizando-se de métodos bastante cruéis de tortura e recorrendo por inúmeras vezes ao recurso do assassinato, como nos casos do General Humberto Delgado - candidato dissidente à presidência da república, em 1958 - e do militante comunista José Dias Coelho. O filme "Julgamento", do cineasta Leonel Vieira, que foi exibido no Festival de Cinema do Rio, traz à tona de forma contundente estas questões, ao narrar a história de um grupo de militantes anti-salazaristas que, nos dias atuais, reencontram o inspetor da PIDE que os torturou e matou um de seus companheiros, no início da década de 1970. A atitude impulsiva de Jaime - um professor universitário atormentado pelos fantasmas do passado - ao raptar o seu torturador e levá-lo para uma casa-de-campo isolada, deflagra uma série de situações dramáticas onde dilemas éticos como a linha tênue que separa a justiça da vingança são discutidos de forma provocativa e questionadora. No limite destas tensões, os infernos particulares de cada personagem - Jaime, o professor universitário; Miguel, o médico; Joana, professora universitária e filha do militante morto pela PIDE e Henrique, o político bem-sucedido - vão sendo expostos de forma tocante pelas mãos hábeis do diretor que, mesmo trabalhando com algumas situações-clichês, consegue driblar a tentação de cair no lugar-comum. Destacam-se também a bela fotografia - em especial, a das cenas das recordações das torturas nos porões da PIDE, em P&B - e a ótima trilha sonora que pontua de forma precisa os principais momentos do filme, dialogando com o que está sendo mostrado na tela. Uma bela obra que merece ser vista. O problema é saber se ela vai entrar no circuitão comercial. Em tempo: o filme lembra a nós, brasileiros, uma questão muito pouco estudada e discutida em nosso país. Boa parte dos próceres do regime salazarista - caso do agente da PIDE retratado no filme - fugiu para o Brasil após a Revolução dos Cravos, onde foram muito bem recebidos pela governo do General-Ditador Ernesto Geisel. Dentre estas, destaca-se Marcello Caetano, sucessor de Salazar na presidência do Conselho de Ministros, que ainda construiu por aqui uma sólida carreira acadêmica, atuando como Professor de Direito em Instituições de Ensino Superior brasileiras, como a Universidade Gama Filho. Realmente, e isto é inquestionável, estas terras tupiniquins são "abençoadas" para figuras deste naipe. Que o diga o ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner que por aqui viveu muitos anos.
     
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