Rio de piranhas
Há um cheiro de Proconsult no ar do Rio de Janeiro. Posições diversas reagem às últimas pesquisas e desconfiam de intenções. Fernando Gabeira reclama da pesquisa Ibope junto ao TRE, por favorecer o candidato Marcelo Crivella. Este reclama do Datafolha. Todos em parte têm razão. Mas, há outras considerações. Institutos de pesquisas são empresas. Como tal, têm clientes para focar. Neste agrado, faz parte do negócio navegar entre a credibilidade e a influência aos votos indecisos, que nesta eleição tem o índice mais alto entre as capitais brasileiras.
Vejam só:
O Ibope divulga pesquisa para a TV Globo e o jornal O Estado de S.Paulo, mas tem como cliente a milionária campanha do PMDB à prefeitura. Seria coincidência seus números elegerem Crivella como o adversário de Eduardo Paes, logo o candidato ideal para ser derrotado?
A serrista Folha de S.Paulo e seu instituto registram um enorme crescimento da candidatura de Fernando Gabeira, indicando seu nome para o segundo turno. Seria coincidência por ser ele o candidato do PSDB, com entusiasmada torcida dos perdidos tucanos?
Na mídia, a munheca fica visível. Os nomes dos seus escolhidos aparecem em destaque. Inventam-se disputas, novidades, fatos. Nesta ponta do jogo, alguns nomes somem. Coincidência também que tentam dizer que a candidata Jandira Feghali está fora? Ela, sim, parece ser o foco das más intenções dos institutos. E não há motivos. Tecnicamente está empatada com outros dois candidatos e leva algumas vantagens na reta final.
Vamos a alguns dados, em parte levantados pelas próprias pesquisas, para entendermos isso:
1) A pesquisa Datafolha mostra que Gabeira cresceu consolidando apenas votos nas camadas de maior renda. É o candidato dos acima de 10 salários mínimos, onde chega a 38%. Para ir além, só crescendo em outras faixas, o que é tarefa bastante difícil, apesar do lindo jipe que sua campanha comprou para uma espécie de safári rumo ao oeste da cidade. Buana terá que chamar Indiana Jones. Só ele para vencer a rejeição ao seu nome quando sai da Zona Sul.
2)Bispo Crivella parece não ter ido além do seu reduto. Apesar das diferenças em números nas últimas pesquisas dos dois institutos, a curva é descendente. Coleciona a mais alta rejeição. Precisa de um fato novo para aumentar votos nas camadas de baixa renda. Algo agora que só um milagre faria, se é que ele acredita nisso.
3)Eduardo Paes permanece na liderança, mas no mesmo patamar. Torce como nunca para enfrentar Marcelo Crivella. Se enfrentar Jandira terá problemas. A Datafolha mostra que é onde Paes tem a menor margem de vitória. E terá todo o desafio de manter sua milionária campanha contra uma candidatura que pode reunir uma ampla frente contra o desmoralizado PMDB carioca, com o mesmo tempo de TV.
São reflexões deste momento. Eu aposto minhas fichas que a candidata do PCdoB chega ao segundo turno. Chegando, as chances de ganhar são grandes. Mas vamos ficar atentos. Os cariocas já viram a mão grande tentar levar uma eleição. E como nesta terra a sabedoria popular diz muito: “Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas”.