Universidade e mercado

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  • quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
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  • Se a universidade não formasse para o mercado deixaria de cumprir parte de sua missão. Ou será que alguém imagina que um jovem dos dias de hoje pode entrar no mundo e se tornar independente sem pisar no chão do mercado? Se lhe virasse as costas, a universidade se desconectaria da vida.

    Mas a universidade não pode formar somente para o mercado, nem principalmente para ele, sob pena de trair a si própria. Forma essencialmente para a vida, a cidade (a polis), a comunidade. Ao fazer isso, cumpre a função de preparar pessoas para conviver criticamente com o mercado, para entrar nele não com o intuito de estimulá-lo a ser sempre mais irresponsável ou de maximizá-lo em benefício próprio, mas para ajudar a submetê-lo a alguma regulação e impedi-lo de colonizar a sociedade.

    Acontece que hoje o mercado é uma extraordinária base de hegemonia, o que significa que sua cultura tende a modelar comportamentos e consciências e a fornecer uma espécie de pauta para instituições, governos, grupos e indivíduos. Por ser assim, o mercado funciona efetivamente como uma fôrma para tudo, portanto também para a universidade. Ele invade o campus universitário de mil maneiras. Mostra-se na expansão do ensino particular em detrimento do ensino público e na fixação de parâmetros mais concorrenciais e produtivistas para a organização da vida acadêmica e a avaliação do mérito científico. Muita coisa na universidade vira então mercadoria e passa a ser calculada como mercadoria: aulas, pesquisas, relacionamentos, currículos. Todos – professores, funcionários, estudantes, dirigentes – são afetados por esse processo, que dissemina complicados traços de egoísmo, desarticulação e corporativismo.

    A estrada não é, porém, de mão única. No fundo, a universidade está mais acossada que formatada pelo mercado. Não está ocupada nem sitiada por ele. Em decorrência, preserva importantes zonas de autonomia e reflexão em seu interior. E é quando seus integrantes ativam e expandem essas zonas – encontrando-se reflexivamente, desenvolvendo o pensamento crítico, buscando interpelar a sociedade real e ajudá-la a crescer – que a universidade diz a que veio. Seria trágico imaginar que professores e estudantes poderiam se deixar levar pela miséria ética e intelectual que deriva inevitavelmente de um mercado deixado a si próprio, descontrolado e irresponsável.

     
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