Carta a Diogo Mainardi
Posted on segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008 by Editor in
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Caro senhor Mainardi, não o leio. Tão pouco sua revista que há muito percebi nada ter a dizer, pois se transformou em um veículo totalmente parcial, propaganda descarada das idéias mais conservadoras, que usa a mentira como sua principal ferramenta. Mas, aqui venho confessar que li as suas duas últimas colunas, e explico os motivos. Na penúltima, desejava entender seus argumentos sobre o tal dossiê italiano, que sua notória empáfia alardeava como definitivo para provar o envolvimento de governo e parlamentares com negociatas da Telecom Italia. No documento, nada vi. Mas na internet, ao longo de toda a semana, uma fartura de análises e as excelentes reportagens de Luiz Nassif aguçaram minha curiosidade por uma resposta sua.Imaginei que ela viesse em sua coluna seguinte, mas nada. Sobre o assunto, as críticas de que o documento foi montado no Brasil (ao contrário de suas afirmações), o fato de que ali nada provava de seus argumentos, a continuada argumentação sobre os seus interesses escusos com Daniel Dantas, tudo ficou sem resposta. Mas, o pior: o conteúdo deste texto contém manifestação clara de racismo, desmedido ódio ao povo brasileiro e hipocrisia histórica.
Todo seu trabalho nesta semana foi escrever 512 palavras para desabafar sua contrariedade em encontrar na saída de seu almoço os participantes de um show de axé na Praia de Copacabana. Para tal, faz um rebuscado e oblíquo raciocínio que o leva a comparar nosso povo ao sentimento que o escritor Elias Canetti teve ao se deparar com a massa que incendiou o Palácio da Justiça em Viena, em 15 de julho de 1927. Mais, faz uma intriga ao crer que ali, como aqui, há algo assemelhado, afirmando que o escritor viu um prenúncio do nazismo. Seu equívoco é grande. Creio que não tenha de fato lido Canetti. Se o fez, não o entendeu. Vamos a um trecho do livro “Massa e poder”, onde o escritor búlgaro faz uma reflexão sobre a massa:
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Somente na massa é possível ao homem libertar-se do temor do contato. Tem-se aí a única situação na qual esse temor transforma-se no seu oposto. E é da massa densa que se precisa para tanto, aquela na qual um corpo comprime-se contra o outro, densa inclusive em sua constituição psíquica, de modo que não atentamos para quem é que nos "comprime". Tão logo nos entregamos à massa não tememos o seu contato. Na massa ideal, todos são iguais. Nenhuma diversidade conta, nem mesmo a dos sexos. Quem quer que nos comprima é igual a nós. Sentimo-la como sentimos a nós mesmos. Subitamente, tudo se passa então como que no interior de um único corpo. Talvez essa seja uma das razões pelas quais a massa busca concentrar-se de maneira tão densa: ela deseja libertar-se tão completamente quanto possível do temor individual do contato. Quanto mais energicamente os homens se apertarem uns contra os outros, tanto mais seguros eles se sentirão de não se temerem mutuamente.
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Fica claro que o temor é todo seu, não de Canetti. Mais. É cínica e mentirosa sua alusão ao episódio como prenúncio do nazismo. Em um bom curso de história, se feito, ensina-se que a Áustria vivia no período uma profunda crise econômica, com massas de trabalhadores nas ruas, em greve, exigindo seus direitos e mudanças no corrupto governo. Foi em uma greve de trabalhadores naquele ano que alguns foram mortos por militantes fascistas, caso levado ao tribunal que os absolveu, gerando fortes protestos. No dia 7 de julho, mais 140 trabalhadores foram mortos na rua pela polícia, um massacre. Fato que explica o ódio das massas que a levou a incendiar o Palácio da Justiça uma semana depois.
Já o seu ódio pelas massas está claro no seguinte trecho:
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Para mim, a massa bestializada que foi assistir ao espetáculo de Claudia Leitte em Copacabana, formada por uma gente embriagada, barulhenta, porca, feia e de pernas curtas, provou apenas que eu preciso sair menos de casa.
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Lembro que uma das características do nazismo é ser uma visão racista, que os levam inevitavelmente a práticas como a eugenia. Seria seu desejo o de esticar as pernas dos brasileiros? Mais uma lembrança para finalizar: o que tem pernas curtas é a mentira. O senhor, que ganha a vida como conservador profissional, deveria ser mais atento com a inteligência de seus leitores. Não demora e estarão percebendo a grande fraude que é o seu pensamento.
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