MARCELO TAS PENSA QUE É ALI KAMEL



LIBERDADE RELATIVA: MARCELO TAS QUER ME PROCESSAR


Por Lola Aronovich, do blog Escreva Lola Escreva
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"Estou indignada, mas vou me esforçar para não parecer tão indignada. Ontem, como vocês viram, publiquei um post mandando o CQC pra PQP. Isso foi no título. No texto em si eu estava muito mais comedida, e expliquei porque é misoginia ter nojo da anatomia feminina (principalmente quando esta anatomia não está a serviço dos homens adultos e héteros, como no caso da vagina no parto e dos seios na amamentação). Por que fiquei tão revoltada? Por uma questão de princípios. Não sou mãe, nunca quis ser mãe, e agora, prestes a completar 44 anos na próxima segunda, definitivamente não serei mãe. Portanto, nunca amamentei. Também nunca fiz aborto, e no entanto sou 100% a favor da legalização do aborto. Assim como não sou lésbica, mas comemorei quando a união homoafetiva passou no Supremo. Não sou negra, mas faça uma piadinha racista perto de mim. E por aí vai. Eu não defendo apenas as causas que me beneficiam diretamente.


Já faz tempo que eu e muitas, muitas pessoas não engolimos as asneiras “politicamente incorretas” (código para “posso falar o que quiser e não aceito ser contestado”) de Rafinha Bastos, Danilo Gentili, e do CQC em geral, entre tantas outras celebridades e seus programas. Mês passado foram dois casos: Rafinha, numa revista, defendendo com todos os dentes piada de estupro (é um favor uma mulher feia ser estuprada, estuprador merece um abraço etc), e Danilo twittando que entende porque os judeus de Higienópolis são contra a construção do metrô — porque, da última vez que entraram num vagão, foram parar em Auschwitz. No segundo caso, a Band exigiu retratação do seu contratado, e Danilo rapidamente tirou o tweet do ar e pediu desculpas. No caso de Rafinha, nada. Parece que não é bacana fazer piada com judeu, mas com mulher, zuzo bem, tá liberado. Afinal, somos apenas 52% da população.

Mas eu me ofendo. Sou feminista desde os 8 anos de idade, e pra mim é ponto pacífico que a mulher tenha liberdade sobre seu corpo. Portanto, quando vem um bando de marmanjo ridicularizar mulheres por amamentarem em público, vejo isso como uma intervenção no corpo da mulher. É dizer que ela não pode amamentar na frente de outras pessoas, que existe apenas um tipo de seio que pode ser exposto. Isso num momento em que os mamaços se intensificam por todo o país, porque as mães não são bobas: elas sabem que vem crescendo no Brasil um conservadorismo que é contra a liberdade feminina (e também contra a liberdade de todas as outras minorias).

Quando Rafinha desdenhou do mamaço (e do beijaço), ele sabia o que estava fazendo. O CQC sabia. E aqui admito que errei numa informação no meu texto, como me informou uma leitora: não foi na TV que esse lamentável diálogo (veja aqui) aconteceu. Foi no CQC 3.0, que passa na internet após o programa televisivo. Mas faz muita diferença? Os participantes são os mesmos. Os temas, pelo que me contam, são os mesmos. O nível de estupidez é o mesmo. Se a gente considerar que integrantes do CQC estão ligados ao programa até quando falam numa revista ou no twitter, imagino que o que eles digam num troço pra internet chamado CQC 3.0 conte como parte do CQC, ou não?

De todo modo, ontem mais ou menos no almoço recebi um email do Marcelo Tas, curto e grosso, querendo saber onde e quando ele se posicionou contra a amamentação. Eu respondi, com a mesma educação que me foi dispensada, que nem ele nem o CQC se opuseram à amamentação, e sim à amamentação em público, como está claro no meu texto. E que eu só citei o Tas uma vez, num parênteses sem referência à amamentação em si, em que eu dizia que é claro que a sociedade gosta de seios (desde que direcionados a sua função única, a de fazer babar os homens) porque a TV não sobreviveria só de Rafinhas ou Marcelos Tas. Mas ele me mandou um outro email, subindo o tom, pedindo retificação imediata, porque ele não se disse contra a amamentação em público, ele não disse nada daquilo, e ele não é misógino. Comentei no Twitter que eu tinha recebido email do Tas e, mais tarde, publiquei nos comentários do meu post esses dois emails curtinhos como resposta dele, como um “outro lado”. Recebi outro email em seguida, em que ele diz: “
Você vai aprender através de um processo por calúnia e difamação a ser mais responsável com o que publica, esta troca de e-mails documenta a minha tentativa de dialogo com voce antes de tomar o caminho da Justiça”. Quer dizer, o que foi isso? Ameaça de processo, certo?

E isso me deixa indignada. O CQC tem o direito sagrado da liberdade de expressão para caluniar todas as mulheres, mas eu não tenho a liberdade para criticá-los? Então me parece que essa tal liberdade é meio relativa. Eu, por exemplo, dona deste humilde bloguinho com suas 90 mil visitas e 150 mil pageviews por mês, jamais ameacei ninguém com um processo. Sou contra a censura. Em todas as minhas críticas aos machistas, misóginos, homofóbicos e racistas de plantão (e são muitas críticas em 3,5 anos de blog com atualizações diárias), nunca exigi que alguém se calasse ou que algo fosse tirado do ar ou da internet. No caso do Rafinha fazendo piada com estupro, não divulguei nem o que seria totalmente legítimo — que passássemos a boicotar os anunciantes do CQC, programa que o emprega.

É engraçado que o Tas queira me processar porque, como lembrou a Srta.Bia, no caso do Danilo, quando a PinkyWainer perguntou ao Tas se ele apoiava o tipo de humor danístico sobre judeus e o metrô de Higienópolis, ele respondeu: Engraçado também que o CQC e demais programas são os primeiros a gritar “Censura! Exijo liberdade de expressão!” quando recebem qualquer crítica, mas são tão rápidos no gatilho pra ameaçar com processo quem os critica.

Eu até entendo. Por coincidência, estava lendo uma matéria da Lúcia Rodrigues na Caros Amigos de maio. Chama-se “As Novas Táticas da Repressão Política” (trecho aqui) e fala justamente sobre como processos jurídicos são movidos para intimidar os ativistas. É o que está em alta atualmente. O MST incomoda? Não basta só jogar a polícia em cima, mete também um processo! Processo é usado pra calar qualquer um que se oponha ao status quo. E Tas e seus colegas de CQC, apesar de posarem de moderninhos, representam, com seus preconceitos ultrapassados, esse status quo. Seu exército de advogados, sempre prontos para defender os integrantes de qualquer processo, também serve para intimidar. Mas se alguém achar que difamei o Tas, peço para que leia o post, do qual não troquei uma só vírgula. Como disse o Bruno, “
se esse post é calúnia, o CQC é formação de quadrilha”.

Tas em nenhum momento criticou o que seus colegas disseram, ou as outras besteiras que vivem dizendo. Mas se irritou porque eu o chamei de misógino. É, fui injusta. Gostaria de acrescentar que, além de considerá-lo um misógino de marca maior, também o vejo como um tucano enrustido e um babaca arrogante. Isso é calúnia e difamação? Ou é a minha opinião?

Se não tenho direito a minha opinião, então, Tas, me processe. Pela demonstração de apoio que recebi ontem, suponho que bastante gente ficará do meu lado, a favor da liberdade de expressão. Acho que na hora muit@s de nós nos levantaremos gritando “Eu sou Spartacus”, sabe? Você deve saber a força de uma mobilização online. Fico no aguardo de você começar uma luta de Davi e Golias contra mim. Ao contrário de você, eu não tenho um dos maiores grupos de comunicação do país me dando apoio. Tenho apenas a minha consciência, e esta precisará de mais de um processo pra ser calada. Eu sou mulher, sou feminista, tenho peito, não tenho medo. Pra mim “aquilo roxo”, balls, cojones, nunca foram sinônimo de coragem. Coragem é enfrentar todo um sistema que insiste em perpetuar preconceitos".
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CENAS DA DITADURA - 02 - 'O MIMEÓGRAFO CLANDESTINO"

Em 1964 um mimeógrafo era uma arma poderosa. Quem tivesse um mimeógrafo teria o que hoje seria similar a um computador conectado na Rede. Talvez até mais poderoso, pois poucos eram os mimeógrafos e seus proprietários.

Havia o mimeógrafo a álcool , que imprimia poucas folhas e dava a maior bandeira pois deixava suas mãos manchadas de tinta azul, denunciando o produtor dos panfletos.

E o mimeógrafo a tinta, este ainda mais raro, com tinta preta, mas que podia rodar até 1.000 documentos se necessário.

Procuramos desesperados por um mimeógrafo e conseguimos um a tinta.

Instalado na minha casa – meu pai estava viajando – marcamos a tarefa de rodar os panfletos da “Frente Revolucionária” para aquela noite mesmo.

À meia noite lá estavam: eu, Oswaldo, Cristiano, Pedro, Olímpio e mais uns dois companheiros.
A época era de clandestinidade. Sigilo. Discrição.

Para manter isto o que fizemos nós, os bravos adolescentes na luta contra a Ditadura? Compramos 3 garrafas de Drink Dreher, uns seis maços de Hollywood sem filtro, e uma vara de pão.
À uma hora da manhã os efeitos da bebida já se faziam sentir: gritávamos, cantávamos, discutíamos, as luzes todas acesas...um escândalo enquanto a manivela do mimeógrafo , rangendo, também cantava a sua “Internacional”.

Ali estavam sobre a mesa , afinal, centenas de Manifestos que seriam distribuídos ao povo brasileiro, que quiçá motivado por nossa ação  derrubaria a Ditadura no dia  posterior.

Às quatro da manhã, estávamos nós ainda lá. Manifestos rodados, descansávamos o descanso dos guerreiros.  Cachaça misturou-se à Coca-Cola – “Samba em Berlim”, e a algaravia aumentava.
Eram bebidas e cigarros. Maconha não. Naquele tempo adolescentes como nós sequer sabiam o uso da Cannabis. Este ficava restrito ainda ao mundo dos marginais da Lapa. Ao temido mundo de Madame Satã, cuja figura mitológica nos apavorava quando de incursões à este bairro, em busca de aventuras eróticas.

Baco estava  solto na orgia leninista da Ilha do Governador. Quando afinal, Jesus talvez, ou mesmo Alziro Zarur, manifestou sua ira e repressão sob a forma da vizinha de baixo, Dona Therezinha, militante da Legião da Boa Vontade, que bateu á porta e nos informou que iria chamar a polícia para impedir aquela baderna que não a deixava dormir.

Imediatamente, de revolucionários destemidos nos transformamos em púberos escolares: “Sim D. Therezinha; desculpe Dona Therezinha: a senhora está certa Dona Therezinha...”.

Deprimidos, o grande bode instalou-se no centro da sala, e sob seu poder castrador dormimos pelas poltronas e chão, para acordarmos no dia seguinte e partirmos para uma interminável reunião de auto crítica pela “forma antirevolucionária” com que nos comportamos.

Próximo: “A BELA FUTURA ATRIZ, ÍCONE INTOCÁVEL”
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O Banco Postal e o jornalismo de “teste de hipóteses”

Na época da discussão da queda de Roger Agnelli da Vale o Estadão produziu uma matéria no qual afirmava categoricamente que o governo tinha fechado acordo com o Bradesco para que aceitasse trocar o comando da Vale pela sua permanência no Banco Postal. 

Segundo a tese formulada pelos sábios articulistas, o Bradesco tinha diversos interesses no governo. Isso é fato, e independe do governo de plantão. Um desses interesses seria o Banco Postal, operado pelo Bradesco de 2001. Como já tinha licitação marcada para operação do Banco Postal a partir de 2012, estava explicada a teia que levou o Bradesco a aceitar a troca de comando da Vale: o Bradesco negociou com o governo a troca de Agnelli pela sua permanência no Banco do Postal. 

Para que a matéria fosse verossímil (não necessariamente verdadeira), foi citado que o Estadão ouviu “dois diretores da Vale e um ex-funcionário, três ministros, quatro parlamentares e dois advogados do sistema financeiro”. Obviamente, tudo em off, ou seja, impossível de ser comprovado. Caso o Bradesco vencesse o leilão, o cenário mais provável naquele momento, a veracidade da informação estaria comprovada. 

O problema é que o Bradesco perdeu o leilão, numa disputa acirrada com o Banco do Brasil e Caixa. Um analista arguto pode dizer agora que ficou comprovada a influência do Estadão: a matéria impediu a consumação do acordo firmado. Desse jeito, jornalismo virou sinônimo de adivinhação, bruxaria ou qualquer outra coisa. Vale qualquer hipótese ao sabor do se "colar colou". É o jornalismo ao estilo “teste de hipóteses”. 

Obs.: O fato curioso desse leilão é que o Banco Itaú fez alarde nas últimas semanas de que iria tomar o Banco Postal do Bradesco, numa proposta tentadora. No leilão, o Banco Itaú apresentou uma proposta com valor de R$ 0,01 centavos, sendo automaticamente desclassificado. Ou seja, o Banco Itaú parece ter feito os seus concorrentes entrarem com proposta inicial mais elevada, não tendo interesse em ganhar o leilão, mas que a proposta vitoriosa fosse mais alta.
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CENAS DA DITADURA - 01 - AVANTE KAMARADAS !!!

Assistindo no canal Viva  a  “Anos Rebeldes”, minissérie da Globo em que participei, vem-me à memória os fatos grotescos,  patéticos, ridículos e humanos que me ocorreram, ou dos quais fui testemunha durante os anos da Ditadura Militar.

O cotidiano simples, que não se reporta a torturas, perseguições...não se reporta à parte trágica desta mancha que deveria e deve ser  motivo de vergonha para as Forças Armadas brasileiras.
Em julho de 1964, morávamos  somente eu e meu pai, num apartamento na Ilha do Governador – Rio de Janeiro. Minha mãe já havia falecido anos antes e eu acabara de completar 17 anos. Militante partidário desde os 16.

 Naquele momento tínhamos uma base de jovens insulanos. Em torno de quase vinte membros, da qual inclusive fazia parte uma bela, formosa, irradiante,  adolescente de 15 anos, que alguns anos mais tarde seria o tesão de todo o País através de uma novela cômica. Fora cooptada por mim para o Partido Comunista, o que me vale até hoje ser  carinhosamente  chamado por ela de “Comandante” (risos) .

Perderamos todo o contato com a direção do Partido. Consegui  um contato com a Polop, no centro da Cidade, no Serviço Nacional de Teatro – SNT,  e formamos o que denominamos FER – Frente de Esquerda Revolucionária, que tinha por objetivo ações conjuntas de resistência democrática.
Elaboramos um manifesto de fundação da Frente e nossa primeira ação prática fora imprimir em mimeógrafo o tal manifesto para em seguida distribuí-lo nas portas de fábricas, colégios, etc...

Que tempos !!! Um panfleto impresso em mimeógrafo, distribuído de mão em mão, ante os tempos da blogosfera de hoje.

Achávamos que com o Manifesto partiríamos para grandes ações e  mobilizações, quanto romantismo e idealismo:  18 jovens adolescentes da Ilha do Governador e 6 ou 7 militantes da Polop em todo o  Rio de Janeiro, diante de todo o aparato militar e policial no Estado...kiakiakia

Não gosto de artigos longos na web. Paro hoje por aqui, e amanhã teremos “A NOITE DO MIMEÓGRAFO CLANDESTINO”,   para estes posts que pretendo diários e rememorativos, revelando como já disse,  o lado esdrúxulo dos trágicos  tempos da Ditadura.
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Evangelicorruralistas

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