Na época da discussão da queda de Roger Agnelli da Vale o Estadão produziu uma matéria no qual afirmava categoricamente que o governo tinha fechado acordo com o Bradesco para que aceitasse trocar o comando da Vale pela sua permanência no Banco Postal.
Segundo a tese formulada pelos sábios articulistas, o Bradesco tinha diversos interesses no governo. Isso é fato, e independe do governo de plantão. Um desses interesses seria o Banco Postal, operado pelo Bradesco de 2001. Como já tinha licitação marcada para operação do Banco Postal a partir de 2012, estava explicada a teia que levou o Bradesco a aceitar a troca de comando da Vale: o Bradesco negociou com o governo a troca de Agnelli pela sua permanência no Banco do Postal.
Para que a matéria fosse verossímil (não necessariamente verdadeira), foi citado que o Estadão ouviu “dois diretores da Vale e um ex-funcionário, três ministros, quatro parlamentares e dois advogados do sistema financeiro”. Obviamente, tudo em off, ou seja, impossível de ser comprovado. Caso o Bradesco vencesse o leilão, o cenário mais provável naquele momento, a veracidade da informação estaria comprovada.
O problema é que o Bradesco perdeu o leilão, numa disputa acirrada com o Banco do Brasil e Caixa. Um analista arguto pode dizer agora que ficou comprovada a influência do Estadão: a matéria impediu a consumação do acordo firmado. Desse jeito, jornalismo virou sinônimo de adivinhação, bruxaria ou qualquer outra coisa. Vale qualquer hipótese ao sabor do se "colar colou". É o jornalismo ao estilo “teste de hipóteses”.
Obs.: O fato curioso desse leilão é que o Banco Itaú fez alarde nas últimas semanas de que iria tomar o Banco Postal do Bradesco, numa proposta tentadora. No leilão, o Banco Itaú apresentou uma proposta com valor de R$ 0,01 centavos, sendo automaticamente desclassificado. Ou seja, o Banco Itaú parece ter feito os seus concorrentes entrarem com proposta inicial mais elevada, não tendo interesse em ganhar o leilão, mas que a proposta vitoriosa fosse mais alta.