Gay Talese, o jornalista e escritor americano, é um grande polemista. Acerta e erra, mas sempre com boas reflexões, um ótimo papo. É o que li no Observatório da Imprensa, de entrevista a Veja.
Faz ótimas observações sobre jornalistas e suas fontes:
Mas faz uma análise parcial sobre a internet:
De fato, é uma grande transformação. E Talese, como tantos, ainda não entendeu o que muda. Antes, um único produto, o nosso jornal escolhido, era lido no café da manhã, em seu cardápio de assuntos selecionados por editores. Hoje, temos uma ampla variedade de fontes, até para as mesmas notícias. Podemos checar a informação, procurar por outras versões. Não temos mais aquela tranquilidade do folhear linear, enquanto a torrada esquentava. A página virou, paciência. Informação agora chega por leitores de feeds, ou em nossa rede social escolhida. Um conhecido no Twitter, ou nem tanto, nos avisa de uma leitura com um link que nos leva a portais noticiosos, blogs, seus comentários. Não é verdade que a internet dificultou acharmos assuntos não procurados. Talvez existam até mesmo mais recursos para tal. Não é raro para algum navegante pela web iniciar uma leitura e viajar por várias, até chegar a algo inesperado. Certamente não é como na calmaria do folhear do antigo diário em papel. Perdemos aqui, ganhamos ali, mudou. Mas a alteração fundamental é que o futuro não mais garante a fidelidade de leitores a um único produto. Perderam os barões da mídia, donos de nosso único “filtro”, expressão recente de Ricardo Gandur, diretor do Estado de S.Paulo.
E para o Brasil há uma data que ficará marcada como emblema da mudança, do fim dos jornais em papel, talvez só percebida para historiadores no futuro: o dia 1º de junho de 2009. Foi quando a Petrobras publicou um anúncio de meia página no jornal O Globo para contestar uma reportagem publicada no jornal um dia antes. Custou quase meio milhão de reais. Poucos dias depois, criou um blog para se defender de várias reportagens publicadas na mídia sobre a empresa, em nítida campanha política. Uma delas, rebatida, acusava a empresa de contratar uma assessoria de comunicação. Custo do contrato? Quase o mesmo que o anúncio publicado em um único dia, apenas para os leitores do Globo.
Entenderão um dia.
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Faz ótimas observações sobre jornalistas e suas fontes:
"Os repórteres que estavam em Washington em 2002 não tinham o ceticismo, o estranhamento necessário. Foram educados nas mesmas escolas que o pessoal do governo. Eles vão às mesmas festas que o pessoal do governo. Seus filhos frequentam as mesmas escolas. Todos nadam na mesma piscina, pertencem ao mesmo clube de golfe, vão aos mesmos coquetéis. São repórteres prontos para acreditar no governo. É assim hoje, e era assim em 2002. Os repórteres estavam prontos para acreditar no governo sem pedir provas, evidências, nada. Por pouco, não acusaram Saddam Hussein de ter patrocinado os atentados de 2001. Eram como um bando de pombos para os quais o governo jogava milho. Os repórteres de hoje cobrem a guerra dentro dos tanques das tropas americanas. É ridículo. Um repórter deve prestar contas ao seu jornal, e não ao coronel que está protegendo a sua vida.
Mas faz uma análise parcial sobre a internet:
"Com as novas tecnologias, e sobretudo com a criação da internet, o público hoje é informado de modo mais estreito, mais direcionado. Na internet, os jovens se informam de modo muito objetivo, no mau sentido. Eles têm uma pergunta na cabeça, vão ao Google, pedem a resposta, e pronto.
(...) Quem lê um jornal impresso lê sobre tudo isso e depois, ao virar a página, lê sobre a mulher do Silvio Berlusconi, depois sobre as chinesas que perderam seus filhos naquele terremoto, depois sobre o desastre do Air France que saiu do Rio para Paris. Enfim, lê histórias que não procurou e, por isso, acaba adquirindo um sentido mais amplo do mundo.
(...) A internet é o fast-food da informação. É feita para quem quer atalho, poupar tempo, conclusões rápidas, prontas e empacotadas.
De fato, é uma grande transformação. E Talese, como tantos, ainda não entendeu o que muda. Antes, um único produto, o nosso jornal escolhido, era lido no café da manhã, em seu cardápio de assuntos selecionados por editores. Hoje, temos uma ampla variedade de fontes, até para as mesmas notícias. Podemos checar a informação, procurar por outras versões. Não temos mais aquela tranquilidade do folhear linear, enquanto a torrada esquentava. A página virou, paciência. Informação agora chega por leitores de feeds, ou em nossa rede social escolhida. Um conhecido no Twitter, ou nem tanto, nos avisa de uma leitura com um link que nos leva a portais noticiosos, blogs, seus comentários. Não é verdade que a internet dificultou acharmos assuntos não procurados. Talvez existam até mesmo mais recursos para tal. Não é raro para algum navegante pela web iniciar uma leitura e viajar por várias, até chegar a algo inesperado. Certamente não é como na calmaria do folhear do antigo diário em papel. Perdemos aqui, ganhamos ali, mudou. Mas a alteração fundamental é que o futuro não mais garante a fidelidade de leitores a um único produto. Perderam os barões da mídia, donos de nosso único “filtro”, expressão recente de Ricardo Gandur, diretor do Estado de S.Paulo.
E para o Brasil há uma data que ficará marcada como emblema da mudança, do fim dos jornais em papel, talvez só percebida para historiadores no futuro: o dia 1º de junho de 2009. Foi quando a Petrobras publicou um anúncio de meia página no jornal O Globo para contestar uma reportagem publicada no jornal um dia antes. Custou quase meio milhão de reais. Poucos dias depois, criou um blog para se defender de várias reportagens publicadas na mídia sobre a empresa, em nítida campanha política. Uma delas, rebatida, acusava a empresa de contratar uma assessoria de comunicação. Custo do contrato? Quase o mesmo que o anúncio publicado em um único dia, apenas para os leitores do Globo.
Entenderão um dia.