O dia em que os jornais brasileiros acabaram

Gay Talese, o jornalista e escritor americano, é um grande polemista. Acerta e erra, mas sempre com boas reflexões, um ótimo papo. É o que li no Observatório da Imprensa, de entrevista a Veja.

Faz ótimas observações sobre jornalistas e suas fontes:

"Os repórteres que estavam em Washington em 2002 não tinham o ceticismo, o estranhamento necessário. Foram educados nas mesmas escolas que o pessoal do governo. Eles vão às mesmas festas que o pessoal do governo. Seus filhos frequentam as mesmas escolas. Todos nadam na mesma piscina, pertencem ao mesmo clube de golfe, vão aos mesmos coquetéis. São repórteres prontos para acreditar no governo. É assim hoje, e era assim em 2002. Os repórteres estavam prontos para acreditar no governo sem pedir provas, evidências, nada. Por pouco, não acusaram Saddam Hussein de ter patrocinado os atentados de 2001. Eram como um bando de pombos para os quais o governo jogava milho. Os repórteres de hoje cobrem a guerra dentro dos tanques das tropas americanas. É ridículo. Um repórter deve prestar contas ao seu jornal, e não ao coronel que está protegendo a sua vida.


Mas faz uma análise parcial sobre a internet:

"Com as novas tecnologias, e sobretudo com a criação da internet, o público hoje é informado de modo mais estreito, mais direcionado. Na internet, os jovens se informam de modo muito objetivo, no mau sentido. Eles têm uma pergunta na cabeça, vão ao Google, pedem a resposta, e pronto.

(...) Quem lê um jornal impresso lê sobre tudo isso e depois, ao virar a página, lê sobre a mulher do Silvio Berlusconi, depois sobre as chinesas que perderam seus filhos naquele terremoto, depois sobre o desastre do Air France que saiu do Rio para Paris. Enfim, lê histórias que não procurou e, por isso, acaba adquirindo um sentido mais amplo do mundo.

(...) A internet é o fast-food da informação. É feita para quem quer atalho, poupar tempo, conclusões rápidas, prontas e empacotadas.

De fato, é uma grande transformação. E Talese, como tantos, ainda não entendeu o que muda. Antes, um único produto, o nosso jornal escolhido, era lido no café da manhã, em seu cardápio de assuntos selecionados por editores. Hoje, temos uma ampla variedade de fontes, até para as mesmas notícias. Podemos checar a informação, procurar por outras versões. Não temos mais aquela tranquilidade do folhear linear, enquanto a torrada esquentava. A página virou, paciência. Informação agora chega por leitores de feeds, ou em nossa rede social escolhida. Um conhecido no Twitter, ou nem tanto, nos avisa de uma leitura com um link que nos leva a portais noticiosos, blogs, seus comentários. Não é verdade que a internet dificultou acharmos assuntos não procurados. Talvez existam até mesmo mais recursos para tal. Não é raro para algum navegante pela web iniciar uma leitura e viajar por várias, até chegar a algo inesperado. Certamente não é como na calmaria do folhear do antigo diário em papel. Perdemos aqui, ganhamos ali, mudou. Mas a alteração fundamental é que o futuro não mais garante a fidelidade de leitores a um único produto. Perderam os barões da mídia, donos de nosso único “filtro”, expressão recente de Ricardo Gandur, diretor do Estado de S.Paulo.

E para o Brasil há uma data que ficará marcada como emblema da mudança, do fim dos jornais em papel, talvez só percebida para historiadores no futuro: o dia 1º de junho de 2009. Foi quando a Petrobras publicou um anúncio de meia página no jornal O Globo para contestar uma reportagem publicada no jornal um dia antes. Custou quase meio milhão de reais. Poucos dias depois, criou um blog para se defender de várias reportagens publicadas na mídia sobre a empresa, em nítida campanha política. Uma delas, rebatida, acusava a empresa de contratar uma assessoria de comunicação. Custo do contrato? Quase o mesmo que o anúncio publicado em um único dia, apenas para os leitores do Globo.

Entenderão um dia.
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Os Equívocos da Política Externa de FHC.


No final de 2007, a leitura do artigo "End of Dreams, Return of History”, escrito pelo pensador neoconservador norte-americano Robert Kagan e publicado na Policy Review (nº 144), levou-me a fazer inúmeras reflexões sobre a inserção internacional do Brasil e sobre alguns equívocos que haviam sido cometidos pelos formuladores da política externa brasileira, ao longo da década de 1990. Pouco tempo depois, o artigo foi ampliado e transformado em livro sob o título de “The Return of History and the End of Dreams”, que acabou sendo o foco de uma excelente matéria do Maurício Dias publicada na “Carta Capital”, em novembro de 2008, que transcrevo ao final desta postagem. Nela, o Cientista Político Wanderley Guilherme dos Santos comenta o livro e faz algumas afirmações bem próximas do que eu havia pensado um ano antes, quando li o artigo. Hoje, ao ler a tradução recém-lançada do livro de Kagan (O Retorno da História e o Fim dos Sonhos, Ed. Rocco, 2009), sinto as minhas convicções iniciais reforçadas: o esvaziamento do Estado brasileiro, a aceitação incondicional da agenda internacional imposta pelos países centrais, na década de 1990, e a adesão acrítica do Brasil ao processo de globalização levada a cabo pelos governos Collor/Itamar e FHC, reduziram bastante as possibilidades de uma inserção mais ativa do Brasil no sistema internacional e de um aumento da projeção mundial do país (Abrindo um breve parêntese, é importante lembrar que Collor e FHC, promoveram um esvaziamento deliberado das funções do Itamaraty, visto que boa parte de nossos diplomatas transformaram esse órgão em um foco de resistência do nacional-desenvolvimentismo). Ao analisar o papel que alguns Estados – que são bem menores (em quase todos os aspectos) que um certo país de grande extensão territorial, situado na América do Sul - desempenham hoje nas relações internacionais, as observações de Kagan – que não falam diretamente sobre o nosso país - nos ajudam a refletir sobre a desproporção existente entre o peso econômico, territorial e populacional do Brasil e o nosso real poder político. Nos últimos anos, com a ascensão de Lula à presidência, o governo brasileiro tem procurado corrigir esta desproporção, buscando recuperar o tempo perdido. No entanto, o estrago feito durante os anos de predominância do paradigma neoliberal é grande e deverá levar algum tempo para ser superado.

Um Erro Histórico de FHC.

Maurício Dias - Carta Capital, nº 522, 19/11/2008

O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos acabou a leitura do livro The Return of History and the End of Dreams (New York, Alfred Knopf, 2008), de Robert Kagan, com uma avassaladora certeza em relação à passagem do tucano Fernando Henrique Cardoso pelo poder (1994 e 2002):“Ele abdicou de parte da soberania brasileira ao assinar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Foi um tremendo equívoco histórico do governo dele.”Robert Kagan é um personagem que transita no coração do poder nos EUA. Scholar neoconservador, um neocon, é respeitado estrategista internacional. Diretor do Projeto Liderança Americana, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, trabalhou no Departamento de Estado de 1984 a 1988 e foi assessor para política externa de John McCain, no Senado.Para Wanderley Guilherme, Kagan lança uma das perguntas fundamentais da política internacional contemporânea: “Pode uma nação se considerar uma grande potência no mundo moderno se não é também um membro do clube nuclear?”“Se o Brasil espera manter sua capacidade de decidir autonomamente o que pode se apresentar como uma ameaça física à sua soberania, que é um ingrediente do próprio conceito de poder de Kagan, precisa refletir sobre essa pergunta. Ela é feita por um dos possíveis estrategistas dos Estados Unidos, independentemente do resultado das eleições presidenciais”, considera Wanderley Guilherme.E, como ele diz, a resposta à pergunta não significa lançar o Brasil “à aventura de produzir artefatos nucleares”. Situação que, certamente, não interessa ao País, nem econômica nem politicamente.Wanderley lembra que a adesão ao tratado ocorreu sem maior discussão com o Congresso e “no limite, sem submeter tamanha abdicação de parte da soberania (a de definir autonomamente o que é uma ameaça ao País) a um plebiscito ou referendo”.Ele explica: “A não adesão nunca significou que o Brasil desejava produzir artefatos nucleares, mas, sim, que não abdicava do direito de decidir, em algum momento, se era de seu interesse nacional produzi-los. O Paquistão e a Coréia do Norte são ouvidos e as cautelosas políticas de todas as nações árabes, em relação a Israel, se devem simplesmente ao fato de que tais nações consideraram de seu interesse de sobrevivência, não a estúpida deflagração de uma suicida corrida armamentista, mas a aquisição de argumentos contra intenções estranhas de desafios aos interesses desses países”.Wanderley Guilherme lembra que “não é insensato pensar” que, caso o Brasil não tivesse assinado o tratado, as referências na Europa e nos Estados Unidos aos direitos brasileiros sobre a Amazônia “não teriam a petulância e sem-cerimônia” que possuem.Além da Amazônia, há, agora, o pré-sal. Confirmadas as expectativas, a soberania brasileira sobre faixas oceânicas é outro tópico com elevado potencial de conflito. Os EUA talvez pensem o mesmo se considerarmos a surpreendente reativação da IV Frota.“Caso alguma ameaça real se concretize, o Brasil ficará diante da alternativa de não ter como se defender ou violar um tratado que livremente assinou. Em certo sentido, esse foi o mais desastroso legado do governo Fernando Henrique Cardoso”, afirma Wanderley Guilherme.A solução para remediar essa herança de FHC é difícil, complicada, exige coragem. A saída é denunciar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, como fez a Coréia do Norte.Esse episódio, por sinal, foi relembrado pelo embaixador Samuel Pinheiro, secretário-geral do Itamaraty. Em 2006, durante o 4º Encontro Nacional de Assuntos Estratégicos, ele disse que “é possível que o Brasil venha a sair do tratado”. Estimulado por um militar presente ao encontro, Samuel Pinheiro lembrou que a Coréia do Norte denunciou o tratado e retirou-se.O Brasil e a Índia eram dois emergentes poderosos que não assinaram o tratado. O Itamaraty o considerava, e ainda considera, discriminatório. Mas, em 1998, FHC entregou os pontos.”
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Desaparecido...

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Já viu processo por causa de apelido?


"- Alô, eu poderia falar com o Fotonaldo?

- Quem tá falando?

- Ana Lúcia, do Jornal Já

- Olha, ele saiu. Tá em pauta.

- Ok, obrigada.

Piada?"


Leia na íntegra em: Jornal JÁ( Por Ana Lúcia Mohr)
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Capítulo II: A censura da SME-RJ a Theodor de Bry.

Em matéria publicada em “O Dia”, em 11/06/2009 (que, por sinal, tem um título bastante tendencioso: “MEC defende livro com tortura que o Rio recolhe”), a Secretária Municipal de Educação do RJ, Cláudia Costin, mudou um pouco as declarações dadas no dia anterior, na Rádio CBN – que comentei em meu último post – e reconheceu que os livros didáticos adotados na rede municipal não são escolhidos pelo MEC, como havia afirmado. Tal escolha, como já dissemos, é feita pelos próprios professores da rede, a partir de uma lista encaminhada pelo MEC, com um conjunto de publicações didáticas avaliadas por especialistas de diversas universidades brasileiras. Mais adiante, a referida matéria também confirma que o livro censurado será substituído por uma apostila elaborada pela SME, que será utilizada até o fim do ano. Porém, algumas questões ficam no ar: 1- Será que a secretária manterá a idéia anunciada anteriormente de produzir um material didático próprio da secretaria, a partir do próximo ano? 2- Se a resposta for afirmativa, surge uma outra pergunta: o que leva um município a arcar com o ônus de produzir material didático próprio (apostilas), se existe uma grande quantidade de livros de qualidade na lista do PNLD, que são distribuídos gratuitamente? Bem, se a SME-RJ, de fato, optar por produzir livros apostilados, a pulga que está atrás da orelha deste humilde escriba virará um enorme elefante. Principalmente se tais apostilas forem feitas pelo Sistema Uno ou pelo Sistema Positivo – clientes do Sr. Paulo Renato de Souza, como bem assinalou o bravo colega do Cloaca News no comentário que fez em meu post anterior – ou pela Editora Abril, com a qual a nobre Secretária tem “vínculos sentimentais”, já que foi vice-presidente da Fundação Victor Civita...
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