Os Equívocos da Política Externa de FHC.


No final de 2007, a leitura do artigo "End of Dreams, Return of History”, escrito pelo pensador neoconservador norte-americano Robert Kagan e publicado na Policy Review (nº 144), levou-me a fazer inúmeras reflexões sobre a inserção internacional do Brasil e sobre alguns equívocos que haviam sido cometidos pelos formuladores da política externa brasileira, ao longo da década de 1990. Pouco tempo depois, o artigo foi ampliado e transformado em livro sob o título de “The Return of History and the End of Dreams”, que acabou sendo o foco de uma excelente matéria do Maurício Dias publicada na “Carta Capital”, em novembro de 2008, que transcrevo ao final desta postagem. Nela, o Cientista Político Wanderley Guilherme dos Santos comenta o livro e faz algumas afirmações bem próximas do que eu havia pensado um ano antes, quando li o artigo. Hoje, ao ler a tradução recém-lançada do livro de Kagan (O Retorno da História e o Fim dos Sonhos, Ed. Rocco, 2009), sinto as minhas convicções iniciais reforçadas: o esvaziamento do Estado brasileiro, a aceitação incondicional da agenda internacional imposta pelos países centrais, na década de 1990, e a adesão acrítica do Brasil ao processo de globalização levada a cabo pelos governos Collor/Itamar e FHC, reduziram bastante as possibilidades de uma inserção mais ativa do Brasil no sistema internacional e de um aumento da projeção mundial do país (Abrindo um breve parêntese, é importante lembrar que Collor e FHC, promoveram um esvaziamento deliberado das funções do Itamaraty, visto que boa parte de nossos diplomatas transformaram esse órgão em um foco de resistência do nacional-desenvolvimentismo). Ao analisar o papel que alguns Estados – que são bem menores (em quase todos os aspectos) que um certo país de grande extensão territorial, situado na América do Sul - desempenham hoje nas relações internacionais, as observações de Kagan – que não falam diretamente sobre o nosso país - nos ajudam a refletir sobre a desproporção existente entre o peso econômico, territorial e populacional do Brasil e o nosso real poder político. Nos últimos anos, com a ascensão de Lula à presidência, o governo brasileiro tem procurado corrigir esta desproporção, buscando recuperar o tempo perdido. No entanto, o estrago feito durante os anos de predominância do paradigma neoliberal é grande e deverá levar algum tempo para ser superado.

Um Erro Histórico de FHC.

Maurício Dias - Carta Capital, nº 522, 19/11/2008

O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos acabou a leitura do livro The Return of History and the End of Dreams (New York, Alfred Knopf, 2008), de Robert Kagan, com uma avassaladora certeza em relação à passagem do tucano Fernando Henrique Cardoso pelo poder (1994 e 2002):“Ele abdicou de parte da soberania brasileira ao assinar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Foi um tremendo equívoco histórico do governo dele.”Robert Kagan é um personagem que transita no coração do poder nos EUA. Scholar neoconservador, um neocon, é respeitado estrategista internacional. Diretor do Projeto Liderança Americana, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, trabalhou no Departamento de Estado de 1984 a 1988 e foi assessor para política externa de John McCain, no Senado.Para Wanderley Guilherme, Kagan lança uma das perguntas fundamentais da política internacional contemporânea: “Pode uma nação se considerar uma grande potência no mundo moderno se não é também um membro do clube nuclear?”“Se o Brasil espera manter sua capacidade de decidir autonomamente o que pode se apresentar como uma ameaça física à sua soberania, que é um ingrediente do próprio conceito de poder de Kagan, precisa refletir sobre essa pergunta. Ela é feita por um dos possíveis estrategistas dos Estados Unidos, independentemente do resultado das eleições presidenciais”, considera Wanderley Guilherme.E, como ele diz, a resposta à pergunta não significa lançar o Brasil “à aventura de produzir artefatos nucleares”. Situação que, certamente, não interessa ao País, nem econômica nem politicamente.Wanderley lembra que a adesão ao tratado ocorreu sem maior discussão com o Congresso e “no limite, sem submeter tamanha abdicação de parte da soberania (a de definir autonomamente o que é uma ameaça ao País) a um plebiscito ou referendo”.Ele explica: “A não adesão nunca significou que o Brasil desejava produzir artefatos nucleares, mas, sim, que não abdicava do direito de decidir, em algum momento, se era de seu interesse nacional produzi-los. O Paquistão e a Coréia do Norte são ouvidos e as cautelosas políticas de todas as nações árabes, em relação a Israel, se devem simplesmente ao fato de que tais nações consideraram de seu interesse de sobrevivência, não a estúpida deflagração de uma suicida corrida armamentista, mas a aquisição de argumentos contra intenções estranhas de desafios aos interesses desses países”.Wanderley Guilherme lembra que “não é insensato pensar” que, caso o Brasil não tivesse assinado o tratado, as referências na Europa e nos Estados Unidos aos direitos brasileiros sobre a Amazônia “não teriam a petulância e sem-cerimônia” que possuem.Além da Amazônia, há, agora, o pré-sal. Confirmadas as expectativas, a soberania brasileira sobre faixas oceânicas é outro tópico com elevado potencial de conflito. Os EUA talvez pensem o mesmo se considerarmos a surpreendente reativação da IV Frota.“Caso alguma ameaça real se concretize, o Brasil ficará diante da alternativa de não ter como se defender ou violar um tratado que livremente assinou. Em certo sentido, esse foi o mais desastroso legado do governo Fernando Henrique Cardoso”, afirma Wanderley Guilherme.A solução para remediar essa herança de FHC é difícil, complicada, exige coragem. A saída é denunciar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, como fez a Coréia do Norte.Esse episódio, por sinal, foi relembrado pelo embaixador Samuel Pinheiro, secretário-geral do Itamaraty. Em 2006, durante o 4º Encontro Nacional de Assuntos Estratégicos, ele disse que “é possível que o Brasil venha a sair do tratado”. Estimulado por um militar presente ao encontro, Samuel Pinheiro lembrou que a Coréia do Norte denunciou o tratado e retirou-se.O Brasil e a Índia eram dois emergentes poderosos que não assinaram o tratado. O Itamaraty o considerava, e ainda considera, discriminatório. Mas, em 1998, FHC entregou os pontos.”
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Desaparecido...

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Já viu processo por causa de apelido?


"- Alô, eu poderia falar com o Fotonaldo?

- Quem tá falando?

- Ana Lúcia, do Jornal Já

- Olha, ele saiu. Tá em pauta.

- Ok, obrigada.

Piada?"


Leia na íntegra em: Jornal JÁ( Por Ana Lúcia Mohr)
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Capítulo II: A censura da SME-RJ a Theodor de Bry.

Em matéria publicada em “O Dia”, em 11/06/2009 (que, por sinal, tem um título bastante tendencioso: “MEC defende livro com tortura que o Rio recolhe”), a Secretária Municipal de Educação do RJ, Cláudia Costin, mudou um pouco as declarações dadas no dia anterior, na Rádio CBN – que comentei em meu último post – e reconheceu que os livros didáticos adotados na rede municipal não são escolhidos pelo MEC, como havia afirmado. Tal escolha, como já dissemos, é feita pelos próprios professores da rede, a partir de uma lista encaminhada pelo MEC, com um conjunto de publicações didáticas avaliadas por especialistas de diversas universidades brasileiras. Mais adiante, a referida matéria também confirma que o livro censurado será substituído por uma apostila elaborada pela SME, que será utilizada até o fim do ano. Porém, algumas questões ficam no ar: 1- Será que a secretária manterá a idéia anunciada anteriormente de produzir um material didático próprio da secretaria, a partir do próximo ano? 2- Se a resposta for afirmativa, surge uma outra pergunta: o que leva um município a arcar com o ônus de produzir material didático próprio (apostilas), se existe uma grande quantidade de livros de qualidade na lista do PNLD, que são distribuídos gratuitamente? Bem, se a SME-RJ, de fato, optar por produzir livros apostilados, a pulga que está atrás da orelha deste humilde escriba virará um enorme elefante. Principalmente se tais apostilas forem feitas pelo Sistema Uno ou pelo Sistema Positivo – clientes do Sr. Paulo Renato de Souza, como bem assinalou o bravo colega do Cloaca News no comentário que fez em meu post anterior – ou pela Editora Abril, com a qual a nobre Secretária tem “vínculos sentimentais”, já que foi vice-presidente da Fundação Victor Civita...
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Um estranho modo de editar

O jornalista Ricardo Gandur, diretor de conteúdo do Grupo Estado de S. Paulo, diz no Observatório da Imprensa que a sociedade não pode prescindir de edição. Buscar informação de forma direta, na fonte, é um perigo se não existir um “filtro”. Explica: “É o mesmo que desinstitucionalizar a imprensa”.

Gandur e outros acreditam na “instituição imprensa” como um valor da sociedade. Não acreditam que esta sociedade esteja manifestando claramente que há algo condenável nessa instituição: a sua patente parcialidade. Um jornal estrangeiro, o El País, colabora com um bom argumento ao noticiar a criação do Blog da Petrobras e a repercussão por aqui. Segundo o espanhol, nossos jornalões “se adiantaram ao trabalho de uma CPI, apurando possíveis irregularidades da empresa”. Ou seja, o adiantar o trabalho da CPI é pautá-la com factóides. Como é o mecanismo? Luiz Nassif é bem objetivo: “Conta-se uma inverdade, cria-se a marola, depois pouco importa se o fato relatado era mentiroso”.

Um exemplo foi o falso grampo no STF, gritado pela revista Veja. Outro, do momento, antecipando a CPI da petrobras, as matérias para denunciar a operação contábil da estatal, acusada de dar calote no tesouro. O assunto foi berrado por dias, mas respondido com precisão no Fatos e Dados: é recurso normal de engenharia fiscal, está dentro da lei, e é utilizado por várias empresas.

Os jornais e seus patronos na oposição ao atual governo não sabiam? Claro que sabiam, é o que diz matéria de César Felício no Valor de hoje:

Estopim para a criação de uma CPI no Senado, a manobra contábil da Petrobras, que deixou de recolher três meses de contribuições, reforçando seu caixa em R$ 4 bilhões este ano, pode ter sido seguida pela maioria dos grandes contribuintes do País. Um estudo preparado pelo economista José Roberto Afonso, consultor do PSDB, com base em dados coletados no gabinete do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que tem acesso ao Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), detalha a queda na arrecadação tributária federal no primeiro quadrimestre deste ano, que é desproporcional à redução do PIB . Enquanto o Produto Interno Bruto teve uma redução de 1,8% no primeiro trimestre de 2009, em comparação com o mesmo período no ano passado, as receitas federais tiveram uma redução de 7,2% de janeiro a abril, percentual que sobe a 8,7%, caso se retirem as receitas previdenciárias. Em termos absolutos, houve uma perda de R$ 11 bilhões.

(…) Os dados mostram que, mesmo depois da Petrobras encerrar a sua compensação tributária e voltar a recolher as contribuições em abril, a arrecadação federal acelerou a queda: de retração de 4,4% em março para 8,8% em abril, quando comparada com igual mês no ano anterior, o que pode ser um indicativo de que os mecanismos de compensação tributária foram seguidos por outras grandes empresas.


Quer dizer, o PSDB e a imprensa sabiam que várias empresas se protegiam nas mesmas decisões. É o "filtro" de Gandur ajudando com a criação de um factóide para a CPI. E se essa CPI precisa da ajuda da imprensa para “antecipar” seus trabalhos, que tal ir buscar uma reportagem do saudoso Aloysio Biondi, na Folha de S.Paulo, em 6 de fevereiro de 1996:

Um estranho modo de governar

Aloysio Biondi

A equipe FHC vem utilizando com extrema agilidade a "carta branca" que ela própria se deu. Em operação realizada na Bolsa de Valores de São Paulo, o BNDES entregou a seis bancos e corretoras 600 milhões de ações da Petrobrás _sem necessidade de os compradores desembolsarem um tostão. O preço combinado por 0,55% do capital de uma das maiores empresas do mundo foi de R$ 60 milhões, mas para pagamento somente daqui a um ano, com juros de 10% ao ano (extremamente simpáticos), mais a Taxa de Juros de Longo Prazo. Além disso, o BNDES "inovou", mudando totalmente as regras do mercado, e autorizou os "compradores" a revenderem as ações (contratos "a termo") a qualquer momento, sem necessidade de os novos compradores pagarem o débito antes de vencido aquele prazo. Isto é, antes de 12 meses não entrará um tostão nos cofres do BNDES, que, segundo um diretor do banco estatal, aceitou essa condição, "que interessa aos investidores, porque não tem necessidade imediata de fazer caixa". Um argumento estranhável, já que o governo FHC está-se desfazendo de estatais e de ações em poder do BNDES exatamente para levantar recursos e, indiretamente, cobrir o falado "rombo" do setor público. Teoricamente, qualquer interessado poderia ter comprado as ações, pois a venda foi feita por meio de leilão em Bolsa. Mas o respectivo edital comunicando sua realização foi publicado somente dois dias antes do leilão.

Cartas marcadas

Toda a operação foi planejada e articulada por seis bancos e corretoras, que passaram a dispor de 0,55% do capital da Petrobrás, sem pagar nada, à espera da alta dos preços das ações. Graças à concordância do BNDES, vão embolsar lucros que deveriam ser do banco estatal, isto é, da coletividade. O BNDES aceitou até cartas de fiança (de outros bancos) em substituição ao ’’depósito de garantia’’ (margem) de 20%, habituais no mercado.

Manipulação

A operação foi acertada com a direção do BNDES há três meses, mas o leilão somente se realizaria quando as ações da Petrobrás chegassem a R$ 100 (o lote de mil ações) na Bolsa, o que aconteceu nos últimos dias de janeiro. Vale dizer, durante 90 dias somente a direção do BNDES e um punhado de instituições financeiras, seus clientes preferenciais e diretores sabiam que as cotações seriam "puxadas" para chegar aos R$ 100.

Privatização

Reunião do Conselho Nacional de Desestatização, no final de janeiro. Discute-se o roteiro de privatização da Rede Ferroviária Federal. O presidente da empresa aponta que o preço estabelecido para a venda está muito baixo, pois foi calculado há dois anos por uma empresa multinacional de consultoria. O representante do BNDES não contesta, mas alega que "essa revisão atrasaria o leilão em pelo menos três meses", e a rejeita. Um patrimônio de bilhões de reais vai ser vendido a preços reconhecidamente subavaliados?

Autoritarismo

Brechas nas leis do Ministério da Fazenda e do Banco Central alimentam a remessa de dólares e sonegação de impostos. Com essas acusações, a Procuradoria Geral da República e a Receita Federal pediram mudanças na legislação, em outubro. O Banco Central se opôs, e acabou ganhando a disputa. Agora, em entrevista, o diretor da área externa do Banco Central, Gustavo Franco, diz que, por meio de telefonemas a banqueiros, proibiu que eles fizessem aquelas operações. No governo FHC, o Brasil não precisa de leis, como ocorre em qualquer sociedade democrática. Autoritarismo confesso.

Caixa preta

O Ministério Público Federal quer processar o ministro da Fazenda e os diretores do Banco Central por causa do socorro a bancos "quebrados". O ponto básico da acusação é totalmente jurídico: houve desrespeito à lei, que proíbe essa utilização de recursos públicos. Em sua defesa, Malan, Loyolla e equipe dizem que fizeram tudo dentro da lei, isto é, autorizados por um "voto" (de resolução) do Conselho Monetário Nacional. O Ministério Público diz que o que vale é a lei.


Reproduzido de www.aloysiobiondi.com.br.

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