Um final mais realista para "A Favorita".

Nas últimas semanas, o que ocupou corações e mentes de norte a sul do Brasil não foi a crise financeira internacional e muito menos o ataque israelense a Gaza. Indiscutivelmente, o que andou na cabeça e nas bocas - sendo a pauta principal das conversas nos salões de beleza, nas praias e nos botequins – foi a expectativa geral sobre qual seria o destino de Flora no capítulo final de “A Favorita”. Por isto, este humilde blog – sempre atento aos mais profundos anseios, sentimentos e aspirações do povo brasileiro – não poderia se omitir diante de uma questão tão relevante – ouso dizer essencial – quanto esta. Assim, venho a público externar a minha decepção, quiçá indignação, com o final da novela, pois, mesmo sabendo que ela é uma obra de ficção e, portanto, dada a licenças literárias, esperava eu que o autor mantivesse um mínimo de compromisso com o que acontece no mundo real. Mas não foi isto que ocorreu, já que rolou um clássico “happy end”, com os bons sendo premiados e os maus castigados. Por conta disto, resolvi soltar a minha verve literária – e jornalística – e apresentar aqui o que seria um final mais realista para a recém-finda novela global.

Depois de aporrinhar o núcleo dos personagens bonzinhos a novela inteira, Flora é presa quando tenta assassinar Donatela e Zé Bob. Porém, devido ao golpe que deu na empresa dos Fontini, ela é levada para a carceragem da Polícia Federal, sob as acusações de sonegação fiscal, evasão de divisas e crime contra a economia popular. Lá, ela conhece um rico banqueiro, preso em uma das operações com nomes esquisitos da PF, que logo se apaixona por ela. Graças à influência deste ilustre personagem, um douto ministro do STF concede habeas-corpus para os dois pombinhos que, ao saírem da prisão, fogem imediatamente para a Europa. Depois de envenenar o namorado – com uma cápsula de cianureto diluída em uma taça de Château Lafite-Rothschild 2003 - e ficar com sua fortuna, Flora faz uma operação plástica na Suíça e retorna ao Brasil com documentos falsos, adquirindo, logo ao chegar, uma grande fazenda nos arredores de Triunfo, rapidamente ampliada com a grilagem de terras públicas. Tendo se tornado uma das maiores produtoras de açúcar e álcool de São Paulo, ela é eleita presidente da seção paulista da UDR (União Democrática Ruralista), filiando-se a seguir ao DEM, partido pelo qual se candidata à prefeitura de Triunfo. Com uma campanha milionária e assistencialista – ela adota a alcunha de “Evita Perón Caipira” – e tendo “Beijinho Doce” como jingle de campanha, Flora se elege com uma votação consagradora. Depois de alguns meses à frente da administração daquela progressista cidade, ela começa a ganhar projeção nacional após ser elogiada em crônicas escritas pelo Jabor e pelo Mainardi que a descrevem como uma “administradora moderna, dinâmica, antenada com os novos tempos e que não compactua com as forças do atraso”. Com isto, ela acaba sendo escolhida como uma das coordenadoras da campanha presidencial do José Serra e no comitê eleitoral acaba conhecendo FHC, o mais cobiçado viúvo do pedaço, com quem inicia um ardente affair. Ah, e para não perder a pontaria, de vez em quando, ela pratica tiro ao alvo contra alguns camponeses sem-terra que insistem em invadir suas propriedades. Afinal, quem é que se importa com esta gentinha?
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“Vergonha para vós! Vergonha para Israel!”

Li os vários comentários no blog da Cora Rónai sobre o texto de sua última coluna no Globo. Há excelentes análises, que denunciam as várias contradições da jornalista em seu perverso e confuso raciocínio. Mas, pouco da polêmica ali se pode imaginar resolvida apenas pela lógica. Como contrapor a insanidade de quem chega ao cúmulo de criticar a mídia como patrocinadora de propaganda pró-Palestina? Ou a soberba dos que se acham o “povo escolhido”, que creditam toda a crítica ao antissemitismo de uma sociedade inculta. Estava refletindo quando li hoje a carta de André Nouschi ao embaixador de Israel na França, datada em 3 de janeiro e traduzida agora no Resistir. Nouschi é judeu, historiador renomado, tem 86 anos e combateu o nazismo na segunda grande guerra. Nada como uma boa esculachada de quem detêm verdadeiramente o saber:


Carta ao embaixador de Israel em França

por André Nouschi [*]

3 de Janeiro de 2009


Senhor Embaixador:

Para vós é shabat, que devia ser um dia de paz mas que é o da guerra. Para mim, e desde há vários anos, a colonização e o roubo israelense das terras palestinas exaspera-me. Escrevo-vos pois a vários títulos, como francês, como judeu de nascimento e como artesão dos acordos entre a Universidade de Nice e a de Haifa.

Não é mais possível calar diante da política de assassinatos e de expansão imperialista de Israel. Vós vos conduzis exactamente como Hitler se conduziu na Europa com a Áustria, a Checoslováquia. Desprezais as resoluções da ONU tal como ele as da Sociedade das Nações e assassinais impunemente mulheres e crianças; não invoqueis os atentados, a Intifada. Tudo isso resulta da colonização ILEGÍTIMA e ILEGAL. QUE É UM ROUBO.

Vós vos conduzis como ladrões de terras e virais as costas às regras da moral judia.

Vergonha para vós: Vergonha para Israel! Cavais a vossa tumba sem vos dar conta. Pois estais condenados a viver com os palestinos e os estados árabes. Se vos falta esta inteligência política, então sois indigno de fazer política e vossos dirigentes deveriam ir para a reforma. Um país que assassina Rabin, que glorifica seu assassino, é um país sem moral e sem honra.

Que o céu e que o vosso Deus leve à morte Sharon o assassino. Haveis sofrido uma derrota no Líbano em 2006. Sofrereis outras, espero, e enviais à morte os jovens israelenses porque não tendes a coragem de fazer a paz.

Como os judeus que tanto sofreram podem imitar os seus carrascos hitlerianos? Para mim, desde 1975, a colonização recorda-me velhas lembranças, aquelas do hitlerismo. Não vejo diferença entre vossos dirigentes e os da Alemanha nazi.

Pessoalmente, vou combater-vos com todas as minhas forças como o fiz entre 1938 e 1945 até que a justiça dos homens destruísse o hitlerismo que está no coração do vosso país. Vergonha a Israel. Espero que o vosso Deus lançará contra os seus dirigentes a vingança que eles merecem. Tenho vergonha como judeu, antigo combatente da II Guerra Mundial, por vós. Que o vosso Deus vos maldiga até o fim dos séculos! Espero que sejais punidos.

André Nouschi
Professor honorário da Universidade.

[*] Historiador, 86 anos, originário de Constantine (Argélia). Foi combatente da France Libre e é autor de um livro sobre o nível de vida das populações rurais de Constantine durante o período colonial até 1919 (PUF, 1961). Este livro foi saudado na altura pelo ministro do Governo Provisório da República Argelina (GPRA) e historiador argelino Ahmed Tafiq al-Madanî como "a gota de água que se oferece ao viajante após a travessia do deserto". Foi professor na Universidade de Tunis e é professor honorário da Universidade de Nice. Algumas obras de André Nouschi .


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