Li os vários comentários no blog da Cora Rónai sobre o texto de sua última coluna no Globo. Há excelentes análises, que denunciam as várias contradições da jornalista em seu perverso e confuso raciocínio. Mas, pouco da polêmica ali se pode imaginar resolvida apenas pela lógica. Como contrapor a insanidade de quem chega ao cúmulo de criticar a mídia como patrocinadora de propaganda pró-Palestina? Ou a soberba dos que se acham o “povo escolhido”, que creditam toda a crítica ao antissemitismo de uma sociedade inculta. Estava refletindo quando li hoje a carta de André Nouschi ao embaixador de Israel na França, datada em 3 de janeiro e traduzida agora no Resistir. Nouschi é judeu, historiador renomado, tem 86 anos e combateu o nazismo na segunda grande guerra. Nada como uma boa esculachada de quem detêm verdadeiramente o saber:
Carta ao embaixador de Israel em França
por André Nouschi [*]
3 de Janeiro de 2009
Senhor Embaixador:
Para vós é shabat, que devia ser um dia de paz mas que é o da guerra. Para mim, e desde há vários anos, a colonização e o roubo israelense das terras palestinas exaspera-me. Escrevo-vos pois a vários títulos, como francês, como judeu de nascimento e como artesão dos acordos entre a Universidade de Nice e a de Haifa.
Não é mais possível calar diante da política de assassinatos e de expansão imperialista de Israel. Vós vos conduzis exactamente como Hitler se conduziu na Europa com a Áustria, a Checoslováquia. Desprezais as resoluções da ONU tal como ele as da Sociedade das Nações e assassinais impunemente mulheres e crianças; não invoqueis os atentados, a Intifada. Tudo isso resulta da colonização ILEGÍTIMA e ILEGAL. QUE É UM ROUBO.
Vós vos conduzis como ladrões de terras e virais as costas às regras da moral judia.
Vergonha para vós: Vergonha para Israel! Cavais a vossa tumba sem vos dar conta. Pois estais condenados a viver com os palestinos e os estados árabes. Se vos falta esta inteligência política, então sois indigno de fazer política e vossos dirigentes deveriam ir para a reforma. Um país que assassina Rabin, que glorifica seu assassino, é um país sem moral e sem honra.
Que o céu e que o vosso Deus leve à morte Sharon o assassino. Haveis sofrido uma derrota no Líbano em 2006. Sofrereis outras, espero, e enviais à morte os jovens israelenses porque não tendes a coragem de fazer a paz.
Como os judeus que tanto sofreram podem imitar os seus carrascos hitlerianos? Para mim, desde 1975, a colonização recorda-me velhas lembranças, aquelas do hitlerismo. Não vejo diferença entre vossos dirigentes e os da Alemanha nazi.
Pessoalmente, vou combater-vos com todas as minhas forças como o fiz entre 1938 e 1945 até que a justiça dos homens destruísse o hitlerismo que está no coração do vosso país. Vergonha a Israel. Espero que o vosso Deus lançará contra os seus dirigentes a vingança que eles merecem. Tenho vergonha como judeu, antigo combatente da II Guerra Mundial, por vós. Que o vosso Deus vos maldiga até o fim dos séculos! Espero que sejais punidos.
André Nouschi
Professor honorário da Universidade.
[*] Historiador, 86 anos, originário de Constantine (Argélia). Foi combatente da France Libre e é autor de um livro sobre o nível de vida das populações rurais de Constantine durante o período colonial até 1919 (PUF, 1961). Este livro foi saudado na altura pelo ministro do Governo Provisório da República Argelina (GPRA) e historiador argelino Ahmed Tafiq al-Madanî como "a gota de água que se oferece ao viajante após a travessia do deserto". Foi professor na Universidade de Tunis e é professor honorário da Universidade de Nice. Algumas obras de André Nouschi .