Um final mais realista para "A Favorita".

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  • sábado, 17 de janeiro de 2009
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  • Nas últimas semanas, o que ocupou corações e mentes de norte a sul do Brasil não foi a crise financeira internacional e muito menos o ataque israelense a Gaza. Indiscutivelmente, o que andou na cabeça e nas bocas - sendo a pauta principal das conversas nos salões de beleza, nas praias e nos botequins – foi a expectativa geral sobre qual seria o destino de Flora no capítulo final de “A Favorita”. Por isto, este humilde blog – sempre atento aos mais profundos anseios, sentimentos e aspirações do povo brasileiro – não poderia se omitir diante de uma questão tão relevante – ouso dizer essencial – quanto esta. Assim, venho a público externar a minha decepção, quiçá indignação, com o final da novela, pois, mesmo sabendo que ela é uma obra de ficção e, portanto, dada a licenças literárias, esperava eu que o autor mantivesse um mínimo de compromisso com o que acontece no mundo real. Mas não foi isto que ocorreu, já que rolou um clássico “happy end”, com os bons sendo premiados e os maus castigados. Por conta disto, resolvi soltar a minha verve literária – e jornalística – e apresentar aqui o que seria um final mais realista para a recém-finda novela global.

    Depois de aporrinhar o núcleo dos personagens bonzinhos a novela inteira, Flora é presa quando tenta assassinar Donatela e Zé Bob. Porém, devido ao golpe que deu na empresa dos Fontini, ela é levada para a carceragem da Polícia Federal, sob as acusações de sonegação fiscal, evasão de divisas e crime contra a economia popular. Lá, ela conhece um rico banqueiro, preso em uma das operações com nomes esquisitos da PF, que logo se apaixona por ela. Graças à influência deste ilustre personagem, um douto ministro do STF concede habeas-corpus para os dois pombinhos que, ao saírem da prisão, fogem imediatamente para a Europa. Depois de envenenar o namorado – com uma cápsula de cianureto diluída em uma taça de Château Lafite-Rothschild 2003 - e ficar com sua fortuna, Flora faz uma operação plástica na Suíça e retorna ao Brasil com documentos falsos, adquirindo, logo ao chegar, uma grande fazenda nos arredores de Triunfo, rapidamente ampliada com a grilagem de terras públicas. Tendo se tornado uma das maiores produtoras de açúcar e álcool de São Paulo, ela é eleita presidente da seção paulista da UDR (União Democrática Ruralista), filiando-se a seguir ao DEM, partido pelo qual se candidata à prefeitura de Triunfo. Com uma campanha milionária e assistencialista – ela adota a alcunha de “Evita Perón Caipira” – e tendo “Beijinho Doce” como jingle de campanha, Flora se elege com uma votação consagradora. Depois de alguns meses à frente da administração daquela progressista cidade, ela começa a ganhar projeção nacional após ser elogiada em crônicas escritas pelo Jabor e pelo Mainardi que a descrevem como uma “administradora moderna, dinâmica, antenada com os novos tempos e que não compactua com as forças do atraso”. Com isto, ela acaba sendo escolhida como uma das coordenadoras da campanha presidencial do José Serra e no comitê eleitoral acaba conhecendo FHC, o mais cobiçado viúvo do pedaço, com quem inicia um ardente affair. Ah, e para não perder a pontaria, de vez em quando, ela pratica tiro ao alvo contra alguns camponeses sem-terra que insistem em invadir suas propriedades. Afinal, quem é que se importa com esta gentinha?
     
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