Perguntas Inconvenientes.

Depois de ler “O Globo” de hoje, duas perguntas vieram-me à cabeça:

1-Por que é que “O Globo” (e os demais tentáculos das Organizações Roberto Marinho) não fez o estardalhaço que está fazendo em relação à não concessão da extradição do ex-ativista da esquerda armada italiana Cesare Battisti, quando o governo brasileiro concedeu asilo político ao ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner?
2-Por que o mesmo “veículo de comunicação” não demonstrou tanta indignação quando o governo italiano negou-se a atender o pedido de extradição do banqueiro Salvatore Cacciola feito há alguns atrás pelo governo brasileiro e hoje trata a não-extradição de Battisti como um grave incidente diplomático?

Quem souber respondê-las estará concorrendo a um ingresso para o grande clássico carioca na segundona-2009, Vasco da Gama X Duque de Caxias, que acontecerá nas dependências do Estádio Romário de Souza Farias, o popular “Marrentão”, naquela simpática cidade da Baixada Fluminense.
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Os protocolos da “sábia” Cora Rónai

A colunista do jornal Globo, Cora Rónai, dedica sua coluna de hoje a tentar uma defesa a sua colega Renata Malkes, que teve seu passado de fervorosa militante sionista revelado pelo blog Cloaca News, no último dia 7. Mas, de forma envergonhada, em nenhum momento cita a companheira de empresa. O que faz é destilar ódio racista para com palestinos, reafirmar a supremacia de Israel e denunciar a internet como um antro de irracionalidade, onde nada pode ser dito a favor de Israel.

Um dos raciocínios da colunista é o de que Israel sofre um problema de marketing. As imagens de uma criança morta são sempre mais impactantes do que as de crianças israelenses escondidas em um abrigo. A isto se deve a “singular percepção de um povo intrinsecamente mau e sanguinário”, escreve.

Mas, de tudo o mais chocante e explícito é a frase:

“Por ser um país desenvolvido cercado de vizinhos em diferentes estágios de “civilização”, Israel paga, guardadas as devidas proporções, o preço que a classe média paga, no Brasil, em relação às comunidades carentes”

Em uma única frase há toda uma clara manifestação racista contra os palestinos, segundo ela ainda não civilizados, e contra os favelados brasileiros, mal comparando as duas realidades, completamente distintas, as unindo em um mesmo ódio de classe.

Goebbels bateria palmas.


Atualizando: Li muitos comentários interessantes no site da Cora Rónai, contestando suas opiniões sionistas. Um recado: não há uma guerra de interpretação de fatos, como alguns comentaristas aqui e ali manifestaram, ela é estritamente ideológica. Parem de chamar de burros os que não entendem que “os judeus são o povo escolhido”. Há uma profusão de análises sobre o que acontece na Palestina, de gente séria, que estuda de verdade a História. É o único lucro que vejo no meio de tantas perdas neste genocídio. Quero sugerir a ótima leitura do Rafael Galvão sobre o tema.
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Guerra é guerra e vice-versa!

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Cesare Battisti: bola dentro do governo brasileiro

Este blog está em júbilo pela decisão do Executivo brasileiro de conceder refúgio político ao ex-militante italiano do PAC (Proletários Armados pelo Comunismo), preso no Brasil desde março de 2007 por pedido de extradição do governo italiano. Aqui, o que em fevereiro do ano passado comentamos. Aqui, o que publicamos de Laerte Braga.

A decisão é a mais correta e segue os princípios do direito brasileiro. Vale publicar aqui a nota divulgada nesta quarta-feira dos advogados de Battisti:

"Somente quem conhece o processo superficialmente é que pode considerar a decisão de conceder refúgio político equivocada.

Quem conhece o processo profundamente, tomando ciência de seus meandros e detalhes, sabe que a decisão de conceder refúgio político a Battisti é a única medida que preserva a Constituição brasileira e a tradição do Brasil em casos semelhantes.

Pelas seguintes razões:

1 - O processo contra Cesare Battisti é fruto de motivação exclusivamente política;

2 - Cesare Battisti não é autor de qualquer dos quatro assassinatos dos quais é acusado;

3 - Battisti foi inicialmente condenado a 12 anos e 10 meses de reclusão e 5 meses de detenção pelos crimes de uso de documento falso, porte de documento falso, posse de espelhos para falsificação de documentos e participação em organização criminosa. Essa condenação transitou em julgado em 20 de dezembro de 1984. Assim, Battisti foi inocentado das quatro mortes cometidas pelo PAC (Proletários Armados pelo Comunismo).

4 - Por quase uma década, Battisti fica exilado no México e depois na França de François Mitterrand, que concedia asilo a todos os militantes italianos nos 1970 que abdicaram da luta armada. Por isso é que foi negado pela França o primeiro pedido de extradição;

5 - Depois de quase 10 anos do trânsito em julgado, o processo contra Battisti foi reaberto na Itália, com base no depoimento de um único preso arrependido (Pietro Mutti).

6 - Os advogados de Battisti no "processo reaberto" foram presos, e o Estado nomeiou outros advogados para defender Battisti. A defesa, no entanto, foi feita com base em procuração falsificada. Exame grafotécnico posterior comprova isso. Sem direito à defesa, o processo resulta em condenação à prisão perpétua sem direito a luz solar. À revelia. Somente com base no depoimento do "arrependido" Mutti. Chegou-se ao cúmulo de condená-lo por dois homicídios ocorridos no mesmo dia, quase na mesma hora, em cidades separadas por centenas de quilômetros (Udine e Milão).

Outros cidadãos italianos, militantes políticos na Itália dos anos 1970 (como Pietro Mancini, Luciano Pessina e Achille Lollo), que estavam no Brasil e cujas extradições foram requeridas pelo governo italiano, tiveram indeferidos os pedidos pelo STF.

7 - Em carta de próprio punho, o ex-presidente da Itália, Francesco Cosiga, admite que as ações do governo italiano para prendê-lo têm motivação unicamente política.

Esperamos que Cesare Battisti possa retomar suas atividades de escritor e iniciar uma nova fase de sua vida. Doravante, sem receio de perseguições políticas.

São Paulo, 14 de janeiro de 2009.

Luiz Eduardo Greenhalgh
Suzana Figuerêdo
Fábio Antinoro
Georghio Tomelin"


Bola fora deu Paulo Henrique Amorim em nota de profundo mau gosto ao afirmar que Lula faz um favor a Berlusconi e a Sarkozy, que querem ver Battisti pelas costas, dizendo ainda que Battisti vai abrir um restaurante em Brasília. Acabou se aliando à direita mais caricata e perversa, como a representada pelo senador Heráclito Fortes (DEM-PI), que comparou esta decisão a de não conceder asilo a dois atletas cubanos no PAN do Rio, em 2007, campanha da direita e sua mídia à época.
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Recorrendo a Camões e Saramago para não falar de Gaza...



Vou deixar os comentários sobre Gaza para outros blogs, que tem feito isto de maneira brilhante e extremamente competente (Grande “Cloaca News”! Valeu, “Abunda Canalha”!), denunciando a farsa da suposta “neutralidade” da mídia na cobertura do conflito (beirou o ridículo “O Globo” de ontem dedicar meia página de seu noticiário internacional a uma manifestação ocorrida em Jerusalém contra o PT, organizada por brasileiros lá residentes, devido ao fato do partido ter definido a ação israelense como “terrorismo de Estado” ). Por isto, pedindo licença ao mestre Veríssimo, vou entrar no clima de “poesia numa hora destas!?”.

Em 1966, José Saramago lançou o livro “Poemas Possíveis”, onde estava uma pequena obra-prima chamada “Fala do Velho do Restelo ao Astronauta” (posteriormente musicada pelo compositor português Manuel Freire) que estabelece uma relação intertextual com a famosa “Fala do Velho do Restelo”, do canto IV de “Os Lusíadas”. Para quem não lembra do clássico de Camões, o Velho do Restelo é aquela que se aproxima das naus de Vasco da Gama, no momento da partida, no porto de Belém e vocifera um feroz discurso contra as navegações, atribuindo a elas todas as desgraças de Portugal e em um dos trechos desta fala, o Velho tece uma crítica contundente ao fato dos portugueses irem tão longe em busca de novos inimigos e conquistas, enquanto o “velho” inimigo batia à porta (numa clara referência à presença moura no norte da África): Deixas criar às portas o inimigo,/Por ires buscar outro de tão longe/Por quem se despovoe o Reino antigo,/Se enfraqueça e se vá deitando a longe? . Pois bem, em meados da década de 1960, em plena corrida espacial – um dos momentos mais “quentes” da Guerra Fria – e com os EUA começando a se afundar no atoleiro do Vietnã, com suas tropas praticando diversos crimes de guerra – uso do Napalm, ataques à populações civis, torturas - , Saramago coloca na boca do venerável ancião uma nova fala, desta vez dirigida aos astronautas que começavam a conquista do espaço (que era, no linguajar da Guerra Fria, a “última fronteira”). A questão é que esta “nova” fala do Velho do Restelo continua impressionantemente atual, mais de quatro décadas depois. E aí, acabamos voltando a Gaza...

Fala do Velho do Restelo ao Astronauta

Aqui, na terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza
Ou talvez da pobreza, e da fome outra vez,
E pusemos em ti nem eu sei que desejo
De mais alto que nós, e melhor, e mais puro.
No jornal soletramos, de olhos tensos,
Maravilhas de espaço e de vertigem:
Salgados oceanos que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
(E as bombas de napalme são brinquedos),
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome.

José Saramago, “Poemas Possíveis”, 1966.
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