ANÁLISE DA ALIANÇA PT-PSDB (PIMENTEL-AÉCIO) EM BELO HORIZONTE

Existe algo ainda a ser explicado na aliança entre Pimentel e Aécio. Ou será uma aliança de Lula e Aécio? A tese de apoio recíproco não se sustenta, pois o PT terá candidato presidencial em 2010. Alguém duvida disso? O PT comanda a capital desde 1993. Como tem uma gestão bem avaliada, a exclusão de seu nome da cabeça de chapa não tem o mesmo significado que a exclusão do PSDB. O único candidato competitivo do PSDB é Eduardo Azeredo, e seu nome já estava fora do páreo. O PT entra na aliança entregando espaços políticos e o PSDB entra na mesma aliança ocupando parte desses espaços. É assim mesmo, o PSDB ganha e o PT perde. E o PSB ganha de bandeja uma prefeitura importante.

A proposta de aliança PT-PSDB daria de forma indireta, na medida que o candidato seria do PSB com vice do PT. O PSDB seria contemplado com a futura participação no governo municipal. A idéia é de que o PSB seria um partido neutro, e com ligações com o PT. Será? É claro que o PSB é da base de sustentação do governo federal e historicamente tem ligações próximas com o PT. Na primeira administração petista, a aliança PT-PSB levou Patrus Ananias à prefeitura. Na eleição seguinte, o vitorioso foi Célio de Castro (PSB), com o PT ocupando os principais postos. Uma disputa interna dentro do PSB levou Célio de Castro e seu grupo a filiar ao PT, tendo sido reeleito em 2000 com Pimentel como vice. Após a saída do grupo de Célio de Castro do PSB, os caminhos dos dois partidos na capital nem sempre foi de convergência, como a candidatura oposicionista do ex-goleiro do Atlético de João Leite (PSB) em 2004.

Uma versão recorrente dentro do PT é que o PSDB aderiu à aliança que governa a cidade desde 1993। José Dirceu defendeu esta tese. Outros petistas foram na mesma linha. Não há nenhuma semelhança entre a aliança entre Patrus e Célio (PT-PSB) vitoriosa naquele ano e a aliança de agora. E como mostrei, não se pode dizer que há uma aliança entre PT-PSB desde 1993. Antes mesmo de 2000, o PSB não figurava mais entre os principais partidos da base de apoio do governo municipal. Na atual administração, isso fica mais evidente. A aliança torna protagonista o PSB, deixando de lado os partidos principais da base de sustentação do governo municipal. Perde o PT e seus aliados no município. Ganham o PSDB e o PSB. É o jogo.

Mas a base de sustentação do prefeito e também do governo federal em Minas saiu aranhada. O PMDB, PR, PTB, PRB e outros aliados importantes não aceitam a imposição da aliança pelo prefeito e o governador, bem como parcelas do PT mineiro e municipal. Estariam contra a aliança (ou pelo menos contra o modelo proposto da aliança) os ministros Patrus Ananias, Luiz Dulci e Hélio Costa. E também o vice-presidente José Alencar e presidente do PT mineiro Reginaldo Lopes. Para não dizer de Ricardo Berzoini, presidente do PT. Com a interferência do presidente Lula, o esforço de aglutinação de todas as forças políticas na candidatura de unidade deve ocorrer, mas é ilusão imaginar que não há feridas. A base governista em Minas ficou dividida, enquanto reina o governador mineiro.
O candidato escolhido, Márcio Lacerda, não tem história política com a capital mineira nem mesmo com o PSB de Belo Horizonte. Como bem disse o ministro Patrus Ananias, ninguém em BH conhece o candidato, suas idéias ou projetos para a cidade. É um estranho na política da capital mineira. Foi uma escolha do governador de Minas com o prefeito Fernando Pimentel. Sua filiação ao PSB se deu unicamente para o projeto político do prefeito e do governador. O risco é os descontentes unirem em torno de uma candidatura aceitável, o que poderia ser um teste para os limites da transferência de votos.

O óbvio seria buscar um nome dentro do PSB que seria aceito pelos dois partidos, não apenas por alas do PT ligadas ao prefeito e o PSDB. Com certeza, a ligação de Márcio Lacerda é bem maior com o Aécio e o PSDB que com o PT. Nesse sentido, justifica-se o temor de alas do PT de ficar fora (ou sub-representado) da participação do futuro governo municipal. O PT corre o risco de entregar uma prefeitura importante, bem avaliada, sem ao menos disputar a eleição. Se o partido não tiver participação importante na hipotética administração, poderá ter dificuldade em eleições futuras. O risco é real. E tem precedentes na relação de alianças envolvendo o PT e PSB.

Uma forma de garantir que o partido como um todo seja contemplado é buscar um nome mais próximo ao partido, como da ex-reitora da UFMG Ana Lúcia Gazzola. É também um nome que tem ligação com a cidade, bem como é próxima do governador mineiro. Porém, a indicação da professora esbarra na resistência do prefeito petista, em razão de sua proximidade com o ministro Patrus Ananias. Ou seja, é uma disputa política dentro do PT. O que está em jogo é a escolha do candidato a governador em 2010.

Uma outra forma de resolver o impasse e unificar o PT municipal seria a candidatura do próprio ministro Patrus Ananias. Ele que deu início à gestão petista no município não sairá porque têm outros projetos políticos. Oficialmente não sairá porque assumiu o compromisso com o governo Lula quando aceitou continuar no governo federal. Mas isso é apenas uma parte da explicação. O ministro procura manter-se na mira como presidenciável e também cogita o governo mineiro, da mesma forma que seu colega petista Fernando Pimentel. Ser candidato a presidente está ainda muito distante, mas caso outros candidatos do partido não emplaquem e Serra seja candidato pelo PSDB, Patrus torna-se uma boa opção para o PT, podendo unir Minas em torno de seu nome. E reforça suas pretensões com relação ao Palácio da Liberdade.

A política é mesmo cheia de surpresas. Há poucos anos atrás, Pimentel não existia politicamente. Com o apoio do grupo do ministro foi vice-prefeito e depois prefeito da cidade. Porém, suas ambições políticas com mira no governo estadual o levaram a distanciar de Patrus Ananias e também do ministro Luiz Dulci, e trilhar um caminho próprio. Resta saber até que ponto sua aliança municipal excluindo parcelas importantes do PT será útil para obter a indicação do partido em 2010. Sabe-se que tanto o PT estadual como o PT nacional resiste ao modelo de aliança. O partido aceita uma aproximação com o PSDB, inclusive uma aliança entre os partidos, porém desconfiam da aliança na forma que está sendo feita.

Por que não lançar uma aliança com o PT na cabeça da chapa e o PSDB de vice? A resposta é simples. Os dois partidos são adversários no município. O PSDB sempre foi e continua sendo oposição à administração petista de Belo Horizonte. Da mesma forma que o PT é da administração de Aécio no governo estadual. Se não há proximidade entre os partidos no município, mas somente bom relacionamento administrativo (que também existe entre Lula e Serra em São Paulo), fica difícil construir um entendimento para uma aliança. Não há qualquer semelhança com a aliança do petista Jacques no governo baiano.

O PSB surge como a salvação. A chamada tese de aliança indireta. É uma tese ruim, pois camufla as diferenças não só de projeto como as disputas de espaços de poder. Além disso, enquanto o PSB não tem qualquer relevância na administração municipal, o mesmo não ocorre no governo estadual. A idéia de partido neutro para sacramentar a aliança não é verdadeira. A proximidade entre PSB e PSDB em Minas Gerais, nos dias atuais, é bem maior que entre PT e PSB. E o candidato escolhido não foge à regra. Isso só reforça o argumento de setores do PT.

Como a aliança parece ter sido resultado de uma costura entre Aécio, Lula e Pimentel, ou seja, tem as digitais do presidente, torna-se mais complexa a análise de suas conseqüências. O presidente pode querer fortalecer Aécio, mas não a ponto de dividir sua base política. A estratégia do presidente tem sinal claro: fomentar a disputa política entre os presidenciáveis tucanos. Só que algo na aliança pode ter fugido de seu controle: a disputa dentro do PT mineiro colocando em lados opostos o prefeito e seus ministros. Nesse sentido, o prefeito pode ter isolado na aliança políticos da base política do presidente no Estado simplesmente por estarem próximos do ministro Patrus Ananias. Assim, a aliança provoca perdas no campo lulista em Minas.

A ausência de nomes fortes do PT – os ministros Patrus e Luiz Dulci não aceitam concorrer –, o partido fica sem condições de vetar a aliança nos diretórios estadual e nacional। Embora isso não esteja descartado. Nessa queda de braço, o prefeito pode sair vitorioso no primeiro round. Mas deverá colaborar para desintegrar precocemente a base política do governo Lula em Minas Gerais. Não dá para se fazer uma omelete sem quebras os ovos. Na política, a regra também vale.

Entre os ganhos e perdas, Aécio Neves obteve sua vitória política particular. Mesmo que a aliança não prospere, o governador mineiro dividiu a oposição política e lançou ares de conciliador para a sua virtual candidatura presidencial. Marcou pontos importantes em sua batalha dentro do PSDB. Uma jogada de mestre. Nesse caso, o governador mineiro saiu-se vencedor. Um possível perdedor é o ministro Patrus Ananias. Outro é José Serra. Só que não há garantias de que Pimentel seja também vencedor. Este precisará esperar 2010.
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DATAFOLHA: DISPARA A REJEIÇÃO AO PREFEITO CÉSAR MAIA

Ao completar sete anos e três meses como governante da cidade do Rio de Janeiro e, em meio à crise na área de saúde que atinge a segunda maior cidade do país, Cesar Maia (DEM) vê sua popularidade atingir o menor índice desde o início de seu segundo mandato, em 2001.

Maia obteve sua maior aprovação em julho de 2006 (37%), alcançando 33% em novembro de 2007 e, hoje, a sete meses do processo sucessório, 25% dos entrevistados avaliam seu governo como ótimo ou bom। Também diminuem os que consideram seu desempenho regular, de 35% no final do ano passado para 30% agora.


A queda na aprovação de Maia reflete-se diretamente na parcela dos que, atualmente, avaliam seu governo como ruim ou péssimo: 43%, doze pontos percentuais a mais que o verificado há quatro meses (31%)। A piora na imagem de Maia acontece durante grave crise na área da saúde. Vale lembrar que, ao final do primeiro mandato como prefeito do Rio de Janeiro, em dezembro de 1996, cerca de cinco em cada dez cariocas (52%) consideraram sua gestão como ótima ou boa. Em uma escala de zero a dez, Maia obtém nota média de 4,6, a menor desde maio de 2006. Vale notar que 17% atribuem nota zero ao prefeito, enquanto 19% atribuem-lhe cinco.

A reprovação ao atual prefeito da capital carioca cresce proporcionalmente conforme aumenta a faixa etária, a escolaridade e a renda familiar mensal. Enquanto 29% entre os que têm entre 16 a 24 anos avaliam atualmente seu governo como ruim ou péssimo, esse percentual alcança 42% entre os que têm 25 a 34 anos, 47% entre os de 35 a 44, e chega a 51% entre os que têm 45 anos ou mais. Entre os mais escolarizados, a reprovação ao prefeito atinge 50%, contra quatro em cada dez (41%) entre os que estudaram até o ensino médio. Já, aproximadamente 38% dos que declaram renda familiar até cinco salários mínimos reprovam-no, parcela que é de 50% na faixa de cinco a dez salários mínimos, atingindo 63% entre os que têm maior renda (acima de dez salários mínimos). Não há diferenças significativas de aprovação quando se observa o sexo dos entrevistados.

Comentário do blogueiro:

A crise no sistema de saúde do município do Rio de Janeiro é apenas um dos sintomas mais evidentes do desgoverno municipal. Mas demonstra que o país precisa urgentemente de uma Lei de Responsabilidade Sanitária, proposta do ex-ministro Humberto Costa (PT). Estranhamente, por uma razão qualquer, com a queda do ministro simplesmente a proposta não entrou na pauta política. É uma pena, pois milhões de brasileiros esperam por um atendimento melhor.

Atualmente, a maior responsabilidade no financiamento à saúde racai sobre o governo federal, mas este não gerencia as ações de saúde na ponta. É o município o principal ator nesse processo. Como não há definição clara das responsabilidades, prefeitos como César Maia simplesmente ignoram seu papel no Sistema Único de Saúde - SUS. Fogem de suas responsabilidades. Sem contar nos prefeitos de cidades do interior que por omissão não investem recursos no atendimento à saúde, apenas enviam pacientes para as grandes metrópoles com ambulâncias compradas com dinheiro federal ou estadual, em licitações municipais claramente direcionadas.

Com uma avaliação dessa, torna-se difícil o prefeito emplacar a candidatura da deputada federal Solange Amaral (DEM). Por outro lado, a crise no sistema de saúde carioca fortalece a candidatura de Jandira Feghalli (PC do B), historicamente ligada à questões envolvendo saúde. Fernando Gabeira (PV), que não é bobo, captou de início a mensagem e colocou a saúde como sua prioridade emergencial. Ou seja, a saúde tem espaço garantido na agenda dos candidatos a prefeito do Rio de Janeiro. Isso é bom. A população principalmente mais pobre e dependente do SUS espera por melhorias na saúde a algum tempo. É hora de acordar.
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POLÊMICA: PARA COMPREENDER A FORÇA DE LULA

Está na PNAD a explicação para a popularidade do presidente, que intriga mídia, direita e parte da esquerda. País tornou-se menos desigual, em múltiplos sentidos. Chamar os avanços alcançados de "assistencialismo" não ajuda a entender a realidade, nem a reivindicar mudanças mais profundas.

Publicado originalmente no Le Monde Diplomatique

Ladislau Dowbor*

É tempo de fazer as contas. Com a deformação geral dos dados pelo prisma ideológico da grande mídia, torna-se necessário buscar nas fontes primárias de informação, nos dados do IBGE, como andam as coisas. A reeleição mostrou forte aprovação por parte dos segmentos mais pobres do país a Lula, mas os números reais sobre a evolução das condições de vida do brasileiro surgem com o atraso natural dos processos de elaboração de pesquisas. O IBGE publicou a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio de 2006, e também os Indicadores Sociais dos últimos 10 Anos. Vale a pena olhar a imagem que emerge: ela explica não só os votos, como o caminho que temos pela frente.


O principal número é, evidentemente, o aumento de 8,7 milhões de postos de trabalho no país durante o último governo. Isto representa um imenso avanço, pois se trata aqui de uma das principais raízes da desigualdade: grande parte dos brasileiros se vê excluída do direito de contribuir para a própria sobrevivência e para o desenvolvimento em geral. Entre 2005 e 2006 o avanço foi particularmente forte, com um aumento de 2,4%, resultado da entrada no mercado de trabalho de 2,1 milhões de pessoas. A expansão do emprego feminino é particularmente forte (3,3,%), enquanto o dos homens atingiu 1,8%. A formalização do emprego é muito significativa: 3 em cada 5 empregos criados são com carteira assinada. Atingimos assim, em 2006, 30,1 milhões de trabalhadores com carteira assinada, um aumento de 4,7% em um ano. O avanço é pois muito positivo, mas num quadro de herança dramático, que o próprio IBGE aponta: “mais da metade da população ocupada (49,1 milhões de pessoas) continuava formada por trabalhadores sem carteira assinada, por conta-própria ou sem remuneração [1]

O segundo número, que ocupou as manchetes de todos os jornais, é a elevação dos rendimentos dos trabalhadores em 7,2%, entre 2005 e 2006. É um número extremamente forte, e coerente com os anos anteriores: a remuneração dos trabalhadores vinha caindo desde o final dos anos 1990, e começou a se elevar em 2003, desenhando desde então uma curva ascendente. Este é um número de grande importância, pois a desigualdade é, de longe, o nosso problema número um. É um número que reflete os avanços na criação de postos de trabalho vistos acima, e também os avanços no salário mínimo.

O salário mínimo teve um ganho real de 13,3% em 2006 relativamente a 2005, o que representa um salto fortíssimo para os trabalhadores que estão no que se chama hoje de “base da pirâmide” econômica. Consultas com pessoas que trabalham com as estatísticas da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) do Dieese/Seade sugerem que 26 milhões de trabalhadores foram abrangidos por este aumento. Além disto, como o salário mínimo é referência para o reajuste das aposentadorias, outras 16 milhões de pessoas teriam sido beneficiadas.

Aumento consistente nos salários e avanços no combate à desigualdade – inclusive entre as regiões

Um comentário é necessário aqui: um aumento de cem reais para uma família que tem um rendimento de, por exemplo, 4 mil reais não é significativo. No entanto, cem reais representam, para pessoas que têm de sobreviver com algumas centenas de reais por mês, um imenso alívio, a diferença entre poder ou não poder comprar melhor alimento ou um medicamento para a criança. A utilidade marginal da renda, em termos de impacto para o conforto das famílias, vai diminuindo conforme a renda aumenta. Do ponto de vista econômico, maximizar a utilidade dos recursos do país envolve o aumento da renda dos mais pobres. Isto vale tanto no aspecto social, em termos de satisfação gerada, como em termos de geração de demanda e conseqüente dinamização das atividades econômicas. O pobre não faz especulação financeira, compra bens e serviços. Tirar as pessoas da pobreza não é caridade, é bom senso social, e bom senso econômico.
Outra forma de a PNAD avaliar a evolução dos rendimentos já não é por trabalhador, na fonte de remuneração, e sim por domícilio, no ponto de chegada. Isso permite agregar as várias formas de remuneração na família. O rendimento médio domiciliar aumentou em 5,0% em 2005, e em 7,6% em 2006, o que é coerente com os dados de rendimento de trabalho, e torna os dados muito confiáveis, porque convergem. É bom lembrar, para quem tem menos familiaridade com este tipo de números, que um aumento de 7% ao ano significa que o rendimento dobra a cada 10 anos.
Detalhando as cifras acima, vemos outras coisas interessantes. O rendimento no trabalho das pessoas ocupadas, que na média nacional cresceu 7,2%, subiu 6,6% no Sudeste, mas avançou 12,1% no Nordeste. No caso do rendimento dos domicílios, o aumento médio nacional, conforme vimos, foi de 7,6%. Mas no Sul e no Sudeste, foi de 7%, enquanto no Nordeste foi de 11,7%. Ou seja, não só tivemos um forte avanço do conjunto, como a região mais atrasada, cujo avanço é mais importante para o reequilibramento nacional, teve o avanço mais acelerado. Em outros termos, a desigualdade regional está, pela primeira vez, sendo corrigida, e com números muito significativos. Relevantes, sem dúvida, mas ainda muito insuficientes: O rendimento médio domiciliar nordestino representava, em 2005, 52,8% do rendimento do Sudeste, passando para 57,8% em 2006. Um grande avanço, mas um imenso caminho pela frente.
Outro eixo importante de desigualdade está ligado à diferença de nível de remuneração entre o homem e a mulher. Os dados mostram a evolução seguinte: a remuneração da mulher, que equivalia a 58,7% da do homem, em 1996, pulou para 63,5% em 2004; 64,4% em 2005 e 65,6% em 2006. Nota-se uma lenta progressão, partindo de um nível que já é em si extremamente desigual. Ou seja, aqui também a direção é positiva, mas precisamos de muito mais.
Mulher é quase 50% da força de trabalho e estuda mais – porém, arca com afazeres domésticos
A situação da mulher é particularmente afetada pela desagregação da família. Estas cifras extremamente duras aparecem no documento do IBGE sobre Indicadores Sociais 1996-2006. O número de famílias caracterizadas como “mulher sem cônjuge com filhos” passou de 15,8 milhões em 1996 para 18,1 milhões, em 2006. Como há um pouco menos de 60 milhões de famílias no país, isto significa que quase um terço das famílias são carregadas pelas mães — que se não trabalham, não têm renda, e se trabalham, não têm como cuidar os filhos. Trata-se aqui evidentemente de uma situação dramática quando associada à pobreza, e constitui um alvo central do programa Bolsa-Família, cujo sucesso se deve em grande parte também ao fato de as mulheres gerirem melhor os recursos obtidos. Aos que criticam os programas redistributivos, é bom lembrar um outro dado da PNAD, apontando que “cerca de 31% das famílias em que a mulher era a pessoa de referência viviam com rendimento mensal até meio salário mínimo per capita.” [2] Do lado positivo, é importante o dado que a PNAD nos traz, de que as mulheres estão progredindo rapidamente em termos de nível de estudos: 43,5% delas concluíram o ensino médio (11 anos ou mais de estudos), enquanto apenas um terço dos homens possuía este grau de instrução. As mulheres investem mais também no estudo superior, onde 55,3% eram mulheres em 1996, e 57,5% em 2006. Numa sociedade onde o conteúdo de conhecimentos nos processos produtivos se eleva rapidamente, isto é fortemente promissor.
A presença feminina na força de trabalho continua crescendo: são 43 milhões, num total de cerca de 90 milhões de pessoas ocupadas. No entanto, entre trabalho, estudo e cuidados com a família, além de estar freqüentemente sozinhas na chefia da família, a sobrecarga está evidentemente no limite do suportável. A Síntese de Indicadores Sociais 1996-2006 comenta que “com relação à jornada média semanal despendida em fazeres domésticos, verifica-se que as mulheres trabalham mais que o dobro dos homens nessas atividades (24,8 horas).”
Ou seja, nesta outra dimensão tão importante da desigualdade, a que se materializa na desigualdade de gênero, constatamos avanços na remuneração relativa, avanços nos estudos, avanços na força de trabalho, mas tudo ainda enormemente injusto para uma visão de conjunto que temos caracterizado, em outros trabalhos, de “reprodução social” no sentido amplo. Os desequilíbrios estruturais herdados são simplesmente muito grandes.
Educação: um mundo à parte, marcado pelo avanço nos anos de estudo e por... analfabetismo alarmante

Outra dimensão que vale a pena comentar é que tanto a PNAD 2006 como a Síntese de Indicadores Sociais 1996-2006 documentam amplamente, são os avanços no nível da educação. Para já, é um mundo: no Brasil, são 55 milhões de estudantes, 43,7 milhões na rede pública, e 11,2 milhões na rede privada. Se incluirmos professores e sistema de apoio administrativo, temos aqui quase um terço da população do país. A expansão quantitativa maior deu-se na gestão anterior à do presidente Lula, mas os avanços continuam fortes.
Em particular, com a lei 11.274 de 6 de fevereiro de 2006, o ensino fundamental expande-se para 9 anos, com início aos 6 anos de idade. A taxa de escolarização no grupo de 5 e 6 anos aumentou em 3% em um ano. O número dos que não freqüentavam a escola nesta idade caiu de 35,8% em 1996, para 23,8% em 2001, e para 14,7% em 2006. Na classe de 7 a 14 anos, a queda dos que não freqüentavam a escola foi de 8,7% para 3,5% e 2,3% respectivamente. Para a classe de 15 e 17 anos, foi de 30,5%, 18,9% e 17,5% respectivamente. O número médio de anos de estudo completos das pessoas de 10 anos ou mais de idade foi de 6,8 anos em 2006, um aumento de 3% relativamente ao ano anterior.
No ensino superior, houve um aumento muito forte, de 13,2%, entre 2005 e 2006. Ele deve-se dominantemente à expansão do ensino superior privado, e o papel público de redução das desigualdades aparece claramente na distribuição entre os dois sistemas: “Enquanto nas Regiões Norte e Nordeste 41,9% e 36,6% dos estudantes de nível superior freqüentavam a rede pública, nas Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, estes percentuais eram de 18,2%, 22,1% e 26,5%, respectivamente” [3].
Aqui ainda, a direção é correta, mas o atraso a recuperar é imenso. Ao analisar a escolaridade da população ocupada, a PNAD constata que as pessoas com 11 anos ou mais de estudo, eram apenas 22,0% em 1996, 28,9% em 2001 e 38,1% em 2006. A progressão é forte, e se deve particularmente ao esforço educacional das mulheres ocupadas, entre as quais 44,2% tinham escolaridade de 11 anos ou mais, em 2006. Na outra ponta, temos 15 milhões de analfabetos de mais de 10 anos (redução de 10,2% para 9,6%). O analfabetismo funcional atingia 23,6% das pessoas com mais de 10 anos (redução de 1,3% ponto percentual), sendo que no Nordeste atingia 35,5%. Evidentemente, está entre as duas pontas a imensa massa dos sub-qualificados do país.
Um caminho: reivindicar a ampliação das políticas sociais — ao invés de tentar desmoralizá-las
Se resumirmos um pouco a evolução, constatamos uma forte expansão do emprego (particularmente do emprego formal), um aumento da renda do trabalho em geral (e em particular no Nordeste), uma progressão significativa da escolaridade e da remuneração feminina, um forte aumento da população ocupada com 11 ou mais anos de estudo, além da redução do trabalho infantil e outras tendências que não temos espaço para comentar aqui. Estes números são coerentes entre si e convergem para uma conclusão evidente: está se fazendo muito, os resultados estão aparecendo.
A apresentação destas políticas como “assistencialistas” não tem muito sentido: os 12,5 bilhões de reais para a agricultura familiar constituem um apoio à capacidade produtiva. Os R$ 8,5 bilhões do Bolsa-Família constituem um excelente investimento na próxima geração que será melhor alimentada – além do impacto essencial de inserção deste nosso quarto-mundo nas políticas públicas organizadas do país. O aumento do salário mínimo, junto com os outros programas mencionados, começa a dinamizar a demanda popular e a estimular pequenas atividades produtivas locais [4].
Ou seja, estaremos talvez atingindo um limiar a partir do qual a renda gerada na base da sociedade começa a se transformar num mecanismo auto-propulsor. Para isto, teremos de avançar muito mais. O que está em jogo aqui não é apenas ajudar a massa de excluídos deste país. É gerar uma dinâmica em que renda, educação, apoio tecnológico, crédito e outras iniciativas organizadas de apoio permitam realmente romper as estruturas que geraram e reproduzem a desigualdade. A pressão sobre este governo é positiva, quando se leva em consideração os avanços realizados, e se reivindica a ampliação das políticas, não a sua desmoralização [5].
O que se torna evidente, ao analisarmos estes dados, é que a população mais desfavorecida do país votou no segundo turno não por desinformação, mas por sentir que a sua situação está melhorando. Falar mal do governo, entre nós, é quase um reflexo, acompanha a cerveja como o amendoim. Falar bem dele parece até suspeito, como se fosse menos “objetivo”. Mas falar mal pode ser igualmente suspeito. Muito mais importante é entender o que está acontecendo. Por trás do palco da política oficial que a imprensa nos apresenta a cada dia, e que é o lado mais visível dos grandes discursos, há o imenso trabalho organizado de milhares de pessoas que estão tocando programas, literalmente tirando leite de pedra numa máquina de governo que, por herança histórica, foi estruturada para administrar privilégios, e não para prestar serviços.
Ladislau Dowbor é economista político graduado na Universidade de Lausanne, Suiça; doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, Polônia (1976). Atualmente, é professor titular da pós-graduação da PUC-SP e presta consultoria para agências da ONU, governos e instituições.
Mais
IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Síntese de Indicadores 2006: Comentários
IBGE — Síntese de Indicadores Sociais 2007 – Uma análise das condições de vida da população brasileira 2007 – está disponível aqui

[1] IBGE, PNAD 2006. A Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio, para quem não está familiarizado, constitui o principal instrumento de avaliação de como anda a situação das familias no país. A PNAD 2006 entrevistou 410.241 pessoas, em 145.547 domicílios, e representa a situação real de maneira confiável, ainda que desagregável apenas ao nível de Grandes Regiões ou de Estados, o que encobre desigualdades locais, perdidas nas médias. Os dados estão disponíveis online, nos “Comentários 2006”
[2] Ver os dados na Sintese de Indicadores Sociais 1996-2006 do IBGE, gráfico 4.1, e páginas seguintes, doc. s.p. – O documento completo, Síntese de Indicadores Sociais 2007 – Uma análise das condições de vida da população brasileira 2007 – está disponível aqui. Sobre as tendências de desagregação da família, ver o nosso artigo “Economia da Família”, sob a rubrica Artigos Online no site http://www.dowbor.org/
[3] IBGE, PNAD 2006, Comentários, p. 7
[4] Vale a pena consultar o sistema de seguimento dos 149 programas sociais distribuídos entre vários ministérios, disponível sob “Geração de Emprego e Renda”, em http://www.mds.gov.br/: cada programa é apresentado com os seus objetivos e custos, além de contato para quem precisar de mais informação
[5] Para o conjunto de propostas relativas á dinamização do “andar de baixo” da economia, ver Política Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Local, http://www.dowbor.org/ sob Artigos Online.
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Aliança PT-PSDB tem apoio de 84% da população em Belo Horizonte

Neste último domingo, o PT de Belo Horizonte realizou votação para escolher os delegados que votarão no próximo dia 06 sobre a aliança idealizada pelo governador mineiro Aécio Neves e o prefeito Fernando Pimentel, do PT. A chapa “PT Pelo Entendimento” - que representa a aliança entre PT-PSDB obteve cerca de 85%. Os partidários ligados aos ministros Patrus Ananias e Luiz Dulci e também ao deputado estadual André Quintão, pré-candidato à prefeitura de BH, não apresentaram chapa para a votação neste domingo. O boicote é uma maneira de mostrar a insatisfação do grupo com relação à forma que a aliança está sendo conduzida. A despeito disso, uma pesquisa do Vox Populi mostrou que a aliança PT-PSDB tem amplo apoio na população belorinzontina. Resta saber se esta mesma população estaria disposta a eleger um candidato sem história com a cidade, escolhido para ser filiado a um partido da base do governo federal simplesmente para a continuidade do projeto político do prefeito petista e governador tucano. Veja a matéria abaixo:

A julgar pela opinião da grande maioria dos belo-horizontinos, os delegados do PT devem aprovar na votação que ocorrerá domingo que vem a aliança com o PSDB em torno da sucessão da prefeitura da capital mineira. Pesquisa Vox Populi realizada para a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) entre os dias 7 e 11 revela que 84% dos eleitores de Belo Horizonte aprovam a parceria entre o governador Aécio Neves (PSDB) e o prefeito Fernando Pimentel (PT) – os dois principais articuladores da dobradinha em torno de um candidato único filiado a um partido neutro.

Questionados sobre notícias veiculadas na imprensa apontando o bom relacionamento administrativo e entendimento político entre os governos estadual e municipal, apesar de pertencerem a partidos diferentes, apenas 7% dos entrevistados reprovaram a relação entre ambos, enquanto outros 7% não souberam ou não responderam à pergunta feita pelos pesquisadores. Na capital mineira foram ouvidos 500 eleitores com mais de 16 anos, em pesquisa que tem margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Na avaliação do sociólogo Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi, os números revelam que os eleitores estão muito mais atentos à gestão de um administrador e aos candidatos que disputam as eleições do que aos partidos políticos aos quais eles são filiados. “Os partidos nunca tiveram muita importância para a maioria das pessoas. Apenas 30% das pessoas se identificam com algum partido. Por isso as questões de conflitos partidários parecem conversa remota, pois para eles pouco contribui para a solução de problemas de sua cidade, estado ou país”, diz.

E essa percepção de administração tem se mantido estável quando questionados sobre o desempenho tanto do governo estadual quanto federal – levando-se em conta a margem de erro das pesquisas. A nova rodada da pesquisa Vox Populi revela que há um ano e três meses a avaliação do governo Aécio Neves se mantém estável, acima dos 70%. Entre os 2.261 mineiros entrevistados em 99 municípios, a gestão do Palácio da Liberdade é boa ou ótima para 74% deles, regular para 18% e ruim ou péssima para 5% deles. Outros 2% não souberam ou não responderam à questão.

Essa mesma estabilidade é verificada na percepção do desempenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cuja administração foi considerada ótima ou boa para 61% dos mineiros, regular para 26% e ruim ou péssimo para 12%, enquanto 1% não opinou. O fenômeno semelhante, verificado em relação aos palácios da Liberdade e Planalto, é avaliado como natural pelo diretor do Vox Populi, uma vez que tanto Aécio Neves quanto Lula gozam há mais de um ano de um alto índice de aprovação em Minas.

“Quando se tem um elevado nível de avaliação, as mudanças possíveis são sempre para baixo, já que seria difícil ultrapassar os números atuais. Como não houve nenhuma razão para que piorasse a avaliação sobre eles, o resultado é a estabilidade”, explica Marcos Coimbra. Aprovação que coincide com as avaliações e expectativas sobre a economia brasileira e mineira. Para 63% dos entrevistados, a situação do estado é boa ou ótima, enquanto 31% consideram regular e 5% ruim ou péssima. Em relação ao país, 47% dos mineiros avaliam que a situação é ótima ou boa, enquanto 39% apontam regularidade e 14% não estão satisfeitos, pois consideram o país ruim ou péssimo.

Desempenho

O governo Aécio Neves é melhor avaliado do que a gestão do prefeito Fernando Pimentel pelos belo-horizontinos. Segundo a pesquisa Vox Populi realizada para a Fiemg, 85% dos 500 entrevistados classificam de positiva a administração tucana e 12 como regular. O petista tem gestão positiva para 73% e regular para 21%. Na avaliação negativa houve empate técnico: 2% e 3%, respectivamente.
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Pega na mentira

Sorte que os blogs têm leitores. E eles trabalham, fazendo o que os jornalistas não conseguem, não podem ou não desejam fazer. Um leitor anônimo do blog Coleguinhas, do Ivson Alves, pegou o Josias de Souza, da Folha, em um estranho engano, ao dizer que Dilma Roussef mentiu ao citar um documento que diz que o TCU pediu informações sobre gastos do governo FHC. Só que o link do jornalista aponta para outro documento, o verdadeiro é esse, o que confirma as declarações da ministra. Leia o comentário do leitor:


No documento correto aparecem muitas menções às prestações de contas retroativas ao governo anterior. O TCU pede para o atual governo prestação de contas do cartão corporativo da época do governo anterior, isso está claro. E como fazer isso sem informatizar criando o SUPRIM? Você somaria as despesas na mão, Josias? Há até elogios do TCU quanto ao aprimoramento da prestação de contas através da criação do banco de dados SUPRIM tais como no capítulo "Voto do Ministro Relator", item 12 parte I, que abrange 2002.

Quem ler o documento correto vai perceber que você está manipulando e "escandalizando o nada".

Banco de dados oficial reconhecido e elogiado pelo TCU não é dossiê.

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